O Emissário Do Equilíbrio escrita por LordRyuuken


Capítulo 11
Um encontro inesperado e a primeira luta


Notas iniciais do capítulo

Bem em cima da marca, hein? Quase 72 horas depois do capítulo anterior, estou postando este. Foi o maior até agora! 5320 palavras que eu adorei escrever e espero que gostem de ler! Como prometi, aí está o capítulo. Ele é em homenagem a todos os antigos leitores que acreditaram que este capítulo viria e que eu não abandonaria a fic mais uma vez.

Boa leitura!



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P.O.V. Archer (Zöe)

Ainda que conhecesse muito bem a Percy, não acreditava ainda que ele havia concordado com a proposta dos deuses de demonstrar nosso poder em combates. Não era do feitio dele, ainda que acompanhado de uma chance de poder dar uma “lição” ele mesmo em um dos olimpianos. Infelizmente, aquela que sofreria os carinhos de meu amigo seria minha antiga mestra, Ártemis.

Meu relacionamento com a deusa casta da lua estava um pouco complicado no momento, afinal, até o momento de minha morte, fui uma de suas servas mais leais. Entretanto, ao ser trazida de volta a vida, criei para mim uma nova realidade, esta que, agora, estava a se chocar com a antiga que vivera até o momento.

Encarar minha antiga vida não era algo fácil, afinal, eu nutria ainda um grande carinho por minhas antigas companheiras de caça. Entretanto, sabia que aquela não era mais a minha vida. Não poderia simplesmente abandonar tudo o que havia conquistado e voltar a ser a tenente da caçada. Meu lugar agora era com os sete caminhos do caos, não mais como a filha de Atlas Zöe, mas como a guerreira Archer.

Estava deitada em uma cama bastante simples, mas bem confortável, localizada na casa grande. Neste momento, estava apenas a fitar o teto, pensando nos combates que iriam ocorrer dali a pouco. Precisava de uma estratégia efetiva para minha luta contra Luke.

Vocês talvez estejam se perguntando como eu sabia que lutaria com Luke se os combates seriam sorteados. Bem, na verdade, era uma questão de o sorteio ser uma mera formalidade, já que o resultado já estava decidido. Decidir algo na sorte tendo um filho de Fortuna entre os participantes? Nada inteligente. Apesar disto, Percy apenas queria tornar as coisas um pouco mais espontâneas aos olhos dos outros, para que não parecesse que nossas lutas foram ensaiadas nem nada do tipo. A meu ver, pensar assim seria algo idiota, mas como já os vi realizar inúmeras tolices, mais uma em seus cúrriculos não seria exatamente uma surpresa.

Como Hunter tinha uma certa rivalidade com Noah, ele faria com que o destino sorteasse aos dois, restando Saber como meu oponente. Já havia enfrentado Luke algumas vezes em treinamentos pesados, mas isto não significava apenas que eu conhecia sua forma de lutar: indicava que ele também conhecia o meu próprio estilo, minhas estratégias e forma de pensar.

Sabendo que a hora já estava se aproximando, abandonei meu quarto e me dirigi a praia, onde imaginei que estaria Percy. Desejava falar com ele antes que se iniciassem os combates, na esperança de obter algumas respostas sobre o que se passava em sua mente.

[ . . . ]

P.O.V. Beserker (Percy)

O dia dos combates havia chegado. Não estava exatamente preocupado com minha luta, por mais que Ártemis fosse a mais respeitável opção entre oponentes entre os deuses. Não poderia esperar vencer Tehom e seus generais se não tivesse o poder para vencer ao menos uma deusa, não é mesmo?

Mirando o céu de forma um pouco despreocupada, senti os raios de luz solar baterem ante minha face de forma gentil, tremeluzindo em um baile de raios que mesclava aqueles vindos diretamente até mim com os refletidos pela água do mar. No fim das contas, continuava gostando daquele domínio, ainda que algumas coisas em meu encanto por este tendo mudado. Próximo a mim, uma sombra surgiu do nada, vestindo uma longa capa negra que encobria todo seu corpo. Um acessório desnecessário, já que, ao menos no que se referia a mim, a identidade daquela pessoa já me era bem conhecida. Sem virar-me para fitá-la, ainda com os olhos no mar, questionei:

— Não é de seu costume sair de sua morada. O que houve? — falei, com certo cansaço na voz, que na verdade vinha mais da preguiça que me acometia pela manhã do que propriamente de uma fadiga.

