Olhos De Vidro escrita por Jane Viesseli


Capítulo 6
Você Pode me Amar de Volta?




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O tempo ameaçava um pouco de chuva naquele início de tarde, porém, parecia poder aguentar até o anoitecer, antes de realmente desabar. Embry aguardava ansiosamente pela chegada de Andy, como sempre fazia, e de seu rosto escorriam algumas gotas de suor devido aos agasalhos que não precisava usar, mas que vestia apenas para não parecer anormal aos olhos de seu imprinting.

E, como em todos os dias, ele ouviu a melodia de sua voz, que cantarolava sua música estranha:

― Um, dois, três, siga reto outra vez... Quatro, cinco, seis...

― Encontre o Embry tão cortês – completa ele, levantando-se da mureta com um salto e indo em sua direção.

Também como lhe era de costume, o quileute agarra a mão direita de sua Andy, conduzindo-a com certa pressa ao lugar que já lhes pertencia. Ele sabia que andar rápido demais sempre a fazia tropeçar, pois ela sempre fora um pouco destrambelhada, contudo, ele intencionalmente nunca diminuía a intensidade de seus passos. Sempre que Andy tropeçava, suas mãos agilmente agarravam o casaco do lobo em busca de apoio e ele adorava aquela proximidade.

― Tenho uma boa notícia para lhe dar – começa ele, ao chegarem em seu habitual tronco velho.

― Boa? Interessante! – Pensa. – O quanto essa notícia é boa?

― Colossalmente boa – frisa ele com uma cara engraçada.

― Então é mesmo a notícia do século! – brinca. – O que está esperando? Conte-me logo.

― Estou apaixonado! – confessa sem rodeios.

― Não acredito!!! – grita de repente, o assustando e deixando que sua voz soasse um pouco histérica. – Que legal. E quem é ela? Eu a conheço?

― Conhece.

Andy fica um pouco pensativa, e, por um breve instante, seu sorriso se desfaz. Ela não era uma pessoa de muitos amigos e não conseguia imaginar qual das poucas garotas que conhecia, teria interesse em visitar La Push para fisgar um homem.

― Quem é? – pergunta com semblante confuso, não conseguindo adivinhar a resposta.

― É você, Andy. – Choque. – Eu... Eu amo você!

A surpresa era nítida no rosto feminino, os olhos cor de oceano o miravam de misteriosamente, não permitindo a ele, ler seus sentimentos.

― Como isso aconteceu? – pergunta ela pausadamente, não acreditando que alguém como ele pudesse realmente gostar de alguém como ela.

― Eu a amo desde sempre, Andy, desde a primeira vez que a vi...

― Desde a primeira vez? – repete num sussurro.

Ela coloca o polegar nos lábios e baixa a cabeça, pensativa, mas o quileute parecia não notar o turbilhão de pensamentos que passava por sua mente.

― O que gosta em mim? – pergunta após um breve silêncio.

― Gosto de seus cabelos ruivos e de como eles contrastam com sua pele branca. – Sorri. – Gosto dos seus lábios rosados, mas, gosto principalmente dos seus olhos... Estes orbes azuis-celestes, que parecem enxergar minha alma.

― E à segunda vista, Embry, o que gosta em mim? – insisti.

― O quê? – questiona, engolindo em seco.

Como pudera ser tão idiota? Passara dias e dias lhe perguntando coisas, partilhando de sua companhia e nunca... NUNCA, havia pensado nela "à segunda vista". Andy sempre deixou claro o quanto isso era importante, o quanto ela valorizava conhecer as pessoas além da aparência, e, nem com todos os seus atributos de lobo, ele se lembrou de fazer tal coisa.

― Me dê sua mão – pede ela, fechando os olhos e estendendo as próprias mãos, com palmas para cima, esperando que ele obedecesse.

Embry nada diz, apenas deposita suas mãos grandes sobre as pequenas mãos femininas.

