O Emissário Do Equilíbrio escrita por LordRyuuken


Capítulo 9
O outro lado da moeda


Notas iniciais do capítulo

Pois é pessoal. Eu NÃO abandonei a fic e nem pretendo fazê-lo. O motivo de minha demora se deve a uma febre de 39ºC que veio acompanhada de gripe e tosse, sem falar na moleza que me deu no corpo. Fui simplesmente lançado ao chão, com uma manada de pégasos tendo passado por cima de mim. Mas estou de volta e a vida continua! Como retribuição pela demora, por assim dizer, o capítulo de hoje é um pouco maior do que os normais (tem quase 5000 palavras!), espero que desfrutem dele.

O capítulo de hoje é dedicado àquela que deu a história sua segunda recomendação: obrigado Luísa, esse é para você!



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P.O.V. Percy

Com o relógio já havendo indicado a chegada do momento da realização de meu teste, evoquei minha Vortigern e, com ela realizei um corte no ar. Do espaço que havia cortado surgiu uma espécie de portal negro, o mesmo tipo de vórtex que era criado toda vez que eu utilizava a habilidade especial da arma que empunhava. Sem pensar duas vezes, transpassei aquele amontoado energético, sendo conduzido através do tempo e do espaço na direção do Acampamento Greco-Romano, deixando para trás minha arma.

Havendo escolhido exatamente uma das margens do lago, local em que ocorreria a avaliação, fiquei sentado sobre uma pedra enquanto aguardava a chegada dos presentes. De forma tímida e vagarosa, pareciam estar vindo.

Primeiro chegou um campista do chalé de Hefesto, depois um casal de uma filha de Deméter e um de Apolo... Com o transladar do tempo, a área antes pacífica e calma se enchia de conversas e burburinhos. Muitos haviam aparecido de armadura completa, com espada e escudo, sem falar nos itens mágicos que uns poucos possuíam. Apenas ignorei a todos, mantendo-me de olhos fechados e sentado na posição de lótus sobre a pedra.

Alguns colegas tentaram até se aproximar de mim, mas pareciam me temer após tudo o que haviam visto. Tolos. Minha raiva não era para com eles de forma alguma, afinal, eram apenas semideuses sem muita escolha. Obviamente, poderiam ter sido verdadeiros heróis e tentado proteger um semelhante, mas eu havia aprendido a não esperar muito das pessoas que me rodeavam. Cada um fazia aquilo que conseguia e que lhe dava vontade, sendo forçar um ato inútil e desnecessário. De que adiantava o movimento de alguém se este não era de forma alguma espontâneo?

De uma forma de outra, os minutos finais para o prazo que eu havia imposto estavam se passando, enquanto a multidão apenas aumentava. Tinha pelo menos metade do acampamento ali, incluindo antigos conhecidos como Jason, Leo, Piper, Frank e Hazel. Alguns de meus amigos pessoais também estavam lá, uns para aprender, outros para observar. Contava dentre estes Zöe, Luke, Thalia e Nico. Como representante dos deuses e supervisora do acontecimento, a deusa da caça Ártemis. Se encontrava em um canto junto a suas caçadoras, sussurrando-lhes algumas instruções. Talvez fossem algum tipo de dica para suportar o que pretendia fazer com os presentes, mas, sinceramente, não fazia diferença. Saber o que lhes aguardava e aprender a superar este desafio eram duas coisas completamente diferentes.

No exato segundo do findar do tempo selecionado, levantei-me da pedra em que estava e retirei a poeira que havia se acumulado em minhas vestes, iniciando meu discurso daquele dia:

— Bem vindos. Como eu disse antes, antes de sermos capazes de ter qualquer conhecimento transmitido aqui, preciso separar aqueles que podem ser aproveitados da escória. — caminhava lateralmente em fronte a eles enquanto dizia isto — Como vocês chegaram na hora, poderão fazer o teste. Os retardatários ficarão na lama, onde é o lugar deles.

