O Emissário Do Equilíbrio escrita por LordRyuuken


Capítulo 12
Uma carta e uma aposta


Notas iniciais do capítulo

Sim, eu sei que este capítulo demorou quatro, e não três dias. Tive alguns probleminhas com ele, principalmente na parte criativa. Lutar utilizando a Zöe sem mostrar muito dos poderes dela (que tem um segredinho que será revelado no futuro) me foi muito difícil. Vou tentar manter o prazo para com os próximos.

Capítulo dedicado a Andressa do Vale, pelo review caprichado no capítulo anterior. Obrigado pela paciência, este é para você!

Boa leitura!



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P.O.V. Percy

O combate entre os dois primeiros guerreiros dentre a Ordem dos Sete Caminhos já havia se encerrado. Como eu já havia imaginado, nenhum dos dois, seja Noah ou Hunter, conseguía superar de forma conclusiva os poderes do outro. Se estivessem em suas capacidades totais no momento da contenda, talvez o resultado fosse outro, dado as condições apresentadas, mas, se tivesse de apostar, ainda assim diria que seria um empate.

Tendo o primeiro passo sido feito, faltavam agora mais duas lutas. A seguinte seria feita entre Luke e Zöe, que utilizavam os caminhos de Saber e Archer, respectivamente. Sabia muito bem das habilidades dos dois, mas sabia de um fator único que, provavelmente, seria a chave para a decisão da luta. Cabia a resposta do vencedor a uma dúvida, referente a Luke tomar um certo passo ou não.

Fechando os olhos, suspirei, um pouco cansado, enquanto escutei a voz de Nix soar próxima a meu ouvido:

— Falando nisso, Pers. Tenho uma carta aqui para você, talvez lhe interesse. — falou ela, retirando um pedaço de papel de suas vestes. Pelo selo que lacrava o papel, já imaginava qual era o remetente. Abrindo o papel, passei meus olhos por alto neste e rangi os dentes, desconfortável.

Se a confusão no acampamento era meu inferno astral, por assim dizer, ao ponto de conseguir me fazer questionar aos céus se havia como piorar, alguém me lembre, por favor, de nunca mais realizar este clamor. As coisas estavam prestes a ficar ainda piores, se é que aquilo era possível. O acampamento em si, em sua integridade, poderia ser considerado fora de perigo em primeiro momento, já que o que recebera não era um relatório sobre o inimigo. Todavia, não era bem assim.

Segundo o que constava na carta, eu receberia uma visita em breve no acampamento, e se ele quisesse, poderia colocar tudo abaixo e nem mesmo eu conseguiria pará-lo, já que, a mínima tentativa de fazê-lo iria gerar uma luta que, no mínimo, destruiria todo o estreito de Long Island. Obviamente, só me restava esperar que ele tivesse o mínimo de coerência sobre o momento em que nos encontrávamos. Apesar de ser uma pessoa extremamente forte e amigável, minha nova visita, por assim dizer, era inconstante demais.

Virando para Nix, que havia me entregue a carta, questionei mal-humorado:

— E você só me entrega algo como isso agora? Não podia ter me dado, não sei, quando estávamos na praia? — perguntei, olhando nas orbes profundas dela, com certo desgosto na voz.

— Se eu tivesse feito isso, não teria rolado o que rolou. Queria você de bom humor… — disse ela, novamente com os olhos brilhantes e o biquinho que sempre faziam com que eu voltasse atrás e sucumbisse a suas vontades. Dessa vez, obviamente, não foi diferente.

— Tudo bem, deixe para lá. Darei um jeito nisso, mas não fique assim com essa carinha. — respondi, aproximando minha boca da dela e selando nossos lábios em um beijo curto, mas que não passou despercebido por nenhum dos presentes.

Ao observar o acontecido, todos, desde os campistas até os deuses ficaram ainda mais curiosos a respeito da identidade dela, que ainda estava oculta por seu item mágico e divino. Ao se separar de mim, ela respondeu:

— Não faça isso. Ou você quer ser agarrado aqui mesmo, no meio dessa multidão e com ele vindo para cá?

