Olhos De Vidro escrita por Jane Viesseli


Capítulo 4
Menina dos Meus Olhos – Parte I




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― É claro que não! – exaspera-se Andy, afastando-se de Embry. – Bem, eu... Não é como se não quisesse... Eu quero, mas... Faço isso apenas para conhecer as pessoas melhores... Digo, sem ter que me basear apenas em sua aparência física... Ah!

Andy afunda o rosto nas mãos, sentindo a vergonha queimar toda a extensão de sua face. Fora pega de surpresa com aquela pergunta e não conseguira fazer nada além de se desesperar e gaguejar. Foi pensando melhor naquele assunto que ela se deu conta do quanto suas palavras se pareceram com uma cantada e do quanto suas ações a fizeram parecer uma garota frívola, se jogando para cima dele.

― Me desculpe, Embry! – pede ainda com as mãos no rosto. – Não quero que pense que eu sou...

― Nunca! – interrompe ele. – Você não é o "seja lá de ruim" que esteja pensando. Eu é que devo pedir desculpas, perguntei apenas por impulso, não queria constrangê-la ou insinuar nada.

O quileute sentia-se um pouco culpado por causar tal constrangimento à dona dos cabelos alaranjados. Fizera a pergunta na esperança de saber se ela estava comprometida ou se ainda estava livre para se apaixonar, mas acabou sendo um fiasco.

Levou certo tempo para que Andy baixasse as mãos de seu rosto. Em silêncio e mirando o movimento das ondas, ambos ficam parados, desfrutando da proximidade um do outro enquanto seus ouvidos captavam o murmurar do oceano. Durante um longo tempo nenhum deles se moveu, porque sabiam que qualquer gesto ou palavra poderia quebrar o instante mágico, trazendo de volta aquela situação constrangedora.

Embry era o único a desejar que aquela cena durasse para sempre. Andy ali, ao seu lado, era tudo o que ele precisava, mas sabia que não seria possível – pelo menos, não ainda.

― Preciso ir – sussurra Andy, afundando as mãos nos bolsos de seu casaco.

― Sim, eu imaginei que precisasse – comenta no mesmo tom.

― Posso pedir-lhe um favor?

― Qualquer um, a quem devo matar? – brinca, tentando espantar o clima ruim.

― Ninguém. – Ri, sentindo-se mais à vontade. – Irei visitar minha avó neste fim de semana, gostaria de tirar algumas fotos da reserva e da praia de La Push para que ela conhecesse o lugar. – Retira a mão direita do bolso, trazendo uma máquina digital à tona. – Não tenho muito talento com fotografias, nem muito tempo para tirá-las. Sei que acabamos de nos conhecer, mas, poderia tirar algumas fotos para mim? – pergunta receosa.

― Seria um prazer!

― Legal! – Sorri, estendendo a máquina na direção do quileute. – Amanhã eu volto para buscá-la...

Ele apanha o objeto, cobrindo os dedos de Andy com os seus próprios e levando mais tempo do que o necessário para retirá-los. A ruiva sente suas bochechas inflamarem e, por possuir uma pele muito alva, era visível a vermelhidão que se concentrava ali.

― Essa máquina é a garantia de que nos veremos de novo amanhã?

― Sim, é sim – responde desconcertada.

Embry sorri, despedindo-se em seguida e prometendo tirar boas fotos, enquanto a via se afastar com passos lentos. Doía-lhe levemente o peito vê-la partir, mas sabia que era consequência de seu imprinting e que ela voltaria no dia seguinte.

Assim que seus olhos não a enxergavam mais, Embry ligou a câmera e fuçou o cartão de memória em busca de fotos de sua Andy, mas estava completamente vazio. Ele se levanta do tronco velho e de aspecto feio, e, durante todo o caminho de volta, cobriu o ar com flashs e clics da máquina digital, registrando tudo o que achava bonito ou interessante para que pudesse se surpreender.

― O que está fazendo agora? – pergunta Paul com uma careta.

― Está ficando louco, Embry? – emenda Quill fazendo a mesma cara.

