A Caçadora escrita por jduarte


Capítulo 56
Precisamos Conversar - £


Notas iniciais do capítulo

Oiiiiiiii!! Como a fic está quase no fim, fiz um capítulos ENORME pra vcs! Espero que gostem!!
Beijoooos grandes,
Ju!



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Entrei pela porta do motorista e percebi que uma música conhecida e animada praticamente estourava os autofalantes. Seria impossível contar qualquer coisa para ela com o som naquele volume, por isso quando ela entrou e esperou eu começar a falar, fiz um sinal que deixaria para depois, somente para vê-la bufar e sair em alta velocidade, indo em direção ao único lugar que eu sabia que não seria incomodada por ninguém.

Muito menos por Fitch.

Quando chegamos ao destino, quis deitar na grama verdinha que se estendia pelo jardim frontal e lembrar as noites em que chegávamos tarde e ficávamos contando quantas pedras de concreto nos levariam até o lago na parte de trás da casa. Pelo que eu me lembrava eram mais ou menos 34 pedras.

Saímos do carro e sem nem ao menos entrarmos na casa, nos dirigimos para a parte de trás, sendo recebidas por uma imagem de tirar o fôlego. Aquela seria uma imagem merecedora de uma fotografia de nós duas, mas as circunstâncias não me pareciam ao meu favor, já que meu rosto estava inteiramente vermelho e inchado.

– Vai me contar o que aconteceu agora? – Claire perguntou sentando-se numa das espreguiçadeiras de madeira que estavam ali fora desde o tempo que eu a conhecia.

Suspirei e abracei meu corpo que esfriou de uma hora para outra.

– Eu não consigo mais ficar longe deles. – e me virei para ela. – Porque homens tem que ser assim? Tão estranhos e inconstantes? Uma hora querem ficar o tempo todo com você, e no outro desaparecem. – minha voz diminuiu relativamente para o final da frase.

Pude ouvir o suspiro de Claire.

– Porque eles são homens.

Ri de leve.

– Mas não é isso que te aflige, amiga. Sei quando o problema é com homens, e esse não é o caso. Tem alguma coisa maior te incomodando.

Um aperto em meu estômago se fez presente, e eu tive que me segurar para não vomitar ali mesmo. A imagem de Anne com o vestido coberto de sangue se propagava em minha mente como um fantasma.

– Ah! – Claire exclamou antes que eu pudesse dizer alguma coisa, batendo a mão na testa e se levantando rapidamente. – Esqueci de te entregar uma coisa. – disse ela, entrando na casa e desaparecendo de minha vista.

Aproveitei o tempo para caminhar pelo pequeno “píer” de madeira que se estendia pela margem do lago até alguns metros adiante, vendo o sol no horizonte claro, tocar a água, sentando-me com as pernas cruzadas, inspirando e expirando tentando controlar meus batimentos e botar as ideias no lugar. Eu sentia como se estivesse enlouquecendo aos poucos. Tudo estava escorregando por entre meus dedos, fugindo de controle. Tudo o que eu não precisava naquele momento.

Ouvi os passos de Claire atrás de mim e não me importei de virar para olhá-la já que conseguia sentir sua aproximação. Ela se sentou ao meu lado e esticou uma pasta com vários papéis dentro.

– Aqui estão as informações que você pediu.

Uma confusão se formou em meu rosto e Claire sorriu.

– Sobre Drake e companhia.

Um bolo se formou em minha garganta. Agora eu não tinha tanta certeza se gostaria de saber o que tinha dentro daquela pasta. Não sabia se o que encontraria ali viria a me servir para qualquer coisa, e nem se conseguiria conviver com o fato de que Drake era um assassino frio, incalculável e impiedoso.

– Achou muita coisa sobre Drake? – perguntei engolindo a saliva com dificuldade.

– E bota coisa nisso. – Claire disse. – Mas as meninas parecem que sempre viveram sobre os cuidados dele.

Quis lhe perguntar como ela sabia daquilo, mas optei por manter minha boca fechada. Já estava atolada em problemas até o pescoço, e não seria nada amigável trazer minha única amiga junto comigo. Ela tinha que saber somente o necessário para se manter alerta.

– No que você está se metendo, Helena? Pelas pesquisas que encontrei vi que elas não são as únicas sendo “cuidadas” por Drake. – ela marcou aspas no ar. – Isso tem algo a ver com Kaus e Polux?

Meu coração começou a bater com o dobro da velocidade.