Sorrindo de forma maliciosa para ela, concordei com a cabeça, rebatendo suas palavras:

— Não seria de todo ruim, mas o momento realmente não é adequado. Quem sabe mais tarde não possamos dar um jeito nisso? — meu hálito cálido entrava em contato com sua pele gélida enquanto eu sussurrava estas palavras próximo a seu ouvido, abocanhando carinhosamente o lóbulo de sua orelha, fazendo-a se arrepiar.

— Promessa é dívida então. Não ache que irá conseguir fugir de mim. — disse a primordial da noite, com a voz mole, mas ainda assim sensual.

— E nem quero tentar uma fuga. — respondi, divertido, separando-me dela novamente.

Estando resolvida a questão com minha “amiga”, sabendo das condições atuais do momento, retomei as feições sérias que me cabiam, declarando em voz alta para todos os presentes:

— Antes da próxima luta, faremos uma breve pausa de dez minutos. Peço a paciência de vocês, afinal, se vocês gostaram da primeira luta, certamente irão desfrutar a próxima. — estando dado o aviso, escutei a lamúria coletiva dos presentes, não ligando muito para estes.

Fechando meus olhos, abandonei a área onde me encontrava, indo para um local isolado onde poderia tomar minhas precauções. Antes de tudo, comecei a emanar uma quantia maior de energia de meu corpo, dizendo, em voz grave, enquanto manipulava esta:

— Growing shadows, multiple replication (Sombras crescentes, replicações múltiplas).

O entoar realizado, de onde apenas havia uma massa de poder bruto me envolvendo, sombras se formaram, tomando primeiro forma, depois cores. Ao fim do processo, já eram dez corpos semelhantes a mim. Fitando-os, evoquei minha Theoi Vortigern, movendo-a pelo ar e realizando um corte, que deu origem a um portal do qual saíram diversas esferas metálicas. Vendo cada um deles pegar um par delas, disse:

— Vocês sabem o que fazer. Tomem cuidado para não deixar nenhuma brecha, preciso saber quando ele estará aqui.

Enquanto as crias geradas por meu poder sumiam para cumprir as ordens que lhe foram dadas, os dois próximos combatentes apareceram. Luke e Zöe, já vestidos para o combate que teriam, vieram até mim, o rapaz tomando a frente e questionando:

— Quem estará aqui, para você tomar tantas precauções? Para usar as armadilhas mais perigosas de Rider e Caster, certamente você está preocupado.

Virando meus olhos em esguelha para ele, respondi, em tom desanimado:

— Recebi uma carta. Ishzark está vindo para o acampamento.

Como era de se esperar, os olhos de ambos se arregalaram ao escutar isto, sendo que, neste momento, foi a outra embatente que decidiu se pronunciar:

— O que diabos ele pretende fazer aqui? Ele já se declarou neutro nessa área do combate. Deixou claro para todos nós que ele é neutro.

Já tendo idéia do que ele queria, por conhecê-lo como a palma de minha mão, respondi:

— Ele está vindo se divertir. Provavelmente está entediado e quer atazanar minha vida um pouco. Como se estar no acampamento depois de tanto tempo, com tantas lembranças ruins, não fosse o suficiente. — disse, borbulhando por dentro de raiva.

— Talvez ele só queira nos ajudar, tenha mudado de opinião sobre sua neutralidade… — iniciou Luke, mas foi cortado logo em seguida por mim.

— Ele tem bons motivos para ser neutro, acredite em mim. — motivos que eu também tenho, mas mesmo assim fiquei do lado de Lorde Caos, completei mentalmente, voltando a oratória logo em seguida — Além disso, a carta que ele me mandou deixa isso bem claro…

— Que carta? Posso dar uma olhada nela? — questionou Archer, enquanto eu retirava do bolso um pedaço de papel amassado, entregando-o a ela.