O quileute pula com o susto, pois, por um instante, se esquecera de que pertencia a uma matilha. Ele sorri, tentando demonstrar sinceridade enquanto sua mente agilmente corria atrás de uma mentira convincente.

― Estou tirando umas fotos da reserva, quero montar um álbum de lembranças. Vocês sabem, as coisas mudam muito com o passar do tempo e, se algum dia nossa reserva mudar, quero ter uma recordação de como ela é atualmente.

― Que legal, depois me passe as fotos? – pede Seth em sua eterna inocência.

Jacob o olha desconfiado, certamente não engolindo aquela história. Ele sabia que Embry nunca fora ligado coisas como fotos e lembranças, e nunca possuiu uma máquina como aquela, contudo, o alfa pareceu não querer confrontá-lo naquele momento.

― Você tem ronda hoje! – lembra Jake antes de partir.

Embry acena com a cabeça, ainda mantendo seu semblante de quem lhes falava a verdade e, somente depois que os amigos se foram, é que pode relaxar. Por um lado, o quileute se sentia mal de mentir daquela forma, mas não queria que eles estragassem tudo com suas brincadeiras idiotas e a famosa mania de diminuí-lo, de fazê-lo parecer incapaz de ter alguém. E se eles afastassem Andy por causa do senso de humor ridículo e, às vezes, cruel? Ele com certeza não os perdoaria.

No restante do caminho para casa, Embry continuou a fotografar. Somente seu imprinting ocupava-lhe a mente naquele momento e tudo o que era importante para ela, também se tornava importante para ele. "Você tem ronda hoje", foi o que Jake lhe dissera, mas ele não compareceu ao serviço naquela noite...

Na manhã seguinte, assim que Embry colocou os pés para fora de sua casa, Sam veio ao seu encontro, com Jacob e Seth em seu encalço. Ele não estava nada contente, mas o lobo cinzento aparentava não saber o porquê.

― Embry – chama entre dentes –, por que não foi à ronda ontem à noite? Por que deixou Seth vasculhar as fronteiras, sozinho? Já pensou no que aconteceria se vampiros tivessem atacado?

Os olhos do acusado se arregalam em seu rosto, ele esquecera completamente de seu compromisso com o bando, passando horas e mais horas da noite anterior, escrevendo uma lista de perguntas que gostaria de fazer para Andy, com o objetivo de não "travar" na próxima conversa.

― Qual o seu problema? Não foi à reunião do bando e agora resolveu faltar à sua ronda como quem mata aula na escola?

― Desculpe-me, Sam, creio que seja tudo minha culpa! – diz a Sra. Call da varanda, vindo em socorro do filho. – Não estive bem ontem à noite e Embry ficou em casa cuidando de mim. Você entende, não é? Com um corpo velho e ficando debilitado, as doenças parecem se alojar como se faz em um hotel.

― Claro que entendo, Sra. Call – corrige-se a tempo. – Eu não sabia, espero que melhore logo!

Um pedido de desculpas é sussurrado em direção à Embry, antes dos garotos quileutes realmente irem embora. Seth era o único que parecia não se importar com a situação, achando até mesmo divertido fazer a ronda sozinho.

― Obrigado, mãe! – agradece, quando os seus irmãos de bando estavam longe o suficiente.

― Por enquanto você possui um álibi, Embry, mas não demore a contar a verdade para eles.

― É só uma questão de tempo, mãe. Quero apenas conquistar o coração da Andy, preciso fazê-la me amar assim como eu já a amo. Quando isso acontecer, prometo que contarei a verdade para todos eles!

Embry sabia que, cedo ou tarde, teria de contar sobre o imprinting, mas até lá queria manter suas atenções em quem realmente importava. Ele se despede da mãe com um beijo e parti em direção à praia, tendo que desviar seu caminho duas vezes para fugir dos integrantes da matilha, para evitar perguntas desnecessárias.

Já passava do meio dia quando Andy apareceu próximo à entrada de La Push, cantando novamente a sua musiquinha esquisita, a mesma da última vez. Apesar da cantoria, ela caminhava devagar, movendo-se com desânimo e, assim que se aproxima da mureta que delimitava o início da praia, se senta.

