A Caçadora escrita por jduarte


Capítulo 52
A Verdade - £


Notas iniciais do capítulo

OiiI!!! Espero que gostem do capítulo e comentem MUUUUITO hahaha
Beijooooos,
Ju!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/383036/chapter/52

Não me preocupei em prestar atenção às horas que haviam passado por nós demasiadamente rápidas. De uma coisa eu tinha certeza, estava escurecendo e uma sensação inquietante começava a florescer em minha barriga.

Edward estacionou o carro na garagem, e tirou meu irmão do banco de trás, que com certeza não estava dormindo. Era somente mais uma das táticas dele: “finja que está dormindo, talvez eles não incomodem”. E aquilo me irritava profundamente.

Apesar de parte de mim ter consciência de que ele provavelmente estava chocado demais para conseguir sentar e conversar de uma maneira civilizada conosco, a outra só queria receber um abraço dele, dizendo que tudo iria ficar bem. Mesmo que não fosse ficar, no final das contas.

Abri a porta de casa e deixei a passagem livre para Edward passar com meu irmão “desacordado” e seguir até as escadas com ele pendurado como uma trouxa de roupas sobre os ombros. Edward o levava como se ele não pesasse nada, e nem ao menos respirava dificilmente.

Depois de verificar as trancas da porta pelo menos duas vezes, segui até para a cozinha, pegando um copo cheio d’água, terminando com ele em poucos goles. Voltei para a sala bem a tempo de ver meu companheiro descer as escadas e se jogar no sofá. Ele conseguiu sentir minha presença, pois fez um sinal para que eu me juntasse a ele.

Era agora ou nunca.

Contaria toda a verdade para ele. Todos os meus pensamentos, o que aconteceu comigo nessas últimas semanas, em como eu me sentia em relação à Fitch... Absolutamente tudo.

Antes mesmo de me aconchegar a seu lado, fiquei na sua frente e sentei-me na beirada da mesa de centro. Minhas mãos insistiam em se contorcer, deixando os nós de meus dedos esbranquiçados. Mordi minha boca dolorosamente e cheguei a sentir um pouco do gosto de sangue.

– Tem certeza de que quer saber? – perguntei.

Eu não precisaria especificar sobre o que eu estava perguntando. Ele sabia.

Balançando a cabeça afirmativamente, disse:

– É a única maneira de me preparar mentalmente para lhe proteger, Helena.

– Ok.

Respirei fundo diversas vezes, e comecei a contar as batidas ritmadas de meu coração.

– Eu não sei o que aconteceu, ou nem como aconteceu. – sussurrei me levantando. Não conseguia me manter sentada. A ansiedade que me corroía por dentro, fazia com que minhas pernas não obedecessem mais ao comando de ficarem quietas. – Mas eles são importantes para mim. Já me salvaram várias vezes da morte eminente, e eu devo a eles.

Ouvi Edward bufar e me interromper.

Eu sabia o que ele iria falar.

– Você não lhes deve nada.

Lancei um olhar em sua direção, como um aviso. Ele tinha concordado em me ouvir e por isso teria de ficar calado enquanto eu falasse.

Ele murmurou um “desculpe” muito baixo, e abaixou a cabeça, olhando para o assoalho claro.

– De certa maneira, minha vida está entrelaçada com as deles, e eu sinto, – coloquei a mão no coração. – bem aqui, que os amo de certa forma.

Mais uma bufada, mas desta vez acompanhada de silêncio.

– Kaus está “curado”, mas não sei por quem se apaixonou. – disse com a voz levemente afetada. Tirei o cabelo do rosto e suspirei. – Eu não sei de mais nada, Edward. E ainda mais agora que Fitch voltou com uma namorada, – meu tom era de escárnio. – me sinto mais perdida do que nunca.

– Você o ama? – ele me interrompeu.

Abracei meu próprio corpo, protegendo-me de uma corrente de ar inexistente, e caminhei para longe dele.

– Kaus? – perguntei confusa.

– Não. Fitch. Você o ama?

Meu coração bateu em um ritmo que eu não conhecia, palpitando dolorosamente em meu peito. Sentia que a qualquer momento poderia chorar.

– Não sei. – fora a melhor resposta que eu poderia arrumar.

Era óbvio que eu o amava, mas claramente não tinha os sentimentos retribuídos. Ele havia os deixado explícitos quando disse que Cali era sua namorada. Não eu, mas Cali.

Minhas unhas se afundaram na pele de meus braços, e tive que me concentrar para expulsar as lágrimas que pareciam tomar meus olhos.

– Eu pensei que soubesse muito bem pelo que estava lutando, Edward, pensei que, pela primeira vez na vida, não estivesse perdida e nem confusa. – virei-me para olhá-lo e pude ver que ele me encarava tristemente. – Ser uma Caçadora não era o planejado, sabe? Eu nem ao menos cursei uma faculdade, meu Deus, como poderia aprender o que eram demônios se nem ao menos conhecia meus próprios medos?

Engoli seco e funguei.

– Eu tenho muito medo de esquecer, Edward. – sussurrei caminhando em sua direção.