– Eu sei de tudo. – Claire murmurou tocando meus ombros de leve. – Sei que Polux é a pessoa que você escolheu, e até respeitaria isso se não fossemos destinadas a mata-lo. Você já parou para pensar no que eles vão dizer quando descobrirem? – sua voz começava a se elevar alguns oitavos, denunciando que ela estava tão preocupada quanto eu.

– Ninguém vai descobrir nada. – retruquei seca.

Virei-me para ela e vi que Claire tinha abaixado a cabeça. Balançando os ombros de um lado para o outro, se levantou e estendeu as mãos para que eu a acompanhasse.

– Chega de assuntos fúnebres. Vamos tomar potes de sorvete e nos afogar em filmes românticos clichês.

Abracei-a de lado e ambas rimos nos esquecendo dos assuntos preocupantes por alguns minutos. Enfiei a pasta com os papéis embaixo do braço e caminhamos em direção à casa de madeira tão aconchegante.

– Sabe, Lena, pensei que você nunca mais fosse voltar aqui.

E eu ri jogando a cabeça para trás.

– Não vai se livrar de mim tão cedo, pode esquecer! - brinquei.

Ela apertou meu braço e beijou o topo de minha cabeça.

– Vai ficar tudo bem, ok?

Assenti, desta vez sabendo que, independente do que pudesse acontecer para definir nossos destinos, tudo iria ficar bem.

Entramos na casa e fomos acolhidas pelo calor que vinha da lareira.

– Porque a lareira está acesa? – perguntei me sentando no sofá claro, cobrindo meu corpo com a manta, colocando a pasta que ela tinha me dado, de lado. Pude ver Claire dando de ombros e pegando um vinho com duas taças, posicionando-as a minha frente. – Pensei que fossemos nos afogar em sorvete.

Ela colocou as mãos na cintura.

– Prefere encher a cara ou engordar dez quilos comendo sorvete de chocolate.

Ergui a taça vazia e disse:

– E viva a bebedeira!

Claire riu enquanto enchia os copos, sentando-se ao meu lado. Ela tomou um gole, cobrindo-se com o que sobrava da manta.

Depois de um bom tempo em silêncio somente apreciando ao gosto amargo do vinho, Claire se virou para mim com uma excitação nos olhos desconhecida.

– Sabe o que lembrei agora?

Neguei tomando mais um gole, terminando meu copo, enchendo-o novamente. Se ela queria me deixar bêbada, então deveria ser feito direito!

– Depois de amanhã é Halloween.

Fiz um ‘ok’ com os dedos e voltei a atenção ao conteúdo vermelho. Claire bateu de leve em minha perna e disse animadamente:

– Vamos sair amanhã para comprar fantasias! Por favor?

Sair para fazer compras com Claire não era uma coisa agradável, já que era sempre eu a encarregada de levar todas as sacolas pesadas. E ela fazia questão de parar em todas as lojas antes de escolher comprar alguma coisa, e insistia em repetir: “Naquela loja estava mais barato, viu Helena, eu te disse que valia à pena ir a todas as lojas que vendessem saias de paetê”.

E lá se ia mais uma tarde de compras.

Mais como uma tarde de torturas para mim, mas fazia de tudo para ficar com minha melhor amiga e conselheira. Mesmo que seus conselhos fossem de: “Espero que ele perceba que está cometendo um grande erro”, à “Dê um pé na bunda desse imbecil”.

Encostei a cabeça no braço do sofá e inspirei fundo.

– Que horas devo estar aqui?

Claire gritou de emoção e bateu palmas.

– Cedo! O mais cedo possível! – ela completou, entornando o conteúdo de sua taça completamente na boca, se levantando do sofá e indo em direção à pasta com as informações, pegando-a e jogando no meu colo. – Leia.

Bufei e joguei a manta longe, segurando os papéis em minha mão. Eles pareciam pesar vários quilos a mais, fazendo com que a minha vontade de abri-los não passasse de poeira. Claire teria mesmo conseguido todas as informações que eu precisava para acabar com Drake?

Meu coração palpitou de nervosismo quando comecei a ler os documentos. Primeiro foi Anne. Era possível ler que ela havia sido criada pelos tios em uma fazenda no Kansas e estava dada como desaparecida fazia três anos. Uma foto em preto e branco dela dizia: Procurada, com direito à recompensas em dinheiro. Ela tinha os cabelos completamente enrolados e um sorriso grande, abraçando seus livros desajeitadamente de lado. Deduzi ser a foto que aparecera nos noticiários e em jornais locais.