Mal terminei de dizer estas palavras e duas figuras surgiram no horizonte, apressadas. Corriam em nossa direção de forma até veloz, chegando na área do exame naquele exato momento. O casal com uma mulher de cabelos loiros e um rapaz pouco mais alto que ela, com cabelos castanho-escuros e olhos verdes era conhecido de praticamente todos ali, inclusive de mim, não que eu gostasse disso. Uma vez unidos aos presentes, uma voz se fez presente na multidão, dizendo:

— Ethan, Annabeth... Ele falou que os atrasados não vão poder fazer o teste. Ficar se agarrando pelos cantos hoje não foi tão vantajoso, não é? — os risos da maior parte dos presentes naquele momento foram nítidos. Até mesmo eu não me contive, abrindo um pequeno sorriso no rosto ao passo em que, em meu âmago, também desejava gargalhar.

— É claro. O corno quer arrumar qualquer desculpa para que eu não mostre que sou melhor do que ele — falou Ethan, com seu habitual ar de superioridade.

Era um mistério para mim como uma pessoa poderia ser assim tão ignorante. A estupidez dele parecia não ter tamanho! Revirando os olhos nas órbitas, como quem muito me importava com o que ele havia dito, me dei ao trabalho de responder:

— O “corno” aqui marcou uma hora, o fato de seguí-la ou não vai de você... Quanto a pensar ser superior a mim... — parei por um momento, frizando o pensar em minha frase — Acho que se você realmente fosse não estaria se arrastando até aqui para aprender comigo como lutar que nem gente, não é mesmo?

Mais uma vez, a risada foi geral. Até mesmo as caçadoras, que achava impossível que se divertissem com algo dito por um homem, pareciam desfrutar do que eu falava. A própria Ártemis observava a situação com certo entusiasmo, como quem aguarda para ver mais cenas como aquelas se desprenderem da situação. Com um certo rubor na face, ele gritou:

— Foram ordens dos deuses! Como se eu tivesse alguma coisa para aprender com você! — e, como eu já antecipava, veio novamente com a cartada de haver “roubado minha namorada para si” — Pegar mulher é que não é!

Um silêncio estranho tomou conta do lugar, com todos tensos observando a situação. Annabeth imediatamente corou com o comentário feito pelo babaca. Vadia, como se todos ali não soubessem o quão “carnal” era a relação deles. Alguns dos amigos de meu “amado irmãozinho” já estavam com armas em punho, como se preparados para defendê-lo. Novamente, isto não me afetou. Não havia motivo para me enervar por tão pouco, ele simplesmente não valia a pena. Mover um dedo para acabar com a raça dele era apenas gasto de energia inútil. Desta forma, ignorando o que ele havia dito e olhando para os amigos dele com armas na mão, falei:

— Vocês não acham que vão conseguir me parar com isso se eu for lutar a sério, né? Mas é bom que já estejam armados. Vão precisar disso para o teste. — em seguida, observei os que estavam com pesados escudos e armaduras e continuei — itens de proteção, no entanto, serão inúteis. Irão apenas lhes servir como peso.

Salientado tudo o que eles precisavam carregar consigo para o que pretendia fazer com eles, notei que alguns ainda olhavam para o casalzinho atrasão, que não havia deixado em momento algum o lugar. Para resolver de uma vez a questão, suspirei pesadamente, dizendo:

— Preparem-se de uma vez. Antes que eu mude de idéia. — ambos pareceram estar aliviados pelo que eu falei (ainda que, de algum modo, parecendo ser por diferentes motivos) e, uma vez dito, não demoraram sequer um segundo para seguir minhas ordens. Rindo baixo, continuei — Muito bem, pessoal. Teremos um total de dois testes. O primeiro é para ver se vocês possuem o mínimo para aguentar fazer o segundo sem morrer enquanto o segundo servirá para acordar nos aprovados aquilo que vai ser necessário em nossas aulas.

Dito isto, dei um pequeno sorriso nefário, que certamente assustou alguns dos presentes. Archer e Saber pareciam embasbacados com o que eu havia dito, como se estivessem tentando imaginar o motivo de eu ter colocado medo nos presentes antes de começar. Eles iriam me ajudar nos preparativos relativos ao teste, é claro, mas quem o aplicaria seria eu. Percebendo que ainda não havia explicado como funcionaria nenhum dos exames, estalei os dedos. No momento em que fiz isto, apareceram próximas a mim duas diferentes muradas extensas, de quase cinco metros de altura cada. Estendiam-se de uma árvore próxima a pedra onde eu havia sentado até próximo a posição onde estavam os candidatos. Juntas, criavam um corredor de cerca de dez metros de largura, comigo exatamente na metade dele. Deixando minha Vortigern se materializar novamente em mãos, estralei o pescoço de forma sutil e me dirigi aos presentes:

— O primeiro teste é simples. Deverão fincar as armas que vocês possuem consigo na árvore que está atrás de mim em um período de duas horas. Os que conseguirem fazê-lo, estarão aprovados. Os que não forem capazes disso, podem desistir de apender algo aqui comigo. Pelo menos, no que diz repeito ao agora, vocês não estão preparados. — movendo minha espada em um movimento circular, sorri para os presentes, como se estivesse incentivando-os a vir até mim.

