Olhos De Vidro escrita por Jane Viesseli


Capítulo 27
Dia Três




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Aquela fora de longe e de perto a pior noite que Embry tivera em toda a sua vida. Levou apenas alguns segundos para que as pontas da Dama de Ferro perfurassem sua pele, adentrando sua carne e lhe causando uma agonia constante e ininterrupta.

Em sua mente circulavam lembranças das lágrimas de Andy, a imagem frágil da humana penalizava Embry a ponto de sufocá-lo, a angústia fluía de seus olhos e de seus lábios descontroladamente, fazendo o lobo chorar e soluçar como uma criança desesperada.

Do lado de fora nada podia ser ouvido, nenhum grito, nenhum soluço, nada... A Dama de Ferro não deixava escapar nada de seu corpo pesado e de puro metal. E como se não bastasse isso, a cada tentativa do quileute de respirar, o fazia sentir as pontas do sarcófago se mexerem dentro de sua carne, fazendo-o lembrar que aquilo perduraria até o amanhecer.

Embry já estava em silêncio ao raiar do dia, não havia mais lágrimas a serem derramadas, não havia mais voz para gritar o quanto odiava aqueles vampiros, aquela situação e a si mesmo, por ter machucado Andy. Apenas o sossego fúnebre pairava naquele porão e ele permaneceu inerte e de olhos fechados, apenas desejando o fim de tudo aquilo.

O barulho das trancas sendo abertas chega aos ouvidos do lobo, a porta da Dama de Ferro se abre subitamente, fazendo seu semblante se contorcer ao sentir as pontas saindo de seu interior. Uma risada ecoou depois disso, alguém parecia se divertir com seu sofrimento e, ao abrir os olhos, o quileute se condoeu diante da expressão de escárnio de Hector.

― Vejo que alguém teve uma noite difícil – debocha. – Vamos, saia logo daí...

O lobo o ouvia, mas não obedecia. Seu corpo estava dormente e melecado com uma mistura de sangue, suor e lágrimas.

― Saia logo, seu sarnento! – esbraveja com nojo, puxando o braço do quileute para impulsioná-lo a sair.

Ele cambaleia alguns passos e logo cai, sentindo um incomodo rápido em seus ferimentos, mas sendo logo aliviado pela frieza daquele chão. Sem forças, era assim que ele se sentia. De seu orgulho não sobrara mais nada, Embry não tinha mais como manter a cabeça erguida diante de seus inimigos, pois sentia fome, cansaço e fraqueza.

― Tem algo a me dizer antes de começarmos nossas brincadeiras, garoto lobo?

― Me mate – sussurra ele, sentindo sua voz sair rouca pelo tanto que gritara durante a noite.

― O que disse? – pergunta o vampiro, sorrindo com a frase que ouvira muito bem e agachando-se ao seu lado somente para ouvi-lo repetir.

― Por favor, me mate de uma vez.

― Não acredito. – Se levanta, batendo palmas e festejando. – Eu lhe disse que antes da semana terminar você pediria pela morte! – Ri. – Eu sabia que a humana o afetaria, mas não imaginava que seria tanto.

― Eu lhe imploro – sussurra num timbre mais choroso –, acabe com isso logo...

― Oh, que bonitinho, está até implorando – comenta com euforia –, é uma pena que eu não pretenda matá-lo agora.

― Por favor, por favor, por favor...

― Não, não e não. Ainda quero vê-lo rastejar, mas, por hora, o deixarei descansar. Vamos conversar com a ruiva novamente.

Embry fecha os olhos com força, o semblante contorcendo-se novamente. Hector observa o corpo largado no chão com extrema satisfação e, dando-lhe as costas, sobe as escadas do porão sem remorso ou pena do prisioneiro enfraquecido.

O quileute gira no chão após sua saída e fica a fitar o teto. Por quanto tempo mais aguentaria aqueles jogos? Era estranho pensar no quanto estava forte e disposto no dia anterior, e no quanto se sentia fraco agora... Sem Andy nada fazia sentido e, ao magoá-la, ele sentiu que a estava perdendo novamente. A morte começava a parecer um sonho para o naquele momento; sumir, morrer, desintegrar, ele queria qualquer coisa, contanto que aquela sensação de vazio desaparecesse.