[ . . . ]

Ragazzo,

Come stai? Se divertindo muito no acampamento que tanto lhe causou dor no passado? Eu sei que provavelmente você tem ordens de não matar ninguém aí, mas, ci sono altri modi per divertirsi, ho ragione? Apesar disso, como o stronzo que você é, tenho certeza que não fez nada ainda. Se divirta um pouco! Enfim, como você sabe (ou deveria, afinal, você não me manda mais notícias), já terminei tudo o que eu tinha a fazer nas dimensões obscuras. Como il buon amico che io sono, apesar da minha neutralidade in questa guerra, vou te dar uma dica. Passando por lá, encontrei algune cose strane. Sconosciuto, anche a me. Imagino que sejam movimentos dela. É melhor você se preparar, a força do lado inimigo está mais poderosa do que nunca, e pronta para se mover a qualquer momento. Ah sim, como pagamento pela informação, irei lhe fazer uma visitinha aí. Estou entediado, sabe? Não existem mais bons adversários para se lutar como antigamente. Ou melhor, até tem, mas para enfrentar a maioria deles, eu teria que escolher um lado nessa guerra, e questo non è mia volontà. De um modo ou de outro, está avisado, depois não venha chiar no meu ouvido dizendo que sou un maleducato che non avvisa suo arrivo. Um abraço daquele que há muito não lhe vê:

Ishzark

(N/A: Tradução dos termos em italiano com a carta completa em português no final do capítulo)

[ . . . ]

— Ele podia parar com essa mania irritante de usar termos em italiano no meio das frases. Não dá pra entender nada com ele escrevendo assim! — comentou Luke, irritado.

— Da última vez que Ishzark veio a este plano, Roma era a cidade onde o Olimpo se encontrava. Era o cerne da civilização. Estando em contato conosco, ele pôde pegar rapidamente o inglês, mas acho que ele está mais acostumado a língua que costumava falar. — iniciei, quando uma outra idéia me veio a cabeça, fazendo-me dar de ombros — Ou ele simplesmente fez isso para te irritar. É bem a cara dele, adora tirar um sarro de todo mundo.

— Voltando ao assunto que importa, você sabe que se ele realmente estiver vindo, não serão estas armadilhas que irão impedí-lo de entrar, não é mesmo? Podem ser poderosas, mas, para ele, são estalinhos de criança. — disse Archer, fazendo com que eu concordasse com a cabeça.

— Eu sei. É outra coisa que me interessa, na verdade. Apesar de poder transpassar nossas defesas sem percebermos, ao ver as armadilhas ele irá certamente ativá-las. Neste aspecto, apesar de ser poderoso como é, Ishzark é uma criança. Ao ativá-las, receberei um aviso de imediato, podendo tomar qualquer contra-medida necessária, se preciso for.

— Entendo. Realmente, é algo que só você, por entender essa forma de pensar dele, poderia fazer. — observou Saber.

— Exatamente, mas vamos parar com isso. Temos uma platéia nos esperando, e o show deve continuar. — recordando eles da luta que viria, observei os olhos dos dois se cruzarem no ar, trocando faíscas entre si.

Enquanto observava a vontade de lutar dos dois, segurei novamente a carta em minhas mãos, fazendo com que pegasse fogo com o mínimo mover de meus dedos. Feito isto, encaminhei meus passos de volta a área onde se encontraria o juiz da próxima luta, cargo este que ainda cabia a mim. Olhando para mim, Nix perguntou:

— Tomou suas providências para a visitinha dele? — um riso abafado acompanhou a pergunta, como se ela estivesse tentando conter a comicidade da situação, a qual, se estivesse no lugar dela, também me faria rir. Apenas concordei com a cabeça, antes de novamente anunciar algo ao público.

— Desculpem a demora! O combate tão esperado entre Saber e Archer irá começar! De um lado, Luke Castellan, antigo campista do chalé de Hermes e ex-receptáculo do titã do tempo, atual soberano do caminho do espadachim! Do outro, Zöe Nightshade, antiga tenente das caçadoras de Ártemis, filha do titã Atlas e responsável por reger o caminho da arquearia! Dêem as boas vindas aos combatentes!