Em segundo vinha Charlotte. Ela tinha uma foto colorida, e estava vestida com uniforme de líder de torcida, trazendo no rosto um sorriso prepotente. Um pensamento maldoso cruzou minha mente, alertando de que talvez ela não fosse uma flor que se cheirasse, mas só de lembrar que estava sob os “cuidados” de Drake minha compaixão voltava completamente. Em sua “ficha” era possível ler que seus pais estavam à sua procura a mais ou menos cinco meses e esperavam que ela desistisse da ideia de ter se mudado para tão longe e ainda mais com o namorado que ela ao menos conhecia. Enquanto lia, ia narrando em voz alta para Claire e ela só assentia.

E por fim, nas últimas folhas do montinho, respirei fundo e tentei concentrar toda a minha paciência para não amassar aqueles papeis. Ele valia mais para mim do que qualquer informação que Claire pudesse me dar. Em sua vez li tudo com bastante atenção e duas vezes, tentando absorver o máximo que podia.

“Drake Monteigh, demônio, perigoso. Um dos mais antigos antes de Polux e Kaus Finnik.”

Fotos de um homem conversando com uma mulher apareciam em diversas partes, mas elas tinham uma péssima resolução e estavam tremidas, por isso não conseguia enxergar suas feições.

Os pelos de meu corpo se eriçaram.

“Tem hábitos alimentares peculiares e se mantem em uma moradia fixa em um apartamento na cidade de Manhattan, perto do New York Manhattan Hotel.”

E então pareci perder o ar completamente.

Ele estava perto de nós. De mim. E eu tinha perdido a chance de destruí-lo.

“Matou o escravo que era seu melhor amigo, por sua mulher lhe estar traindo com ele, e a mesma o matou com um tiro na cabeça logo após o enterro do escravo.”

Minha cabeça girava com tantas informações. Mais abaixo dizia a data de seu nascimento e quantas pessoas tinha matado, trazendo abaixo os nomes de algumas diversas mulheres. Dizia também que ele mantinha suas “refeições” nesta casa que tinha em Manhattan e passava por lá esporadicamente para lhes alimentar bem e comer, já que não queria que o sangue de nenhuma delas ficasse ruim.

– O maldito tem 423 anos. – murmurei de mal gosto, colocando os papéis de lado, vendo uma foto cair do meio deles.

Me abaixei para pegar e rapidamente pulei para trás, como se a foto tivesse queimado meus dedos, sussurrando ininterruptamente:

– Era ele! Era ele, Claire!

Desta vez Drake olhava para a foto, petulante. Sua postura emanava poder fazendo com que eu me sentisse como uma mísera formiga, mesmo que por foto. Seus olhos claros como um dia de verão e o cavanhaque marcado, contrastando com as feições finas e angulosas não me enganavam. Eu ainda lembrava-me do cheiro de sua colônia que ficara gravado em minha mente como uma gravura antiga e gasta.

–Eu estava tão perto, Claire. Tão perto!

Ela percebeu que minha voz começou a subir alguns oitavos e arrancou a foto de minhas mãos.

– Não estou entendendo mais nada.

– Ele estava no cemitério, Claire! Quando fui investigar sobre Theodore. Estava do lado de fora do carro e vinha em nossa direção! Eu te contei quando voltei! – eu praticamente jogava todas as informações em seu rosto.

Ela segurou meus punhos e me fez sentar novamente.

– Está tudo bem, Helena, respire.

– Você se lembra do que eu te disse, certo? Sobre toda aquela conversa malucas e ainda mais sobre Sally ter uma própula magnética...

– Sim. – ela me interrompeu, parecendo estar perdida em pensamentos. – Ele era o cara no hotel? E depois você trombou com ele no cemitério?

Assenti ofegante demais para poder proferir qualquer coisa.

– Você já parou para pensar na possibilidade dele estar te seguindo?

Franzi o cenho.

– Como assim?

Ela pegou em minhas mãos, atirando a foto no chão.

– Ele não estava na frente do cemitério porque foi visitar um parente, e não estava hospedado no hotel... Helena, ele está te seguindo.

Livrei-me de suas mãos e cocei a nuca desesperadamente, lembrando-me do bilhete que tinha achado na porta de minha casa e em cima do corpo de Anne.

Doçura ou Travessura?