E vieram. Mal se passou um segundo e cinco diferentes campistas investiram contra mim, mas acabaram por ser repelidos ao entrar na área relativa ao teste. Ainda movendo minha espada em cortes no ar sem padrão algum, comentei:

— Tomem cuidado... Isto pode doer.

A investida seguinte veio por parte daquele que eu mais desejava humilhar: Ethan pegou sua espada, que havia sido entregue a ele por nosso pai e investiu contra mim. Andou por pouco mais de dois metros no corredor, mas acabou também sendo repelido para fora do espaço do exame como se não pertencesse a aquele lugar. E, de fato, não pertencia. De forma muito semelhante ao que havia acontecido com Zeus em nossa luta, Ethan fora lançado em uma velocidade estupenda para longe, chocando-se ante uma árvore. A diferença entre o caso dele e o do rei dos céus era que Zeus era um deus, não iria se ferir tão facilmente. Já meu irmãozinho idiota...

— Parece que já temos nosso primeiro desclassificado. — disse, notando que ele já havia desmaiado. Ao contrário do que alguns campistas poderiam pensar, não havia aumentado a dificuldade do exame dele nem um pouco, afinal, já sabia o quão incompetente era meu irmão. Entretanto, devia admitir: não esperava que ele conseguisse adentrar tanto em minhas defesas. Se conseguisse controlar seu jeito insuportável de ser, morresse umas dez vezes e voltasse, talvez conseguisse se tornar uma pessoa digna.

Com o transcorrer do tempo, uns e outros realizaram novas tentativas, mas nenhum dos presentes conseguiu sequer chegar até mim, quanto mais fazer com que me movesse. Como eu já esperava, as caçadoras tinham sido as com o melhor resultado até agora, mas, ainda assim, continuavam sendo insuficientes para passar no mínimo do que tinha a fazer. Havendo tudo sido feito até o momento sem nenhuma grande surpresa por minha parte, a próxima coisa que esperava ocorrer realmente o fez: Phoebe, uma das caçadoras, puxou uma flecha de sua aljava e disparou esta em direção a árvore. Era um bom plano até, mas eu estava ali. Saltando cerca de um metro no ar, golpeei o projétil com minha espada em um golpe limpo, até perceber a verdadeira intenção delas. A regente delas também notou, de forma a abrir um sorriso vitorioso, por um motivo que eu sabia muito bem qual era.

Ao passo em que tive que ascender ao ar para acertar a flecha da serva da deusa da lua, duas outras caçadoras entraram em meu território, conseguindo, de forma surpreendente transpassar o espaço onde eu antes me encontrava e se dirigindo a árvore. Entusiasmado com a estratégia delas, disparei contra o ar uma onda de energia que me movimentou rapidamente ainda no ar, fazendo-me aparecer novamente em frente a elas.

O susto que tiveram as fez perder o foco, fazendo-as ser pegas por meu campo energético e impelidas para trás, como acontecera com todos os outros. Apesar disto, nem elas e nem Ártemis retiraram o sorriso da face, já que, enquanto eram lançadas para o ponto inicial, retiraram um par de flechas de suas aljavas e as dispararam de forma hábil, usando o que seria ponto cego como chave. Isto é, se eu tivesse esta limitação simplória. A caçadora que eu já conhecia, Phoebe, completou o estratagema, lançando uma flecha em minha direção.

Se eu tentasse despreocupadamente acabar com as setas das garotas, seria atingida pela que vinha até mim. Se desviasse do lançado por Phoebe, este acertaria a árvore de forma segura. Elas haviam armado uma estratégia simples de executar, mas deveras complexa de se evitar. Um bom trabalho, sem sombra de dúvidas. Apesar disto, não era o suficiente para passar por mim. Girando nos calcanhares, saí do campo de fogo do tiro que vinha em minha direção, cortando ao meio a outra flecha da caçadora enquanto lançava de minha espada o que parecia um fluido semelhante a água em sua forma solidificada, mas na cor de minha espada.

