Olhos De Vidro escrita por Jane Viesseli


Capítulo 11
Vigiada




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O despertador libera seu grito estridente por todo o quarto e a mão feminina logo vem ao seu encontro, tateando o criado-mudo e finalmente batendo na válvula que silenciaria o relógio. Andy senta-se na cama preguiçosamente, seu cabelo estava enorme como um maço de fenos, pois dormira com os cabelos molhados e agora eles estavam horripilantes.

Ela coça os olhos sonolenta e lentamente se arrasta em direção ao banheiro para um bom banho. Bastou que a água extremamente quente lhe caísse sobre a cabeça, para que finalmente despertasse e colocasse a mente para trabalhar. E qual não foi sua surpresa quando seus pensamentos a levaram em direção ao garoto quileute.

A sensação de seus beijos ainda estava vívida em sua boca, seu coração batia mais rápido somente por lembrar das bonitas palavras que ele lhe dissera nos últimos dois dias, desde que correspondera aos seus sentimentos. Apesar da falta das alianças, um relacionamento sério surgiu entre eles e lembrar-se disso a deixava feliz, Embry era seu primeiro namorado e ela realmente se sentia uma tola apaixonada.

Andy termina seu banho, apronta-se rapidamente e, depois de um café da manhã pouco saudável, lá estava ela saindo para mais um dia de trabalho. A casa em que a ruiva morava era pequenina e muito singela, mas ela gostava, pois era o máximo que seu humilde salário conseguia pagar.

― Um, dois, três, quatro, cinco – conta ela, enquanto caminhava em direção a calçada –, direita volver!

Ela vira o corpo para a direita num pulo, rindo de si mesma por caminhar como um soldado, e continua sua trajetória até o emprego de meio período. O céu estava bastante escuro naquele dia, com certeza teriam chuva, porém, por sorte, a biblioteca municipal ficava apenas a dois quarteirões de sua casa. Andy precisaria apenas de alguns minutos para chegar até lá e não seria pega desprevenida.

― Desce à calçada, atravessa a rua, sobe à calçada – diz, rindo de si mesma novamente, por parecer uma louca ao falar sozinha.

Seus passos eram sistemáticos e ritmados, seu rosto sempre voltado para o chão e a mente concentrada no caminho em que estava seguindo. Tudo perfeito como sempre, até que a ruiva sente seu corpo bater em algo duro como um muro de concreto.

― Ai, quem trouxe uma pedra para a calçada? – solta de repente, massageando a testa dolorida.

O riso tímido que se seguiu a fez arregalar os olhos, não se tratava de um muro de concreto ou uma pedra, e sim de um garoto. Andy levanta seu rosto do chão pela primeira vez naquele dia, a vergonha estava emoldurada em sua face.

― Me desculpe – pede baixinho –, não o vi.

― Não se desculpe, eu também estava distraído.

Ela sente seu corpo se arrepiar com o som grave daquela voz, mas não era um arrepio agradável e sim um calafrio ameaçador. Algo diferente se agitava em seu interior, ao mesmo tempo em que um perfume excessivamente doce invadia suas narinas.

― Tenho que ir agora, meu trabalho me chama – desconversa enquanto contornava o corpo do estranho. – Desculpe-me mais uma vez.

Andy segue seu caminho em direção à biblioteca ali perto e o estranho continuou lá, parado, observando-a. Seus lábios se repuxam num sorriso, seus dentes brancos pareciam camuflar-se na pele pálida, ele ergue a mão em direção aos olhos e os coça um pouco irritado.

― Malditas lentes de contato – retruca. – O que eu não faço para me aproximar de você, cabelos de fogo...

O desconhecido afunda as mãos no bolso e caminha lentamente em direção à biblioteca, entrando logo após um grupo de garotos barulhentos. E quando já estava do lado de dentro, seus olhos correm o ambiente à procura da donzela ruiva, sentindo uma nova onda de alegria ao encontrá-la.

