Olhos De Vidro escrita por Jane Viesseli


Capítulo 23
Uma Semana para a Morte




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Apesar de o medo percorrer cada fio de sua pelagem, Embry sentia seus músculos se energizarem com a ideia de ter Andy em liberdade novamente. Suas patas golpeavam o chão furiosamente, fazendo montes de terra e neve serem arrancadas do solo a cada segundo.

Seus olhos estavam tão focados no trajeto que percorria que o lobo mal notara o dia clarear e o vento se tornar ainda mais forte. As grandes nuvens negras ainda permaneciam pelo céu, correndo como um grupo de morcegos se reunindo para uma marcha fúnebre. Devia ser por volta das sete horas da manhã quando, sem aviso prévio, um estranho raio rasgou as nuvens, trazendo consigo um som ensurdecedor.

Embry sente seu coração falhar algumas batidas com o susto que tomara, somente então reparando no dia cinzento que se iniciara. Os raios ricocheteavam no céu, dando ainda mais adrenalina para a corrida do lobo, contudo, ele não deixava de imaginar que aquela, na verdade, era a forma da natureza se despedir de um de seus protetores.

Levou pouco mais de uma hora para que ele finalmente chegasse ao local indicado. O tal esconderijo era uma casa no lago, na realidade, com um andar, uma varanda grande e um píer, onde um barquinho boiava suavemente. O telhado vermelho fazia contraste com o verde ao seu redor, a construção era bem distante da estrada principal, embrenhado na floresta, e, a julgar por seu bom estado, certamente era roubada.

O lobo retorna à forma humana, vestindo apenas uma bermuda para cobrir sua nudez e marchando apressado em direção a casa, com a mochila em suas costas. Enquanto se aproximava, Embry ouviu o alvoroço em seu interior e de repente um tiro rasgou o ar, acertando a neve bem próxima aos seus pés descalços.

― Ana! – exclama ao recuar, mas sem realmente levantar o tom de voz. – Sou eu, vim como pediram: humano, sozinho e sem truques.

Houve mais um alvoroço dentro da construção antes da porta ser finalmente aberta, revelando a imagem sedutora da vampira nômade.

― Vejam que interessante, o convidado finalmente chegou para a festa – debocha a vampira. – Achei que fugiria como um filhotinho assustado, no entanto fez o contrário, e ainda conseguiu ser pontual...

― Entre, cachorro – ordena uma voz masculina, cujo dono não se dera ao luxo de sair e se apresentar.

Embry se aproxima lentamente, sentindo seus instintos gritarem em protesto pela presença dos vampiros. "Corra! Perigo", gritava seu lobo interior, "inimigos", lhe alertava. E quando Ana fechou a porta atrás de si, ele percebeu que não estava mais em tempo de sair.

Os olhos do quileute percorrem a sala em análise. Era bonita e confortável, na janela mais próxima tinha uma escrivaninha com uma espingarda – provavelmente fora dali que atiraram contra ele –, entretanto o que mais lhe chamou a atenção foi o vampiro sentado na poltrona do outro lado do cômodo. Cabelos curtos, rosto pálido e determinado, olhos vermelhos e postura ereta, como um rei sentado em seu trono.

― Essa não parece uma casa que um clã nômade seria capaz de ter – indaga.

― De fato! – esclarece Ana. – Tivemos de tomá-la de seus verdadeiros donos...

― O que fizeram? – pergunta apenas por perguntar.

― Nada demais, eles estão felizes agora... Descansando no fundo do lago. – Solta um suspiro profundo, fazendo uma negativa com a cabeça. – Pobre casal, se tivessem cedido a casa teríamos poupado suas vidas, ou, pelo menos, a de seu filho... Porém, ele era apenas um bebê, no fim das contas, nem chegou a sentir medo ou a sofrer.

Embry fecha os olhos em condolências àquela pobre família. Por que os vampiros tinham de ser sempre assim? Sempre cruéis e ordinários? Estar frente aquele clã de assassinos fazia-o valorizar ainda mais o estilo de vida adotado pelos Cullens, que, apesar de vampiros, pareciam bem mais humanos que aqueles malditos vermes.

O quileute abre os olhos, fitando os olhos altivos que o encaravam.

― Você é Hector?

― Não, sou o irmão dele, Tayrone – responde sem humor.

― Estou aqui como me pediram, quando libertarão minha garota?

― Cale-se, não é você quem faz as perguntas por aqui. Agora me siga... Hector o espera no porão.

A caminhada em direção ao verdadeiro líder fora silenciosa, mas parecera durar uma eternidade. No meio do caminho Embry notou a escadaria que levava ao andar de cima e o cheiro familiar vindo daquela região, Andy estava ali, em algum lugar, e seu lobo interior se alegrou com o fato.

Tayrone para ao chegar a seu destino, saindo do caminho e apontando com a cabeça a escadaria que o levaria ao chefe nômade. O lance de escada era de fato longo, dando ao lobo uma pequena noção do quão abaixo do solo o porão se encontrava, contudo, o lugar não era sujo como ele imaginou que seria, era limpo, porém escuro e cheio de equipamentos que ele reconhecia de algum lugar de suas aulas de história.

Seus olhos se perderam no ambiente por alguns instantes, tentando desvendar os mistérios que ainda o aguardavam naquele lugar, mas sua atenção fora puxada rapidamente para a realidade ao ouvir a voz do líder nômade ecoar no silêncio daquele quarto escuro:

― Sente-se! – ordena.

O lobo se arrepia em alerta, seus instintos o mandavam fugir novamente, mas, ao contrário disso, ele simplesmente ficou e se sentou na cadeira que lhe era oferecida – afinal, não era como se realmente fosse conseguir fugir.

