Olhos De Vidro escrita por Jane Viesseli


Capítulo 12
Troca de Segredos




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Naquele dia, como em qualquer outra tarde, Andy foi até La Push. Seus passos eram ansiosos e trôpegos, em sua mente cantarolava sua música esquisita, mas, de alguma forma, seus lábios não queriam acompanhar a canção.

Andy sentia as pernas tremerem, será que aquele psicopata perseguidor estava a seguindo naquele momento? Um soluço escapa de seus lábios e somente então ela percebe estar chorando.

― Andy! – chama Embry com tom de urgência na voz.

O quileute estava sentado na mureta de entrada como sempre fazia, seus olhos atentos à aproximação de seu imprinting. Contudo, quando sua mente captou a falta de som em seus lábios e as lágrimas que escorriam de seus olhos, seu coração se apertou e o desespero o impulsionou a se aproximar.

― Embry – chama num sussurro, correndo em direção a ele.

Seu corpo se choca com o tronco masculino recoberto pelo casaco e braços quentes logo a envolvem num abraço apertado, fazendo com que ela se desmanchasse em lágrimas. Embry sentia uma terrível necessidade de protegê-la, seja lá contra o que fosse que a estivesse magoando. Seu rosto começava a contorcer-se em dor, cada som que o pranto de sua amada emitia era como uma facada em seu peito.

Sua vontade era a de metralhá-la de perguntas, saber quem ou o que a havia feito chorar, mas o lobo sabia que aquele não era o momento para interrogatórios e se calou. Disfarçadamente ele observa seu corpo e fareja o ar em busca de um possível ferimento ou sangramento, suspirando aliviado ao notar que não era esse o problema.

O calor do abraço pouco a pouco começa a surtir efeito, acalmando a humana que já não sentia as lágrimas saírem. Andy sentia-se segura daquela forma, sendo envolvida por Embry e por seu calor, o peso da perseguição havia sumido de seus ombros como se Gregory realmente tivesse desistido, mas no profundo de sua mente ela sabia que não era assim.

― O que aconteceu? – pergunta Embry finalmente, sentindo ela se apertar ainda mais contra ele.

― Um garoto apareceu em meu trabalho hoje.

O quileute trinca os dentes, o que ele havia feito com ela? Por que Andy estava falando de outro homem? Será que se envolvera com ele e agora estava arrependida?

― O que ele fez? – questiona, tentando soar o mais normal possível.

― Ele me chamou para sair.

― O quê? – lança um tanto enciumado. Maldito imprinting que o deixava tão inconstante.

― Eu não aceitei – explica rapidamente, com medo de que ele a afastasse de seu abraço seguro. – Eu não quis, disse que tinha namorado, mas ele não quis escutar – explica, desesperando-se somente por lembrar-se da situação. – Disse que me tomaria para ele, que estava me seguindo há alguns dias e que machucaria você se...

― Me machucar? – A interrompe, com uma mistura de deboche e raiva. – Até parece!

― Ele garantiu que o machucaria. – Ela treme ao se lembrar da ameaça. – E que me faria sua parceira eterna.

Embry não conteve um rosnado. Seu peito vibra com o som de seu lobo interior e seus braços instintivamente se apertam em volta da menina. Ele não era idiota, sabia o que "parceira eterna" queria dizer, já suspeitava tratar-se de um vampiro e se enfurece enlouquecidamente por alguém tentar tomar a sua Andy.

Andy não entendia aquelas reações, já o tinha visto ficar com raiva uma ou outra vez, porém nunca daquela forma tão selvagem. Ela poderia até ficar com medo, mas seu abraço apertado tornara-se tão protetor ao seu redor, que ela logo percebeu se tratar de raiva pelo garoto, o tal de Gregory.

― Qual o nome dele? – pergunta entredentes.

― Gregory, se não estiver enganada... Ele me assusta, Embry, estou com medo – confessa num sussurro.

― O que mais ele te disse?

― Perguntou se eu conhecia seu segredo, eu menti, mas ele não acreditou. Ele mandou obrigá-lo a contar ou me faria descobrir da pior forma... Foi aí que Gregory disse que o machucaria.

Andy não queria obrigá-lo a nada, até porque ela também mantinha um segredo. Poderia muito bem ter mantido tudo aquilo em sigilo, mas estava tão apavorada que não conseguia controlar a própria língua.

― Não repita mais este nome, não quero mais ouvir o nome deste verme saindo de sua boca – rosna, suspirando em seguida para acalmar os nervos que queriam explodir por sua pele. – Eu te conto tudo!

