Olhos De Vidro escrita por Jane Viesseli


Capítulo 18
O Fim da Imortalidade são os Dentes de um Lobo




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Embry recua vários passos antes de explodir em sua forma de lobo. Ele adorava caçar vampiros e, naquele momento, queria matar um em especial, mas nada justificava ser descuidado e machucar os únicos frios capazes de ajudar seu imprinting.

Bastou que se conectasse a mente da matilha, para assistir a perseguição a Gregory, que muito o fazia lembrar-se de Victória devido a sua experiência em escape e manobras evasivas. Paul ainda não estava restabelecido para seguir à caçada, seus músculos foram bastante sobrecarregados e, apesar de a respiração ter voltado ao normal, suas pernas continuavam moles como pudim.

De dentro da casa, tudo que se ouvia eram barulhos abafados de equipamentos seguidos por um estalo mais alto, como se Carlisle tivesse deixado algo cair.

― Edward, preciso de você, agora! – chama o médico do interior da casa, frisando a última palavra. – Ela está convulsionando, precisa segurá-la!

O vampiro até tentou falar de forma baixa, mas era impossível que Embry não escutasse. Edward e Esme saem rapidamente, deixando o Call para trás com um estranho torpor na cabeça, que dificultava seu raciocínio... Se ela não resistisse, se por algum motivo ela morresse...

Posso ter culpa em tudo isso, mas você também tem!­— rosna Embry, vendo Gregory pelos olhos de sua matilha e deixando as vontades de seu lobo prevalecerem.

A fera cinzenta ansiava pela morte do vampiro, aquela vontade tomou conta de seu corpo e não demorou muito para que Embry se colocasse a correr pela floresta, em direção ao bando e ao seu inimigo. Durante todo aquele tempo a matilha perseguiu Gregory com tudo o que tinha, quase o abocanhando em vários momentos, mas Seth podia jurar que estavam correndo em círculos pela floresta, pois julgava terem passado pela mesma árvore tombada duas ou três vezes.

O vampiro os fazia de palhaços, na verdade. Ele era astuto e rápido como se conseguisse prever as estratégias do bando, mas a realidade era que os quileutes eram bastante previsíveis, sempre agindo da mesma forma, sempre com as mesmas táticas de ataque. Entretanto, com Embry seria diferente, pois o quileute não raciocinava mais, deixara os instintos e as pretensões de seu lobo dirigirem seus atos, e ele, com certeza, não seria repetitivo.

Gregory corria por entre as árvores sempre provocando e debochando dos que tentavam em vão pegá-lo, mas aquele jogo de "matem-me se puderem" já estava o enchendo e ficando tedioso. A partir daí, o vampiro já começou a maquinar sua fuga daquela reserva.

Onde pensa que vai?— rosna o Call, atirando-se contra a lateral do corpo do vampiro e rolando com ele pelo chão coberto de neve, conseguindo, pelo menos, abocanhar sua mão esquerda.

― De onde ele veio? – pensa Gregory num relance, antes de sentir sua mão ser triturada pelos dentes afiados do lobo e cair ao chão em pedaços.

Um urro dolorido ecoa de sua garganta, mas o vampiro logo se coloca de pé, encarando a fúria do lobo cinzento ao mesmo tempo em que tentava reconhecê-lo. O animal mantinha os lábios elevados, mostrando toda a extensão de seus caninos, e seus olhos cintilavam raiva e irracionalidade. Não levou mais do que segundos para que Gregory reconhecesse o lobo como sendo o ex-namorado fedorento de sua parceira.

Embry avança contra ele novamente, sendo recebido com um forte murro no focinho que o fez desviar de seu trajeto. É claro que um golpe tão insignificante não seria o suficiente para detê-lo, precisaria de algo realmente grande para fazê-lo finalmente parar.

Gregory foge em direção à montanha, o que Sam achou um tanto estranho, pois nenhum vampiro que tivera a oportunidade de perseguir havia se dirigido para aquele lugar, já que a montanha não era lá um grande sinônimo de fugir da reserva. O terreno íngreme e com fundas camadas de neve exigiam certo esforço da matilha para a subida, e apesar de estarem em ótima forma física, muitos foram os lobos que ficaram para trás, tornando-se cada vez mais lentos.