Mas o que diabos significava aquilo? Ele tinha a mania de falar em códigos? Tomei mais dois copos de vinho antes de ter a coragem de fazer o que pretendia.

Peguei o telefone do bolso de trás e liguei para o número que já estava gravado em minha mente. Cruzei os dedos para que não desse na caixa postal. Um toque, dois toques... sete toques. E ele finalmente atendeu. Sua voz rouca e baixa fez meu coração dar pulos.

– Precisamos conversar. – disse.

Pude ouvir sua respiração baixa e irregular.

“Eu sei.”

E enquanto nenhum dos dois falava nada, Claire balançava os braços na frente de meu rosto tentando chamar minha atenção e perguntar quem era no telefone.

“Sinto sua falta.” Polux disse por fim.

O fundo de meu nariz começou a coçar.

– Sinto sua falta também.

“Quando podemos nos encontrar?” Ele perguntou, mais animado.

– O quanto antes.

“Posso passar em sua casa mais tarde.”

Aquilo não tinha sido uma pergunta, mas eu não ligava. Com a saudade que estava de Polux, se ele dissesse que eu teria de ir remando até o Canadá para vê-lo, era capaz de eu ir.

– Te espero lá então. – e desliguei, não querendo prolongar o assunto, já que teríamos que tratar de muitas coisas.

Brinquei com a barra de minha blusa ainda com o telefone nas mãos, sorrindo de leve.

– Era Polux, não era? – Claire perguntou tomando um gole longo de sua taça cheia.

Em resposta meu sorriso se alargou. Guardei o telefone e terminei com o vinho, cambaleando um pouco.

– Ele vai passar em casa para conversarmos, mais tarde.

Ouvi Claire engasgar e me virei para ver sua imagem batendo no peito e levantando as mãos para o alto, tentando recuperar o ar perdido. Seu rosto estava vermelho e ela tossia.

– Pensei que tivessem brigado. – ela disse por fim, com a voz levemente afetada.

Rolei os olhos nas órbitas e prendi o cabelo em um coque alto, quase no topo de minha cabeça.

– Não estamos brigados. Ele só não estava atendendo meus telefonemas.

Claire cruzou os braços.

– Foram quantas semanas sem se falarem?

Fiz a conta mentalmente.

– Três.

– E quantas vezes você ligou? – ela perguntou novamente.

Uma careta se espalhou por minha face, deixando meu humor – que já estava instável – pior ainda.

– O suficiente...

– Para encher a caixa postal dele! – Claire me interrompeu. - Duas vezes!

Mostrei-lhe a língua.

– Não enche.

Ouvi uma buzina salvando-me de ter que ouvir mais um dos sermões/conselhos que Claire estava pronta para dizer e dei-lhe um beijo na bochecha, pegando a foto que estava jogada no chão e os papéis, saindo em disparada pela porta da sala, quase tropeçando nos móveis e em meus próprios pés.

Abri a porta para sair e a ouvi gritar lá de dentro:

– Não pense que escapou de mim, senhorita Jameson! Amanhã temos todo o dia livre. E muito, mas muito tempo mesmo! – ela enfatizou muito bem as palavras “todo” e “muito”, dando a entender que, nem se eu quisesse poderia esconder algo dela.

Soltei um palavrão baixo e disse com a voz cheia de sarcasmo.

– Não vejo a hora!

Ela riu.

Fechei a porta e corri pelo jardim, vendo o carro novo de Edward estacionado do outro lado da rua. Entrei pela porta do passageiro e dei um beijo estalado em sua bochecha. Ele parecia fechado e estranhamente longe.

– O que aconteceu? – perguntei afivelando o cinto.

Ele encolheu os ombros.

– A menina era Anne.

Imitei seu movimento e coloquei os joelhos no peito.

– Eu sei.

– Drake está atrás de nós.

– Eu sei. – suspirei.

Ele engoliu seco.

– Fiquei sabendo que você e Fitch se beijaram hoje. – ele disse.

Meu corpo se aqueceu ao lembrar-me dos beijos de Fitch traçando todo o percurso de meu pescoço e clavícula e então voltando a se concentrarem na boca. Vários pensamentos obscenos encheram minha mente e tive que me concentrar em manter a proteção erguida para evitar que curiosos se sentissem convidados a dar uma espiada em minhas lembranças.

– Cali é só uma amiga... – Edward disse.

