Olhos De Vidro escrita por Jane Viesseli
Naquele dia, Sam e Jacob levaram o lobo ferido até os Cullens o mais rápido que conseguiram. Seu coração batia ritmado, mas sua situação ainda era grave e seus ossos já começavam a se restaurar de forma errada. Esme teve de improvisar instalações para o quileute, optando por deixá-lo no antigo quarto de Edward, aliviada pelos demais estarem caçando e não a impediriam de abrigar um lobo tecnicamente "fedido".
No fim das contas, Carlisle precisou estabilizar os sinais vitais e a respiração do quileute antes de quebrar-lhe alguns ossos novamente, para fazê-los calcificarem de maneira correta. E agora, lá estava ele no antigo aposento do leitor de mentes, finalmente abrindo os olhos depois de horas e mais horas de sono.
O sol escondido pelas nuvens estava alto e marcava o meio dia, mas, por mais que tenha dormido, Embry sentia-se uma verdadeira carne moída, dolorido e um pouco confuso também, como se um ônibus o tivesse atropelado, seguido por um caminhão, um trator, um trem e um navio. Ele retira as cobertas de seu corpo ainda nu, pouco a pouco se lembrando da briga no dia anterior, sentindo novamente a satisfação pelo que fizera a Gregory.
Olhando o cômodo, Embry logo localiza as roupas dobradas numa cadeira perto da porta, provavelmente deixadas por Jacob, já que o cheiro enjoativo denunciava o lugar como sendo a casa dos Cullens. Lentamente Embry se arrasta para fora da cama, sentindo as pernas e os braços um pouco estranhos, já que antes estavam quebrados e moles.
― Santa magia de lobo – sussurra ele, agradecendo interiormente pela cura perfeita e tocando suas costelas para saber se estavam realmente firmes e no lugar.
― Você está inteiro, Embry – garante a voz angelical de Alice do outro lado da porta. – Agora se vista e venha comer alguma coisa, Jacob trouxe comida extra para que você não roube o estoque de Nessie.
― Não tenho fome – murmura, não conseguindo falar num tom mais alto.
― Vai sentir quando colocar o primeiro pedaço de comida na boca, agora pare de retrucar comigo e obedeça imediatamente, mocinho!
Ele torce a boca. Quem aquela miniatura de mulher pensava que era para mandar nele daquela forma? O quileute obedece somente no que dizia respeito às roupas, pois, ao abrir a porta, seu olfato aguçado fora chicoteado com o perfume tão familiar, que fazia seus pulmões formigarem e seu coração acelerar.
Colocando seus sentidos para trabalhar, Embry ouviu o coração batendo e o rufar do vento entrando e saindo de pulmões humanos, Andy estava ali, em algum daqueles cômodos, e ele não hesitou em desviar seu caminho para procurá-la.
― Aqui, cachorro! – comunica Alice, denunciando sua localização.
Embry segue sua voz e entra no quarto claro e de decoração monótona, logo avistando a vampira sorridente, que estranhamente tricotava uma peça de roupa. É claro que ele não se prendeu a este estranho detalhe, preferindo correr os olhos pelo quarto, composto por alguns aparelhos médicos e uma cama hospitalar. E na cama estava ela: Andy, ligada a tubos de oxigênio, um medidor cardíaco e protegida por cobertores grossos e elegantes.
O quileute não estava sorrindo e certamente não conseguiria fazê-lo. Ele estava feliz por seu imprinting ainda estar vivo, por ainda ser humana e por seu plano ter dado certo no final, mas a alegria de revê-la morreu diante da situação em que se encontrava.
― Ela é muito bonita – sussurra Alice. – Você teve sorte...
― É, eu tive – confessa, sentindo a tristeza travar-lhe a garganta por tudo o que havia feito a ela.
― Ela está bem, Embry. Carlisle garantiu que ela ficará bem.
― E você, não garante? - pergunta ele, olhando a vampira que não tirava a atenção de seu passatempo.
― Não posso ver o futuro dela, talvez porque você esteja presente nele, mas confio no julgamento de Carlisle de que ela ficará bem.
Embry se aproxima da cama com passos largos, sentando-se lentamente sobre o colchão e erguendo a mão para tocar o rosto de Andy, mas desistindo no meio do caminho. Ela parecia tão mal e frágil, como se fosse quebrar em milhões de pedaços com o toque de sua mão grande e rude.
