A Caçadora escrita por jduarte


Capítulo 53
Humanidade - ¢


Notas iniciais do capítulo

Não me aguentei e tive que postar capú­tulo!
Comentem, seus leitores lindos!
Beijooooos,
Ju!
Ps: esse cap vai especialmente para a Daphne que recomendou a fic! Muuuuuito obrigada, lindona!!!



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Levantei da cama com um sobressalto, palpitações estranhas percorriam todo meu peito, fazendo-me sentir um aperto desconfortável na boca do estômago e o suor pegajoso grudar meu cabelo na testa.

Minha cabeça latejava e doía, e eu não conseguia achar razão para tal dor. Quer dizer, eu não tinha fugido de minha rotina normal e muito menos comido algo que pudesse me fazer mal. Na verdade, não tinha comido nada.

Meu estômago roncou alto, e levantei da cama chutando os lençóis ensopados para longe, lutando para conseguir ao menos ficar de pé.

O que tinha acontecido na noite passada?

Fui até a janela e constatei que o dia ainda não havia nascido, e o Sol estava longe de dar os primeiros sinais de vida. Meu celular estava do lado da cama, mas ao fazer a menção de pegá-lo, o barulho de seu toque me fez travar.

De longe pude identificar que era um número bloqueado e minhas palmas ficaram escorregadias.

Atendi com a palpitação crescendo no peito e se espalhando, deixando minha pele com uma sensação de formigamento.

Não disse nada quando coloquei o telefone na orelha, mas pude ouvir a respiração pesada no outro lado da linha.

“Pensei que não fosse me atender.” A voz metálica disse, deixando os pelos de meu corpo todos arrepiados.

– O que você quer? – rebati, tentando fazer a voz soar o mais perigosa possível, falhando piamente.

Ouvi sua risada putrefaz, fazendo meus ouvidos latejarem.

“Dá última vez que nos falamos você não estava tão calmo quanto hoje.”

Era nítido que ela fazia de tudo para me irritar.

“Kaus está passando um bom tempo com sua humana, Polux. Como você se sente em relação à isso?”

Fechei as mãos em punho, respirando fundo algumas vezes, tentando impedir de que vários xingamentos saíssem de meus lábios.

– Isso não é da sua conta, Maia.

Mais uma vez risadas e sua voz soou metálica, num estilo mortífero e sabia que um passo em falso era o suficiente para ter minha cabeça cortada.

“Afiado. Gosto disso.” Engoli seco. “Estava sentada tomando um copo de uísque sozinha e pensei: porque não fazer uma visitinha à Helena? Ela me parece tão solitária.”

– Não se atreva... – e antes que eu pudesse falar alguma coisa, a linha caiu.

Xinguei alto o suficiente para ter acordado todos da casa.

Eu conseguia ouvir os batimentos cardíacos de Cali que ressonava no quarto ao lado, e seus sonhos sobre Fitch. Eles me davam nojo.

Balancei a cabeça tentando espantar os pensamentos ruins que insistiam em percorrer minha mente, e saí do quarto, abandonando o telefone em cima da cama bagunçada.

Desci as escadas em direção à cozinha e me espantei ao ver Kaus sentado no sofá, encarando a televisão que passava a reprise de um jogo de futebol americano da semana passada. O time de vermelho tinha ganhado disso eu conseguia me lembrar, mas não de como havia apagado várias horas do dia anterior.

– Pensei que nunca mais fosse acordar. – ele disse sem se virar para mim.

Estanquei no meio do caminho e lhe encarei.

– Então sabia que eu estava desacordado e não fez nada para me ajudar? Que irmão preocupado. – resmunguei sarcasticamente.

Kaus riu e balançou a cabeça.

– Você só pode ser idiota... – murmurou.

Bufei e ignorei-o. Talvez se o ignorasse pelo resto do dia, ele seria mais fácil.

Peguei um copo d’água e entornei-o em um só gole, sentindo a sede ser morta de pouco a pouco.

– Posso te perguntar uma coisa? – Kaus perguntou de supetão, quando me sentei ao seu lado no sofá.

Dei de ombros e esperei com que ele continuasse.

– Está sentindo umas palpitações esquisitas no peito, também?

Então ele estava tendo as mesmas coisas que eu! Mas por quê?

– Sim, mas não sei o que é.

Virei-me para encará-lo, e pude ver que ele passou as mãos no cabelo furtivamente, como se estivesse frustrado.

– Estamos virando mortais, Polux. – ele disse.

As palpitações aumentaram, sendo quase dolorosas. Eu as podia ouvir nos ouvidos, num ritmo anormal.

– Não estamos não.

Ele bufou.

– Estamos dormindo, tendo essas palpitações estranhas, e não nos alimentamos faz semanas!

Dei de ombros mais uma vez.

– Isso não quer dizer nada.

Kaus rolou os olhos pelas órbitas e desligou a televisão, levantando do sofá e me fazendo levantar. Foi até a cozinha e voltou trazendo uma faca grande o suficiente para arrancar a cabeça de alguém.

– O que você pretende fazer com isso? – me assustei, dando alguns passos para trás.

Ele riu e segurou a faca mais perto do corpo.

– Relaxa, não vou te matar.

E riu novamente.

Não, eu não confiava em Kaus. Afinal, ele já havia me matado uma vez, e poderia muito bem fazer novamente.

E principalmente se suas teorias sobre nós estarmos virando mortais novamente, estivessem certas. Não poderia arriscar com absolutamente ninguém, e nem botar minha cabeça no jogo, deixando Helena desprotegida.

Emma iria ficar desapontada se descobrisse que eu havia quebrado uma promessa.

