Narrado por Bella

Percebendo minha hesitação, Edward veio a meu encontro.

–Você está bem? - perguntou baixinho.

Não querendo falar, pois sabia que se o fizesse daria novamente vazão às lágrimas, apenas meneei a cabeça. Meu Deus, porque ele estava ali?

–Quer que eu a leve para algum lugar até que se ...recomponha? - disse hesitante.

Ele estava muito sério e parecia bastante preocupado comigo. Sensibilizada com sua atitude, senti que as lágrimas voltavam a escorrer pelo meu rosto. Não sem esforço, forcei-me a responder:

–Sim, obrigada. Mas antes tenho que buscar minha bolsa.

–Quer que eu vá buscá-la para você? - perguntou solícito - Sei que você não quer entrar lá agora. Eu entro e peço para Alice pegá-la para mim. Ela sabe qual é não é mesmo?

Assenti em silêncio e ele logo desapareceu pela porta do bar. Quando voltou entregou-me a bolsa que eu aceitei ainda em silêncio. Com sua mão em meu braço deixei-me ser guiada por ele sem protestar. Quando ele abriu a porta de um Aston Martin Vanquish preto convidando-me a entrar, mesmo atordoada como estava, não pude deixar de pensar em como o carro caríssimo combinava tão bem com seu dono. Os dois eram lindos.

–Para onde quer ir?

Dei de ombros. Não importava o lugar, a dor e o vazio continuariam ali em meu peito. Notando minha apatia ele pareceu decidir-se e guiou o carro tranquilamente pelas ruas quase vazias de Jacksonville. Quando pegou uma estradinha vicinal que levava a um dos pontos mais altos da cidade, já sabia onde ele estava me levando. Ao mirante. Para mim, o lugar que não era mais do que um estacionamento ao ar livre, não parecia muito interessante. É claro que na única vez em que estivera ali tinha achado a vista maravilhosa, mas na ocasião era de dia e todos sabiam que a noite os casais iam pra lá para transar dentro dos carros e não para admirar a vista... Olhando de esguelha para Edward, tentei vislumbrar alguma intenção menos digna em seu semblante, mas tudo o que encontrei foi tranquilidade e quietude. É claro, aquele era Edward Cullen, um dos empresários mais bem sucedidos do país, milhonário e lindo como um deus. Ele não precisaria nunca forçar uma situação com uma mulher pois elas deviam cair aos montes a seus pés. E além disso também tinha uma esposa, obriguei-me a lembrar.

–Mais calma? - sussurrou ele enquanto estacionava.

–Um pouco.

Descemos do carro, o lugar estava quase deserto a não ser por um outro carro estacionado bem distante de nós. A brisa da madrugada estava morna e agradável.

–Venha, tem um banco ali daquele lado - ele puxou-me pela mão e eu mais uma vez o segui obediente - também é onde tem a melhor vista. Ótima para apreciar e relaxar.

Quando me sentei e olhei para baixo, prendi a respiração. Era lindo. As luzes da cidade pequenininha daquela altura, fazia um belo contraste com a areia da praia, e esta com a escuridão do mar. Para completar o magnífico cenário, a lua que ia alta no céu estava cheia e brilhante como nunca. Edward ao meu lado esticou as pernas e cruzou as mãos atrás da cabeça indolente.

–Lindo não? Vim muitas vezes aqui quando estava nervoso ou chateado e esse lugar sempre teve o dom de me acalmar.

Não respondi, pensei em minha própria tristeza. Edward respeitou o meu espaço e ficamos vários minutos apenas apreciando a paisagem. Então decidi falar:

– Aquele era meu noivo - comecei.

–Eu sei - ele foi lacônico.

Bem, se ele já sabia que Carlisle era meu noivo, já tinha entendido tudo. Pelo menos eu podia pular a parte constrangedora do meu pé na bunda. Depois de alguns segundos de um silêncio constrangedor ele resolveu que queria detalhes.

–Estavam juntos há muito tempo?

–Sete anos.

Ele me olhou surpreso.

–Ele me pareceu ser bem mais velho que você....

–É dez anos mais velho. Começamos a namorar quando eu tinha quinze anos. Então pode entender minha tristeza, ele foi meu primeiro namorado...- engoli em seco tentando conter o choro que já se insinuava.

–Entendo melhor do que imagina - ele tornou amargo - eu me casei com a minha primeira namorada...

Foi minha vez de ficar surpresa. Os laços que o uniam à esposa eram mais profundos do que eu queria acreditar. Hesitante, ousei perguntar:

–Mas isso não é bom? Afinal, se casaram e continuam juntos é porque ainda se amam - aproveitei para alfinetá-lo.

Ele riu coma amargura.