Eu estava ficando bom nessa coisa de narrador, não? Estava sendo bem divertido também. Tudo bem que tanto Luke quanto Zöe iriam me matar depois, por utilizar títulos que eles desgostavam na descrição deles, mas, de uma forma ou de outra, só poderiam fazê-lo após se espancarem, o que já me era uma vantagem. Enquanto a multidão aumentava novamente o volume de seu barulho ao ponto de ser praticamente ensurdecedor, com gritos de incentivo e conversas, dentre outras coisas, os dois adentraram o local, usando as mesmas vestes que estavam quando vieram me ver.

Luke estava com uma couraça de metal e couro, unido a um conjunto de grevas, espaldar e manoplas semelhantes ao que levava como proteção para seu torso. O conjunto possuía uma coloração negra, devido ao couro, mas, não sendo uma armadura completa, não era a única cor que ele vestia. Por baixo de suas proteções, havia uma camisa de malha vermelha, e em suas pernas, uma simples bermuda bege, dando um tom neutro ao visual. Em suas mãos, pendia uma espada longa e ligeiramente fina, com quase noventa centímetros de lâmina e cinco centímetros de largura. Sua expessura também não era muito alta, de modo a dar a impessão de que o equipamento era facilmente quebrável.

Já Zöe estava com um vestido branco de um ombro só, rodado na longa saia, que era toda drapeada na diagonal, dando a impressão de que ela estava sempre em movimento, mas sem sacrificar a liberdade dela dentro das vestes. Sua roupa parecia ter sido feita para facilitar seus movimentos, e realmente era o caso. Nas costas, levava um arco de uma madeira semelhante ao mogno, com alguns detalhes em metal. O estranho para muitos, ao primeiro olhar, era o fato de ela não haver trazido consigo nenhuma flecha.  Para mim, era apenas o natural, afinal, já conhecia muito bem os dois e seus segredos de combate.

Prostrados de frente um para o outro, pareciam estar os dois aguardando apenas meu sinal para darem início a luta. Ciente disto, logo dei a permissão, ao entoar, para que todos ouvissem:

— Que a segunda luta dos combates demonstrativos tenha início!

Imediatamente após meu comando, Luke usou de toda a velocidade que possuía para avançar contra Zöe, em uma óbvia tentativa de fechar a distância entre os dois, transformando a vantagem dela de possuir uma arma de longa-distância em algo desfavorável. Obviamente, a arqueira não ficou parada, vergando seu arco e fazendo aparecer nele uma flecha. Soltando o cordão, o projétil foi lançado e, no mesmo momento em que abandonou o arco, este foi envolto em um brilho incandescente, que gerou cinco novas flechas, atacando o espadachim ao mesmo tempo. Este, brandindo sua espada concentrado, entoou:

— Mihöllgran, mostre seu poder! — imediatamente após dizer isto, uma intensa corrente elétrica foi gerada a partir da espada, que criou um poderoso trovão que serviu como magneto para defender o ataque da moça.

No segundo seguinte ao da defesa veio o contra-ataque do jovem, que gerou uma torrente de água a partir de sua espada, combinando-a com a eletricidade já presente na área para criar um ataque eletro-estático poderoso.

Ainda confiante em suas habilidades, Zöe mais uma vez usou seu arco, lançando agora uma flecha diferente da primeira. Esta, ao entrar em contato com o ataque de Luke, simplesmente sumiu, levando junto consigo o ataque. Infelizmente para ela, atrás da ofensiva não existia mais um ofensor: Luke havia sumido.

Pude escutar, como de praxe, os comentários dos presentes sobre a luta, sendo capaz de discernir um questionamento de Zeus para os demais atletas olímpicos do panteão:

— Castellan controla os raios como eu e a água como Poseidon? Como isto é possível?

Benevolente como sempre, usei meus poderes para condicionar minha voz de modo as ondas sonoras irem apenas na direção dos deuses, respondendo a estes como se estivesse ao lado destes:

— Mihöllgran, a espada de Luke, é o símbolo divino de seu poder como um caminho de Caos. A habilidade especial desta arma é a de conseguir plagiar perfeitamente as habilidades de qualquer arma existente, desde que Luke conheça estas habilidades pessoalmente e tenha visto a arma em questão. Ele roubou o raio-mestre, não é uma novidade que esta arma possa ter sido copiada. Já o Tridente de Poseidon e o Elmo de Hades, cabe a ele responder onde viu. — disse, satisfeito com a expressão de insatisfação no rosto de Poseidon por não haver chamado a este de “pai”. Infelizmente pode usar apenas as habilidades de apenas uma arma de cada vez.