O poder lançado por mim encontrou no ar com os últimos dois ataques, também inutilizando-os. Retornando a minha posição inicial, observei os sorrisos de Phoebe e Ártemis esmorecerem em suas faces. Estavam desapontadas com a falha que o movimento conjunto havia obtido.

Notando que alguns dos presentes não estavam mais a vista, abri um pequeno sorriso. Eram poucos, mas alguns haviam compreendido o sentido do teste. Mesmo que passassem por mim e conseguissem chegar até próximo a árvore, o campo energético que eu havia colocado era simplesmente impossível de se transladar por qualquer semideus comum. Obviamente, a presença de Archer e Saber ali, que me ajudavam no exame que eu realizara, garantia que ninguém notasse para onde haviam ido os desaparecidos, de forma a eles terem de pensar sozinhos para conseguir a própria aprovação.

Verificando quais de meus conhecidos já haviam sido aprovados, identifiquei Thalia, Nico, Jason e Piper. Até mesmo Clarisse havia descoberto a verdade por trás de meu simples exame! Alguns campistas mais antigos também haviam o feito, mas nenhum dos que valesse a pena citar o nome agora. Aquela que estava me dando a maior vergonha até agora era, sem sombra de dúvidas, Annabeth.

Para a filha de Athena que era considerada a mais brilhante dentre os seus em um longo período de tempo, ela estava se saindo muito mal. Permanecia estática num mesmo ponto, como se tudo o que estivesse acontecendo fosse alheio a si. Talvez eu estivesse superestimando as crias da deusa da sabedoria, por estar as comparando a Caster (Sextus, o novo corpo onde habitava Dédalo), o único dentre esta categoria com quem eu convivia nos últimos tempos. Usualmente, ao fazer um comentário destes, eu teria uma imensa dor de cabeça e ouviria a voz da deusa da sabedoria soar em meus ouvidos, mas quem disse que o poder usual de uma divindade olimpiana poderia se aplicar a mim agora? Meus pensamentos estavam muito bem em sua privacidade, obrigado.

P.O.V. Annabeth

Tudo havia acontecido de forma rápida demais. Com o reaparecimento de meu ex-namorado, lembranças vieram a assolar minha mente de forma veloz. Tudo o que havia passado nos últimos três anos e a forma na qual isto havia ocorrido. Lembrava-me muito bem de tudo isto, mas minha consciência não conseguia se restringir ao presente, remetendo a memórias que há muito desejava esquecer.

Três anos atrás, meu namoro com Percy poderia ser considerado uma relação dos sonhos por muitos, mas não por mim. Ele era gentil, carinhoso e amigo, mas o era em demasia. Muitas vezes, por medo de me magoar sendo apressado demais ou alguma vergonha que tivesse, ele se retraía quando queria que avançasse. No início, eu compreendia, mas conforme o tempo foi passando, a coisa começou a mudar de figura. Os atos gentis dele começaram a me soar como um tédio, suas carícias não mais me tinham propósito e a própria presença dele não mais parecia ser o que fora quando havia me apaixonado (ou pensava isto) por ele.

Em meio a tudo isto, apareceu Ethan. Ele era exatamente o que eu esperava de um filho de Poseidon: indomável, corajoso e bravio. Sabia aproveitar as horas certas para atacar e era quase sempre o responsável por destruir os monstros ou capturar a bandeira em nossos jogos. Como se estivesse unindo em minha mente o heroísmo e a admiração que tivera por meu Percy e as características que imaginava faltar nele, comecei a desenvolver uma admiração pelo irmão de meu namorado, que se tornou um relacionamento extra-conjugal.

A meus olhos, era um equilíbrio perfeito: enquanto Perseus satisfazia minha necessidade de carinho, afeto e atenção, Ethan tinha a “pegada” suficiente para tornar minha relação original satisfatória e completa. Meu namoro até melhorou depois disso, comigo passando a responder melhor aos atos de Percy! Apesar disto, eu não imaginava o que iria acontecer.

