Kurt havia saído mais cedo na manhã seguinte, deixando Blaine sozinho no apartamento. Ele havia algumas encomendas para entregar no correio e, apesar de sair cedo, chegou atrasado à universidade. Ao entrar na sala de aula, ele procurou aqueles olhos castanhos silenciosos. Olhou para todos os seus alunos e sorriu ao encontrar Blaine conversando com Tina, o moreno parou de falar assim que encontrou os olhos azuis. O professor deixou sua bolsa sobre a mesa e pegou um pincel da sua bolsa, escrevendo “2° chance” na lousa e virou pra os alunos.

— Primeiramente, bom dia! — Kurt cumprimentou e todos responderam em uníssono. — Estive faltando esses dias e aproveitei para corrigir a escrita de vocês, acidentalmente eu posso ter mandando alguns para o lixo, outros consegui engolir.

Kurt começou a andar entre as fileiras, olhando fixamente para seus alunos.

— No primeiro pedaço de papel que peguei, pensei em deixar de ser professor. — Ele riu. Alguns alunos zombaram e outros riram. — Mas como sou o melhor professor daqui, decidi pensar duas vezes e... Realmente, galera?

A mão de Tina disparou no ar e Kurt acenou em sua direção, sorrindo.

— Todos erraram, Sr. Hummel? — Tina perguntou.

— Nem todos. — Kurt disse, voltando para sua mesa e tirando uma pasta da sua bolsa. Ele tirou um papel e balançou na frente dos seus alunos. — Isso!

— Isso? — Alguém questionou.

— Eu queria que vocês criassem coisas bobas, não precisa tentar virar um Shakespeare ou um Picasso. Bastava ser você mesmo, quando vocês forem alguém importante, vocês simplesmente vão ver algo e copiar aquilo? — Kurt questionou, olhando para cada um. — Teve um aluno que foi capaz de criar algo belo e chamou minha atenção. Apesar de estudarmos Literatura nessa sala, sou um grande fã da Arte.

O celular de Kurt interrompeu a aula, ele pediu desculpas e pegou o celular, atendendo enquanto saia da sala. Blaine suspirou alívio e passou as mãos, nervosamente, nos cabelos.

— Sr. Hummel parece tão animado. — Tina comentou, chamando a atenção do moreno.

— Talvez ele tenha... Bem, vocês sabem — Disse um loiro, com uma risadinha. — Vocês sabem, se não fosse por meu namorado, talvez tentasse algo com Kurt.

— Calvin, ele é o nosso professor! — Tina repreendeu, não deixando de rir.

— E daí? Adoraria ter algumas aulas extras com ele. — Calvin piscou para ele.

Blaine franziu a testa e encarou o loiro, que arqueou a sobrancelha.

— É uma pena ele ter um favorito por aqui. — Calvin olhou para Blaine com os braços cruzados, o moreno rapidamente desviou o olhar. — Isso é engraçado, porque o professor nunca teve um queridinho.

— Verdade. — Tina concordou.

O loiro abriu a boca para falar, mas calou-se ao ver Kurt entrar novamente na sala. Ele piscou rapidamente pra Blaine antes de voltar a prestar atenção no que o professor falava.

— Onde estávamos? Oh sim, vou dar uma segunda chance para vocês e mandem bem nessa, hein! — Kurt disse, levantando os dois polegares para a turma.

Enquanto todos estavam refazendo o trabalho, Blaine olhou para Kurt sentado na sua mesa, rabiscando em algum papel. A verdade era que Blaine não tinha conseguido seu trabalho de volta, Kurt nem lhe entregou. De repente, o professor levantou e caminhou em sua direção, por um momento Blaine achou que era mais uma das suas fantasias, mas era verdade. Kurt parou na sua frente e se agachou para falar em privacidade.

— Ei, tudo bem? — Kurt perguntou e como sempre, Blaine assentiu. — Eu gostei desse desenho.

Kurt entregou o papel para Blaine, era o rascunho desenhado de alguém sentado num branco com um cachorro aos seus pés. Ele nem sabia de onde tinha vindo aquilo, talvez a maratona de uma semana assistindo Marley e Eu em meio de lenços tinha servido pra alguma coisa boa.

— Isso foi ótimo, sério mesmo! Você não precisa fazer nada e nem corrigir, talvez você queira ajeitar algumas coisas, mas isso é tudo. — Kurt explicou com um sorriso nos lábios.

— Obrigado. — Blaine disse rapidamente.

— Tudo bem, Blaine? — Kurt franziu o cenho com a estranheza de Blaine, o moreno apenas assentiu novamente. — Precisamos conversar mais tarde.

— Sobre o que, Sr. Hummel? Blaine fez algo errado? — Tina perguntou, preocupada.

— Não, ele foi ótimo. — Kurt sorriu para a asiática, que suspirou aliviada. O professor se levantou e bateu palmas, chamando atenção de todos. — Se alguém quiser algumas dicas, vocês podem ficar depois dessa aula, se tiverem tempo livre, claro.