– Edward, - o cortei colocando a mão em seu ombro enquanto ele dirigia pelas ruas silenciosas e claras. – eu acredito em Fitch, realmente, mas parte de mim sabe que ela precisa dele. Muito mais do que eu preciso. Ela gosta dele, e é dependente dele. – mordisquei o lábio inferior. – É como se ela dependesse dele para tudo. O menor favor que ele pede, Cali prontamente faz. É sempre ela!

Ele ofegou.

– Ele te contou...?

Sua pergunta ficou no ar, me deixando curiosa.

– Não. Ele disse que só diria quando estivesse pronto. E o deslize de hoje demonstrou que ele não está. – Edward terminou.

Meu coração se acelerou.

– Pronto para o que, Edward?

Ele se virou para mim, com os olhos injetados de dor.

– Eu realmente gostaria de poder te contar... Mas como já te disse, não é um segredo meu. Você já sabe coisa demais, Helena.

Abaixei a cabeça e fiquei quieta por todo o percurso. Senti sua mão afagar minhas costas gentilmente.

– Ah, qual é, irmãzinha, sabe que faço de tudo por você, mas contar está fora dos meus alcances.

Assenti, tentando fazer com que a farsa deixasse seu coração molenga e ele abrisse a boca.

– Não adianta continuar com essa cara de cachorro pidão. Não vou contar nada. – ele disse.

Bufei e cruzei os braços em cima do peito, sentindo uma vontade louca de ir até a casa de Fitch, pegá-lo pelo colarinho da camisa e obriga-lo a falar tudo o que estava escondendo de mim. E talvez – só de bônus – ele até desse um pé na bunda da loira oxigenada.

– Tudo bem. – e depois de alguns minutos, senti que estávamos esquecendo-nos de algo. – Onde está Jason?

Edward deu de ombros e ligou o rádio.

– Disse que iria sair com alguns amigos.

Relaxei no banco.

– Ele disse quem eram esses tais amigos?

Ele balançou a cabeça de um lado para o outro sem abrir a boca. Me irritei e comecei a brincar com minhas unhas curtas e pintadas de uma cor tão chamativa quanto um farol de trânsito. Será que Edward era incapaz de responder minhas perguntas direito?

Passamos pela rua de casa e nos direcionamos até uma cantina pequena e calma perto do centro. Mal estacionamos e minha barriga começou a fazer barulhos altos e incômodos.

Edward riu.

– Não sabia que estava com tanta fome assim.

Ignorei-o e apertei as folhas com as informações na mão.

– Preciso te contar umas coisas. – sussurrei saindo do carro, batendo a porta. Não tinha necessidade de falar alto, já que Edward era perfeitamente capaz de me ouvir mesmo se eu estivesse praticamente muda.

Ele enfiou as mãos no casaco e caminhou ao meu lado.

– Que coisas? – indagou.

– Aqui não.

Ele abriu a porta da cantina para mim e me deu um leve empurrou para que eu me movesse. Lá dentro tinha um clima agradável e familiar, que nos dava um ânimo repentino e uma vontade de ligar para a família dizendo para que eles viessem correndo, nem que estivessem na Rússia.

Ela era conhecida por ter a melhor comida italiana da cidade, e fora um dos primeiros lugares que saí para comer com Fitch. Empurrei essa lembrança para um lugar sombrio de minha mente por enquanto e foquei minha atenção no que Edward dizia.

– Então? – percebi que ele estava esperando a resposta para uma pergunta que eu não tinha ouvido.

Um ponto de interrogação parecia ter sido pregado em minha testa, e Edward sorriu amigável.

– Perguntei se tem preferência por algum lugar...

– O mais distante do movimento. – o interrompi, varrendo os olhos pelo lugar, vendo que havia bancos para grupos e algumas mesas no meio do salão. Puxei-o pela mão até um dos bancos e sentei-me, sendo imitada por ele.

Uma garçonete ruiva e cheia de sardas pelas bochechas veio até nós e não parava de lançar sorrisos largos demais para Edward, que devolvia na mesma intensidade, enquanto anotava nossos pedidos. Dei-lhe um chute forte o suficiente para causar certo sobressalto e ele me fuzilou com os olhos. Se ela não lhe desse seu telefone, o cara da mesa do lado – que nos encarava de uma maneira meio possessiva e psicótica – daria.

– Mais alguma coisa? – ela perguntou ajeitando um fio que se soltava no rabo de cavalo bem preso.

Edward fez um bico enquanto fingia pensar em algo, e por fim disse:

– Se seu número estiver no cardápio...