Ele se aproxima, mas, coincidentemente, o grupo de garotos de outrora faz o mesmo.

― Oi Andy, lendo muito ultimamente? – pergunta de maneira debochada, arrancando alguns risinhos dos amigos. – Puxa, esqueci que você não pode...

― Poderia pegar o livro na prateleira A205 na área de História, Andy? – zomba outro garoto.

― Sou apenas a menina das devoluções – responde ela, tentando manter o controle de sua voz. – Se não possuem livros para devolver, por favor, me deixem em paz e liberem a passagem.

Algo em sua voz não agradou o garoto das lentes, porque ela parecia acuada, constrangida e, ao mesmo tempo, triste. Ele trinca os dentes pelo tom de deboche com que a abordavam, se não fosse chamar tanto a atenção e assustar os presentes, com certeza os deceparia ali mesmo...

― A menina das devoluções – repetem todos os garotos ao mesmo tempo, afinando a voz e a imitando. – Vá procurar o livro com seus olhos tão lindos, Andy – completa o primeiro encrenqueiro.

Andy morde o lábio inferior com força, sua cabeça baixa tentava se focar nos três livros devolvidos naquela manhã, mas era difícil fazer qualquer coisa quando eles resolviam atormentá-la. Ela estava sozinha naquele balcão, todos os dias eram assim até que a segunda funcionária chegasse para registrar as devoluções, contudo, até que sua companheira de trabalho chegasse, tinha que aturar aqueles garotos tão terríveis, pois não havia cliente algum naquele lugar que ousasse interceder por uma completa desconhecida.

Ela sente os olhos umedecerem, pedindo aos céus para que nenhuma lágrima vertesse diante deles, porque não queria dar aquele gostinho a pessoas tão cretinas.

― Oh, coitadinha dela, vai chorar.

― Por favor, me deixem trabalhar – pede, sentindo raiva de si mesma por sua voz sair trêmula.

― Precisa tratar melhor os seus clientes, que tipo de atendente você é, afinal? Ah, sim, você é...

― Sumam logo daqui – rosna o estranho atrás deles, não deixando o orador principal terminar seu raciocínio –, e não me façam pedir duas vezes!

Eles tremem com o ar violento que o desconhecido exalava, seus olhos eram assustadores e seus dentes estavam fortemente trincados. A aura negra e o semblante irritado foram suficientes para que eles se retirassem no mesmo instante.

― Você está bem? – pergunta aproximando-se mais do balcão.

― Sim, estou bem, obrigada – responde ainda de cabeça baixa.

― Tem certeza? Se isso for deixá-la feliz, pode me atropelar novamente como fez lá fora.

Andy levanta o rosto abruptamente, finalmente reconhecendo a voz do rapaz que esbarrara mais cedo. Seu rosto cora violentamente enquanto tentava articular algo mais do que “ah” ou “argh”, mas somente depois de muito gaguejar, é que ela conseguiu se acalmar e pronunciar alguma coisa:

― Obrigada pela ajuda, eles me importunam constantemente e... E tenho tido cada vez mais dificuldade em despachá-los. Sinto como... Como se estivesse em débito com você.

― Isso é bom, pois tenho mesmo a intenção de convidá-la para sair!

Novamente Andy sente aquele arrepio esquisito transpassar seu casaco e atingir seu corpo, como se algo no fundo de sua mente a mandasse recusar e despachá-lo imediatamente.

― Quem é você? – pergunta de repente, já entrando em seu modo defensivo.

― Gregory. – Se estica sobre o balcão tomando uma das mãos da ruiva. – Ao seu dispor, Andy.

Ele beija sua mão lentamente, fazendo-a retrair o braço no mesmo instante. Seu toque era gelado e sinistro, diferente de qualquer outra pessoa que já tenha ousado encostar nela, diferente do toque caloroso de Embry.

Gregory sorri confiante, não se deixando intimidar com a reação da menina.