― Já estão cansados, cachorros? – pergunta o frio com deboche, ousando uma olhadela para trás.

Apesar dos lobos retardatários, existia um que se recusava a parar, que continuava a avançar, avançar e avançar. As noites mal dormidas durante seu estado de abstinência ainda eram presentes no corpo e nas olheiras do quileute, o cansaço constantemente pesava em seus ombros e ele não estava em perfeitas condições para àquela caçada, mas, ainda assim, Embry se mantinha de pé e sempre avançando. E Gregory não deixou de se irritar com sua persistência.

A montanha chega ao fim e, com ela, a oportunidade do vampiro finalmente se ver livre dos quileutes. Conforme se aproximava do topo, uma enorme fenda terrestre tornava-se visível aos olhos vermelhos do vampiro, e quando estava perto o suficiente da beira, Gregory usou de sua velocidade para saltar ao outro lado.

O bando inteiro freou diante de tão imenso buraco. Qualquer um que caísse naquela fenda, com certeza não viveria para contar sua história... E do outro lado, o vampiro sorriu maliciosamente para Embry, que mesmo não conseguindo atravessar, o encarava como se pudesse pegá-lo a qualquer momento.

― Você até que foi esperto, cachorro – começa o frio, levantando o toco do braço esquerdo onde outrora estava sua mão. – conseguiu me pegar por um momento, pelo menos... Mas isso não foi o suficiente!

Isso ainda não acabou, idiota!— grita revoltado, mesmo sabendo que não passaria de um rosnado para o sanguessuga. Embry o ameaçava com tanta intensidade, que os lobos quileutes não podiam deixar de serem contagiados por sua insistência e ódio.

― Andy está comigo agora! – provoca ele. – Você teve sua chance e a deixou, agora ela me pertence... Ou você me deixa levá-la embora, ou ela se transformará em sua maior inimiga, morrendo pela boca de um de seus companheiros!

Nunca, seu desgraçado... Nunca! Minha Andy, minha parceira... Você não irá tirá-la de mim!

Gregory sorri, pois, apesar de não entender uma só palavra, sabia que Embry estava possesso apenas pela intensidade de seus rosnados e sacudidas de cabeça. Ele só precisava entretê-lo um pouco mais, apenas para que a transformação da humana se tornasse realmente irreversível... Mal sabia ele que o quileute já havia cuidado daquele detalhe.

― Ela me escolheu, sabia? – continua o frio, rindo. – Ela me escolheu em vez de você. Eu disse que poderia apagar sua existência da memória humana dela e ela aceitou, me escolhendo no seu lugar. – Sorri, deixando o lobo ainda mais alucinado pela raiva.

Mentira!!!— brada, andando de um lado a outro com impaciência.

― Ela preferiu a mim – cantarola vitorioso –, e assim que se transformar numa vampira, será minha pela eternidade... Seus beijos serão meus, seus toques serão meus, seus olhos se tornarão vermelhos e pertencerão somente a mim, e até mesmo o desfrute de seu corpo, será todo e inteiramente meu...

Embry se afastava da beira daquela enorme fenda, praguejando todos os palavrões e maldições que pudera lembrar naquele momento. Como aquele pervertido ousava pensar em sua Andy de forma tão íntima?

― Andy me pertence – conclui Gregory com os olhos brilhando, como se tomasse posse de um grande tesouro.

Nunca!— rebate ele, com mais calma do que o bando esperava para o momento.

Embry volta-se para o vampiro em uma corrida e salta a fenda para apanhá-lo. De início, Gregory se espantou com o feito, mas sua expressão logo se aliviou ao perceber que o quileute não conseguiria... Era impossível para ele conseguir saltar toda aquela distância!

As patas dianteiras do lobo tocam o solo com sucesso, no entanto, as traseiras não tiveram a mesma sorte, e quando o quileute caiu em si já estava pendurado na outra margem da fissura, lutando com o peso do próprio corpo que o puxava para a morte.

A matilha se alvoroça do outro lado. Eles queriam ajudá-lo e temiam por sua vida, porém, ninguém soube como atravessar aquela abertura, já que descer e rodear a montanha levaria tempo demais. Embry afundava suas garras um tanto gastas no chão, enquanto sacudia as pernas traseiras em busca de apoio na parede da fissura, contudo, quanto mais tentava se apoiar, mais a terra se desprendia da parede causando ainda mais instabilidade para o pedaço de terra em que ele se agarrava.

