A Caçadora escrita por jduarte


Capítulo 61
Aposta - £


Notas iniciais do capítulo

Gente, esse é o penúltimo capítulo e ainda tem o epílogo! A Caçadora - Segunda Temporada já está sendo escrita, então peço que tenham paciência, tá? kkkkkkk



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Acordei com o coração aos pulos, sentindo braços a minha volta. Imediatamente levantei assustada. Era somente Jason. Cutuquei-o na altura das costelas e vi seus olhos se abrirem, preguiçosos, para mim.

– O que está fazendo aqui? – perguntei coçando as têmporas.

Olhei no relógio na beirada da cama e constatei que ainda estava muito cedo para sequer pensar em levantar, mas o pesadelo que tivera ainda se encontrava impregnado em minha cabeça.

Ele se espreguiçou em minha cama, tomando praticamente todo o espaço dela e se virou para mim.

– Você estava tendo pesadelos e pediu para Polux ir embora, dizendo que queria ficar sozinha.

Levantei a mão o fazendo se calar.

– Polux estava aqui?

Ele assentiu debilmente.

– Sim.

– Jason... – chamei-o. – eu não me lembro de ter o mandado embora.

Jason se levantou de minha cama e bocejou tentando livrar o corpo do sono que sentia. De maneira alguma o deixaria dormir novamente. Era agora ou nunca.

– Você leu o livro que eu te emprestei? – perguntei curiosa.

– Sim. Ele é fantasioso demais.

Mordisquei os lábios hesitando em lhe falar algo mais.

– Ele não é fantasioso, Jay. Ele é a minha realidade.

Percebi que ele pareceu estancar no lugar, e um aviso vermelho neon dentro de minha cabeça berrava: Cuidado!

– Eu trabalho com isso.

– Escrevendo coisas sobre Polux? É por isso que você está noiva dele?

– Será que todo mundo pode parar de falar essa palavra? Está me deixando mais nervosa ainda!

Jason pegou minha mão e apontou para meu dedo.

– Se isso não significa que você está comprometida com alguém, então realmente não sei o que é.

Me encolhi quando ele largou minha mão sem ao menos se preocupar se tinha me machucado.

– E pare de fugir do assunto! Você caça criaturas, ok, eu já saquei isso quando encontrei isso daqui no chão da sala! – Jason gritou segurando minha arma com as mãos, cuidadosamente.

Ele jogou-a na cama e disse:

– Deveria ter me dito antes.

Abracei meu corpo.

– Eu fiquei com medo de você fugir.

Ele riu sarcástico.

– Você é a única pessoa que eu tenho no mundo, Helena. Vou ser um chiclete no seu sapato por um bom tempo.

Abracei-o sentindo meu corpo mais leve.

– Se já sabia, porque insistiu em querer trabalhar comigo? – perguntei levantando o rosto para o olhar melhor.

Jason bagunçou meu cabelo.

– Porque realmente quero. Quero saber o que você faz, como faz, quando faz... Quero saber de tudo. E é claro, achar Emma faz parte do pacote.

Abaixei a cabeça e me soltei de seus braços.

– Vamos mudar.

Ele não disse nada.

– Para Manhattan.

Nada novamente.

– Polux, você e eu.

E então Jason suspirou.

– É por causa de Fitch, não é? Eu até entendo que ele pode ser um chefe difícil e tudo mais, e que essa sua paixonite por ele fez um estrago com sua cabeça, mas querer se mudar para Manhattan com um cara que acaba de ficar noiva e está sendo caçado não me parece uma boa ideia.

Suas palavras machucavam de tão verdadeiras.

– Me diga mais uma vez por que irá se casar com ele – exigiu com a voz baixa.

Senti minhas pernas ficarem bambas. De repente era muito difícil de encará-lo.

– Porque eu o amo.

Jason cruzou os braços no peito, parecendo mais acordado do que nunca.

– Não, Helena, você me ama, o que você sente por Polux, Kaus e Fitch é atração. E atração não é resolvida com um anel de noivado. Você mais do que ninguém deveria saber disso.

Abaixei os olhos para encarar qualquer coisa que não fosse Jason.

Eu – irmã mais velha – estava realmente recebendo uma lição de moral de meu irmão mais novo? Isso era vergonhoso, mas me daria algo para pensar mais tarde.