Deixando a frase no ar, a garçonete deu uma risada nervosa e claramente forçada para parecer que ele tinha dito algo engraçado. Meus olhos se arregalaram. Edward havia sido tão direto que até eu cheguei a corar, não por ter achado fofo, mas pela vergonha alheia que me fazia ruborizar até a raiz do cabelo.

Quando a menina saiu sorrindo envergonhada eu não consegui fazer mais nada além de rir e praticamente me dobrar em cima da mesa, ainda não acreditando que ele tivesse pedido o número da menina daquele jeito.

– O que? – Edward quis saber, fazendo birra e cruzando os braços em cima do peito.

Abanei as mãos em meu rosto e senti um calor do nada atingindo minha nuca, como uma respiração. E então a voz.

Me trocando por Edward?

Franzi o cenho, parando de rir na hora, o que fez com que Edward tocasse em meu rosto todo contorcido de descrença e pronunciasse palavras baixas que eu não conseguia distinguir.

Como posso trocar algo que nunca foi meu, Kaus? Rebati, sentindo-me orgulhosa da resposta.

Espantei a mão de Edward de meu rosto e fiz um sinal de que estava bem.

Ainda não sou, mas serei. Sua voz era cheia de uma convicção anormal e carregada com uma petulância inacreditável.

Ri alto e não respondi. O calor sumiu tão rápido quanto surgiu e logo era possível ouvir todas as conversas altas e animadas ao nosso redor, risadas e uma música que vinha de alguma caixa de som.

– Está tudo bem? – Edward perguntou. Seu tom era de pura preocupação.

– Sim. – dei meu melhor sorriso, esperando que o fosse convencer que tudo estava realmente bem.

Ele pareceu relaxar um pouco, e a garçonete voltou com nossas bebidas e comidas. Ela baixou meu suco de laranja e a massa à carbonara, assim como a massa ao sugo e o refrigerante de Edward, tirando um papelzinho escondido atrás de nossa comanda e colocando do lado do copo de meu companheiro, lhe lançando um sorriso maroto e sacana.

– Me ligue. – e saiu sem dizer mais nada.

O sorriso que se estendia pelo rosto de Edward era incomparável.

– Eu te disse que iria conseguir... – sussurrou ele.

Peguei um pouco da massa e coloquei na boca, saboreado o gosto salgadinho e delicioso que chegava a fazer os pelos de meu corpo se eriçar.

– Você não disse nada. – critiquei com a boca cheia.

– Porca. – ele cutucou minha perna com os pés por baixo da mesa.

Ri sarcástica e ele enfiou um garfo cheio de massa na boca, fazendo questão de produzir sons irritantes do tipo: “hmmm”, chegando a parecer com obscenidades.

Ele percebeu que eu o olhava profundamente e abriu a boca, fazendo questão de me mostrar o conteúdo todo misturado lá dentro. Engasguei com a comida de tanto rir.

– Depois eu sou a porca! – comentei, forçando-o a fechar a boca.

Peguei os papéis ao meu lado e abri as últimas folhas, tirando todas as informações de Drake do monte de folhas. Eu já tinha relido e lido aquelas páginas o suficiente para saber bastante sobre sua história. Edward parou de comer.

– Onde achou tudo isso.

Dei de ombros.

– Tenho meus contatos.

– Helena... Isso não é coisa pra você. – ele disse e tentou tirar os papéis de perto de mim.

Soltei um ganido enquanto engolia a massa quente e arranquei-os de sua mão.

Isso não é problema seu.

– Fitch vai ficar sabendo disso. – Edward disse, parecendo querer me testar.

Pisquei pesadamente duas vezes, tentando enfatizar que eu não estava nem aí, e ele desistiu. Edward era uma pessoa relativamente fácil de lidar, uma vez que não conseguia me convencer a fazer quase nada que eu realmente não estivesse inclinada a fazer, sempre partia para minha opinião, mesmo que o que ele tivesse tentando me convencer fosse uma coisa estúpida. Como na semana passada quando ele perguntou se não gostaria de ver um filme de terror que tinha acabado de ser lançado e minha resposta fora automática: não. Filmes de terror não eram os meus preferidos. Naquela noite assistimos a “O Diário da Nossa Paixão”. E mesmo que ele negasse com todas as forças, eu vi uma lágrima escorrer de seu olho.

– É sério. – ele insistiu quando viu que eu não dei a mínima para sua ameaça.

– Não vai, não. – rebati enfiando mais uma porção de massa na boca.


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Notas finais do capítulo

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