— Você quer dizer que esta invisibilidade dele é devido aos poderes do meu elmo? — questionou Hades, enquanto eu apenas confirmei com a cabeça.

— Esta filha de Atlas não terá a menor chance então. — disse o rei dos deuses — Se ele puder usar as armas de todos nós, ainda que uma de cada vez, a vitória dele é garantida.

Revirando os olhos novamente, pela cegueira que os olimpianos insistiam em ter quanto a suas armas, respondi:

— Não tenha tanta certeza. Um bom usuário faz uma arma muito mais do que a qualidade desta.

Desconfortável com o que eu falei, Hermes questionou:

— Você duvida da competência de meu filho como espadachim então?

— Não. — rebati, seco — Apenas disse que não basta ter uma arma poderosa para ganhar uma luta. Se Zöe souber conduzir esta luta da forma correta, poderá vencer. E não se esqueça que Luke foi o único que mostrou o que sua arma divina faz. Nem Noah, nem Hunter e nem Zöe o fizeram… O próprio Luke decidiu fazer isso apenas por ele ser, dentre nós, o mais dependente das habilidades de sua arma. Isso talvez se deva ao fato de a única habilidade divina que ele herdou por genética tenha sido a velocidade, sendo que só desenvolveu isso depois de morto. — ironizei, completando, por fim, com um pensamento que há muito já tomava minha mente — Talvez seja exatamente este o motivo de a arma dele ser tão versátil.

— Então você aposta na vitória de Zöe? — questionou Atena.

— Se você apostar na de Luke… — completei, falando de forma desmotivada.

— Feito. Eu vencendo, você retoma o namoro com minha filha. Vai ser bom para colocar de novo algum juízo na cabeça dela... — falou a deusa, certamente pensando que, com a vitória, conseguiria não apenas “consertar” Annabeth, mas também garantir novamente minha fidelidade ao Olimpo.

— Você realmente quer me forçar a um relacionamento com alguém que não quero namorar? — questionei, com os olhos semicerrados — Olho por olho então, deusa da sabedoria. Se Zöe vencer, você irá passar a namorar com Poseidon. Jure pelo Estige.

Ela ficou estática diante de meus termos, mas sabia que, se recuasse naquele momento, ela seria motivo de chacota para todos os outros deuses, principalmente para seu rival. Incomodada, ela afirmou:

— Ele é casado!

Sem muita emoção, respondi:

— E isso nunca o impediu de ter centenas de filhos mortais. Além do mais, o mar inteiro já sabe que há muito esse casamento é só fachada.

Sem muitas opções para escapar de meus termos, ela virou seus olhos para o deus marinho, que apenas sorriu malicioso para ela. Sentindo-se desafiada, tanto por mim como por ele, ela pediu:

— Jure você primeiro.

Sem me preocupar muito com as juras, entoei as palavras que ela solicitava:

— Juro pelo Estige os termos de nossa aposta.

— Sendo assim, eu também juro. — disse ela.

Um par de trovões cruzou o céu, firmando o contrato eterno que apresentamos. Notei que, na verdade, o desejo de Atena era fugir do prometido. Entretanto, como deusa da justiça, ela não poderia deixar que apenas eu tivesse assinado este “contrato”. Coitada. Mal sabia que, para mim, uma jura pelo Estige e nada era a mesma coisa. Com um pequeno sorriso de satisfação no rosto, voltei meus olhos para a luta mais uma vez, enquanto ouvia os burburinhos por dentre os deuses, surpresos com os termos oferecidos por ambas as partes neste trato.

— Ah, o orgulho. É a fraqueza da filha e é a fraqueza da mãe. — falei, pensando de forma aérea, já com a conexão com os deuses encerrada.

— O que houve? — perguntou Nix, que até poderia ter ouvido minha conversa com os deuses, mas parecia não prestar muita atenção em nada ali, exceto, talvez, na luta.