Rodei o anel de brilhantes no dedo.

Uma lágrima solitária escorreu por meu olho e eu sorri demasiadamente triste. Jason, percebendo o erro, tentou me acudir.

– Não chore, por favor, não foi minha intenção...

Eu limpei a lágrima e sorri fazendo-o ficar quieto.

– Está tudo bem, é só que suas palavras são verdadeiras e afiadas. E isso machuca meu coração. Mas não posso dar uma chance para Kaus. Ele pode até ser uma pessoa boa, mas tem algo nele que me impede de tentar algo. E Fitch – minha voz abaixou. – tem Cali. Eles são felizes.

Jason me pegou pelos braços, chegando a me chacoalhar de leve.

– Não, Helena, eles não são felizes! Isso se chama fingimento. – ele exclamou.

Espantei a dúvida de que talvez meu irmão pudesse estar certo e encarei a parede que acabara de se tornar muito mais interessante do que toda aquela baboseira.

– Chega, Jason. Eu decido o que faço da minha vida, e não você. – rebati sem paciência, chegando a meu limite.

Ele engoliu seco e ficou o corpo ereto.

– Eu vou com você. – disse por fim, mas antes que eu pudesse fazer algum movimento. – Mas só porque Fitch me pediu para ir com você. – e saiu do quarto, fechando a porta atrás de si com uma força absurda.

Peguei a arma e a segurei no peito, firmemente.

Fitch não saberia de nada, certo? Afinal ele era somente uma pessoa normal! E quando me virei para sair do quarto também, algo bateu na janela. Com a arma empunhada vi o rosto de Fitch surgir no meio das folhas da árvore lá de fora, como se ele tivesse ali há muito tempo.

Tempo o suficiente para ouvir toda discussão entre mim e Jason.

Mas o que diabos todos estavam fazendo de pé? Era cedo demais para qualquer pessoa conscientemente sã estar acordada. Mais uma prova de que algo estava tremendamente errado.

Abri a janela e dei espaço para ele entrar. Ele balançou a cabeça para os dois lados, olhando fixamente para meu rosto. Fitch estava sentado em um galho grosso, mantendo uma distância enorme de mim.

– Então é verdade? – ele perguntou tirando uma das mãos de dentro do bolso do casaco, apontando-o para minha mão.

Eu não precisava olhar para baixo para saber sobre o que se tratava. O anel estava ali para qualquer um que quisesse ver. E sim, em certa parte o fato de estar o usando pesava em minha consciência. Eu amava Fitch, mas não da maneira que eu amava Polux, e isso ficava mais claro há cada segundo que eu passava olhando para seus olhos tristes. Com Polux era uma paixonite, e com Fitch era algo mais. Ele me conhecia de verdade e aprendera até mesmo a amar meus defeitos.

Meu coração pareceu dar um nó dentro de mim. As definições que eu tinha visto em algum lugar dos sentimentos angústia e tristeza se encaixavam perfeitamente em minha situação atual: A angústia é um nó bem apertado no meio do sossego, enquanto a tristeza é uma mão gigante que aperta o coração.

Era exatamente assim que eu me sentia.

Apertada, angustiada e triste. Mesmo que um anel de brilhantes repassasse ao contrário.

Não respondi à pergunta de Fitch. Já era ruim o suficiente ter que ouvir uma lição de moral de meu irmão, a rejeição pela parte de Fitch só pioraria as coisas.

– Vou entender seu silêncio como um sim.

Uma coceira no fundo de meu nariz se fez presente.

Pude vê-lo olhar para baixo e se virar para mim novamente.

– Porque ele?

Abri a boca para lhe responder, mas nada saía.

Por que ele não é você, minha mente quis proferir.

– Desculpe. – foi o que disse ao invés.

Ele riu de uma maneira dolorosa.

– Não se desculpe comigo, Helena, isso é uma escolha sua. Se era somente um anel que você queria eu poderia te dar isso.

Prendi minha respiração.

– Eu não estou com ele por causa do que Polux pode me dar, Fitch.

– Então, por favor, me explique, por que infelizmente eu ainda não achei o bom senso e sentido nisso tudo. – sua voz era como ácido jogado em minha cara, e ele tinha até mesmo o nariz torcido em desgosto.