No momento em que Kurt teve um tempo livre das aulas, ele foi para o refeitório encontrar Blaine. O moreno estava sentado numa mesa distante de um grupo de estudantes alegres, ele parecia focado em comer seu sanduíche e nem percebeu a presença do professor. Kurt sentou ao lado de Blaine, que rapidamente ergueu sua cabeça para sorrir pra o homem mais velho.

— Oi.

Blaine não respondeu, porque sua boca estava cheia, imediatamente ele engoliu e sorriu.

— Kurt! — Blaine estendeu seu sanduíche para Kurt, que negou com a cabeça. — Você comeu alguma coisa hoje?

— Ahn... Comi uma sala de frutas enquanto vinha pra cá.

— Ok, fiquei preocupado ao acordar e... — Blaine limpou a garganta, olhando rapidamente sobre seu ombro. — Você não estava lá.

— Bem, eu tinha coisas para resolver mais cedo. — Kurt explicou, dando de ombros. Ele pegou a garrafa térmica que havia sobre a mesa e abriu a tampa. — O que é isso?

— Suco de laranja. — Blaine sorriu.

— Oh...

— Vejamos se não é mais novo casal! — Quinn exclamou, aproximando-se da mesa.

— Quinn, fale mais baixo! — Kurt a repreendeu com os olhos arregalados. — Tem alunos aqui.

— Sim, eu vejo o Blaine. — Quinn riu, sentando na frente dos dois. — O que fazem aqui?

— Estávamos conversando. — Kurt disse, olhando diretamente para Quinn.

— Oh... Sintam-se a vontade, nem vão perceber minha presença aqui. — Quinn sorriu tranquilamente, tirando o celular do bolso e focando sua atenção nele. — Vou fingir não ouvir.

— Bem, Blaine... — Kurt olhou para Blaine, que mordia seu sanduíche novamente. — Será que dá pra parar de comer?

Blaine sorriu com a boca fechada e assentiu, engolindo sua comida. Ele bebericou seu suco de laranja, mantendo o olhar sobre Kurt.

— Precisamos falar com Cooper. — Kurt disse calmamente.

— Por quê? — Blaine franziu a testa.

— Ele é o seu irmão apesar de tudo, você não pode simplesmente se mudar para o meu apartamento de repente. — Kurt explicou e Blaine abaixou a cabeça. — É melhor assim, eu pretendo conversar com Cooper, sem problemas. Tudo bem?

Blaine assentiu, voltando a atenção para seu sanduíche. Kurt revirou os olhos e ergueu a cabeça de Blaine, segurando-o pelo seu queixo, seus olhares se encontraram e o professor sorriu.

— Use as palavras, por favor.

— Sim, está tudo bem. — Blaine sorriu levemente.

— Isso soa como um pedófilo falando com uma criança. — Quinn murmurou, olhando entre os dois.

Kurt ignorou totalmente o comentário de Quinn enquanto Blaine voltava a comer seu lanche. Ariel passou rapidamente pelo refeitório, acenando para os professores e sorrindo abertamente para Quinn, que corou levemente nas bochechas.

— Como ficou as coisas com Rachel? — Kurt questionou, erguendo as sobrancelhas.

— Bem, eu acho. — Quinn murmurou, dando de ombros. — Ela tem o Finn, apesar de tudo.

— Que depressivo...

— Qual é a de vocês duas? — Blaine perguntou com a boca cheia. Ele recebeu um olhar repreendedor de Kurt e rapidamente limpou a boca. — Desculpa.

— Rachel era a perdedora e Quinn era a Cheerio que lhe incomodava o tempo todo. Bem típico sabe. — Kurt disse, observando a expressão envergonhada no rosto de Quinn.

— Cheerios? — Blaine franziu a testa.

— Sim, uma Cheerio. Líder de torcida sabe... — Quinn respondeu.

— Cheerios? Como o cereal? — Blaine explodiu numa risada, batendo palmas. Kurt olhou surpreso para o moreno, mas acabou caindo na gargalhada.

— Esse é o nome da equipe de torcida do William McKinley. Elas são Cheerios! — Quinn se acalmou depois que viu que ambos não parariam de rir tão cedo. — Sim, é um nome engraçado, mas você não sabe quantas pessoas, em nossa escola, ou fora dela, tinha medo só de ouvir isso. Elas são a melhor equipe de torcida do país.

— Nem tanto, Quinn. — Kurt disse, limpando uma lágrima no canto do olho.

— Kurt também foi uma líder de torcida — Quinn provocou, e Kurt parou rapidamente de rir.

— Fui puxado pelo lado obscuro da vida. — Kurt deu de ombros.

— Isso é demais! — Blaine exclamou, com lágrimas nos olhos.

Tina e Calvin se aproximavam e observaram a interação dos dois professores e Blaine. Eles se entreolharam com sobrancelhas arqueadas e resolveram participar.

— O que é demais? — Calvin perguntou, chamando atenção deles.

— Calvin, Tina! — Kurt disse, sorrindo para seus alunos. — Como vão?

— Bem, Sr. Hummel — Calvin respondeu. — Olá, senhorita Fabray.