Gregory solta outra risada sarcástica e encara os olhos furiosos e exaustos que o fitavam, tão fundos e selvagens quanto o da própria morte. Aquele era realmente seu dia de sorte, porque além da transformação de Andy estar em andamento – como ele imaginava estar –, o lobo fedorento estava prestes a encontrar seu fim.

― Conhece a história dos porquinhos, quileute? Vou lhe contar. – Se aproxima. – Este porquinho foi à feira – narra, chutando a pata direita do lobo e aproximando-o ainda mais da borda –, este porquinho foi para o shopping. – Chuta a pata esquerda, fazendo um leve ganido escapar do lobo cinzento. – Este porquinho foi dormir. – Novamente a direita. – Este porquinho foi nadar. – Igualmente a esquerda. Uma última pancada e o vampiro se livraria daquele traste para sempre. – E este porquinho...

Foi para o inferno!— rosna o Call, usando o restante de sua força para abocanhar o pé que iria lhe chutar e lançando-se no interior da fenda juntamente ao vampiro.

A matilha se alvoroça terrivelmente, alguns lobos uivam em tristeza enquanto os amigos mais próximos gritavam pelo quileute. Jacob corre montanha abaixo, contornando a abertura na terra e procurando avidamente por um nivelamento do solo para que pudesse entrar e socorrer o amigo.

Em plena queda livre, Embry defere pequenas mordiscadas nos braços e pernas do vampiro, arrancando pedaço por pedaço de seu corpo gelado antes de finalmente esmagar sua cabeça entre seus dentes e atingir o solo, despedaçando o que sobrou de sua carcaça com o peso de seu próprio corpo.

O momento em que o quileute atingiu o chão foi nítido para todos, pois a dor de seus ossos se partindo se espalhara pela mente de todo o bando. E, depois disso, houve apenas um fraco sinal de pensamento indicando que ainda havia vida em seu corpo arrebentado.

Sua respiração era pesada e exageradamente lenta, os amigos tentavam um contato mental, mas o lobo cinzento estava cansado demais para raciocinar e responder algo decente. Sua missão estava concluída e tudo o que ele queria naquele momento era fechar os olhos e descansar.

Não feche os olhos, Embry!— ordena Sam, sabendo muito bem o que aquilo queria dizer para alguém gravemente ferido. – Estamos indo, fique acordado!

Levou longos minutos até que o lobo avermelhado conseguisse adentrar a fenda terrestre e encontrar o corpo do amigo lançado ao chão, envolto de pedaços gélidos do corpo de Gregory, com as quatro patas e todas as costelas quebradas pelo impacto de barriga para baixo. Contudo, por um milagre dos céus, sua coluna permanecera intacta e a vida ainda habitava ali... Em breve seus genes o curariam e, até lá, os quileutes precisavam cuidar para que seus ossos calcificassem da maneira certa, levando-o até Carlisle. Não seria desta vez que Embry Call partiria do mundo dos vivos.

Longe dali, no território Cullen, Andy sentia-se aliviada pelo calor dilacerante finalmente ter desaparecido. Vozes podiam ser ouvidas ao seu redor e por várias vezes ela julgou estarem falando de Embry, mas suas forças diminuíam cada vez mais e ela não conseguia responder ou prestar muita atenção ao que diziam. Porém, antes de fechar os olhos completamente, a ruiva viu aquele pequeno resquício de luz desaparecer de seus olhos, tornando-se escuridão novamente, e somente depois, ela caiu na inconsciência!


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Notas finais do capítulo

Gente, pensei que não conseguiria terminar o capitulo para hoje... Tive aqueeeele dia de tão corrido, mas consegui concluir e postar.
Não tive nenhuma ideia à respeito da luta. Na verdade, depois de duas fanfics inteiras envolvendo lobos quileutes, você começa a ficar sem ideias, kkkk. Improvisei com o que eu imaginava acontecer: a parte da fenda e tal...
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Se alguém não conseguir imaginar a fenda terrestre que descrevi no capitulo, imaginei algo "parecido" com isso: http://mw2.google.com/mw-panoramio/photos/medium/86963193.jpg - Só não tinha tanta distancia assim, kkk.
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Enfim, espero que tenham gostado ♥