― O quê? – Se afasta, desfazendo o aperto do garoto com certo esforço.

Embry sente o peito doer, como se aquele movimento precipitasse uma possível rejeição, mas, mesmo assim, estava disposto a contar tudo o que ela quisesse, somente para colocá-la em segurança. Se o aceitasse, ele a protegeria com todas as suas forças, e se o repudiasse... Bem, ele a protegeria mesmo assim, nem que isso lhe custasse à vida!

― Vou contar o meu segredo pra você. Contarei tudo.

― Você não precisa fazer isso – explica com olhos angustiados.

― Eu quero fazer isso... Se essa for à única forma de fazer esse tal de Gregory deixá-la em paz, se esta for à única maneira de proteger você, então lhe contarei qualquer coisa.

Andy esfrega o rosto, incomodada com aquela situação. Se Embry realmente lhe revelasse o segredo que julgou importante, então somente ela estaria a esconder algo, somente era estaria "enganando". Não tinha como não se sentir pressionada, como não se sentir injusta por ser a única a guardar algo... Talvez fosse a hora dela também contar.

― Se você contar – diz ela, baixando as mãos do rosto –, eu também conto o meu.

O quileute sorri, não conseguindo negar a vontade de saber o segredo de sua companheira, apesar dela não parecer confortável com a própria decisão. Embry não imaginava o que Andy teria de tão ruim para guardar, ela era perfeita em todos os sentidos, o imprinting mais incrível de todos os lobos da matilha, digno de ser invejado pelos humanos e pelos quileutes que ainda eram solteiros.

― Nada do que tenha a dizer será mais impactante do que o que eu tenho a contar – explica ele, tentando confortá-la e esboçando seu melhor sorriso.

Andy pensa na proposta que ela mesma fizera: o que poderia sair errado, afinal? Ele a amava e confessara isso diversas vezes, talvez aceitasse sem problemas o que tinha para lhe contar... Ela sorri, confirmando a proposta.

Embry se aproxima, segura as mãos da menina como sempre fazia e a conduz pelas areias de La Push. O vento frio que vinha do mar fazia o corpo da humana tremer, mas ela permaneceu firme em sua decisão. E conforme caminhava, o cenário ao redor mudava, pois ele a estava conduzindo para a floresta, sendo logo engolidos pelas árvores e pela umidade da mata. Andy parecia não temer o trajeto, confiando plenamente nele.

De repente, ele para.

― Lembra-se das lendas quileutes que lhe contei uma vez?

― Era algo sobre descenderem de lobos, não é? – cogita mirando os pés.

― Se eu lhe dissesse que essas histórias não são apenas histórias, que elas são reais, você acreditaria?

― É claro que não. – Ri baixinho. – Dizer que isso é verdade é a mesma coisa que dizer que a geração atual de quileutes é descendente de lobos. E eu acho isso meio ridículo!

― Não é ridículo, é a verdade... Andy, eu... – Suspira. – Eu sou um lobo!

Andy queria rir, mas a seriedade era transparente na voz de Embry e ela não podia fazer chacota de tal coisa. Em silêncio ela ponderou suas palavras, aquilo era ridículo, um humano virando lobo? Dizer que isso existia era a mesma coisa que afirmar que vampiros existiam, ou que bruxas existiam, ou até que zumbis comedores de cérebros existiam.

― Se você é um lobo, eu quero ver – sugere descrente, tentando parecer o mais gentil possível.

― Eu mostro, mas com uma condição, quero que feche os olhos e que conheça o meu outro eu à segunda vista.

Ela sorri com a proposta, que era um claro sinal de que aquilo se tornara importante para ele, tanto quanto era para ela. Andy concorda rapidamente e fecha os olhos no mesmo instante, e Embry estende seus braços pedindo para que permanecesse naquela posição.

Ali, parada em meio à floresta, a humana ouviu o som de seus passos ao se afastar, o silvo do vento contra a folha das árvores, o ruído de algo se rasgando e barulhos abafados de algo grande se aproximando. Ela sorri ao sentir algo tocar-lhe a mão, era consistente, mas difícil de definir através das luvas, e, somente depois de tirá-las, é que percebeu se tratar de algo com pelos.

Andy franzi a testa, acariciando lentamente os pelos em sua palma, não imaginando se tratar do focinho de seu namorado, que a olhava intensamente. Ele solta um silvo calmo, aproveitando o carinho que as mãos de sua amada lhe proporcionavam.