Quinn acenou com a cabeça, olhando para seu celular. O olhar de Tina caiu sobre Blaine e ela sorriu, o moreno retribuiu o sorriso, meio tímido.

— Fazendo aulas extras com o professor Hummel, Blaine? — Calvin perguntou, sorrindo maliciosamente.

— Sim...

— Bom, sendo assim, também pode participar?

— Na verdade, eu tenho que fazer algumas coisas importantes. — Kurt mentiu, consultando o relógio de pulso. — Sinto muito, mas eu preciso ir.

— Claro...

— Até mais Blaine! Quinn, vamos? — Kurt olhou para a loira, suplicante.

— Claro. — Quinn sorriu, levantando da cadeira. — Até mais pessoal.

Blaine pensou que Calvin e Tina sentariam com ele para realmente estudar, mas o loiro foi embora assim que não havia sinal de Kurt ou Quinn. A asiática sorriu para ele antes de seguir o amigo. Ele permaneceu no refeitório por alguns minutos, terminando de comer seu sanduíche. Seu celular tocou no seu bolso e na tela estava o nome de Cooper. Houve várias ligações rejeitadas apenas naquele dia.

O dia passou rapidamente, Kurt e Blaine se encontravam nas trocas de salas. Retribuindo sorrisos e olhares, nada que ninguém percebesse. Qualquer coisa, Quinn estava lá para chutar Kurt ou cortar o transe entre os dois. No final do dia, Blaine esperou Kurt sair da universidade no campus, havia poucos alunos, alguns namoravam e outros organizavam seus trabalhos em grupos. O celular de Blaine não parou de tocar nenhum minuto no dia, ele desligou o celular depois de ficar irritado com tanta insistência do irmão.

Na verdade, ele não acreditava no que estava acontecendo. Quando conheceu Kurt, Blaine pensou que essa seria sua chance de ser feliz, pensou que Cooper entenderia completamente e ficaria feliz por causa disso, mas... Bem, as coisas não são como esperamos às vezes. Primeiro ele foi expulso de casa por seus pais, agora ser expulso pelo próprio irmão. Blaine nunca imaginou isso vindo de Cooper, seria a última pessoa que ele imaginaria fazer isso, quer dizer, isso nunca passaria na sua cabeça. Cooper prometeu ficar ao seu lado em todos os momentos, seja ruim ou bom, mas agora suas palavras não passavam de mentiras para Blaine.

— Me esperando, hein, baixinho? — Kurt apareceu, tirando Blaine dos seus devaneios. O moreno esboçou um pequeno sorriso e assentiu. — Tudo bem?

— Sim, não aconteceu nada. — Blaine disse rápido.

Kurt arqueou a sobrancelha, mas não comentou nada. Ele pegou a bolsa de Blaine, pondo sobre seu outro ombro livre, ignorando que ainda estavam no campus de NYU.

— Vamos para a nossa casa. — Kurt sorriu.

— Nossa casa? — Blaine gaguejou, com os olhos arregalados.

— Sim, nossa.

Eles foram para a casa deles, mas antes passaram uma sorveteria na esquina da rua do prédio do apartamento. Blaine ficou com uma casquinha de morango com granulados enquanto Kurt optou pelo por um milk-shake de chocolate. A portaria do prédio estava uma confusão, o elevador parecia ter finalmente morrido, mas antes deixou uma senhora com seus filhos trancados lá. Kurt ignorou o olhar que Chuck lhe enviava, ele deu de ombros e subiu para o seu apartamento com Blaine pelas escadas.

Blaine tinha um beicinho quando seu sorvete acabou, Kurt riu e entregou o seu milk-shake para o namorado. O moreno fez uma pequena comemoração e começou a tomá-lo. Os dois conversavam distraídos, caminhando no corredor do apartamento, que não perceberam a pessoa dormindo contra a porta do apartamento.

— Poderíamos assistir uma maratona inteira de Hora de Aventura...

— Blaine, esse desenho fode com o meu psicológico. — Kurt murmurou, procurando as chaves da porta nos seus bolsos da calça. Ele olhou para Blaine que estava com aquele beicinho novamente. — Tudo bem, mas...

O moreno estranhou quando Kurt parou de falar no meio da frase, o professor tinha os lábios crispados e os olhos cerrados. Rapidamente o moreno encontrou o que namorado olhava.

— Cooper? — Blaine sussurrou, com a testa franzida.

Cooper se remexeu no seu sono e abriu os olhos lentamente, percebendo a presença de Blaine e Kurt na sua frente. Ele sorriu para o irmão, mas seu sorriso sumiu ao ver o olhar de Kurt sobre ele.

— O que você está fazendo aqui? — Kurt questionou, entre os dentes.

— Kurt, calma. — Blaine sussurrou para o namorado, observando de soslaio o irmão levantar do chão sujo. — Cooper, como e o quê?

— Eu vim em paz...

Kurt revirou os olhos com um sorriso debochado nos lábios. Cooper suspirou e manteve sua calma.

—... Conversar com vocês, principalmente com você Blaine.