Ele permaneceu quase duas horas naquela posição, olhando pra cima e imerso em pensamentos até que Ana aparecesse para alimentá-lo. A vampira desceu as escadas e parou à três metros de distância do quileute, franzindo o cenho com o cheiro de seu sangue metamorfo.

― Seu sangue fede mais do que sua pele, garoto lobo – começa ela, chamando a atenção dele. – O que você tem de atraente é completamente encoberto por seu fedor.

Ana deposita a bandeja farta de comida no chão, havia dois sanduíches desta vez, acompanhado de um pacote de fritas e dois copos de água, o que realmente prendeu os olhos de Embry por longos minutos.

― Pode trazer pra mais perto? – cogita ele, sentindo sua voz restaurada devido a sua recuperação acelerada de lobo. – Por favor...

― Sendo educado com uma vampira? – ironiza a mulher. – E por que acha que serei boa com você?

― Se quiser comer terá que buscar a bandeja! – explica a voz grave e já conhecida de Hector.

O vampiro descia as escadas enquanto falava, lentamente como faziam os humanos, e em sua retaguarda vinham Tayrone e John, todos os três sorrindo. Ao descer o último degrau, o líder se coloca ao lado da companheira, enlaçando sua cintura como se quisesse causar inveja no quileute, mas tudo o que ele sentiu foi náusea.

― Vamos, garoto lobo, venha comer.

Embry torce a boca para o vampiro e levanta o tronco para se sentar. Seu corpo já não estava dolorido como antes e as perfurações não existiam mais, entretanto, ainda assim, o metamorfo se sentia incapaz de ficar de pé. Ele sorriu discretamente quando percebeu que ao menos podia ficar de joelhos, mas uma pontada de preocupação transpassa seu rosto ao ver que Hector fazia um movimento de tesoura com os dedos e que John se aproximava sorrateiramente dele.

― Com as pernas? Hoje não, cachorro.

John segura o pescoço de Embry com força e com sua velocidade vampírica chuta ambas as coxas do quileute, quebrando o fêmur de suas duas pernas no mesmo instante e o soltando em seguida como um saco de batatas. O barulho dos ossos se partindo faz o líder nômade sorrir e um grito ecoar da garganta do quileute com tanta potência, que fora capaz de romper o limite daquele porão e atingir os ouvidos da humana, arrepiando toda a extensão de sua pele branca.

― Rasteje, cão sarnento – ordena seu agressor.

― Desgraçado!!! – Foi tudo o que ele conseguiu dizer, enquanto tentava não se mover devido a dor.

― Acho bom se apressar ou Ana aumentará sua dor. – ameaça Hector. – Eu não gostaria de ter este salto em minha perna quebrada, você gostaria?

O quileute entendera bem o recado, ele tinha que rastejar, tinha que se humilhar diante deles e aquilo não era opcional, ele tinha que obedecer. Ainda com a perna latejando de dor, Embry apoia o tronco nos cotovelos, forçando o corpo para frente e, assim, rastejando como um animal ferido até o seu alimento.

Os três metros foram percorridos com esforço e seus lábios pressionavam-se um ao outro com força, impedindo que qualquer manifestação de dor fosse proferida. E, ao terminar o trajeto, Embry encontrou-se cara a cara com o alimento que lhe parecia muito saboroso.

― Coma! – Agora era Ana a dar a ordem.

Embry estava impossibilitado de se sentar e não tinha outra forma de se alimentar a não ser aquela: deitado e com apenas os braços para se usar. Tudo bem que ele era um lobo, que gostava de correr em quatro patas e de sentir a terra úmida da floresta sob seus pés, mas nunca se imaginou comendo naquela posição tão deplorável, ainda mais em sua forma humano.

Encabulado e humilhado, ele mordeu um dos sanduíches, sentindo-o cair como o manjar dos deuses em seu estômago, não conseguindo mais conter o tamanho de sua fome e devorando o que lhe era oferecido como um verdadeiro selvagem.