— Você continua um inútil pela manhã, Perseus. Acho que parte da culpa nisso é minha. — respondeu a voz feminina, que me fez ter ainda mais certeza de quem era ela.

— Ainda não respondeu minha pergunta. — continuei, teimoso e incisivo, querendo descobrir o motivo de ela estar ali. Um sorriso disparado em minha direção e uma resposta logo em seguida me dariam o mais próximo do que teria de uma resposta.

— Não posso visitar um amigo mais? Ou vai me dizer que não gosta de minha companhia? — iniciou ela, fazendo biquinho.

Foi minha vez de sorrir, mas, desta vez, a feição veio acompanhada de uma risada. Virando finalmente para ela, retirei uma lágrima da ponta das orbes, gerada pelo ato de gargalhar, antes de responder:

— Certamente pode me visitar, sua companhia é tão prazerosa quanto sempre foi, ainda que não nas mesmas circinstâncias, não é mesmo?

— Você era só um garotinho machucado, eu me lembro. Se sentia traído por tudo e todos ao seu redor, não confiando mais em ninguém. — iniciou ela — Uma besteira, na verdade. Não levei mais do que um dia para lhe convencer a confiar em mim. A inocência, mesmo depois de ter sido traído, ainda lhe era natural — disse, salientando o verbo no pretérito.

— Você fez questão de matar minha inocência antes que pudesse continuar minha jornada, não é mesmo, Lady Nix? — falei, com um sorriso maldoso na face unido a frase de duplo sentido, que tinha ambas as suas vertentes como verdade.

Tendo eu tocado neste assunto, ela ergueu ambos os braços em sinal de inocência enquanto uma brisa de vento finalmente fazia o capuz de suas vestes caírem, revelando sua face completamente: a pele alva como a neve, os olhos azulados, os cabelos longos, sedosos e brilhantes em cor tão negra quanto o céu na noite mais escura que já teve, caindo como uma graciosa cachoeira por seus ombros. Haviam também as feições finas e bem-desenhadas em sua face, somadas ao que se assemelhava muito a uma maquiagem (ainda que eu jamais tivesse perguntado se o era), que tornava seus lábios e a região ao redor de seus olhos escurecida, mas não de forma a fazê-la parecer uma metaleira sem modos, ela conseguia manter a elegância e a graça que lhe eram naturais mesmo com aquela aparência. E isto para não falar de seu corpo escultural, que fizera questão de conhecer por completo no tempo que passei com ela quando, nas palavras aqui já usadas, ela “matou minha inocência”.

Estando com seu sinal de “menina santa” ativado, ela respondeu, sapeca:

— Não fiz nada que você não consentiu. Não me lembro de você reclamar na época.

Ela era linda e completamente o meu tipo, não foi a toa que tivemos várias idas e vindas nestes anos. Entretanto, ambos havíamos chegado a conclusão que, apesar de a companhia um do outro ser extremamente agradável, não havia sentimento para um verdadeiro relacionamento. Claro que isso não impediu que nos curtíssemos algumas vezes mais, saindo juntos pelo mundo, como amigos ou “ficantes”, dependendo de nosso momento e humor (O que foi? Sou um guerreiro de Caos, mas não sou um santo e, com certeza, bem menos inocente do que quando namorei pela primeira vez.). E quem disse que amigos e ficantes neste aspecto são mutuamente exclusivos? Tínhamos uma amizade colorida, por assim dizer. Ela funcionava muito bem, apesar de eu admitir que a possibilidade de vê-la com outro me seria, em primeiro momento, bastante desagradável, mas isto era apenas uma questão de ciúmes instintivo. Se notasse que ela estava realmente feliz com outro, deixaria que seguisse seu caminho, afinal, como o amigo que era, estava apenas curtindo nossa amizade de formas um pouco mais profundas.