–Antes fosse assim. Mas, a verdade é que há dois dias nós nos separamos, mas por convenções sociais, e apenas por isso, continuaremos fingindo que estamos casados.

Meu queixo caiu. Seria aquilo verdade ou ele estava tentando me enganar?

–Sei...- tornei um pouco sarcástica .

–É verdade - ele se defendeu - ah, a história é longa, mas resumindo, depois que minha mãe, que era governanta dos Denali faleceu, Eleazar, hoje meu sogro, cuidou de mim como a um filho. É por ele que mantenho esta farsa, porque tenho uma dívida de gratidão. Era isso que tentei lhe dizer aquele dia na praia.

Ele não era de enrolação. Com sua voz rouca e calma, com delicadeza ia direto ao ponto. Me senti corar. Ele precisava tocar naquele assunto agora? Como se lesse meus pensamentos ele desculpou-se.

–Desculpe-me Bella, não precisamos falar disso agora...quer conversar sobre o motivo de vocês se separarem?

Não! - pensei desesperada - Não com você! Não quero que saiba como sou... que coisa, eu nem tinha palavras para descrever tanta indecisão, tanta burrice, ou seja, eu. Mas ainda assim, ele merecia uma resposta.

–Eu fiz tudo errado... tentei me convencer que conseguiria ser a pessoa que ele merecia...mas eu não sou. Basicamente, não desejávamos mais as mesmas coisas. E claro, ele não aceitou muito bem o meu "emprego". É isso - dei de ombros - e você, qual a história da sua "separação"?

Ele me olhou com o cenho franzido por perceber em meu tom de voz que eu ainda não estava convencida daquela separação. Ah, por favor, essa desculpa era a mais usada por homens casados. "Continuamos na mesma casa, mas não temos mais uma relação", tá bom... Então me arrependi por ter perguntado quando vi uma nuvem de tristeza passar por seus olhos.

–Estou casado a dez anos... desde o começo tivemos problemas...agora chegou a um ponto em que não é possível insistir mais... - respondeu sério e dando a entender que tinha se dado conta de algo importante - Bella, por favor, posso fazer uma pergunta indiscreta?

–Claro - respondi sem pensar muito.

–Você alguma vez traiu seu noivo?

Fiquei branca. Que pergunta era aquela? Mas ele me olhava ansioso e eu me dei conta naquele momento, que nunca conseguiria negar nada àquele homem e que minha resposta, por algum motivo, era importante para ele.

–Não... - comecei incerta de até onde deveria ir - pelo menos não até ontem, quando beijei você. Mas de qualquer forma, um único beijo não pode ser considerado traição, e Carlisle e eu estávamos dando um tempo, e eu sou completamente contra magoar uma pessoa assim....-me calei dando-me conta de que tagarelava. Corei terrivelmente e ele sorriu para mim, um sorriso capaz de arrasar um coração, o meu coração.

–Bom saber - disse simplesmente.

E novamente nos calamos, cada um perdido em seus próprios pensamentos. Depois de alguns segundos senti que ele me observava. Era impressionante a energia que naturalmente emanava entre nós, era quase palpável.

–O que foi? - questionei tímida, eu já estava bem mais calma.

–Apenas estava pensando que eu nunca trouxe outra pessoa a este lugar, era um lugar só meu e agora o estou dividindo com você. Então isto o torna o "nosso lugar".

Eu ri.

– Sei, tipo quando a gente escolhe uma música para marcar um relacionamento?

–Sim, isso mesmo - ele riu também - e pensar que acabamos de nos conhecer e já temos um lugar só nosso!

Eu sorri, pensando no significado daquela frase. Edward lindo Cullen e eu tínhamos um lugar só nosso. Que coisa! Carlisle e eu nunca nos preocupamos com esses pequenos detalhes. Percebendo que eu novamente entristecia ele pediu:

–Desculpe Bella, não devia ter tocado nesse assunto.

Ele abriu os braços e eu aceitei o consolo que me oferecia. Abraçada a ele dei novamente vazão às lágrimas. Não queria mais chorar, mas era impossível. Era o começo de um novo ciclo em minha vida e eu me sentia insegura.

–Não sei como prosseguir, o que fazer...estou completamente perdida - choraminguei.

–Bem vinda ao time. Tenho vergonha de admitir, mas também ando perdido, sem saber o que fazer.

Eu funguei pensando que a situação dele era muito mais complicada que a minha. Edward afagava meu cabelo e era tão bom! Ficamos mais algum tempo ali, até que eu me acalmasse de verdade, depois ele me deixou em casa. Nos despedimos com a promessa mútua de que manteríamos contato, para que enfrentássemos juntos aquela fase difícil de nossas vidas.