Pequenas risadas ecoavam das gargantas frias que apenas observavam. Vê-lo se comportar como o animal era uma grande realização, rastejando e se rebaixando diante dos vampiros por meras migalhas. Aquilo realmente acontecera melhor do que Hector imaginara e, após terminar, Embry se sentiu ainda mais envergonhado por toda aquela situação.

― Bom garoto! – caçoa Ana, agachando-se diante dele. – Se fizer um truque eu lhe dou um biscoitinho!

O quileute a encara inexpressivo, movimentando o queixo de modo suspeito e cuspindo na cara da vampira em seguida. Ana abre a boca num perfeito "o" diante da atitude petulante de Embry, e Tayrone e John não puderam conter uma leve risada, o que a deixou possessa. Rapidamente ela se move para trás do lobo, pisando em sua fratura com o salto alto enquanto limpava a baba de seu rosto com a mão.

Outro grito agoniado escapa da garganta de Embry, tão forte que novamente fora capaz de atravessar o teto e chegar aos ouvidos da humana, que estava sozinha e trancada no quarto, sentindo um novo arrepio subir-lhe a espinha e a pele de seus braços se eriçar.

― Vou matar você seu pulguento! – vocifera.

― Já chega Ana, vamos subir – ordena o líder, virando-se para os outros em seguida. – Coloquem-no na jaula... Foi divertido enquanto durou, mas precisamos esperar ele se recuperar para colocá-lo à frente da humana.

― Se é que ele vai se recuperar – debocha Tayrone –, com um lanchinho por dia eu duvido que ele se recupere tão rápido... E se recuperar, ficará magro como um palito.

― Deixe-o na jaula até amanhã então, o que importa é que ele esteja inteiro.

― Poderíamos aproveitar para lanchar – sugere a vampira, enlaçando o companheiro pela cintura de forma sensual. – Estou sedenta.

Hector sorri para os trejeitos voluptuosos de Ana, abocanhando o lábio inferior da mulher ao concordar com seu pedido e fazendo os outros dois vampiros revirarem os olhos. O casal se retira, deixando apenas Tayrone e John a cuidarem do aprisionamento do quileute.

Com um vampiro segurando em cada braço, Embry apenas conteve seus gemidos enquanto seu corpo era arrastado em direção a uma jaula. Eles o lançam porta adentro, fazendo-o bater com a cabeça na grade do fundo e empurram suas pernas sem o mínimo cuidado, até finalmente conseguirem fechar a pequena gaiola e envolvê-la com correntes.

A jaula era pequena e baixa, não dando espaço para que um humano ficasse em pé ali dentro, mas tudo bem, o quileute não esperava poder ficar de pé tão cedo depois do que lhe fizeram. A dormência que sentira mais cedo retornava sobre seus membros inferiores e, sob constantes gemidos Embry se sentou dentro da gaiola, arrumando suas pernas quebradas para que calcificassem da melhor maneira possível.

Levou longos minutos para que o quileute conseguisse fechar os olhos e finalmente dormir, ele não tinha um espelho e por isso não fazia ideia do quão horrível suas olheiras estavam, contudo, de uma coisa ele tinha certeza: que não queria mais acordar.


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Notas finais do capítulo

Como avisei no facebook, tive prova final da faculdade ontem e por isso demorei a atualizar a fanfic, mas correu tudo bem graças a Deus, estou super feliz com o resultado e vim correndo terminar de escrever e postar o capitulo novo pra vocês... Comigo é assim, eu fico feliz e quem ganha o presente é vocês, rsrs, espero que tenham gostado :)
Agora que estou de férias tentarei atualizar com mais frequencia, mas não darei dias exatos, escrever cenas de tortura são meio difíceis para mim e por isso levam certo tempo para ficarem prontos, estou queimando meus neurônios pra terminar estes capítulo hahaha.
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Próximo capitulo: Na Madrugada do Quarto Dia
Veremos como anda a cabecinha da nossa ruiva predileta...