— Não, eu não reclamei. Acho que não há homem que, em sua perfeita sanidade mental, seria capaz de recusá-la. — disse, com certo galanteio na voz, colando meu corpo ao dela após avançar um único passo.

— Exceto um homem apaixonado. Um homem apaixonado poderia recusar até mesmo a mais bela das mulheres por sua amada — senti o ar ficar um pouco mais pesado ao ouvir estas palavras, enquanto ela, um pouco mais baixa do que eu, olhava com uma mirada falsamente inocente para mim, olhos esses que faziam o ar escapar de meus pulmões.

— Ah, um homem apaixonado. Que Caos me livre de sucumbir a este sentimento mais uma vez. Um desgosto me foi o suficiente — comentei, de forma sombria, enquanto fazia minha melhor feição séria (que, no momento, junto a ela e com o clima de risadas que há pouco estava rondando o local, não era grande coisa).

— Você não vai se lamuriar pelo resto da sua vida por causa da traição de uma única mulher, não é mesmo? — continuou ela, me pressionando sobre o assunto.

Com a pergunta dela tendo sido feita, enquanto mirava profundamente em seus olhos, respondi, desconfortável:

— O problema não é exatamente achar que serei traído. Quem dera se fosse apenas isto. O que me enerva é o fato de se sentir dependente de outra pessoa, da presença dela e de seus carinhos. É saber que tudo o que ela faz e pensa te afeta, que não importa o que aconteça, você enfrentaria qualquer coisa pelo bem do outro. É isto, esta dependência emocional, que eu não quero nunca mais sentir. — explanei, com certa dificuldade em verbalizar o que pensava.

— Ao mesmo tempo que você depende de outra pessoa, ela também passa a depender de você. Vocês passam a ser um só ser, por assim dizer. Vai dizer que este pensamento não te faz se sentir bem? — indagou ela, após expor sua opinião.

— Nem todo amor é correspondido. — respondi.

— E nem todo amor é não-correspondido. — rebateu ela — Não é por ter tido uma experiência ruim que todas as demais serão assim também.

Suspirando fundo, levei uma das mãos até a parte traseira de minha cabeça, bagunçando meus cabelos com a mão enquanto me preparava para constatar algo:

— Esse negócio todo de amor podia ser mais fácil. Por que não pode ser algo simples e divertido, como o que temos? — falei, abrindo um pequeno sorriso para ela.

— E quem disse que o que temos não pode ser amor? — falou ela colando ainda mais seu corpo ao meu e erguendo sua cabeça em minha direção.

— Não quer tentar descobrir? — disse, aproximando meus lábios dos dela e os selando em um beijo.

Nosso bailar de bocas foi inicialmente gentil, vagarosamente, começou a se tornar cada vez mais selvagem. Dali a dois minutos, já não mais estava apenas em nossos lábios, com carícias mais ousadas sendo trocadas entre nós até que…

— Percy! Cadê você? — falou uma voz do meio das árvores, próximo ao local onde estávamos.

Antes que Nix e eu pudéssemos nos separar, Thalia apareceu, corando violentamente com a situação que havia se metido. Virando-me para ela, questionei:

— O que houve? — minha voz não estava nem um tom alterada, exceto, talvez, pelo ofegar da falta de ar em que me encontrava, se é que me entendem. Entretanto, parecia que ela tomou aquilo como uma bronca e, envergonhada, gaguejou em resposta.

— É… Bem… Me desculpem por interromper o momento de vocês. — dava para perceber que ela não sabia que era uma primordial que estava ali a meu lado, pela forma na qual havia falado, mas, pela sanidade mental de minha prima, decidi permanecer quieto até que ela continuasse — Zöe está procurando você, cabeça-de-alga. Disse que tentou rastrear sua potência energética, ou algo assim, mas que não conseguiu te localizar. Pediu para perguntar a você o motivo de estar escondendo seu poder e dizer que ela quer falar com você. O primeiro eu acho que já encontrei minha resposta, já o segundo, acho que não dará tempo de falar com ela, afinal, está na hora das práticas de combate que você prometeu demonstrar.