― Por que me seguiu até aqui? – ataca ainda na defensiva. – Não tem nada para devolver a biblioteca, pois nunca esteve aqui antes... Então, por que me seguiu? – frisa.

― Estou te seguindo há mais tempo do que imagina – confessa sem rodeios, fazendo-a recuar alguns passos. – Cinco dias atrás, foi quando a vi pela primeira vez.

― Pare de falar e saia daqui – sussurra entre dentes, o medo exalando em sua voz.

― Seu cheiro me fascina, o calor que emana de sua pele me seduz, seu corpo inteiro parece chamar por mim, estou violentamente atraído por você. Estou vigiando-a a cinco dias, Andy, sei sobre suas manias, sei sua rotina, onde passa suas tardes, onde sua avó mora e sei seu segredo...

― Vá embora – pede novamente. A esta altura, o semblante duro fora facilmente substituído pelo medo, quem era ele afinal? E o que queria?

― Quero-a para mim – confessa com voz sedutora, como se pudesse ler seus pensamentos –, inteiramente para mim.

― Suma de minha frente agora mesmo ou...

― Ou o quê? Vai correr? – cogita sorrindo, se agradando com a ideia de persegui-la para tê-la.

― Vou chamar meu namorado – responde um tom mais baixo.

Gregory desfaz seu sorriso no mesmo instante, sentindo a raiva crescer dentro de seu peito. Como sua escolhida ousava envolver-se com outro homem? Ainda mais sendo aquele homem? Ele havia passado perto da reserva quileute uma vez, não invadira o território, mas sabia muito bem os tipos de “pessoas” que moravam naquele lugar... Talvez fosse a hora de fazer-lhe uma visitinha e quem sabe quebrar-lhe o pescoço fedorento.

― Você sabe quem ele é? – pergunta num rosnado.

― Sei.

― Sabe mesmo? Ele já lhe contou seu segredo?

― Já – menti, tentando soar confiante, mas falhando fatalmente.

― Se realmente contou, então suponho que você saiba o que eu sou.

― O que você quer de mim? – murmura com voz trêmula, esperando ardentemente que algum outro funcionário da biblioteca aparecesse para interrompê-lo.

― Quero que o interrogue até que lhe revele seu precioso segredo, como vai fazer isso não me importa, mas quero que faça logo. Ou a farei descobrir a verdade da pior forma... Arrancando a vida de seu namorado fedorento e tomando-a como minha parceira eterna!

Outro sorriso confiante e maldoso brota em seus lábios, deixando seus dentes perfeitamente brancos a mostra. Andy não entendia quem era ele, de onde havia saído ou o porquê a estava perseguindo, porém, estava com medo daquele garoto com perfil sociopata...

Gregory saiu sem se despedir e a ruiva acabou pedindo dispensa por não se sentir bem aquela manhã. Tudo agora estava diferente, nenhum passo podia ser dado sem que a terrível sensação de ser seguida lhe sobreviesse. Mais medo se instalou em seu coração ao perceber que Embry também seria alvo daquele homem doentio.

E de longe o estranho garoto realmente a observava, escondido e com os olhos vermelhos finalmente livres das lentes castanhas... Ele estava confiante, imaginando que ela não suportaria a verdade sobre o mundo mítico em que Embry vivia, e, tendo o lobisomem fora de seu caminho, poderia finalmente mordê-la e fazer dela a sua bela imortal de cabelos de fogo.


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Notas finais do capítulo

Olá pessoal, estou adiantando o capitulo de segunda-feira, pois tenho compromisso amanhã e não sei se conseguirei entrar para postar... Espero que tenham gostado!
Aos leitores fantasmas, por favor, deem-me suas opiniões sobre a história - elas são importantes para meu crescimento como escritora...

No próximo capitulo finalmente teremos a revelação de ambos os segredos: o segredo mítico de Embry e o de Andy. Mas até lá, fica uma segunda dica sobre o segredo dela: "é algo que não pode ser solucionado".
Próximo capitulo: Troca de Segredos