Sua manhã fora bastante difícil no trabalho de meio período, tudo por causa de um garoto idiota que resolvera fazer chacota com sua pessoa e tirar a concentração de todos no local. Parada ali e com a mente absorta do mundo, seus pensamentos voam de lembrança em lembrança, até pousarem em seu primeiro encontro com Embry, fazendo um sorriso involuntário surgir em seus lábios.

De repente, um leve clic se fez ouvir. Ela volta-se em direção ao pequeno barulho no exato momento em que o quileute baixava a câmera e caminhava em sua direção, com seu costumeiro sorriso iluminado.

― Oi, Andy.

― Estava com a cabeça longe e não o notei chegar, está aí há muito tempo? – Sorri, baixando a cabeça novamente.

― Acabei de chegar, mas eu gostaria de ter chegado primeiro para completar sua música novamente.

― Podemos providenciar isso nas próximas vezes.

― E haverá próximas vezes? – pergunta com expectativa.

― Se ainda tiver interesse em conversar com uma completa estranha... – Ri, deixando a frase suspensa no ar. – Você é legal e, no que depender de mim, nos tornaremos ótimos amigos.

Embry sorri animado. Amizade não era bem o seu objetivo, mas tinha de admitir que era algo bom, afinal, como ela o amaria se não o conhecesse primeiro?

Como no dia anterior, ele agarra a mão de Andy sem aviso prévio e a guia novamente para o velho tronco caído, pois, no que dependesse dele, àquele certamente se tornaria o seu lugar. Desta vez ele se lembrara de vestir uma blusa de manga comprida para ajudar em sua simulação de "ser humano normal", mas Andy parecia não ter percebido, ou, talvez, não quisesse se apegar a isso. Contudo, agora o lobo poderia ficar tranquilo quanto à parte de levantar suspeitas.

― Acho que isso é seu – recomeça ele, depois de se sentarem, erguendo a câmera digital em direção à menina. – Espero que goste das fotos.

Andy junta as mãos formando uma concha e o quileute deposita o objeto ali. Ela estava surpresa, pois, no início, não tinha certeza se Embry realizaria aquele imenso favor, mas logo sua expressão surpresa desaparece, dando lugar ao imenso sorriso que faziam seus olhos diminuírem de tamanho.

― Obrigada, Embry! Pensei que não conseguiria tirar as fotos. – Ela pensa por alguns instantes, guardando o objeto no bolso em seguida. – Se não se incomodar, gostaria de ver as fotos com minha avó, não quero quebrar a surpresa.

― Não tem problema, faça como achar melhor!

É lógico que tinha problema, que ele se incomodava. Na noite anterior, tirara uma foto de si mesmo para que ela o guardasse consigo, e estava ansioso para ver sua reação ao encontrar a foto dele no meio das demais, queria ver se sua imagem lhe proporcionava algum tipo de efeito ou sentimento. Entretanto, sua ideia foi frustrada e ele nada podia fazer a não ser concordar com a vontade dela.

Por um momento seu rosto demonstrou seu descontentamento, mas tudo se dissipou quando Andy agarrou-lhe a camisa na altura do ombro e o puxou para um abraço.

― Obrigada novamente! Nem sei como lhe agradecer...

Ele corresponde ao abraço, sentindo o torpor tomar conta de sua mente e seu coração dar cambalhotas em seu peito. Nossa! Sempre ouviu disser que eram os lobos a exercerem influências e atrações nas garotas, mas com Andy era totalmente o oposto, parecia ser ela o polo de atração e ele o inocente atraído...

― Eu sei como – diz ele, com certo esforço.

Andy desfaz seu abraço ainda esboçando um sorriso de orelha a orelha, enquanto Embry afundava a mão no bolso da bermuda, retirando a folha repleta de perguntas.

― Tenho muita coisa para perguntar e desta vez não vou travar, pois anotei tudo!

― Muito esperto, senhor Call, então vamos, pergunte o que quiser...


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Notas finais do capítulo

No próximo capitulo teremos uma conversa um pouco mais solta entre Andy e Embry, conheceremos um pouquinho mais sobre nossa protagonista. Espero que tenham gostado do capitulo ^^
Beijos mil, Jane ♥