Minha mente parecia trabalhar à 200km/h, mas ironicamente nada que eu pudesse pensar em falar serviria para expressar minhas teorias idiotas de que o esqueceria se me casasse com Polux.

– Eu o amo. – murmurei.

E essa frase o pareceu machucar mais do que qualquer coisa que eu pudesse dizer.

Mais uma vez tive aquele incômodo espasmo no peito e segurei as lágrimas no fundo da garganta.

– Nunca pensei que fosse dizer isso, mas estou verdadeiramente desapontado com você. Você acabou se mostrando uma pessoa completamente diferente.

– Você me bota como a vilã da história, mas também esconde coisas, Fitch. Não me conta mais nada, tem surtos de raiva repentinos... Você é uma pessoa completamente diferente, não eu. – rebati, apertando meus braços.

Fitch se surpreendeu por me ouvir falando aquilo.

– Vou pedir transferência da empresa. Hoje mesmo pego minhas coisas e me inscrevo para as vagas em Manhattan ou em outro lugar. Desde que seja longe daqui. – murmurei pronta para fechar a janela.

Sua voz me interrompeu.

– Faça o que quiser. Case-se com ele, construa uma vida com Polux, mas não se esqueça de que a única pessoa que estava disposta a largar tudo, e eu digo tudo mesmo, para ficar com você era eu.

E simplesmente pulou do galho, aterrissando com um baque surdo na grama, tão equilibrado quanto um gato e sumiu de vista por entre as grandes árvores sombreadas pelo lusco fusco. Respirei fundo sentindo a brisa suave, mas fria que passava lá fora e fechei a janela, voltando para dentro, vestindo uma calça jeans branca com blusas de manga comprida, e colocando um casaco de lã azul claro que vinha até o meio de minhas coxas. Suficientemente quente para um dia daqueles. Ouvi o barulho da televisão ligada e deduzi ser de meu irmão, já que não via Edward há pelo menos um dia e meio. Quando passei pela sala tomei um susto ao reconhecer o cabelo escuro de Edward e meu irmão ao seu lado, ambos com feições duras.

– Onde você pensa que vai, Helena? – meu companheiro perguntou sem nem ao menos se virar para mim.

Tinha me esquecido de sua “super audição”.

– Reconsiderou se casar com Polux?

Ri baixo.

– Não. Vou pedir transferência.

Ele se virou para mim com a boca escancarada e chocado.

– Você está me abandonando, é isso mesmo?

– Não, Edward, eu não te estou “abandonando”. – marquei aspas no ar com os dedos. - Só estou me afastando do caso de Polux e Kaus, não seria justo com eles.

Peguei a chave de meu carro e caminhei até ele beijando-lhe a testa.

– Talvez não esteja aqui quando você voltar do trabalho, então não me espere acordado. – sussurrei e saí pela porta, deixando um Edward chocado a olhar para o nada enquanto meu irmão que fingia não se importar.

Parei na empresa somente para pegar as cartas que estavam endereçadas a mim e pude observar duas pessoas em prantos sentadas dentro da sala de Fitch, enquanto ele dizia palavras que eu não conseguia ouvir. Algo dentro de mim me dizia que aqueles eram os pais de Anne, já que a mulher tinha o mesmo tom vermelho nos cabelos curtos e repicados.

Fiz o máximo de esforço para não ir até eles e dizer palavras reconfortantes e caminhei até a única sala que pensei nunca ter de entrar em minha vida: a de Oz.

Estava tão cedo e parecia tão improvável que tivesse alguém na empresa aquela hora... Mas quando vi algumas das caçadoras conversando perto da ala de treinamento pensei: nunca é cedo demais para se ver um homem saradão treinando na academia. Sendo ele Nate, Jeremiah, Jake ou Fitch. Preferi afastar mais uma vez o pensamento de Fitch e bati na porta duas vezes antes de ouvir uma permissão para entrar. Oz se sentava atrás de uma mesa grande de madeira cor de mogno, concentrado em um bolo de papéis a sua frente.

– O que posso lhe ajudar, querida? – perguntou ele, animado, cruzando as mãos gordinhas por cima da mesa, sem nem ao menos se importar em amassar algumas folhas.

Ele indicou a cadeira para eu sentar e tive de recusar. Manter certa distância seria melhor para eu poder expor porque estava querendo pedir transferência.