Ao voltar de uma missão especial designada pelos deuses, Percy conseguiu pegar a mim e a seu irmão no flagra. Normalmente, não iríamos realizar tais safadezas, por assim dizer, ao mero ar livre, mas devido a um acidente inarrável, acabei tomando uma das poções do amor de Afrodite e caindo de amores por meu amante, de modo a ignorar completamente qualquer vestígio de dignidade e descrição que tivesse. O que ocorreu em seguida, provavelmente vocês já sabem. O que acho melhor falar é sobre o que ocorreu depois disso, após a fuga de Percy do Acampamento.

Havendo conseguido sucesso na empreitada que desejava, Ethan ficou radiante. Estava mais animado e até um pouco mais agradável, no que dizia respeito ao geral. Em contrapartida, me senti culpada. Isto mesmo — se vocês pensavam que eu havia saído desta situação toda como uma crápula sem coração, se enganaram. Me sentia mal pelo ocorrido e estava verdadeiramente preocupada com Percy, de modo a até blindar as investidas de meu amante que, agora, não tinha mais motivo para esconder sua relação.

Mesmo considerando o afeto que sentia por meu ex, eu sou uma pessoa comum, um ser humano. Se nem mesmo os deuses conseguem se manter fiéis a um propósito por muito tempo, por que deveriam me condenar tanto assim por isto? Eu havia errado — admitia isso — mas a condenação eterna realmente era fundada por algo que se passou em período tão curto?

Havendo jurado que não iria mais me entregar ao que dera início ao fruto de minha traição, fui lentamente contornada por Ethan. Apesar de tudo, ele sabia ser muito carinhoso quando queria e, em muitos de seus gestos — provavelmente por sua ascendência provir também de Poseidon — lembrava meu namorado. Pois é, apesar de tudo, naquela época eu ainda o chamava de meu namorado. Com o transcorrer do tempo, novamente decidi dar uma chance ao amor e me deixei entregar por aquele que tivera uma conexão carnal tão satisfatória. Era justo com Percy? Certamente não, mas quem não vê cara não vê coração. Foi desta forma que retornei a me relacionar com Ethan, desta vez, em um namoro de verdade.

Se eu viesse aqui lhes falar que ele era um namorado ruim apenas para aumentar o ódio de vocês para com ele, estaria mentindo. Ele possuía uma certa arrogância sim, muitas vezes até desmedida, mas nos momentos corretos sabia expressar afeto. Com um relacionamento destes em mãos, me deixei envolver pelo contato humano e cada vez mais me afastei do divino. Meus treinamentos diminuíam gradativamente, as estratégias já não me vinham a cabeça com tanta facilidade... Era como se eu não fosse mais o modelo da filha de Athena, por assim dizer.

Todavia, o tempo passou e as coisas não permaneceram as mesmas de sempre. De forma vagarosa, mas existente, começava a ver diferentes facetas de meu cônjuge. Sempre tivera em mente que todos no mundo tinham seus defeitos e que, se Ethan as vezes se portava de modo superior, era apenas uma parte dele que eu tinha de aceitar. Não poderia simplesmente ir procurar isto em outro, já tivera uma experiência ruim com isto. Entretanto, a verdade cada vez mais aparecia em frente a mim, de modo a desconfiar por vez ou outra que sua verdadeira natureza não era a romântica e gentil, mas a megalomaníaca e egoísta.

Era como se tudo o que ele havia feito comigo fosse apenas parte de um plano, um projeto para poder ostentar um troféu, da “namorada que roubei de meu irmão”. Obviamente, eu não acreditava nisto de forma tão decisiva mas, para ser sincera, isto passou a consumir muito de nosso namoro e parecia fazê-lo cada vez mais. No ponto atual, para ser sincera, estávamos unidos apenas pelo físico e por meu receio de terminar um “amor” tão longo por algo que poderia ser uma besteira de minha cabeça. Minha cisma de ver falhas já havia me feito perder o carinho de um excelente homem, não iria me arriscar a fazê-lo com um segundo.

O que me realmente estava incomodando naquela situação toda era minha fama de vadia que havia se espalhado pelo acampamento. De fato, minhas idas para a cama com meu namorado estavam sendo bastante frequentes, mas algumas coisas deveria destacar disto. Em primeiro lugar, a vida era minha. Estava saindo com um homem só, minha frequência amorosa para com ele era um problema só meu e dele. Segundo: sem ser capaz mais de encontrar o mesmo Ethan que havia tido um dia, a única forma de manter nosso relacionamento era esta, do contrário, não conseguiria me aproximar dele com a mesma naturalidade de antes. O sexo havia se tornado uma forma de contato em um relacionamento desgastado, não de prazer. Terceiro, e mais importante. Fazerem apostas de quando eu iria engravidar era passar dos limites!

