Olhos De Vidro escrita por Jane Viesseli


Capítulo 24
Dia Um




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No início, Embry tentou emergir daquele barril com certa fúria e usando de muita força, mas, depois de algum tempo, foi o desespero que o impulsionou a tentar sair daquela situação. A falta de oxigênio feria seus pulmões, no entanto, era óbvio que os vampiros não o deixariam morrer tão cedo, e quando sua cabeça finalmente é retirada da água, ele não evitou uma respiração pesada, ofegante e urgente.

O quileute ainda sentia as mãos geladas prenderem os seus braços e ouvia com clareza as risadas sarcásticas de todas aquelas criaturas. Sua vontade naquele momento era a de aniquilar todos eles e, por pensar demais na ideia, acabou deixando escapar um rosnado, revelando as intenções de seu lobo interior.

― Quer virar lobinho quer? – pergunta Hector como se falasse com uma criança. – Se você reagir, serei obrigado a machucar a garotinha humana. Ana está com ela agora, lá em cima, no quarto, tão silenciosa que a menina nem sequer notou sua presença...

Droga! Embry já sabia daquilo, sabia que se tentasse algo era Andy quem pagaria o castigo. Ele nem sequer iria se transformar de verdade, apenas sentiu vontade, e antes mesmo que pudesse cogitar uma resposta ou qualquer outro pensamento, Hector agarrou seus cabelos negros e o afundou no tonel de água novamente.

A brincadeira perdurou durante muito tempo, mais tempo do que o quileute gostaria na verdade, e, a pior parte, era não poder mover um músculo contra eles. Jonh já havia se fartado daquele jogo logo nos primeiros minutos, pois não via a hora daquela etapa terminar, contudo, Hector parou somente depois de Embry colocar pra fora toda a quantidade de água que havia engolido.

― Solte-o e deixe-o se recuperar, quero amarrá-lo à cadeira ainda hoje – ordena o líder do clã, saindo do porão em seguida.

Foi somente quando Tayrone soltou suas mãos, que o quileute percebeu o quanto suas pernas estavam bambas e que, na verdade, era o vampiro quem o mantinha de pé. Seu corpo foi ao chão instantaneamente, com os pulmões ainda ofegantes e buscando a normalidade, os olhos desfocados, e o tronco nu encharcado assim como seus cabelos.

Embry sentia-se cansado, muito cansado. Seu lado lobo sempre lhe dera a resistência necessária para aguentar as lutas e as surras que lhe davam, mas agora era o seu lado humano quem estava sendo atacado e fragilizado.

― E esse é só o primeiro dia, garoto lobo – esclarece Jonh.

― Embry – sussurra em resposta –, eu tenho nome...

― Tanto faz – resmunga Tayrone. – Agora se levante, temos outro entretenimento para você.

― Como... Como ela está? Posso vê-la?

― Não, não pode. E ela está bem, já que você soube se comportar. Agora levante! – Embry se levanta lentamente. – Muito bem, cãozinho obediente – debocha.

Tayrone aponta para a mesma cadeira que o quileute usara anteriormente, o rapaz se sentou e acompanhou, com certa lentidão mental, enquanto Jonh lhe amarrava ao móvel, prendendo não só o seu tronco, como também suas mãos.

― Fique aí – ordena o irmão de Gregory –, e comporte-se.

Os vampiros trocam risadas maliciosas enquanto subiam as escadas para o andar superior, deixando Embry finalmente em paz. E quando a nuvem em sua mente desapareceu, o quileute se deixou raciocinar por alguns minutos enquanto arrebentava as cordas que o prendiam. Francamente, ele era o peão naquele lugar, mas, ainda assim, tinha seu orgulho e não se permitiria ficar amarrado daquela forma.

Mesmo solto, o lobo precisaria permanecer ali, esperando o retorno dos vampiros e torcendo para que eles cumprissem com sua parte do acordo. Embry fecha os olhos por alguns minutos, deixando sua mente vagar e imaginar Andy sorrindo graciosamente para ele, enquanto mirava os olhos em seu rosto como se pudesse realmente vê-lo... Ah, quanta perfeição para um único ser humano, e pensar nela era algo tão bom, que ele nem sequer notara quando os seus humildes pensamentos se transformaram em sonho e o guiaram a um sono profundo.

Em seus sonhos ela estava na praia de La Push, caminhando pela areia até o tronco em que costumavam se encontrar. Ele apenas a seguia, admirando-a, e, quando finalmente se aproximou para abraçá-la, tudo desapareceu...

― Acorde animal, seu descanso acabou! – grita Jonh impaciente, acertando o rosto do quileute com a costa da mão esquerda e o despertando no susto.

Hector solta uma risada baixa enquanto o lobo massageava os ombros e a nuca. Embry dormira numa posição nada favorável e agora sentia dores em toda a região do tórax.

― Que feio, o cachorro escapou da coleira – diz Tayrone, referindo-se às amarras.

Por um momento o líder até pensou em aplicar uma punição por aquilo, mas logo chegou a conclusão de que machucá-lo seria ainda mais interessante com ele liberto.

― Faça as honras, Tayrone – incentiva ele.

Embry franze a testa em confusão, não sabia do que se tratavam as tais honras e por precaução se colocou de pé enquanto seus instintos apitavam em sua cabeça. Sua incerteza logo foi dissipada quando o vampiro resolveu começar a nova brincadeira, acertando-lhe um soco no rosto e o jogando contra a parede.