― Ela não vai quebrar – conclui Edward, entrando no quarto sem bater. – Não é feita de vidro.
― Mas parece...
― Se houvesse esse risco, Alice com certeza o afastaria. – A vampira concorda com a cabeça. – Ela se afeiçoou muito a sua humana.
― Andy... Ela tem nome! – corrige num tom mais duro.
― Me desculpe, não quis insinuar nada... Enfim, Carlisle garantiu que ela acordará logo. – Caminha para fora do quarto, mas ainda sondando a mente do quileute. – Venha comer alguma coisa e lhe contarei o que quiser.
Embry se levanta da cama ainda sem ter coragem para tocá-la, porque, além de frágil, ele não tinha certeza se Andy iria querer o seu toque. A única coisa que sabia naquele momento, era que precisava se desculpar e se preparar para quando ela despertasse.
Ele segue para a cozinha logo em seguida, encontrando Esme, Edward e Jacob sentados à mesa, cutucando a comida sem interesse de ingerir de verdade. Era algo bobo, mas os Cullens aderiram a este costume para fazer companhia as refeições de Nessie, e, aos olhos do Call, até que eles conseguiam fingir bem...
O quileute se senta, apanhando um pedaço de pão com muita má vontade, dando-se conta de quanta fome sentia somente quando aquele mísero pedaço acariciou seu estômago gentilmente. A partir daí, ele não se conteve e serviu-se de tudo o que havia ali, com o máximo de liberdade que lhe era dado.
― Como foi? – pergunta, entre um pedaço de comida e outro.
― O quê? – pergunta Jacob tentando fazer graça. – Trazê-lo até aqui com o corpo mole e afundando toda vez que tocávamos suas costelas, ou Carlisle salvando a sua garota?
― Carlisle, é claro! – rebate, estava claro que não queria piadas.
― Doeu! – explica Edward – O veneno nunca é algo bom. Pelo que pude notar em sua mente, Andy sentia-se queimada por dentro e ficou extremamente aliviada quando tudo passou. Os outros não resistiram assistir ao processo de desintoxicação, se é que podemos chamar assim, e saíram para caçar...
― Por isso a casa está tão silenciosa?
Um curto silêncio surgiu entre eles. Edward pensou em falar a respeito da visão de Andy, sobre o pouco de sensibilidade que o veneno causara a sua retina, mas preferiu ficar calado no fim das contas. Ele estava na cabeça dela quando seus olhos escureceram novamente, sabia que, com a retirada do veneno, o pouco progresso havia sido perdido e que ela continuaria sem enxergar. Talvez fosse melhor poupar o lobo de falsas esperanças.
Do outro lado da mesa, Esme continuava em silêncio. Ela queria perguntar-lhe coisas, queria saber mais sobre a humana, sobre o imprinting e os acontecimentos que a levaram até a casa deles, mas Embry já tinha passado por tantas coisas, que ela não tinha coragem de abrir a boca. A paisagem permaneceu a mesma por alguns instantes até que Alice iluminou o ambiente com seu sorriso, trazendo seu tricô a tiracolo.
― Ele nunca me perguntará o que estou fazendo? – questiona em pensamento, fazendo Edward rir.
― Qual é a graça? – pergunta Jacob.
― Alice, ela é a graça. – Encara a menina com seu habitual sorriso torto. – Se quer tanto contar o que está fazendo, por que não diz de uma vez?
― É mais divertido quando perguntam – explica em voz alta.
― E o que raios está fazendo? – pergunta Embry finalmente, justo a pergunta e a pessoa que a vampira esperava.
― Tricô – responde num pulo.
― Desde quando sabe fazer tricô? – retruca Jacob com uma careta.
― Quando se vive para sempre, você costuma ter bastante tempo livre...
― Isso é uma meia? – questiona Embry novamente, achando aquele pedaço de trapo horroroso.
― Não! – Ela sorri, evidentemente empolgada. – Aí é que está a novidade: é uma roupa de bebê!
Embry e Jacob se entreolham confusos, não conheciam ninguém que estivesse grávida ou prestes a dar a luz. O Call se levanta, sentindo-se satisfeito, não tinha tempo a perder com as bobagens da família Cullen ou de Alice, ele queria apenas estar ao lado de Andy quando ela acordasse.