Uma interrogação surgiu em minha mente sobre o fator “estar escondendo minha energia”. Precisei de alguns segundos antes de pensar na resposta, que era mais óbvia do que eu podia imaginar. Com uma feição interrogativa, voltei meus olhos para Nix, que apenas deu de ombros e respondeu:

— Achei que poderíamos ter um pouco de privacidade. Pelo visto, usar o poder de minha capa para esconder nossas energias não foi o suficiente. Deveria nos ter feito ficar invisíveis também. — concluiu a soberana da noite desgostosa.

Abrindo um pequeno sorriso para ela, estendi minha mão em sua direção e questionei:

— Me acompanha?

A resposta não tardou a chegar, vindo de forma confiante e decidida:

— Sempre.

[ . . . ]

Chegamos na arena do acampamento poucos minutos depois. Poderia simplesmente nos ter teleportado para lá, mas gostava do prazer de usar minhas próprias pernas, ainda mais em companhia tão bela. O local estava abarrotado de semideuses curiosos e pude notar a presença até mesmo dos deuses, e, por deuses, não me refiro apenas aos olimpianos. Dos três grandes até alguns deuses menores, haviam dezenas deles curiosos para com nossos poderes, como eu já havia imaginado.

Estando todos em seus devidos lugares, tomei a frente de todos, transpassando a área dos espectadores do “coliseu” do acampamento (pois era uma réplica melhorada, porém menor do coliseu romano) e falei, em alto tom, como um apresentador, assim que o barulho das conversas e a excitação pelo início das lutas cessou:

— Sejam bem vindos. Devido a um pedido de nossos “aliados” — sublinhei bem esta última palavra, mostrando que não servia mais aos deuses — iremos realizar agora algumas lutas de treino para mostrar o potencial de combate que nós, crias de Caos, possuímos. Teremos primeiro duas lutas entre meus companheiros. As chaves de lutas serão sorteadas. Por fim, quando houverem acabado estes combates, irei participar pessoalmente do último combate, já que Lady Ártemis concordou em me enfrentar.

Enquanto explanava aos presentes o que iria acontecer naquele evento, uma caixa de madeira apareceu ao meu lado em cima de um pequeno palanque, permitindo-me continuar:

— Irei realizar os sorteios através desta caixa. Dentro dela, há quatro esferas, com os símbolos referentes aos quatro servos de Caos aqui presentes. Evidente que, nesta contagem, estou excluindo a mim, já que meu combate já está decidido. Irei pegar as primeiras esferas agora, mas, antes disto...

Segurando a urna de madeira, ergui esta no ar e a sacudi, permitindo que todos vissem que nada ali era premeditado (apesar de eu já saber qual seria a resposta daquele sorteio). Após isto, pousei a caixa novamente novamente no palanque e coloquei minha mão dentro dela, pegando a primeira esfera que vi. Retirando-a da caixa, sem olhar qual era, passei-a para a outra mão e coloquei a primeira novamente na caixa, sacando outra esfera. Ao revelar ao público o que ali havia (uma esfera tendo a imagem de um guerreiro com duas adagas nas mãos e a outra com uma mulher portando uma lança), revelei:

— A primeira luta irá ocorrer entre o Assassin, Hunter Adwell e a Lancer, Noah Martinez. Apresentem-se aqui, por favor. Eu serei o juiz da luta de vocês.

“Você pretendia lutar com a Noah já na primeira luta, Hunter? Está tão ansioso assim por esse combate?” — pensei, enquanto observava o homem de aproximadamente um metro e oitenta se aproximar, caminhando tranquilamente com seu par de katar já a vista.

Os cabelos negros dele balançavam com a corrente de ar que transcorria a área enquanto ele, de olhos fechados, continuava a se aproximar da arena. Quando finalmente colocou os pés nesta, do outro lado dela, cristais de gelo começaram a aparecer, acumulando-se cada vez mais, até formar um bloco consideravelmente grande do material, que repentinamente se rompeu, dando origem ao corpo de Noah.