― Não tão forte – alerta Jonh –, ele precisa ficar vivo, sabia?

― Isso é verdade, meu irmão! – Agora era o líder. – Vá devagar com a força, quero apenas que o façam sangrar...

― Está bem, está bem – resmunga o vampiro, revirando os olhos.

O quileute fica desorientado por alguns de segundos, mas logo volta a si, sentindo a fúria de seu lobo exalar de seus poros. Tayrone estava o provocando ao tocá-lo daquela forma, como se ele não fosse nada, chamando-o para uma briga. No entanto, a pior parte era tentar segurar o monstro incontrolável que habitava em seu interior e que já queria partir para a confusão.

Talvez uma transformação ele pudesse conter por enquanto, mas não parecia disposto a abaixar a cabeça para aqueles seres nojentos, afinal, a vontade de socá-los não pertencia somente ao seu lobo, pertencia ao seu lado humano também. E foi pensando nisso que Embry se jogou contra o vampiro, abraçando sua cintura e o arremessando contra o chão, acertando-lhe o rosto diversas vezes antes de ser finalmente chutado para longe pelo próprio Tayrone.

Hector apenas observava enquanto o garoto lobo investia contra seu irmão novamente, sentindo perfeitamente a aproximação silenciosa que Ana fazia em direção a humana, no andar de cima. Mas o líder nômade não era de todo idiota, sabia que, apesar de reagir, Embry estava contendo sua transformação.

― Não faça nada, Ana, isso vai ser mais divertido se ele também lutar!

― Ok – responde a vampira num sussurro mínimo, para ser ouvida apenas pela audição aguçada do companheiro.

A partir dali, Hector e Jonh entraram na brincadeira de ferir o lobo. O que antes era uma luta equilibrada tornou-se um espancamento doloroso e covarde, três contra um, em um jogo que perdurou por toda a tarde. E apesar dos vampiros se conterem em sua força, deixaram o quileute acabado.

Quando a noite finalmente decidiu cair sobre aquela região, Embry ficou novamente sozinho naquele porão, que agora parecia ainda mais escuro do que antes. Suas pernas e abdômen possuíam marcas roxas horríveis, tão medonhas que conseguiam se destacar em sua pele morena. O corpo doía por completo e havia cortes em seus lábios e ombros, ele podia sentir duas costelas quebradas em seu peito, além dos dois dedos estourados da mão direita... Maldita hora em que decidiu bater em Jonh e o vampiro com cara de tonto quebrou-lhe os dedos e abriu o seu pulso, agora só lhe restava esperar o processo de cura de seu corpo e torcer para que seus ossos se calcificassem da melhor forma possível.

Embry permaneceu ali, largado num canto qualquer do cômodo, observando seu corpo ferido e as poças de sangue que vomitara durante a briga. Ele sabia que ninguém viria cuidar dele ou zelar pela sua vida, mas tudo bem, era só uma questão de tempo até que se curasse e se sentisse revigorado.

Uma cadeira é ajeitada no meio do porão com certa brutalidade, fazendo o quileute finalmente perceber a chegada de Ana. Em sua outra mão a vampira segurava uma bandeja que – pelo cheiro – o lobo julgou ser um x-burguer, batatas fritas e um copo de água.

― Eles bateram em você pra valer, não é?

― Nada mais do que já esteja acostumado – menti. – Eles batem como meninas...

― Garoto lobo. – Ri. – Acho melhor deixar seu orgulho de lado ou isso lhe trará ainda mais problemas.

― Está preocupada comigo, vampira?

― Não – rebate com confiança –, é só um aviso... Aqui está a sua janta – anuncia, colocando a bandeja de comida na cadeira e finalmente fazendo o lobo perceber que já havia anoitecido. – Agora se alimente e sobreviva para amanhã.

― E do que vamos jogar amanhã? – pergunta, sem mover um músculo.

― Amanhã você verá sua preciosa Andy, vamos jogar com os dois!

Embry arregala os olhos em surpresa, sua vontade de vê-la era colossal, mas novamente seus instintos lhe alertavam de que algo não estava certo. Ana se retira na sequência, e, assim que o lobo cinzento ouve a porta sendo trancada, se arrasta em direção à comida que lhe fora dada.

Tudo estava frio, as batatas moles e a água fora retirada da torneira, entretanto, aquele não era necessariamente o momento de exigir qualquer luxo ou higiene, ele era um prisioneiro, um peão e estava faminto. Somente aquilo lanche não saciaria sua fome de lobo e seu metabolismo acelerado, mas um resquício de alimento era melhor do que nada.

Cerca de meia hora depois, os vampiros homens retornaram para amarrá-lo novamente, amordaçando sua boca e explicando que seria daquela forma que ele passaria a noite. No entanto, assim que se sentiu melhor e recuperado, Embry estourou as amarras novamente para se aconchegar no chão gelado, não querendo se prestar ao papel ridículo de ser amarrado por seres tão desprezíveis.

E como Ana lhe alertara: seu orgulho ainda lhe traria muitos problemas.


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Notas finais do capítulo

Mais um capitulo pra vocês :)
Ainda está em processo de revisão, mas espero que gostem!!
Estou devendo um capitulo em Coração Gelado também, mas eu dei uma travada no capitulo, ainda estou tentando terminá-lo.
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Próximo capitulo: Dia Dois