Mesmo que eu quisesse fazer alguma coisa sobre isto, sabia não ter mais capacidade para tal. Havia parado de treinar, cumprindo apenas o mínimo exigido para a vida no acampamento. Também não me sentia capaz novamente de superar os obstáculos que me eram impostos.

Sentia, no passado. Sim, me refiro a um tempo anterior ao agora pois tudo mudou com o novo aparecimento dele. Meu ex-namorado, Percy, conseguira surpreender a todos em seu retorno, apresentando-se como um dos guerreiros do criador e uma pessoa bem diferente do que havia sido antes. O que parecia faltar nele antes, agora ele mostrava ter de sobra. Mesmo com a máscara de raiva e rancor que impunha na face, eu ainda conseguia vislumbrar aquele mesmo garoto que havia me ajudado em tantos momentos, o jovem de olhos verdes que havia beijado pela primeira vez no Monte Santa Helena. E novamente me apaixonei por ele.

Pela primeira vez em muito tempo, passei uma noite sozinha em meu chalé. Precisava pensar, imaginar como faria para reaver meu verdadeiro amor. Perdendo a noite e a madrugada na formação de um plano para isto, não consegui chegar a lugar nenhum, derramando algumas lágrimas no processo enquanto me perguntava “Por que minha mãe havia me abandonado?”

Despertei logo após a hora do almoço em um estado lamentável. Estava completamente horrível, com os cabelos desarrumados e os olhos avermelhados, com pálpebras inchadas. Era evidente que não iria aparecer na frente do garoto que queria reconquistar com uma cara destas, não é? Desta forma, perdi alguns minutos fazendo um rápido lanche para não ir de estômago vazio para o tal teste e outros para me arrumar de forma a poder ser considerada “apresentável”. Ah, que Afrodite tivesse pena de mim e me desse uma ajuda nisto, afinal, era ela que gostava tanto de aprontar com a vida dos casais (e lá estava eu novamente denominando a mim e a Percy como um casal, seria algum sinal de aprovação da deusa do amor ou uma locucura de minha mente apaixonada?).

Ao olhar para o relógio, vi que quase estava na hora do teste. Pegando meu boné e minha faca, abri a porta de meu chalé, vendo que nenhum campista estava mais ali, exceto por aquele que menos desejava ver. Meu “namorado” havia ido me ver, convidando-me para ir ao teste juntos. Se ele pretendia participar, eu não sabia, mas concordei com a cabeça para não perder tempo em uma discussão inútil.

Chegando no local, percebi de imediato que estava atrasada e temi. O treinamento era a única forma de conseguir algum tempo garantido com Percy e eu precisava ao menos tentar participar deste. Um comentário nada oportuno soou em seguida, fazendo-me corar intensamente e me irritar um pouco: não apreciava o fato de meu “alvo” na conquista saber da atividade carnal que estivera metida nos últimos anos. Minha irritação aparecia em decorrência disto, ao notar que meu ex mantinha uma expressão indiferente na face ao escutar isto. Ah, mas eu o teria de volta.

Uma resposta idiota de Ethan veio em sequência a isto, mas fiquei contente ao ver a resposta de Percy, que parecia não se importar muito com a alcunha que seu irmão havia lhe dado. Em seguida, nada que valha a pena se mencionar: meu namorado idiota tentando pagar de pegador, tomando mais um fora de um “Berserker” indiferente (como era estranho chamá-lo assim, sentia falta de poder tê-lo como meu cabeça-de-algas), a permissão para fazermos o exame e o início dele, com a falha miserável do garoto que chamava atualmente de parceiro.

Não tardei muito a descobrir o objetivo do teste: era necessário sair do campo de vista do oponente e fazer o simples, mas impensado por muitos (dar a volta pela parte externa do “corredor” e fincar a arma na parte traseira da árvore. Apesar disto, não desejava passar desta forma fácil e covarde, eu queria surpreender meu cabeça-de-algas, provar verdadeiramente o meu valor. Sabia que não seria capaz de passar pelo corredor se ele tivesse como me atrapalhar, mas eu daria um jeito nisto. Ao notar o tipo de ataque realizado pelas caçadoras, tive finalmente uma idéia.