A aparência da segunda combatente era semelhante a de sempre: roupa de combate colada ao corpo sem ser demasiado vulgar, a lança presa nas costas e encoberta por bandagens brancas, os cabelos acinzentados presos em um frouxo rabo-de-cavalo e uma feição gélida, que combinava perfeitamente com sua aparência. Estando ambos ali, prontos para o combate, revelei as regras da luta:

— Qualquer arma, equipamento ou artifício pode ser utilizado. A luta dura até que um dos dois não esteja mais em condições de lutar ou desista. Se eu mandar a luta parar, ela se encerra automaticamente, seja qual for o resultado que eu decidir. Entenderam? — recebi apenas o silêncio como resposta, que mostrava, por um lado a concentração deles no combate e, por outro, a descortesia para com um amigo a qual eu com certeza me lembraria — Pois bem. Que a luta tenha início!

Isto bastou para que a balbúrdia recomeçasse. Gritos enlouquecidos vinham dos semideuses, das criaturas da natureza e de até mesmo alguns deuses presentes, excitados com o combate como se meus aliados fossem gladiadores tentando se matar. Revirando os olhos, me movi rapidamente, quase em um teleporte, para um local próximo aos espectadores (principalmente de Nix, que ainda não havia sido reconhecida pelo poder de seu artefato divino) onde eu ainda pudesse interferir na luta, se ela chegasse aos extremos necessários.

Parecia que os presentes achavam que um dos dois iria voar para cima do outro repentinamente, mas não foi bem o que aconteceu. Como uma cena em câmera lenta, Noah sacou sua lança e as bandagens que a cobriam sumiram como se fogo tivesse sido atado nelas, relevando a lança de cabo negro com detalhes dourados e lâmina em um metal prateado, que emitia uma luz fraca em tom azulado. Kryarchios, a lança que representava a autoridade sagrada dela. Hunter, para fazer frente a ela, fez com que seu par de katares, que formava seu equipamento divino, também se mostrassem a todos. Tendo a lâmina também prateada, mas com um gume central em um tom dourado e fosco, com detalhes trabalhados por toda sua extensão e os nomes de cada uma das duas formadoras do par no metal, Therís e Tímoris faziam sua apresentação.

Estando ambos com armas em mãos, começaram a se movimentar vagarosamente, desprendendo suas energias divinas e se movendo por entre o campo, um analisando os movimentos do outro. Isto durou por quase um minuto, até que pude escutar um comentário de um semideus próximo ao local onde eu estava:

— Isto está ficando chato. O que houve? Quando eles vão começar a lutar?

Sem desprender meus olhos do combate, que poderia ganhar movimento a qualquer instante, respondi:

— A batalha já começou, você é que não está conseguindo acompanhá-la. A luta entre dois mestres é decidida em um instante. Mesmo que você não consiga vê-los, há ataques invisíveis fluindo entre os dois.

Excitado, o garoto questionou:

— Então eles estão usando ataques invisíveis sem nem se mexer direito? É algum tipo de técnica especial? — ele parecia emocionado com a perspectiva de algo assim, que não era de todo impossível, apenas não era o que ocorria ali.

— Você não entendeu. A única técnica especial que os dois estão usando são suas mentes. Se você conseguir forçar o combate a uma situação onde, em posicionamento, você se encontre em vantagem, sua chance de vencer aumentará exponencialmente. Os movimentos deles pelo campo, que lhe parecem sem sentido, são partes de suas estratégias. Olhe ali, por exemplo. Noah está tentando fazer com que Hunter seja obrigado a se mover para a esquerda, ficando contra o sol. Conseguindo esta vantagem, com o ataque certo, mesmo que Hunter consiga defender aos ataques dela e contra-atacar, a precisão que dá a ele o nome de Assassin será afetada. — expliquei, enquanto olhava o modo como o rapaz lidou com isto — Hunter fez sua contramedida. Como esperado, ele foi para a esquerda, já que esta era sua única opção cabível, mas fechou um pouco a distância entre os dois, de modo a, se necessário for, com sua velocidade altíssima em combate, ser capaz de se mover para a sombra gerada pela estrutura do coliseu. Além disto, se Noah quiser tentar tirar este fator dele e realmente quiser prejudicar a visão dele, terá que ir ela mesma para a área de sombra, que significaria, em consequência, que teria de ficar contra a parede, já que, sendo apenas uma da tarde, a angulação das sombras ainda não é exatamente alta. Ao fazer isto, ela terá que lutar encurralada, com suas opções de fuga sacrificadas em grande parte, fazendo com que, mesmo que não tenha mais a mesma precisão de antes, Hunter consiga cobrir com satisfatória habilidade os poucos pontos que ela pode usar para se mover. Como eu disse, um está tentando colocar o outro em uma situação que favoreça a si mesmo antes de fazer qualquer movimento ofensivo. Isto terminará quando um deles der um cheque-mate ou simplesmente perder a paciência.