É claro que ela percebera o som emitido de sua garganta, chocando-se ao constatar que se tratava realmente de um animal. Ainda de olhos fechados Andy percorre as mãos pelo longo focinho, sentindo a frieza de suas narinas, o local onde julgou serem os olhos e ficando boquiaberta com o tamanho que sentia serem as orelhas. Que tipo de animal era aquele, afinal? Que tipo de prenda Embry estava tentando lhe dar?

Muita coisa lhe passou pela cabeça e, a mais plausível, era a de que ele e seus amigos estavam lhe pregando uma peça. Ela ri, sentindo-se convencida com aquela teoria.

― Ok, Embry, pode voltar agora! – diz finalmente, abrindo os olhos e esperando que ele saísse de seu esconderijo.

O lobo estava cara a cara com seus olhos de oceano e, mesmo assim, ela sorria parecendo não temê-lo. Embry estranha seu jeito tão calmo, ele a imaginava gritando apavorada, correndo ou até mesmo arrancando os cabelos, mas não assim... Tão calma, como se ele, um lobo gigante, fosse apenas um mero detalhe.

O quileute não pôde deixar de se alegrar. Será que ela era tão mente aberta a ponto de aceitar um lobo cinzento e enorme em sua vida? Rapidamente ele corre para trás da mesma árvore que usara anteriormente, retorna a forma humana e se veste o mais rápido que pôde.

― O que achou? – pergunta ele, ansioso, ainda atrás da árvore.

― Ah, legal. – Ri. – Peludo e fofinho.

― Fofinho? – questiona com uma careta, aproximando-se na sequência.

― E ouso dizer que o cachorrão utilizava um bom condicionador.

Ele ri, não acreditando no espírito brincalhão que ela conseguia ter depois de estar frente a uma criatura mítica. Embry lembrava-se muito bem o quanto Bella ficara chocada ao ver Jacob em sua forma de lobo pela primeira vez, e esperava algo parecido, no mínimo. Contudo, fora surpreendido totalmente.

Não contendo o impulso e a alegria do momento, o quileute segura o rosto da humana com ambas as mãos e beija seus lábios carinhosamente. Ele a olha com ternura, percebendo que Andy ainda permanecia de olhos fechados e inteiramente envolvida em seu gesto... Todos os lobos sabiam daquilo: o alvo de um imprinting, hora ou outra, não consegue resistir a tanto zelo e amor, e acaba se entregando sem reservas! Todavia, entre saber e acontecer tinha um abismo imenso e Embry sentia-se ainda mais realizado em vê-la totalmente entregue ao seu amor.

― Sua vez – incentiva ele –, conte-me qual o seu importante segredo...

Ele sorri, animado, havia sido aceito da forma como era e, aos seus olhos, segredo algum era mais chocante que o dele. Andy suspira profundamente, dando um passo para trás, e suas mãos começam a suar mesmo com o tempo frio. Embry contara sobre a veracidade das lendas quileutes e, se ele acreditava em tais coisas, quem seria ela para dizer o contrário?

Trato era trato, no fim das contas. Agora era a vez dela contar seu segredo, estava nervosa, mas confiante. Tudo indicava que Embry realmente a amava e pudesse aceitá-la afinal.

― Muito bem, está preparado?

― Claro.

― Embry, eu sou cega!


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Notas finais do capítulo

Parabéns a todos cujas teorias eram de que Andy era cega... Acertaram! Hehe, no próximo capitulo teremos as explicações dela a este respeito. Espero que tenham gostado deste capitulo e que gostem do próximo também.

A primeira leitora a arriscar uma teoria e acertar foi a Adna Black, no capitulo 3. Não poderia deixar de mencioná-la, porque ela me chocou ao descobrir tão depressa (tipo, eu ainda estava no capitulo 3 o.õ).
Menina do céu, você me fez perder uma noite de sono sabia? Fiquei tão surpresa com a revelação da sua teoria, que fiquei um minuto inteiro de boca aberta na frente do computador, não acreditei que alguém conseguiu pegar TODAS as informações nas entrelinhas tão depressa (poxa vida, era o capitulo 3 ainda).
Fiquei frustrada, minha irmã caçula riu horrores da minha cara dizendo que sou péssima em esconder segredos na história, não dormi aquela noite de tão chocada, tentei te distrair até a hora da revelação (kkk) e cá estou eu agora, parabenizando você. Tentei pegar os leitores, mas você acabou me pegando primeiro, hahaha ♥ dedico este capitulo a você, Adna, e aos demais leitores que acertaram o segredo de Andy :)