Ele se levantou, fazendo com que minha testa praticamente batesse em seu ombro, mas não se moveu nem um centímetro. Só ficou lá, balançando as pernas de uma maneira incômoda.

– Medo de esquecer o que? – ele perguntou.

Aproximei-me o suficiente para poder encará-lo, e sussurrei.

– De como é ser normal. Medo de um dia acordar e perceber que tudo não passou de um sonho, ou pesadelo.

Seus dedos limparam uma lágrima que escorria por minha bochecha, e sorri de leve.

– Esquecer não é um problema. O que aconteceu no passado, fica no passado. O que você se tornou agora é o importante, Helena. Não interessa o que as outras pessoas digam, você é o que escolhe se tornar.

Mais lágrimas vieram, e Edward me abraçou, deixando que eu encharcasse sua blusa de linho. Dava graças à Deus por ela ser completamente preta, se não, a essa altura estaria manchada em vários lugares por conta delas.

– Esse é o problema, não sei o que me tornei. Sou um monstro. – balbuciei de encontro com seu peito.

Eu me sentia anestesiada por dentro, e não de uma maneira boa. Era como se meu coração estivesse rachando dentro de meu peito. Tudo o que eu conseguia pensar era em como todas as minhas ações só faziam mal a todos ao meu redor. E em como elas só traziam dor e lágrimas.

– Shh... Isso não é verdade, Helena. Você é uma das pessoas mais especiais para mim e é horrível vê-la sofrer.

Desencostei de seu peito e murmurei:

– Você não pareceu se importar muito quando estávamos na igreja.

Ele revirou os olhos.

– É diferente. Eu não estava pensando, e além do mais, o que você faria se tivesse acabado de descobrir que sua companheira tinha acabado de salvar seu inimigo da morte?

Abaixei a cabeça.

– Ele não é seu inimigo, Edward. Nunca lhe fez nada.

Ele bufou.

– Só porque Polux é um anjo não quer dizer que ele nunca tenha burlado as regras “divinas”. Se ele fosse tão santo quanto aparenta ser, provavelmente não estaria te atormentando.

Queria dizer que ele não estava me atormentando, e que eu queria ficar com ele. Que Polux não era mentiroso e muito menos um criminoso que precisasse ficar encarcerado. Eu tinha plena certeza de conseguiria o mudar se tentasse, mas o amava do jeito que ele era. Sendo um anjo ou humano.

– Você brigou comigo, e me ignorou. – murmurei novamente.

Edward segurou minhas bochechas com as duas mãos me forçando a olhar para ele, e se agachou para ficar na altura de meus olhos.

– Eu nunca te ignoraria, Helena. Estou sempre por perto, mesmo quando você não está vendo. Mas parece que meu posto está sendo substituído por Polux.

Soltei um soluço alto e minhas lágrimas agora vinham com uma velocidade triplicada.

– Você é a irmãzinha mais nova que eu não tive, Helena.

Revirei os olhos e soltei uma risada engasgada e feia.

– Já não tem irmãs o suficiente? – perguntei tentando quebrar o clima ruim que pesava no cômodo, como uma massa de ar densa e sufocante.

Ele riu alto.

– Elas já são crescidas, não precisam de mim 24hrs por dia.

Esmurrei seu peito de leve na intenção de pelo menos lhe causar um hematoma, mas fui praticamente impulsionada para trás por conta do impacto. Meu punho doeu e tentei não fazer uma careta. Aquilo pareceu animar Edward, que riu mais.

– Eu não preciso de você 24hrs por dia! – tentei argumentar.

Edward me abraçou e balbuciou:

– Diz a garota que praticamente namora com o inimigo.

As palavras dele soavam magoadas, mas não tinha nada que ele pudesse fazer para mudar a situação. Uma hora ele teria de aceitar que estávamos juntos, – pelo menos na minha concepção – e que eu estava me apaixonando por ele.

Mas então Kaus entrava na história, e me fazia querer dar pulos de alegria somente quando olhava para mim. Ele fazia um sentimento florescer em me peito que eu desconhecia.

Era possível amar três pessoas ao mesmo tempo? De maneiras diferentes, mas umas tão fortes quanto as outras?

Estremeci somente por pensar na possibilidade de Fitch descobrir que estava envolvida com os irmãos Finnik. Ele seria capaz de me ignorar para o resto da vida.

Limpei quaisquer vestígios de lágrimas que poderiam ser encontradas ainda em minhas bochechas e sorri, soltando-me de Edward.

– Chega de lágrimas, precisamos conversar com Jason amanhã. Devemos uma explicação a ele.

Edward concordou e beijou minha testa, demoradamente.

– Durma bem, irmãzinha.

Sorri com o apelido.

– Durma bem.

E então ele seguiu escada acima, em direção a seu quarto. Depois de ficar em silêncio por alguns segundos, resolvi tomar meu rumo, e fui em direção ao meu próprio, fechando a porta após entrar, trancando-a.

Eu tinha a sensação de que a tranca não impediria nenhuma criatura de se aproximar de mim, mas saber que ela estava lá me acalmava.