Ele parecia estar um pouco confuso com todo o raciocínio (eu não o culpava, afinal, ele devia ter uns dez anos de idade), mas estava deslumbrado com a complexidade de uma luta que, em fatores físicos, ainda nem havia começado. Os que estavam próximos a nós e escutaram minha explicação também se surpreenderam, fazendo com que eu me satisfizesse, por eles finalmente terem aprendido a apreciar aquela parte tão importante da luta. Com minha audição superdesenvolvida, fui capaz até mesmo de escutar Lady Athena comentar, de onde estava:

— Eles tem tutano. Estão sabendo conquistar muito bem as brechas deixadas por seu oponente e prever as possíveis emboscadas estratégicas. Ao menos, não são uma massa de músculos sem cérebro — disse ela.

— Ao menos eu espero que os músculos deles entrem logo na história, antes que acabem atrofiados de tanta enrolação. Ou se eu dormir, o que for mais rápido. — repondeu Ares.

Como se houvessem escutado o pedido do soberano da guerra selvagem, a luta partiu rapidamente para o âmbito dos movimentos. O primeiro movimento partiu de Hunter, que investiu rapidamente contra sua oponente, que brandiu sua lança, criando diversos cristais de gelo no chão que, com um movimento da arma da lanceira, os cristais se romperam em dezenas de milhares de farpas de gelo cortante, que investiram contra o homem como tiros de algo mais veloz do que a metralhadora mais rápida já registrada na história, não em velocidade de ataque de cada projétil (ainda que esta também fosse alta), mas na quantidade emitida a cada segundo, que era monstruosa. Hunter, com sua habilidade, fez com que diversos explosivos pequenos surgissem em seus braços, sendo lançados no solo e explodindo em seguida. De alguma forma incrível (sim, mesmo para mim, que sabia o que ele havia feito, seu feito fora admirável), todas as farpas foram destruídas pelas ondas de choque advindas das explosões, enquanto ele avançava e se aproximava o suficiente para impedir uma segunda leva de ataques deste tipo.

— Mas como? — perguntou Claire, uma filha de Athena que havia conhecido algumas semanas antes de ser “corneado” — ele precisaria posicionar as bombas com uma perfeição e cálculos milimétricos para conseguir desviar todas as farpas, destruindo-as. Ninguém, acho que nem mesmo minha mãe, teria o raciocínio suficientemente rápido para calcular todos os pontos e agir em tão curto espaço de tempo. Como ele conseguiu? Além disto, de onde ele tirou essas bombas?

Novamente me vendo na obrigação de esclarecer as dúvidas dos presentes, respondi:

— Muitos de nós integramos nossas habilidades dos caminhos de Caos com os poderes divinos que nos são mais confortáveis para usar, ou seja, o de nossos parentes divinos. É o caso de Noah, que costuma usar gelo e frio junto a seus ataques de lança. Entretanto, Hunter possui um gosto em especial por usar os poderes de sua mãe em separado.

— Fortuna? A deusa da sorte? — questionou ela, ainda sem entender.

— Exatamente. Se você notar, há um bracelete com três cristais vermelhos no braço esquerdo de Hunter. Eles funcionam como o biscoito da sorte de Nemesis, só que para fins de sorte. Você pede alguma coisa, o biscoito lhe providencia o objeto imediatamente. Só que são apenas três cristais, ele tem apenas três desejos para serem feitos, já que quando um desejo é feito, seu respectivo cristal fica transparente e incolor. Cada cristal leva dois minutos para poder novamente realizar um desejo, voltando ao normal. Foi assim que ele conseguiu as bombas. Quanto ao posicionamento, é outra habilidade dele como filho de Fortuna: a manipulação de probabilidades. Ao lançar as bombas no ar, ele fez com que elas se posicionassem nos locais corretos para defender os ataques, que saíram nas áreas corretas por pura “sorte”. O número de bombas também deve ter sido o suficiente por, no pedido, ele ter pedido um número de bombas suficiente para fazê-lo.