― Feche os olhos – diz Andy, sendo obedecida rapidamente. – Nossos corpos são como cascas, é apenas o lado de fora, nem sempre refletem o que temos no interior. – Ela puxa as mãos quentes do quileute em direção ao seu rosto, depositando-as em suas bochechas. – enxergue-me à segunda vista, Embry, conheça a verdadeira Andy e encontre nela as coisas que lhe agradam...

Ele sente o coração disparar, visto que nunca havia feito um exercício como àquele antes, completamente às cegas. Andy estava indiretamente lhe dando uma nova chance, uma nova oportunidade de se declarar, respondendo sua pergunta corretamente, e ele não queria desperdiçar isso.

Lentamente, Embry percorre o rosto da ruiva com os dedos, enquanto seus polegares acariciavam suas bochechas carinhosamente. Ele sobe pela lateral de seu nariz, encontrando os olhos que tanto amava fechados e, depois de percorrer o desenho de suas sobrancelhas, desce em direção aos lábios.

A pele macia daquela boca fez sua mente voar alto, tentando imaginar como seria beijá-la, qual seria o gosto de seus lábios e quais sensações lhe trariam tocá-los e preenchê-los com os seus próprios. A vontade que ele tinha de se aproximar e selar aquele desejado beijo era grande, mas sabia que não podia fazê-lo, não era o momento. E depois de muito custo – e de morder o próprio lábio em resistência –, suas mãos voltam a passear, desta vez em direção aos cabelos de Andy.

Que eles eram ruivos, o quileute já tinha ciência, mas senti-los era realmente fascinante, pois eram macios e compridos. E bastou subir os dedos por seu comprimento, para encontrar o nascer de sua franja, que caia em direção aos olhos azulados como um complemento de seu penteado.

― Tão linda – pensa ele, tentado a abrir os olhos novamente, mas se segurando. – Como pude ser tão burro, a ponto de não notar a verdadeira Andy?

Descendo às mãos novamente, Embry chega aos ombros e, ao descer pela extensão daquele braço, ele encontra as mãos pequenas e frágeis que sempre estiveram ali, mas que nunca havia reparado. Ele cruza seus dedos nos dela, percebendo através do tato o quando suas mãos se encaixavam, o quando eles combinavam até mesmo naquilo.

Ele sorri com a pequena descoberta, deslizando a ponta dos dedos pelos braços de Andy novamente e parando mais uma vez em seus ombros. Embry se ajeita em seu lugar e, sem aviso prévio, se aproxima, fazendo com que seu nariz tocasse a bochecha da ruiva.

Andy sente o coração capotar no peito, acelerando subitamente e deixando a respiração desregular. Ela podia sentir a respiração dele tocando-lhe a face e seus lábios incandescentes roçarem levemente na linha de seu maxilar, consequentemente deixando suas bochechas coradas com a repentina aproximação.

Embry ficou ali, parado, sentindo a temperatura de seu rosto subir, ouvindo claramente a rapidez com que seu coração batia e sentindo em seu pescoço a respiração tornar-se ofegante. Dali ele também sentia o aroma... O aroma agradável de morangos que vinha de seus cabelos e a fragrância que exalava de sua pele, algo que o fazia lembrar maçãs.

Eram tantos os detalhes que ele poderia ter notado antes, com sua audição e olfato aguçado, que ele estava fascinado.

O quileute se afasta lentamente, retornando suas mãos para os ombros femininos e descendo lentamente, para continuar com o exercício que o fazia descobrir tantas coisas sobre ela. De repente, ele sente algo agarrar-lhe os pulsos, impedindo-o de continuar, e, ao abrir os olhos, encontra os olhos arregalados de Andy, apreensivos com o caminho proibido que ele tentava percorrer em direção aos seus seios.

― Acho melhor pararmos por aqui – pede ela calmamente, mas com o rosto incendiando de vergonha.

― Acho que sim – confirma sem jeito.

Fez-se silêncio.

― Eu te amo! – recomeça Embry, não conseguindo conter os seus próprios sentimentos. – À primeira vista, à segunda vista e em todas às demais vistas que existirem neste mundo, eu te amo! Conhecer a verdadeira Andy só serviu para aumentar o fascínio que tenho por você... Eu te amo, Andy – repete mais uma vez. – Você pode me amar de volta?

