Olhos De Vidro escrita por Jane Viesseli


Capítulo 7
Todos Contra Um!




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Seus passos eram lentos e um pouco desorientados, em sua garganta sentia um sabor amargo, mas em sua face predominava uma expressão de bravura. Os lobos quileutes queriam arrancar-lhe as informações que guardava com tanto amor e carinho, mas Embry não estava disposto a entregar nada.

No meio do caminho ele é interceptado por alguns garotos do bando, que bloquearam sua passagem formando uma meia-lua, e, atrás, Embry pôde logo sentir a aproximação dos dois alfas, de Paul e Quill.

― Posso saber o porquê desta cena toda? – pergunta ainda de cabeça erguida.

― Você sabe o motivo, Embry – começa Jacob, dando brecha para que o lobo negro continuasse.

― Você tem falhado conosco. Não comparece mais às suas rondas, nem às reuniões, foge de seus irmãos e, como se isso não fosse o suficiente, descobrimos que a Sra. Call nunca esteve doente! – Pausa. – Nesse momento surge a dúvida: se você não estava em sua casa cuidando dela, onde e o que esteve fazendo todos esses dias?

― Isso é coisa minha, Sam. – Vira-se para o alfa. – Gostaria muito que respeitassem o meu silêncio. Quando estiver preparado, prometo que contarei tudo – pede, ainda com esperanças de resolver aquela situação.

― Conte-nos logo – ordena Jacob.

― Escutem, não é nada que venha a colocar o bando em risco...

― Pare de enrolar, Embry, diga logo o que anda escondendo de nós? – diz Jacob novamente, mas, desta vez, já um pouco irritado.

― Cale a boca, Jake, você não é o meu alfa e não manda em mim.

― Mas eu mando! – diz Sam o interrompendo, já fazendo com que seu poder alfa pesasse sobre os ombros de Embry, num claro sinal de que não respeitaria o seu silêncio. – O que anda escondendo?

O quileute pressiona os lábios um no outro, tentando conter a ordem que o mandava falar. Contudo, os lobos já esperavam uma reação daquele tipo e logo recorrem ao plano B.

― Paul – chama o Uley –, faça como Jacob lhe explicou.

Embry franzi a testa com desconfiança. O que eles pretendiam? Por que colocavam mais um de seus amigos contra ele? O susto foi imenso quando o corpo de Paul tremeu violentamente, explodindo em sua forma de lobo e mandando suas roupas pelos ares.

― Paul, que palhaçada é essa?

Desculpe-me amigo, mas as ordens são para fazê-lo virar um lobo... Nem que seja a força!— explica em pensamento, mesmo sabendo que ele não podia escutar.

Paul solta um rosnado ameaçador, como se o estivesse alertando, e avança contra o Embry, empurrando-o com o focinho em direção à floresta. É claro que sua aterrissagem não fora das melhores, visto que rolara na terra fria por alguns metros, entretanto, a pior parte ainda estava por vir.

Embry estava sendo disfarçadamente guiado para o fundo da floresta, onde ninguém poderia ajudá-lo e, devido aos constantes empurrões, já sentia seu braço direito doer. O lobo à sua frente também estava cansado daquele jogo, sentindo-se mal por fazer aquilo a um amigo. Por que ele não poderia ficar a sós com seu segredo? Afinal, Embry deixou bem claro que não era um risco à matilha.

Vamos logo, Embry, transforme-se de uma vez e acabe com isso...

O quileute resistia firmemente a uma transformação e, em sua última investida, Paul sabia que teria que ser ainda mais agressivo. Ele avança contra Embry mais uma vez, agarrando seu braço dolorido com os dentes e o lançando contra a árvore mais próxima.

Assim que sente o chão abaixo de seu corpo, o Call trata logo de amparar o braço tingido de vermelho. Todos sabiam que era apenas uma questão de tempo para que os furos em seu braço se curassem, mas para Embry aquelas feridas pareciam diferentes, muito mais dolorosas, talvez por estarem sendo feitas por um amigo.

Paul solta mais um rosnado ameaçador, o mesmo que costumava dar para os sanguessugas antes de arrasá-los, fazendo Embry sentir medo de um lobo pela primeira vez. E assim que ele avançou novamente, o quileute não pensou em mais nada a não ser se transformar e se defender.

O lobo cinzento explode de seu corpo num piscar de olhos, esfarrapando as roupas que vestia e gemendo ao apoiar-se na pata ferida. Seus lábios se esticavam de maneira ameaçadora, deixando à mostra as presas afiadas, e seus olhos logo focam o oponente, que já não parecia estar em posição de ataque.

Até que enfim!— diz Paul aliviado.

O que está pretendendo Paul?

Ele só está cumprindo ordens— diz Sam, aproximando-se em sua forma de lobo, com o restante do bando em sua retaguarda –, mas nós queremos a verdade!

Embry ignora o argumento do líder e fita cada focinho ali presente, sentindo falta de um ou outro lobo, como Seth e Leah. E pela mente de sua matilha, pôde notar que os faltantes não quiseram participar daquele jogo sujo.