— Nada demais. — respondi sorrindo, enquanto minhas orbes novamente captavam as informações da luta.

Estando invisível, Luke obviamente iria tentar um ataque furtivo. Sua velocidade era soberba, mas ele não poderia utilizar nenhuma habilidade com sua Mihöllgran sem revelar sua posição. Se quisesse realizar um ataque efetivo, teria duas opções: ou permanecer invisível até o último momento e ativar uma habilidade nova apenas no momento do ataque ou atacar normalmente e ficar invisível mesmo assim. Obviamente, a primeira opção cabia melhor ao espadachim, que novamente utilizou o poder máximo da arma divina de Zeus para eletrificar seu ataque, exatamente nas costas de Zöe.

Muitas estratégias seriam cabíveis ao localizar de alguém invisível. As pegadas, por exemplo, deixadas na arena, poderiam ser utilizadas como forma de rastreio. Infelizmente, nenhum princípio assim se aplicava a uma ocultação feita com o Elmo de Hades, ou seu poder, enfim. Sabendo disto, a arqueira confiou no que ela tinha de melhor: sua intuição.

No exato momento em que Luke desapareceu, ela sacou uma flecha de sua aljava infinita (a habilidade do arco, afinal, não havia nenhum reservatório de setas realmente com ela) e a preparou, mirando para cima e a disparando. De modo estranho, a flecha jamais caiu. Quando o golpe do espadachim acertou a lateral do corpo feminino, a espada o transpassou completamente, partindo-a ao meio.

Surpreso por ter conseguido atingí-la com uma estratégia tão simples, Luke quase não teve tempo de observar o contra-ataque da jovem, que veio na forma de uma chuva de flechas de diferente tipos. Ativando no último segundo uma poderosa habilidade de barreira, o homem conseguiu se proteger de todas, exceto uma flecha, que estava encantada exatamente com a propriedade de perfurar este tipo de proteção.

— Como? — questionou um garotinho próximo a mim, cutucando meu corpo na esperança de uma resposta. Ele devia ter, no máximo, uns nove anos de idade. Sendo assim, respondi sem temor ao pequeno, em um sinal de gentileza.

— Ela usou uma flecha ilusória de substituição. Quando Zöe mandou sua flecha para o ar, para todos os efeitos, na verdade era a flecha que estava lançando a arqueira para cima. Dessa forma, ela pôde ter um ângulo de tiro livre quando Luke atacou. — expliquei, na esperança que ele entendesse.

— E por que não atacar antes? — falou ele, mostrando o quanto era esperto.

— Ela precisava aguardar até o último momento, quando a guarda dele estivesse completamente baixa. Do contrário, ele teria como se defender perfeitamente do ataque, ao invés de ser alvejado (ainda que parcialmente) nele.

Rangendo os dentes, Luke arrancou a ponta da seta de seu ombro, utilizando uma habilidade de cura para reaver seu corpo ao estado em que normalmente se encontrava. A luta entre eles era mais simples, no geral, não possuindo grandes segredos no que dizia respeito as ações e estratégias, afinal, ambos tinham armas versáteis capazes de criar diversos tipos de estratégia. Apesar disto, utilizar estas armas de modo a conseguir fazer lutas longas era simplesmente inútil, um esforço desnecessário. Ao contrário do que ocorria em uma aventura de vida ou morte, neste campo, onde eles estavam apenas praticando, por assim dizer, os dois lados queriam apenas vencer um ao outro o mais rápido possível. Deste modo, um término rápido também fazia total sentido. Brandindo a espada que possuía, Luke sorriu, comentando:

— Vamos terminar logo com isso. E que melhor poder do que o da arma de Berserker para lhe vencer? — disse ele, concentrando-se.

Enquanto isto, Zöe materializou uma nova flecha em seu arco, juntando uma quantia considerável de poder divino nela.

— Sim, irá acabar agora. — respondeu a ex-caçadora.