Os presentes pareciam ainda mais deslumbrados com minha explicação, tanto que alguns, por virarem suas faces para mim enquanto falava, perderam parte da luta. Fechando a distância entre os dois rapidamente, um combate veloz se iniciou entre os dois no quesito de luta corporal, mas parecia que neste era Noah que estava se dando melhor, já que, mesmo que a arma dela possuísse um poder de ataque baixo em disputas de curta-distância e ele possuísse um equipamento duplo, ela era capaz de combinar seus ataques com o gelo que possuía para causar alguns cortes no corpo de seu oponente. Se Hunter quisesse virar o jogo, precisaria de alguma coisa para virar o jogo, e ele tinha uma em mente.

Utilizando mais uma vez de seu bracelete da sorte, o homem convocou algo semelhante a uma esfera de Arquimedes, que lançou fios de algo semelhante ao bronze contra o corpo da mulher, envolvendo-a rapidamente. De forma inteligente, ela moveu seu corpo e, com sua arma de potencial magnífico, cortou os fios rapidamente, mas Hunter foi mais rápido. Movendo-se com elegância, o homem se lançou em um ataque duplo contra a mulher, que conseguiu defender com perfeição um dos golpes, mas pôde apenas evitar um golpe fatal contra si, sendo acertada no braço, em que Assassin, na esperança de maximizar o dano feito por seu corte, girou a arma no lugar enquanto continuava puxando a lâmina pela carne dela, fazendo seu sangue jorrar em abundância. Pulando para trás, Noah evitou um dano maior, mas Hunter não se conteve e comentou:

— Não vai mais poder usar esse braço na luta. Sem ele, sua habilidade com a lança irá cair bastante. O vencedor desta luta já está definido. — um pequeno sorriso escapava dos lábios do homem ao falar isto, mas foi vez seu sorriso refletido na própria face de sua oponente que ele se surpreendeu. Ela estava prestes a perder, qual seria seu motivo para sorrir?

— Não vamos colocando o carro antes dos bois, pervertido. Acha mesmo que um cortezinho desses iria me impedir de usar minha lança? — enquanto ela falava isto, o sangue parou repentinamente de fluir do corte e, onde antes havia um buraco, agora havia uma camada de gelo puro — Vamos continuar.

Estando ela “recuperada” do ataque dele, no saldo, ele apenas havia gasto sua segunda carta na manga para nada. Restava apenas um cristal e ele precisava usá-lo bem, se quisesse ganhar. Como haviam muitos semideuses ali, as demonstrações que estavam sendo feitas eram prioritariamente de habilidade, já que eles não suportariam a potência liberada por uma luta de verdade, que superaria, facilmente, a emitida por um deus em sua forma verdadeira.

A luta em si estava bastante equilibrada, em todos os aspectos. Ainda que fosse capaz de mover seu braço ainda, Noah estava longe de possuí-lo em perfeitas condições. Além disto, estava começando a ficar exausta. A especialidade de Assassin era a velocidade e, sendo assim, ele era acostumado a manter uma velocidade alta por um longo espaço de tempo, mas, para acompanhá-lo em combate, ainda mais tendo uma arma única contra as duas katar do homem, ela precisou de muito esforço físico. Em contrapartida, Hunter possuía dezenas de cortes por todo o seu corpo, que, por mais que fossem um pouco superficiais, minavam parte de suas forças e tiravam uma parte de sua velocidade, sem falar no gelo, que lhe causava uma dor terrível por todo o corpo. Como aquela era uma demonstração do que semideuses poderiam fazer após o treinamento correto do básico, não estavam usando muitas técnicas de grande patamar energético, mantendo a luta ao que dizia respeito a curta-distância. Fosse quem fosse o vencedor, terminaria logo.

