The Past Comes Today escrita por Kurogetsu


Capítulo 2
Chapter 2




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– Chizuru! Levanta logo moleque, a comida está na mesa! Já passou da hora do almoço! – diz meu pai chutando a porta.

– Okay... Já estou indo...

“Sou Lu Chizuru, um mangaká. Tenho 26 anos. No momento moro com os meus pais, pois minha carreira está em baixa e acho que voltar a morar com eles foi minha pior escolha. Por eles não aceitarem nem minha opção sexual e nem minha carreira, fazem da minha vida um inferno, mas não deixam faltar nada “por eu ser filho deles””.

– O que tem pra comer? – digo me sentando a mesa.

– Pra você tem pizza de ontem, pega logo, come e vê se vai arrumar um emprego de verdade. – diz meu pai sentado na minha frente sem tirar os olhos do jornal.

– Claro...

–... E uma namorada também de preferência. – diz minha mãe lavando a louça de costas pra mim.

– Gentil como sempre mãe. – digo isso enquanto levanto com a pizza pra ir ao meu quarto.

– Olha como fala com a sua mãe moleque – diz meu pai socando minhas costelas enquanto eu passava ao lado dele.

Entro no meu quarto pra comer, fecho a porta e ligo o notebook pra tentar escrever algo produtivo.

– Ahh! Não consigo escrever nada!... Como será que está o Takao?

Naquele momento me peguei pensando naquele psicólogo que encontrei ontem. Ele pareceu estranho ontem com algumas coisas que falei, bem deve ser só coisa da minha cabeça. Tenho o cartão dele, mas será que devo ligar? Ou devo ir vê-lo?

– Ficar aqui sentado não vai me levar a lugar algum, melhor eu sair.

Vou em direção à porta e vejo minha mãe na sala.

– Estou saindo...

– Vá.

Não sei ainda se devo ligar pra ele. Ele deve ter trabalho a fazer. Mas porque raios eu estou pensando nele? Ele foi gentil comigo e algo nele me é familiar só não sei o que é. Quer saber, vou ligar.

Pego o celular e o cartão com o número e ligo. Uma mulher me atende.

– Consultório do Dr. Kohama, boa tarde.

– E-er, boa tarde. Quero falar com o T-takao. Quer dizer com o Dr.Kohama...

– Tem horário marcado com ele senhor?

– Diga a ele que é o Lucchi, ele vai me atender... Eu acho.

– Vou passar a ligação, aguarde um minuto.

– O-okay.

– Hey Lucchi! Que surpresa.

– Ah... Olá Takao. Desculpe ligar assim do nada, é que... Bem, na verdade não sei por que liguei. Você disse que podia então acabei fazendo sem pensar.

– Hahah tudo bem, tudo bem. Estou sem trabalho no momento, podemos ir beber algo se quiser.

– Não, não precisa! Não quero incomodar!

– É um convite, tudo bem, me encontra aqui na porta do prédio?

– Ah..eu não sei...

– Estarei te esperando, até mais.

Ao ouvir o som dele desligando o telefone eu realmente não soube o que fazer, mas não quis ser mal educado então fui ao encontro dele. Cheguei à porta do prédio e ele já estava lá me esperando.

– D-desculpe a demora...

– Tudo bem, acabei de descer, estava organizando umas coisas.

– E-então, aonde vamos?... Estou meio sem grana.

– Não se preocupe, vamos a minha casa.

–Hã? Você costuma chamar estranhos assim pra sua casa?

–Você não é nem um pouco estranho pra mim. – disse ele sorrindo e andando em direção a um carro estacionado na rua.

Por algum motivo, mesmo com o sorriso, aquela frase me soou triste então o segui até o carro e fomos a casa dele. A casa não era muito grande, era suficiente pra um cara solteiro. Ficamos nos sofá conversando e bebendo até a noite, ele me fazia sentir confortável, era a primeira vez em anos que eu podia conversar abertamente com alguém.

– E a carreira como anda hein Lucchi? – dizia ele já mostrando sinais de estar bêbado.

– Ainda em baixa... Não consigo pensar em nada bom pra escrever.

– E escreve sobre o que?

– É um shounen, mas você não parece o tipo de pessoa que lê mangás.

– Realmente, não os leio mais.

– Mais? Então quer dizer que lia? Porque parou?

–Não sei. Nunca mais li depois do ensino médio.

– Se acha muito adulto pra isso né? – brinquei

– Sou um cara adulto que come mais doces que uma criança. Hahah!

– Espera Takao... Estamos bebendo aqui a tarde toda... Você não tinha pacientes hoje?

– Eu desmarquei todos.

– Mas... Por quê?

Takao ficou em silencio por um momento e no outro já estava em cima de mim me beijando. Foi muito repentino, ele me deitou no sofá e pressionou seu corpo em cima de mim. A sensação dos lábios dele nos meus, do seu corpo me pressionando, o calor, aquele ímpeto, tudo aquilo me pareceu muito estranho, mas ao mesmo tempo... Familiar.

– T-Takao! O que está fazendo?! – gritei empurrando-o.

Ele saiu de cima de mim na mesma hora e se manteve de cabeça baixa.

– O que foi isso Takao?!

– Você não se lembra de mim mesmo não é Chizuru?...

– Hã? Lembrar de você? Nos conhecemos ontem!

Naquele momento Takao levantou a cabeça pra me olhar percebi algo errado em um de seus olhos. Seu olho direito tinha uma cor diferente do esquerdo, ele era verde. E finalmente entendi o que ele quis dizer com aquela pergunta

–S-seu... Olho...

– Meu olho?... Minha lente! Deve ter caído quando te beijei.

– T-Taka... -san...? – disse com os meus olhos enchendo de lágrimas.

– Você... Lembrou. – disse ele em voz baixa.

– D-desculpe... Eu tenho que ir! – disse me levantando e indo rápido em direção à porta.

Quando abri a porta senti os braços de Takao me envolverem num abraço apertado.

– Chizuru... Só não desapareça de novo... Por favor...

– E-eu tenho que ir... – disse me desvencilhando de seus braços e quase correndo.

Eu corri até em casa sem perceber, não que fosse perto, mas estava tão nervoso e imerso em pensamentos que não percebi a distância e nem sentia meu corpo. Quando cheguei, por sorte meus pais estavam dormindo, tomei um banho e não consegui fazer mais nada além de chorar.

“– Chizuru... Só não desapareça de novo... Por favor...”.

Aquela foi a única coisa que ficou em minha cabeça antes de eu dormir em meio as lágrimas.


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