– Quero pedir transferência da unidade de Sleepy Hollow, pois estou de mudança. – anunciei com uma voz alta e clara, tão imponente que até eu me assustei.

Oz sorriu mostrando os dentes levemente tortos e amarelados.

– E também gostaria de pedir que me afastem do caso dos irmãos Finnik. – terminei.

Ele parecia extremamente satisfeito.

– Estava me perguntando quando você pediria para sair. Sorte que já tinha todas as suas papeladas prontas. – ele deu uma piscadela para mim. – Todos sabem sobre sua paixonite por Fitch, não iria durar. Fizeram até mesmo apostas. Puxa, eu perdi dois mil dólares... – Oz completou.

Engoli a saliva que desceu raspando minha garganta.

– Como assim?

Ele se levantou e começou a zanzar pela sala, tocando em tudo o que suas mãos pequenas alcançavam.

– O pessoal estava fazendo apostas para ver quanto tempo você duraria depois que descobrisse que Cali estava namorando Fitch. Eu apostei que você não aguentaria nem um mês, mas vendo como o tempo passou, perdi. Lhe subestimei, Helena. – ele disse e voltou a atenção aos papéis em cima da mesa, tirando um em específico do meio do monte, assinando rapidamente e depois me estendendo.

– Retire suas coisas de sua mesa e pode entregar esse papel para a unidade de Manhattan. Eu mesmo ligarei para Ezra lhe comunicando.

Oz parou de me ouvir e digitou números em seu telefone grande e robusto – como o dono. Antes de sair pela porta, perguntei:

–Oz? – seus olhos foram para minha direção. – Quem estava participando dessa aposta idiota?

Parte de mim não queria saber a resposta. E eu estava certa.

– Que eu saiba todo mundo. – ele respondeu e gritou no telefone, animado. – Ezra, querido...!

Foi como um tapa na cara.

Todos estavam sabendo daquela aposta.

Claire veio em minha direção quando me viu saindo do escritório de Oz visivelmente abalada.

– Não tente vir perguntar se estou bem. – a cortei sem ela nem ter aberto a boca. – Só diga ao pessoal que sinto muito fazer com que eles perdessem tanto dinheiro.

Ela se desesperou.

– Eu não estava nessa bolada!

Parei de andar para longe e me virei para encará-la com sangue nos olhos e sarcasmo pingando de minha boca.

– Eu sei que não, da mesma maneira que não está enganando seus pais com a mentira da faculdade. Você é um poço de sinceridade, Claire.

E saí.

Se fui grossa, seca, um monstro? Sim. Se me arrependeria mais tarde por ter dito tudo o que falei, somente pelo simples fato de ter exposto opiniões que eu deveria ter mantido para mim mesma? Definitivamente.

Saindo da empresa carregando todos os meus pertences e armas, fiz uma procura rápida pelo único lugar que já conhecia em Manhattan em minha lista de contatos no telefone enquanto já colocava todas as coisas no porta-malas. Liguei para o número e uma voz feminina e doce me atendeu, que reconheci prontamente.

– Sally? É Helena Jameson!

Houve uma euforia do outro lado da linha enquanto ela ria descontroladamente e repetia que não sabia se eu iria mesmo ligar de volta.

– Estou ligando para avisar que estou indo para Manhattan e queria ajuda para achar algum lugar para morar.

A ouvi batendo palmas.

“Lógico que sim, querida! Tenho a casa perfeita para você!”

Sorri mesmo sabendo que não seria possível ela ver, e suspirei:

– Isso é ótimo!

“Quando vocês vêm para cá?” Ela perguntou.

Lembrei-me das palavras de Drake dizendo que eu não iria para a festa, e de quando devolvi a fantasia. Lembrei-me da promessa de que Polux me faria feliz à qualquer custo e prometi manter minha promessa de o fazer o homem mais feliz do mundo. Seríamos uma pequena família. Jason nunca mais se separaria de mim, e isso incluía até mesmo quando estivéssemos no trabalho, mesmo que ele alegasse que eu era uma irmã “protetora e chata”.

Eu seria feliz pelo menos uma vez na vida.

– Estamos indo hoje à noite. – respondi convicta.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, e deixem as suas críticas e tudo mais!



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