― Acho que ele não entendeu – lamenta Alice em pensamento.
― E como poderia entender? Uma roupa de bebê? Isso é ridículo.
― Eu sei o que vi, Edward, não sou louca e nem idiota – grita mentalmente. – Enquanto Carlisle retirava seu veneno ela pensou em algo, tomou algum tipo de decisão que me fez ver... Eu vi um bebê e se minha visão realmente se realizar, espero que seja a minha roupinha que ele esteja usando!
― A única coisa que ela pensou durante a desintoxicação, foi nele. – Aponta para o local por onde Embry saíra, obviamente referindo-se a ele.
― Então talvez essa seja a chave! – conclui a vampira, girando em seus calcanhares e saindo.
Esme e Jacob permaneciam alheios à conversa dos irmãos Cullens, completamente confusos e, ao mesmo tempo, curiosos. A primeira, com certeza, tiraria satisfações mais tarde, mas o segundo se esqueceria do assunto em duas ou três horas, assim que Nessie retornasse da caçada.
Já no andar de cima, Embry adentra o quarto de Edward, caminhando diretamente para a estante de livros e percorrendo os olhos em busca de algo que pudesse ajudá-lo a passar o tempo. Eram muitos títulos diferentes, alguns até em outras línguas, contudo, teve um livro em especial que parecera saltar da estante para chamar sua atenção: era a famosa história de Romeu e Julieta, o lindo e trágico romance que Andy adorava.
Não era preciso ler para saber o fim daquela história tão famosa. O quileute nunca gostou deste conto de morte, que sempre julgou ser um falso romance, mas, lembrando-se dela agora, podia até mesmo se identificar com Romeu, que preferiu morrer ao pensar que sua amada estava morta. Ele com certeza faria o mesmo se Andy não tivesse sobrevivido.
O quileute apanha o livro para ler a história com seus próprios olhos e caminha para o hospital improvisado onde a ruiva repousava, pois queria estar lá quando ela despertasse. E depois de longas horas de espera, Andy finalmente abriu seus belos olhos azuis, piscando-os de maneira preguiçosa enquanto levava as mãos ao rosto.
Ela apalpa a máscara de oxigênio, retirando-a em seguida. Sua garganta estava seca e, lendo os seus pensamentos, Edward bate duas vezes na porta antes de abri-la e deixar Alice entrar com um copo d'água. Embry continuava calado, trêmulo, esperando que ela pronunciasse algo ou que chamasse por alguém.
― Olá, Andy! – cumprimenta Alice, aproximando-se da cama. – Imaginei que pudesse sentir sede quando acordasse, fico muito feliz por finalmente ter despertado.
Pacientemente, Alice ajudou sua paciente humana a se sentar, colocando o copo de vidro em suas mãos pálidas. Andy entorna todo o líquido, sentindo um imenso alívio em sua garganta ressequida e finalmente pensando no que havia lhe acontecido.
― Onde estou? – pergunta, deixando Embry ainda mais ansioso para lhe falar.
― Está na casa dos Cullens, somos amigos de Embry... Ele a trouxe para cá depois de... – Pausa, não sabendo ao certo se ela acreditaria. – Depois do que aconteceu...
― Entendo!
― Vou saindo agora. – Apanha o copo de volta. – Vocês precisam ficar a sós.
― Vocês? – questiona.
Embry larga o livro na cadeira e se aproxima cauteloso, colocando-se ao lado de Alice e tocando as mãos de Andy, deixando sua temperatura elevada falar por si só. Como uma bomba, as lembranças horríveis do dia anterior explodem na mente da humana: Gregory, os dentes crescendo de modo anormal, a mordida, o calor, a dor, o queimar, alguém a carregando, a silhueta...
― Embry – diz ela, concluindo o óbvio.
― Oi – começa ele, umedecendo os lábios com o nervosismo.
― Você me trouxe para cá? – responde secamente.
― Sim.
Então era ele, o garoto que lhe pedira desculpas e que a carregara, era realmente ele.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Espero que tenham gostado. Tive um grande bloqueio criativo pra fazer este capitulo e quando finalmente consegui pensar em algo, ele acabou ficando maior do que eu esperava, haha, enfim, tive que dividi-lo em duas partes e a continuação da conversa entre Embry&Andy poderá ser vista na sexta-feira.