Andy ofega com suas palavras, fazendo-o sorrir. Estava fácil reparar nestes detalhes agora que a estava conhecendo-a de outra forma.

― Continuaria me amando se soubesse que tenho um segredo? – pergunta receosa.

― Aposto que o seu segredo não é maior ou mais impactante que o meu. – Ri.

Embry podia ver um leve sorriso brotar nos lábios femininos. Ambos tinham um segredo que julgavam importante e, com certeza, compreenderiam a necessidade um do outro de esperar o momento certo para se revelar. Ele ficava feliz com isso, pois dificilmente ela lhe perguntaria a respeito ou lhe pressionaria para saber a verdade. Tudo ocorreria no seu devido tempo.

― Embry, eu...

― Espera! – interrompe, fazendo-a pular de susto. – Dei-me duas semanas.

― Duas semanas? Para quê?

― Para conquistá-la à segunda vista. – Pausa. – Quero apenas duas semanas, Andy, para mostrá-la quem sou de verdade, para fazê-la me amar como eu já te amo! Apenas duas semanas – frisa.

― Está bem.

Naquele momento, eles se despedem. O encontro fora bem curto com relação aos outros, mas nem por isso tornara-se menos importante. Andy caminhava em direção à saída da praia lentamente, apertando as mãos contra o peito e tentando manter o controle sobre si mesma. Aquelas palavras seriam mesmo verdadeiras? Poderia alguém realmente amar alguém como ela? Era difícil saber, mas ela podia sentir que cada palavra dita a balançou profundamente e que sua amizade com o garoto nunca mais seria a mesma coisa.

Embry, porém, continuava lá, assistindo sua partida com admiração. Mesmo não recebendo uma resposta final, ele estava feliz por, ao menos, ter conseguido dizer o que sentia e ainda conseguir tempo para causar uma boa impressão, para conquistá-la definitivamente. E assim que ele a perde de vista, se levanta e ergue os braços em sinal de vitória.

Ele gira em seus calcanhares para finalmente retornar à reserva, mas congela subitamente, sentindo toda a alegria desaparecer e o medo tomar conta de seu corpo. Seu rosto torna-se branco e sua boca se abre duas ou três vezes ameaçando dizer algo.

― Quill – solta com muito custo, o desespero tornando-se evidente em sua voz.

Levou certo tempo até que ele pudesse reassumir o controle de seu corpo e caminhar em direção ao amigo, com um andar pesado, medroso. Embry podia sentir suas pernas tremerem.

― O que está fazendo aqui? – pergunta num sussurro.

― Me desculpe, Embry – pede, contorcendo seu rosto em arrependimento. – Era uma ordem alfa.

― Quill, por favor...

― Eles me mandaram espioná-lo.

― Você é meu amigo, Quill, estou lhe pedindo... Ou melhor, suplicando: por favor, não conte a eles.

― Me desculpe, Embry.

― Você é meu amigo! Crescemos juntos, isso não significa nada para você? – pergunta já em desespero. – Não conte nada a eles, eu só preciso de um pouco mais de tempo e então eu mesmo me encarregarei de revelar.

― Sinto muito, foram ordens do alfa.

Embry sentia o chão desaparecer sob seus pés e, em suas costas, o punhal da traição ser afundado. O seu bando, os que deveriam ser a sua família, agora se voltavam contra ele para arrancar-lhe o que acabaria lhes contando mais cedo ou mais tarde. Talvez ele realmente devesse ter contado antes, mas como confiar neles?

O sabor do desgosto era amargo e Embry não pôde fazer mais nada, a não ser caminhar de volta à reserva, para a emboscada que, com certeza, já estava armada para ele.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham colocado uma boa música para ler este capitulo, haha, fica bem mais emocionante assim ^^
E ai, gostaram? Eu gostei :)
Sou suspeita para falar, mas, como escritora achei que ele ficou do jeitinho que esperava e imaginava ♥

Próximo capitulo: Todos contra um!
A emboscada do bando quileute...