― Hector? – pergunta apenas para confirmar.

― Sou eu – responde, dando dois passos à frente para ser analisado.

Atrás do vampiro se posicionaram os capangas, Tayrone e Ana do lado direito e um vampiro desconhecido do lado esquerdo. Os quatro analisavam o quileute com cuidado, enquanto eram analisados de volta por ele...

― Quando deixarão minha garota partir? – pergunta novamente, achando que alguém precisava começar a falar no fim das contas.

― Ela não é sua garota – rosna Tayrone. – A humana é parceira de Gregory, meu irmão, a quem você retirou deste mundo, dando fim a sua imortalidade!

― Andy estava comigo antes mesmo dele aparecer... Ele a machucou e eu o matei, protegi o que amo, simples assim.

― Você sabe por que está aqui? – pergunta Hector com olhos faiscantes.

― Eu sei, olho por olho e tal. Mas quando irá soltá-la?

― Sua petulância está começando a me irritar, cachorro – fala o vampiro desconhecido. – A humana será libertada conforme as regras do jogo, não tente apressar as coisas.

― Tem algo a dizer antes que comecemos com as regras? – Agora era Ana.

― Quando a deixarem ir... – Retira a mochila das costas. – Deem isso a ela.

Ana apanha a mochila que era oferecida ao companheiro, se retirando sem fazer ruído para guardá-la em algum lugar. Hector dá um aceno leve de cabeça e Tayrone logo lhe traz uma cadeira, mas Embry não fez nada além de observar o vampiro se sentar e o olhar semblante desafiador.

Hector era de longe e de perto o mais sinistro dos vampiros. Seu rosto era enjoativamente perfeito, mas havia uma cicatriz horrível atrás de sua orelha, escondida pelos cabelos, que parecia seguir caminho para as costas. Embry também notou outra cicatriz no braço esquerdo, algo tão asqueroso que o quileute não pode evitar franzir a testa.

― Então você é o garoto lobo. – Ri. – O que aniquilou meu irmãozinho...

O quileute sente um calafrio subir-lhe a espinha, aquilo não era uma pergunta e sim uma constatação, mas ele não se deixou intimidar e sustentou o olhar de seu oponente com vigor.

― Sim, sou eu.

― Gregory sempre foi muito bonzinho... Ficou dias assistindo a vida da humana em vez de transformá-la de uma vez. Por um tempo ele realmente desejou viver como os mortais, acredita? – Gargalha. – Isso é tão ridículo, mas eu reconsiderei, afinal, ele era o melhor de nós...

― Melhor? – Sorri sem humor. – Onde eu vivo não posso chamar aquilo de "melhor" ou "bom".

― Deixe-me arrancar essa audácia do rosto desse animal Hector – esbraveja o vampiro ainda anônimo.

― Calma Jonh, cada coisa tem seu tempo – responde o impassível Hector. – Até porque, ele não ficará orgulhoso ou petulante por muito tempo... – Volta-se para Embry. – Bem-vindo à Casa de Jogos, garoto lobo, onde nosso divertimento é a sua desgraça! – Abre os braços como se esperasse um abraço fraternal.

Os olhos avermelhados soltam um brilho sinistro enquanto o vampiro sorria confiante. E a partir daí, as regras começaram a ser explicadas.

― Você é nosso peão agora e não poderá fazer nada, a não ser o que lhe seja pedido – explica o vampiro conhecido como Jonh. – Para qualquer erro que cometer haverá punição, que será depositada sobre a humana.

― Por sete dias você será nosso – continua Tayrone –, por sete dias brincaremos com você e, se for obediente até o final, soltaremos a menina antes de finalmente matá-lo...

― E de que tipos de jogos estão falando afinal? - pergunta Embry com desconfiança.

Hector se coloca de pé subitamente e se aproxima de um grande barril de água, dando um sinal para que os capangas pegassem seu "brinquedinho vivo". Embry sente nojo ao sentir John prendendo suas mãos nas costas, aquele toque frio e asqueroso lhe dava náuseas e atiçava seus instintos de transformação e defesa. Mal sabia ele que, depois de um tempo, seu lobo interior não teria mais forças e seus instintos não mais responderiam aos estímulos a sua volta!

― Sabe por que Gregory era um bom garoto? Porque ele não passou pela época da inquisição como eu passei – recomeça Hector, respondendo a própria pergunta. – Ele não torturou pessoas como eu torturei, não ouviu crianças gritando enquanto eram rasgadas ao meio como eu ouvi. – Acaricia o rosto do quileute de modo suspeito. – Ele não sentiu prazer em matar a mulher adultera que amava, se deleitando com seus gritos, como eu senti. – Sorri, enquanto sua mão passava do rosto para a nuca do quileute.

― Isso é doentio.

― Meus jogos são de torturas – continua, como se o quileute não tivesse dito nada –, torturas físicas e psicológicas. Você tem uma semana para morrer, mas, antes mesmo que o prazo termine, estará implorando pela morte!

O vampiro agarra a nuca do lobo com toda a força de seus músculos gelados, afundando a cabeça de Embry no líquido do barril e fazendo-o finalmente entender de que jogos o clã estava falando.

― Nós vamos nos divertir muito com você – comenta com evidente empolgação, enquanto mergulhava a cabeça do metamorfo na água fria e o assistia lutar para emergir.


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Notas finais do capítulo

Espero que gostem ♥ Obrigada por todos os comentários pessoal [*-*] mesmo os capítulos atrasando por causa da minha faculdade, fico muito feliz por vocês não terem desistido da história...
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Próximo Capítulo: Dia Um
... A tortura está apenas começando...