― Só queremos que revele o que anda escondendo, Embry. O bando está sendo afetado por causa disso e precisamos saber o que está acontecendo! – explica Jacob, que permanecia na forma humana por não conseguir manter contato com o membro de outra matilha.

O bando não está parecendo afetado, Jacob. Acho que são vocês que não conseguem ficar sem saber da vida dos outros. Mas deixe-me dizer uma coisinha: não contarei nada.

Ande logo, Embry!— agora era Sam.

Basta focar minha mente em outras coisas, como batatas cozidas, tênis ou o chulé do Seth— diz o lobo cinzento, não com o objetivo de ser engraçado, mas para manter seus pensamentos longe do "segredo".

Conte logo!

― Vamos Embry, o que anda escondendo? – Agora era Jake.

Os alfas cirandavam o lobo ferido como predadores a uma caça, Embry estava exatamente onde eles queriam e na forma que desejavam, agora bastava apenas um pouco de pressão psicológica para que o réu soltasse a verdade.

Pressão psicológica? É disso que se trata?— pergunta Embry, captando a verdade das mentes que não paravam de gritar.

Trata-se de sabermos a verdade— rosna Sam.

Não tenho nada a dizer a vocês!— rosna de volta.

Conte logo, garoto.

― Tudo isso pode parar se você simplesmente revelar o que anda escondendo – emenda Jacob, mesmo sem acompanhar a discussão mental.

Matérias da escola: gramática, matemática, literatura, biologia, química, física, matemática...

Acho que repetiu um— zomba Sam.

Cale-se!

Acabe logo com isso, Embry— pede Paul.

É melhor ouvi-lo!— Sam novamente.

Calem a boca, todos vocês!!!

Conte! Conte! Conte! Conte!— gritavam os alfas em sua cabeça, sendo seguidos por alguns lobos que consideravam aquilo uma divertida brincadeira.

O nome dela é Andy!— grita alguém, mais alto do que todos.

Todos os lobos se voltam para Quill, que finalmente se transformara para colocar um fim naquele circo. De sua mente flui a imagem que vira pela manhã, da menina ruiva de olhos azuis, a imagem de sua Andy.

Aquele fora o interruptor que finalmente ativara a memória do lobo cinzento, fazendo um turbilhão de imagens e lembranças rodopiarem pela mente de todos os lobos da matilha. Agora todos sabiam a verdade, todos conheciam o seu imprinting.

Embry fica cabisbaixo de repente, indicando ao lobo avermelhado que haviam conseguido a resposta que queriam, e, ao se transformar, pôde acompanhar na mente de Sam tudo que outrora estava oculto.

Você teve um imprinting?— questiona Paul. – Por que não nos contou?

Caramba! Não é que existe uma louca capaz de gostar de você?— brinca Jacob, tendo sua mensagem repassada para o resto do bando por Sam, fazendo alguns lobos rirem.

É por isso que não queria contar.

Mais imagens começam a percorrer as mentes conectadas, lembrando-os de cada brincadeira que no fundo não fora divertida, de cada piada que no fundo não tivera a menor graça. Todas as vezes que se sentiu chateado, que chorou por estar sozinho, que só teve sua mãe para o acolher, que tentou conversar com os companheiros, mas que foi nitidamente ignorado... Tudo chegou ao conhecimento deles, pois, se eles queriam tanto a verdade, então teriam a verdade.

Me desculpe, não sabia que se sentia assim— pede Paul arrependido.

Se tivesse nos falado, teríamos parado— diz Sam, tentando consertar o estrago.

E por acaso não tentei?— rosna Embry. – Por acaso não o procurei, como meu alfa? Por acaso não procurei aquele imbecil, como meu amigo?— esbraveja, apontando Jacob com o olhar. – Já estou farto de olhar para vocês, vão embora, me deixem sozinho!

Embry...

Vão embora!— grita.

Um a um os lobos se afastam, desligando-se de sua mente depois de certa distância. Sam e Jacob tentaram se aproximar, mas Embry os repelia com raiva e veemência, e, por isso, os alfas logo se vão.

Perdoe-me— pede Quill numa última tentativa. – Você me pediu, mas, mesmo assim, eu contei. Só queria acabar com aquele jogo. Ainda somos amigos?

Ex-amigos— responde somente, deixando seu corpo desabar ali mesmo.

Quill se distância sem dizer mais nenhuma palavra e logo desaparece de sua mente. Agora ele estava só, e, por isso, permitiu-se chorar...

Quão difícil era apaziguar seu coração agora. Muitos foram os pedidos de perdão e podia ser que até os desculpasse, mas Embry sabia, no fundo de seu coração, que nunca mais conseguiria vê-los da mesma forma.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado *-*
Pressão psicológica também tem seus efeitos nos lobos, ainda mais quando é direto no interior de sua mente...

Obrigada a todos os que acompanham ♥ incluindo vocês fantasminhas, que não deixam recadinhos, rsrs, sou muito grata por lerem ^^
Até o próximo capitulo pessoal :)

PS: Mantive a formação original da matilha, de acordo com o final de Amanhecer, ok? Então Jake tem apenas Leah e Seth em seu grupo, o restante está com Sam.