Tudo acabou muito rápido. Quando se preparou para usar sua arma, Luke sentiu um calor imenso vindo desta, que começou a emanar faíscas e um brilho estranho, trabalhando descontroladamente. Tendo sua mão queimada por uma temperatura de nível super-solar (que carbonizaria de imediato qualquer humano comum), no susto, ele acabou soltando sem intenção sua arma, permitindo que a flecha da mulher cruzasse o ar com todo o seu poder e, dividindo-se em diversos fragmentos, atingisse ele em diferentes pontos. Sem sua arma, o homem nada podia fazer, mas restava uma pergunta, que ele fez logo em seguida:

— Como? Como você sabia que minha espada não iria funcionar?

Sorrindo para o homem, a jovem respondeu:

— Eu tinha acesso a uma informação que você não tinha, só isso.

— Mas qual? — novamente iniciou ele.

— A de que Theoi Vortigern não é uma espada. Berserker me confirmou, em pessoa, que ela é o instrumento divino dele.

— Mas a minha arma divina já é uma espada, de modo a, como Lorde Caos disse, não haverem duas do mesmo tipo. Por isso, a arma dele não é realmente uma espada, e como eu não visualizei a verdadeira forma da arma, não pude copiá-la, fazendo com que ao forçar a cópia, a arma se tornasse instável. Sendo um instrumento de Caos então, só piorou tudo, pela natureza do equipamento. Ao declarar que usaria os poderes da espada de Percy, eu te dei a vitória. Entendo… — após dizer isto, ele desmaiou, devido a poderosas toxinas ancestrais presentes nos fragmentos da seta.

Sorrindo, contente com o resultado, virei para Atena, que já ostentava um rosto ruborizado. Com uma feição maliciosa no rosto, anunciei o resultado, já um pouco mais contente:

— A vencedora da segunda luta é Zöe Nightshade!

[ . . . ]

Extra: Tradução da carta de Ishzark

Moleque,

Como você está? Se divertindo muito no acampamento que tanto lhe causou dor no passado? Eu sei que provavelmente você tem ordens de não matar ninguém aí, mas, existem outras formas para se divertir, estou certo? Apesar disso, como o imbecil que você é, tenho certeza que não fez nada ainda. Se divirta um pouco! Enfim, como você sabe (ou deveria, afinal, você não me manda mais notícias), já terminei tudo o que eu tinha a fazer nas dimensões obscuras. Como o bom amigo que sou, apesar da minha neutralidade nessa guerra, vou te dar uma dica. Passando por lá, encontrei alguma coisa estranha. Desconhecido, até para mim. Imagino que sejam movimentos dela. É melhor você se preparar, a força do lado inimigo está mais poderosa do que nunca, e pronta para se mover a qualquer momento. Ah sim, como pagamento pela informação, irei lhe fazer uma visitinha aí. Estou entediado, sabe? Não existem mais bons adversários para se lutar como antigamente. Ou melhor, até tem, mas para enfrentar a maioria deles, eu teria que escolher um lado nessa guerra, e essa não é minha vontade. De um modo ou de outro, está avisado, depois não venha chiar no meu ouvido dizendo que sou um mal-educado que não avisa sua chegada. Um abraço daquele que há muito não lhe vê:

Ishzark


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Notas finais do capítulo

Bem, com o fim deste capítulo venho a passar para vocês uma bateria de perguntas, que cabe a vocês responder (ou não):

O que acharam do capítulo?
E da chegada desse personagem novo, Ishzark?
Qual o relacionamento dele com Percy e qual a razão de ele se manter neutro em uma guerra que decidirá o destino do universo?
Por que, segundo o Percy, mesmo tendo os mesmos motivos que Ishzark para ser neutro, ele tomou partido?
O que acharam da luta entre Zöe e Luke?
Sentem falta de algum personagem da obra do Riordan (que você queira ver na fic, mas eu esteja "deixando de lado")?
Querem que eu desenvolva um pouco este lado Posena ao qual dei uma deixa neste capítulo?

Enfim, digam o que acharam, suas teorias e respostas!

Me despeço com o habitual:

Se gostaram, por favor, comentem. Se realmente gostaram, indiquem aos amigos, adicionem aos favoritos e, se possível, recomendem. Até a próxima!