Precisei barganhar a resposta do exame com alguns campistas para que eles me dessem cobertura em meu plano louco, mas parecia que tudo estava preparado. Tinha a meu lado dois filhos de Hefesto, três filhos de Apolo, duas de Deméter e quatro irmãos meus, que tinham medo de tentar passar no exame de uma forma que fosse “injusta” como aquela de contornar o alvo.

Para começar, Jin e Ralph (dois colegas pertencentes a cabine do senhor da forja) prepararam coquetéis molotov de fogo grego, lançando-os contra o corpo do Percy. Ao mesmo tempo que isto acontecia, meus irmãos avançavam de espadas nas mãos e os hábeis arqueiros de Apolo disparavam flechas. A estratégia era fechada por Elena e Jess, as duas belas crias da deusa da agricultura que criavam, a partir de seus poderes, grossas raízes para prender os pés de nosso alvo.

Qual era meu papel nisto tudo? Correr. Colocando meu boné da invisibilidade, aproveitei para apertar o passo enquanto meu maior obstáculo era distraído. Apesar disto, não contava com a dor que iria sentir por todo o corpo ao entrar no corredor.

Era uma pressão semelhante a estar na presença de um deus. A dor causada por isto conseguia ser pior do que a de segurar o céu, era como se meu corpo todo fosse irromper em chamas por meramente estar ali. Além disto, sentia uma espécie de repulsão gravitacional me empurrando para fora dos limites do corredor. Mas eu não podia parar. Engolindo em seco, apertei o passo, tentando suportar de qualquer forma a dor que apenas aumentava com cada passo. Percy parecia não ter dificuldade alguma de se livrar dos ataques que havia lançado a ele e sentia que, se quisesse, ele poderia ter me parado. Mas não o fez.

Quando passei por ele, observei-o meramente virar para mim e montar na face um sorriso desdenhoso, como quem gostaria de ver até onde eu aguentava. Provavelmente era impossível para mim chegar até o final, mas, por ele, eu tornaria o inconcebível em realizável.

Cada músculo de meu corpo gritava, protestando de dor. Sentia estar no limiar de minha consciência, com todo o meu ser prestes a explodir, enquanto apenas pedia perdão e continuava a avançar. Eu precisava fazer aquilo. Por mim, por ele. Mesmo assim, a cada segundo que se passava a coragem dentro de mim cedia espaço para o temor, a dor e as inseguranças. Eu iria falhar e sentia isto. Lágrimas grossas já escorriam por minhas órbitas com este pensamento, enquanto empregava toda minha força restante naquela tarefa de correr.

Foi neste momento que tudo mudou. Sentindo como se realmente meu corpo entrasse em chamas, fui completamente revigorada. Não era exatamente um fogo doloroso, era apenas cálido e gentil, mas, sem sombra de dúvidas, poderoso. De energias renovadas, fui capaz de findar os últimos passos entre mim e meu objetivo, ou, ao menos, assim pensava. No último passo, a pressão em poder divino era tão grande que não consegui de forma alguma me movimentar e, com o coração na mão, perdi os sentidos, desabando.

Naquele momento, quem observasse o local onde ficava o teste teria uma surpresa. O guardião do exame, Perseus, estava com uma feição pasma no rosto. Meu boné há havia saído de minha cabeça na queda, mostrando meu corpo envolto por uma leve luminosidade dourada. E o principal: conectando minhas mãos e a árvore, havia minha já conhecida faca.

Eu havia conseguido.


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Notas finais do capítulo

Pois é gente. Apesar de tudo, Annabeth também é humana e também erra. Finalmente temos o lado dela a mostra e a velha semideusa que tantos sempre admiraram de volta (ou será que não?). Terá ela chances de estragar a felicidade do casal em formação (escolhido por vocês)??? Apenas o tempo dirá! Além disto, vou deixar combinado aqui com vocês um ritmo de postagem. Colocarei novos capítulos na história, no máximo, a cada 3 dias. Sim, é muito tempo, mas estou considerando o acontecimento de casos extremos que podem vir a ocorrer na vida de uma pessoa. TENTAREI postar todo dia, ou o mais rápido possível, mas se não puder, já sabem... Dito isto, só resta o habitual:

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