Sabendo disto, Hunter fez mais uma vez seu movimento. Utilizando a última carta que possuía na manga, conjurou um autômato semelhante aos de Hefesto, um lobo gigante de quase três metros de altura, que investiu contra a lanceira, que tentou destruí-lo com um golpe certeiro em uma de suas articulações, mas falhou. Aquela criatura não era comum. Mesmo assim, ela tinha um plano. Sabendo que ela estava com os movimentos restritos por conta do autômato, Hunter se lançou contra Noah, utilizando novamente suas katar. Ele desferiu o primeiro golpe, e ela defendeu. No segundo, ao contrário do que houve antes, ela também apartou, usando sua lança.

Movendo-se para contra-atacar, Noah utilizou a lança para atacar o assassino de cima para baixo, mas este foi capaz de se defender, usando ambas as armas que possuía, criando um “X” sobre sua cabeça com as lâminas. A surpresa de Hunter apareceu aí, com um novo ataque da criatura metálica, que firmou seus dentes na carne feminina, praticamente arrancando seu ombro e fazendo-a soltar a lança que tinha em mãos. Mas ele não era o único com um plano.

Aproveitando-se da guarda aberta do homem no que dizia respeito a tentativa de defesa contra o ataque com a lança, ele havia aberto sua guarda. Atacando com a mão restante, ela pousou a palma de seu braço na barriga do homem, conjurando um imenso dragão de gelo a partir de seu braço. A criatura era um ataque a queima-roupa, que investiu contra o estômago do Assassin, lançando-o longe no ar e, em seguida, chocando-se contra ele mais uma vez, conduzindo-o ao chão e pressionando seu corpo contra ele. O gelo daquela criatura estava abaixo dos duzentos graus celsius negativos, de modo a ser capaz de matar qualquer humano ou semideus com o qual entrasse em contato, mas foi capaz apenas de fazer o homem desmaiar. Emocionada com sua vitória, mesmo a mulher de gelo comemoraria. Erguendo seu braço bom para o público, ouviu os gritos dos presentes, que estavam absortos com a qualidade do que os dois haviam feito com tão pouco poder divino usado. Se eram capazes de tudo isso lutando como semideuses comuns, o que poderiam fazer ao lutar sério?

Infelizmente para Noah, o plano de Hunter ia muito além do que ela fora capaz de prever. Enquanto erguera a mão para comemorar, seu corpo irrompeu em uma explosão de chamas azuladas, fazendo-a cair desmaiada no chão junto a seu oponente. Ninguém havia entendido o acontecido, exceto eu e mais alguns poucos dos presentes. Como sempre, me dei ao trabalho de explicar, antes de anunciar o resultado da luta:

— Foi o bracelete dos desejos. Hunter calculou o tempo exato desde seu primeiro pedido, usando um quarto desejo em exatos dois minutos após ter feito o primeiro. Deve ter pedido algo que entrasse em combustão em contato com o ar, como o fósforo branco, junto a um explosivo concentrado e uma substância incendiária. A exposição ao composto deve ter vindo junto com o ataque do autômato, em uma rápida reação dele ao ataque surpresa dela. Ambos foram brilhantes e conseguiram levar o outro a perder os sentidos, por isto… — falei, antes de aumentar o tom de voz e anunciar minha decisão a todos — ...eu declaro esta luta um empate!

A multidão irrompeu em uma ensurdecedora onda de excitação. Se a primeira luta havia sido tão boa, o que aguardavam as demais? Enquanto Noah e Hunter eram retirados do local para serem tratados, os presentes esperavam, ansiosos, pelo início da próxima luta.


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Notas finais do capítulo

E mais um capítulo chega ao fim, pessoal.

O que acharam de Nix? E da luta entre Noah e Hunter? O que esperam de Luke (Saber) vs Zöe (Archer)? Quem deve vencer entre eles? Deixem suas opiniões, seus comentários e nos vemos daqui a 3 dias (ou menos, afinal, fim de semana está aí).

Termino com meu habitual (semelhante ao do Zangado, segundo o comentário de uma leitora [Alicia Lima] que sim, eu li):

Se gostaram, por favor, comentem. Se realmente gostaram, indiquem aos amigos, adicionem aos favoritos e, se possível, recomendem. Até a próxima!