Kaus parou a minha frente e esticou o braço, posicionando a faca na horizontal, abrindo um talho fundo o suficiente para fazer o sangue verter até o cotovelo e pingar no chão.

Meu rosto deveria transparecer o tipo de desespero que eu sentia. Meu irmão tinha acabado de se cortar para provar uma teoria imbecil!

– Você é idiota? – gritei.

Kaus fez uma careta quando tocou novamente no machucado, estancando o sangue com os dedos. Mas o corte parecia muito mais fundo, pois ele escapava por entre suas juntas, manchando o tapete claro. Ele pegou um pedaço da camiseta cinza que usava e limpou o corte. Pude ver que o machucado já se regenerava, mas não na mesma rapidez que antes, e sim como se fosse um corte fundo de dois dias, com apenas a casquinha do machucado por cima. Aquilo era definitivamente uma prova de que algo estava errado conosco.

Ou com ele, pelo menos.

– Ainda não acredita em mim? – ele perguntou, claramente zombando de minha cara.

Rolei os olhos nas órbitas.

– E de como estamos virando “mortais”? – fiz questão de marcar aspas no ar.

Uma risada baixa eclodiu do peito de meu irmão e ele me encarou como se eu fosse idiota.

– Helena. – Kaus disse, e a menção de seu nome fez com que as palpitações voltassem. - Ela é a causadora de tudo isso, irmão.

Dei alguns passos para trás, não conseguindo compreender aonde ele queria chegar. Era óbvio que Helena não era a causadora de tudo! Ela nem ao menos tinha coragem para nos machucar, quanto mais fazer-nos voltar a ser humanos.

– Ela não sabe nada! – exclamei, chocado.

Kaus bufou. Ficava claro, por sua carranca que eu o estava aborrecendo, mas a culpa não era minha se ele estava acusando minha Helena de uma coisa que ela não tinha feito.

– É lógico que ela não sabe de nada, seu asno! – ele vociferou. – A culpa não é dela por nos fazer nos apaixonar. – sua voz ficou mais baixa no final, quase terminando a frase em silêncio.

Um arrepio percorreu todo meu corpo, e vibrações começaram a surgir em meu estômago. Segurei a barriga e Kaus franziu as sobrancelhas.

– Talvez você só esteja faminto.

Assenti debilmente e observei enquanto ele jogava a faca dentro da pia da cozinha, e abria o freezer, tirando lá de dentro uma bolsa de sangue. Ele provavelmente não estava fresco, mas eu não me importava, realmente.

Ele me entregou a bolsa e sentou-se na cadeira, esperando que eu pelo menos tomasse um pouco do sangue. Engoli o bolo que se formara em minha garganta e tirei o tubo que impedia de o sangue vazar para fora, colocando na boca.

O gosto salgado e férrico rapidamente inundou-me os sentidos, me deixando anestesiado por alguns segundos. Pude sentir as veias de meus olhos começarem a saltar, e as palpitações cessarem. Suspirei aliviado, deixando que o sangue escorresse goela abaixo, sentindo o gosto típico e delicioso me satisfazer.

Quando terminei, Kaus me olhava orgulhoso e sorrindo. Não podia negar que estávamos realmente tendo um laço naquele momento, mas só de pensar que ele também estava apaixonado por Helena tinha vontade de jogá-lo pela janela.

Mesmo que aquilo não lhe fizesse ao menos um arranhão.

Antes mesmo de conseguir proferir alguma palavra uma sensação estranha começou a surgir em meu estômago. Uma ânsia de vômito. A necessidade de expelir algo.

Me curvei no chão, e observei com verdadeiro nojo o sangue que tinha acabado de consumir sair de meu corpo pelo nariz e boca. Arrepios decorrentes ao gosto férreo fizeram-se presentes, e vi que Kaus não havia se movido devido ao choque.

Lágrimas brotaram de meus olhos.

– Merda. – murmurei limpando a boca com a parte de trás da mão.

Meu irmão correu ao meu encontro, levantando meu queixo, fazendo com que meu nariz ficasse na altura do seu, e então ele inspirou, recuando com certo receio.

– O que? – insisti em saber.

– Você está sangrando. – ele proferiu em uma voz baixa e quase inaudível. – Você não se lembra de nada de ontem a noite porque estava sob o processo de mudança.

As palpitações fizeram meu corpo ceder novamente, e minha barriga projetar barulhos estranhos.

– Como assim? – tentei entender onde aquela conversa louca iria levar, afinal, estávamos falando de minha saúde e minha mortalidade. Definitivamente não era hora para brincadeiras.

Kaus começou a andar de um lado para o outro e de repente parou, de costas para mim, com uma mão na cintura, e a outra desaparecida na frente do rosto. Ele arfava e sua postura denunciava que ele não estava feliz, e muito menos satisfeito.

– Irmão? – sussurrei.

Ele se virou devagar para mim, com a mão livre embaixo do queixo. Seu nariz sangrava e pingava em gotas grossas e espessas.

Levantei-me como pude, sentindo as pernas fraquejarem de leve, e caminhei até meu irmão, apoiando os braços nele, me impedindo de cair no meio da sala.

Seus olhos pareciam banhados de lágrimas, mas eu podia ver um traço vermelho dentro deles. As gotas não paravam de cair, e isso me aterrorizava. Kaus abriu a boca para falar alguma coisa e começou a vomitar. Não comida, mas sangue. De uma cor arroxeada, misturado com vermelho, manchando toda sua camiseta já suja de sangue por conta do talho que havia aberto no braço, e agora mais ainda.

Antes de cair por completo na inconsciência à minha frente, o ouvi proferir um palavrão cabeludo, um pensamento veio à minha mente: A mortalidade não poderia ser tão ruim, certo?


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Notas finais do capítulo

Continua?