The Past Comes Today escrita por Kurogetsu
– Chizuru! Levanta logo moleque, a comida está na mesa! Já passou da hora do almoço! – diz meu pai chutando a porta.
– Okay... Já estou indo...
“Sou Lu Chizuru, um mangaká. Tenho 26 anos. No momento moro com os meus pais, pois minha carreira está em baixa e acho que voltar a morar com eles foi minha pior escolha. Por eles não aceitarem nem minha opção sexual e nem minha carreira, fazem da minha vida um inferno, mas não deixam faltar nada “por eu ser filho deles””.
– O que tem pra comer? – digo me sentando a mesa.
– Pra você tem pizza de ontem, pega logo, come e vê se vai arrumar um emprego de verdade. – diz meu pai sentado na minha frente sem tirar os olhos do jornal.
– Claro...
–... E uma namorada também de preferência. – diz minha mãe lavando a louça de costas pra mim.
– Gentil como sempre mãe. – digo isso enquanto levanto com a pizza pra ir ao meu quarto.
– Olha como fala com a sua mãe moleque – diz meu pai socando minhas costelas enquanto eu passava ao lado dele.
Entro no meu quarto pra comer, fecho a porta e ligo o notebook pra tentar escrever algo produtivo.
– Ahh! Não consigo escrever nada!... Como será que está o Takao?
Naquele momento me peguei pensando naquele psicólogo que encontrei ontem. Ele pareceu estranho ontem com algumas coisas que falei, bem deve ser só coisa da minha cabeça. Tenho o cartão dele, mas será que devo ligar? Ou devo ir vê-lo?
– Ficar aqui sentado não vai me levar a lugar algum, melhor eu sair.
Vou em direção à porta e vejo minha mãe na sala.
– Estou saindo...
– Vá.
Não sei ainda se devo ligar pra ele. Ele deve ter trabalho a fazer. Mas porque raios eu estou pensando nele? Ele foi gentil comigo e algo nele me é familiar só não sei o que é. Quer saber, vou ligar.
Pego o celular e o cartão com o número e ligo. Uma mulher me atende.
– Consultório do Dr. Kohama, boa tarde.
– E-er, boa tarde. Quero falar com o T-takao. Quer dizer com o Dr.Kohama...
– Tem horário marcado com ele senhor?
– Diga a ele que é o Lucchi, ele vai me atender... Eu acho.
– Vou passar a ligação, aguarde um minuto.
– O-okay.
– Hey Lucchi! Que surpresa.
– Ah... Olá Takao. Desculpe ligar assim do nada, é que... Bem, na verdade não sei por que liguei. Você disse que podia então acabei fazendo sem pensar.
– Hahah tudo bem, tudo bem. Estou sem trabalho no momento, podemos ir beber algo se quiser.
– Não, não precisa! Não quero incomodar!
– É um convite, tudo bem, me encontra aqui na porta do prédio?
– Ah..eu não sei...
– Estarei te esperando, até mais.
Ao ouvir o som dele desligando o telefone eu realmente não soube o que fazer, mas não quis ser mal educado então fui ao encontro dele. Cheguei à porta do prédio e ele já estava lá me esperando.
– D-desculpe a demora...
– Tudo bem, acabei de descer, estava organizando umas coisas.
– E-então, aonde vamos?... Estou meio sem grana.
– Não se preocupe, vamos a minha casa.
–Hã? Você costuma chamar estranhos assim pra sua casa?
–Você não é nem um pouco estranho pra mim. – disse ele sorrindo e andando em direção a um carro estacionado na rua.
Por algum motivo, mesmo com o sorriso, aquela frase me soou triste então o segui até o carro e fomos a casa dele. A casa não era muito grande, era suficiente pra um cara solteiro. Ficamos nos sofá conversando e bebendo até a noite, ele me fazia sentir confortável, era a primeira vez em anos que eu podia conversar abertamente com alguém.
– E a carreira como anda hein Lucchi? – dizia ele já mostrando sinais de estar bêbado.
– Ainda em baixa... Não consigo pensar em nada bom pra escrever.
– E escreve sobre o que?
– É um shounen, mas você não parece o tipo de pessoa que lê mangás.
– Realmente, não os leio mais.
– Mais? Então quer dizer que lia? Porque parou?
–Não sei. Nunca mais li depois do ensino médio.
– Se acha muito adulto pra isso né? – brinquei
– Sou um cara adulto que come mais doces que uma criança. Hahah!
– Espera Takao... Estamos bebendo aqui a tarde toda... Você não tinha pacientes hoje?
– Eu desmarquei todos.
– Mas... Por quê?
Takao ficou em silencio por um momento e no outro já estava em cima de mim me beijando. Foi muito repentino, ele me deitou no sofá e pressionou seu corpo em cima de mim. A sensação dos lábios dele nos meus, do seu corpo me pressionando, o calor, aquele ímpeto, tudo aquilo me pareceu muito estranho, mas ao mesmo tempo... Familiar.
– T-Takao! O que está fazendo?! – gritei empurrando-o.
Ele saiu de cima de mim na mesma hora e se manteve de cabeça baixa.
– O que foi isso Takao?!
– Você não se lembra de mim mesmo não é Chizuru?...
– Hã? Lembrar de você? Nos conhecemos ontem!
Naquele momento Takao levantou a cabeça pra me olhar percebi algo errado em um de seus olhos. Seu olho direito tinha uma cor diferente do esquerdo, ele era verde. E finalmente entendi o que ele quis dizer com aquela pergunta
–S-seu... Olho...
– Meu olho?... Minha lente! Deve ter caído quando te beijei.
– T-Taka... -san...? – disse com os meus olhos enchendo de lágrimas.
– Você... Lembrou. – disse ele em voz baixa.
– D-desculpe... Eu tenho que ir! – disse me levantando e indo rápido em direção à porta.
Quando abri a porta senti os braços de Takao me envolverem num abraço apertado.
– Chizuru... Só não desapareça de novo... Por favor...
– E-eu tenho que ir... – disse me desvencilhando de seus braços e quase correndo.
Eu corri até em casa sem perceber, não que fosse perto, mas estava tão nervoso e imerso em pensamentos que não percebi a distância e nem sentia meu corpo. Quando cheguei, por sorte meus pais estavam dormindo, tomei um banho e não consegui fazer mais nada além de chorar.
“– Chizuru... Só não desapareça de novo... Por favor...”.
Aquela foi a única coisa que ficou em minha cabeça antes de eu dormir em meio as lágrimas.
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