Ouvi um pigarro enquanto saía do banheiro, já trocada para dormir, e me assustei. Uma sombra se esgueirou pelo canto de minha janela aberta, e se aproximou de mim. Estava prestes a gritar quando a luz fraca que vinha de meu celular iluminou seu rosto.

– O que quer aqui? – perguntei.

Meu coração bateu rápido.

– Queria ficar com você. – sussurrou ele.

Todos os pelos de meu corpo se arrepiaram.

Acendi a luz do pequeno abajur do lado da cama, e consegui ver como ele estava. O cabelo bagunçado, calça jeans e uma jaqueta de couro. Sem nenhuma blusa por baixo.

Pude ver os gomos de seu abdômen definido e musculoso com a claridade da luz, e tentei manter meus olhos concentrados em seus olhos azuis claros que me analisavam.

Ele tinha um resquício de barba que crescia pelo maxilar, e um sorriso de lado, mas singelo. Eu sentia que, por baixo de toda aquela façanha e músculos extremamente abusivos, se eu conseguisse quebrar aquela barreira, provavelmente encontraria seu “eu” antigo.

Mas o pensamento de que ele não gostaria de ser encontrado me assustava muito mais do que eu poderia admitir.

– Fitch, você tem namorada. – sussurrei reaproximando-me dele, com o tom menos severo e mais cauteloso, mas não menos machucado pela cena que tive de presenciar.

Ele abaixou o rosto.

– Dá pra não ficar lembrando isso de cinco em cinco minutos? Por favor, não quero falar dela hoje.

Assenti e prendi o cabelo em um coque mal feito.

– E então, o que faz aqui? – coloquei as mãos na cintura, esperando.

Ele se sentou em minha cama.

– Só quero passar um tempo com você. Não consigo ficar longe, não importa o que quer que eu tenha prometido. – ele sussurrou essa última parte mais baixo, e preferi ignorar.

Tentei reprimir a vontade de dizer: Vá ficar com Cali, ela é a sua namorada, e antes mesmo que pudesse calar a boca, soltei:

– Então fique.

Fitch pareceu satisfeito, e arrumou o cabelo desgrenhado e loiro. Percebi que ele ainda estava com a pulseira que eu tinha lhe dado, com uma letra H, e sorri largamente.

– Ainda usa essa porcaria? – apontei para seu punho.

Ele tocou no pingente e se aproximou de mim, levantando-se da cama e colocando a mão em meu pescoço, alcançando o fio do colar tão conhecido, que carregava a letra F.

– Olha quem fala.

Ambos rimos de leve.

Havíamos adquirido os pingentes em uma missão, quando tivemos que passar três dias dentro de uma estação de trens abandonada, caçando por espérers. Quase morremos, e para selar uma amizade que havia se tornado mais forte lá dentro, resolvemos compra-los. Na época tatuagens parecia uma boa ideia, mas considerando as condições que nos encontrávamos, elas seriam somente arrependimentos errôneos e chulos.

– Sinto sua falta. – ele murmurou, e pegou em minha nuca, colando nossos corpos.

Coloquei as mãos em seu peito, o empurrando gentilmente para trás, e fui em direção à janela.

– Não posso.

Fitch pareceu desnorteado.

– Por que não?

Não consegui responder nada. A verdade parecia entalada em minha garganta.

Estou tendo um caso com Polux, essa frase arranhava minha garganta, que se recusava a proferir.

Era uma frase tão simples!

Olhei-o pesarosamente, e pude ver algo cruzar seu rosto. Estava muito escuro para saber, mas seus olhos pareceram ficar levemente mais escuros.

– Entendi. – e com isso, se virou e apoiou-se no parapeito da janela, colocando metade do corpo para fora.

Meu coração palpitou.

– Não vou desistir de você. – sussurrou.

Sua voz tinha um tom de seriedade e algo mais que eu não conseguia decifrar.

– Espero que não. – respondi.

E eu realmente não esperava que ele desistisse.

Fitch se apoiou na árvore perto do jardim e pulou, sumindo de minha visão em segundos. Pude ouvir seu peso ao aterrissar no jardim, com um baque surdo e silencioso.

Fechei a janela e coloquei as mãos no peito, sentindo o coração bater mais rápido e as palmas suarem, lembrando de quantas vezes ele já não tinha saído pela janela, vindo checar em como eu estava. Usar a porta da frente não era uma coisa que Fitch fizesse muito. Ele preferia manter os pés fora do chão. Meu coração parecia explodir em meu peito, transformando-se lentamente em uma sensação de aperto. Ele tinha aquele efeito sobre mim, que era inexplicavelmente forte e deixava meus sentidos bobos.

Eu não me sentia mais como “Helena, a Caçadora de criaturas sobrenaturais”, e sim como “Helena, a humana frágil e apaixonada”.

E foi aí que me toquei que meus problemas não paravam somente em Kaus e Polux.

Eu ainda teria de aturar meus sentimentos inacabados em relação a Fitch.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Continua?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Caçadora" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.