Ele não fora feito para aquilo. Ele não era Mary, ele não sabia como confortar alguém só com algumas palavras ou um abraço. As suas palavras sempre pareciam duras demais, assim como seus abraços. Ainda não entendia como sua esposa conseguia agüentá-lo, para ser bem sincero. Mary era a delicadeza e o carinho em pessoa e ele, o completo contrário.

Ele não fora feito para aquilo. Ele não fora feito para acordar no meio da noite e encontrar seu filho aos prantos por conta de um pesadelo. Talvez até conseguisse lidar com a situação caso Tom tivesse seus seis anos e o sonho ruim fosse algum sonho genérico de criança. Mas, em primeiro lugar, Tom nunca tivera sonhos assim... Ou, se tinha, era muito raro. O mais aterrorizante para o seu menino era sonhar que eles o haviam abandonado. Mas não era nem isso que ele sonhava hoje em dia. Na realidade, ninguém além do próprio Tom sabia com o que ele sonhava.  E o filho não era mais um menino de seis anos. Ele era um rapaz de vinte e dois anos que não conseguia mais sair de casa por medo, que não conseguia dormir por medo, que não conseguia mais manter uma conversa completa com qualquer um por medo. Bom, era medo no início. Agora ele já estava começando a achar que o medo, apesar de ainda ali, começava a dividir espaço com o nada.

Ele odiava o nada. Ele preferia sofrer à não sentir nada, mesmo que fosse sofrer em silêncio. Ele havia visto seu pai definhar para o nada e agora via seu filho ir pelo mesmo caminho. Seu pai começara pela tristeza, seguida pela culpa e, então, o nada. Tom começara pelo medo, depois a culpa, e então nada. Mary podia acalmar o medo do garoto e a lógica poderia aplacar a culpa dele, mas aquele nada não tinha o que o espantasse.

Ele não fora feito para aquilo. Ele não fora feito para tentar acalmar o seu filho que tremia de tanto chorar, sabendo que aquilo não ajudaria em quase nada. Ele não fora feito para ver duas pessoas que ele amava decaírem da mesma forma. Ele não fora feito para perder o filho tão cedo da mesma forma que perdera seu pai, mesmo que os dois ainda estivessem vivos.

Ele podia abraçar o rapaz, podia tentar acalmá-lo com palavras ou com explicações lógicas sobre o que estava acontecendo, podia até mesmo cantarolar alguma canção da forma que ele sabia que sua esposa fazia, mas ele sabia que não ajudaria em nada. Ele não fora feito para aquilo e tinha medo de que, caso forçasse muito, acabaria naquela