A Caçadora escrita por jduarte


Capítulo 50
Amigos Não Se Beijam Na Boca - £


Notas iniciais do capítulo

Chegamos ao capítulo 50!!! Finalmente! kkkkkk
Não se esqueçam, mais doze capítulos e a segunda temporada se inicia!
Beijooooos grandes e muito obrigada pelos reviews LINDOS do capítulo anterior



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Ele pegou uma foto que estava apoiada perto das xícaras e me esticou. Foi a deixa para largar o chá ruim e observar quem era ela.

A foto era antiga, mas a mulher sorria amigável para o homem ao seu lado, que sorria com a mesma intensidade. Ela tinha os cabelos anelados, olhos escuros, mas profundos e parecendo bondosos, feições finas e angulosas, e cruzava as mãos em cima do vestido florido, parecendo ainda mais com um anjo.

– Essa é Janice? – questionei pegando a foto de suas mãos, com cautela.

– A única. – sua voz ecoou longe e perdida num tempo que eu não conhecia.

Passei os dedos por cima do vidro e vi que além dos dois, tinha mais uma pessoa atrás do homem ao lado de Janice, que sorria para os dois e parecia estar se divertindo.

– Quem são os dois homens ao lado dela? – perguntei.

Max suspirou.

– Eu e Theodore.

– Vocês eram amigos? – a descrença em minha voz era até palpável. – Então porque escreveu aquele artigo sobre ele ser louco?

– Por que ele era! – Max elevou sua própria voz, e tossiu um pouco de sangue nas mãos. – Eu era amigo dele, mas não me conformava em como ele conseguia tudo e eu não. Ele era louco! Porque Janice ficara com ele e não comigo?

Um momento de silêncio se instalou no cômodo.

– Eu a amava mais do que tudo.

Olhei para Jason e percebi que ele encarava o piso de madeira como se ele fosse a única coisa que o mantivesse entretido. Espiei Polux e vi que ele estava tão parado que chegava a se parecer com uma estátua, e Edward, bem, este chegava e morder os lábios de tão confuso. Ele parecia tentar entender o que diabos Max estava falando, e ao mesmo tempo não sabia se a resposta seria agradável.

– Ainda não me respondeu por que escreveu aquele artigo. – insisti, cruzando os braços em cima do peito, tentando passar a imagem de uma imponente o máximo que conseguia.

Max me encarou com os olhos turvos e molhados, parecendo tão doente quanto antes.

– Ele a fez infeliz, e a fez sofrer! Tudo por uma loucura que acreditava. – sua voz morreu no final, parecendo mais baixa e triste.

– Então você o escreveu porque não aguentava vê-la feliz, é isso? – eu sentia que minhas perguntas o estavam incomodando, mas não conseguia expulsar a sensação de que algo estava muito errado.

Porque Max havia escrito aquilo, e dito à praticamente metade das pessoas que acreditavam nele, que ele não passava de um maluco acreditando em comportamentos distintos de animais que haviam passado a vida toda, presos em celas, e os confundia com os “monstros” que via rondando sua casa.

Theodore estava sendo perseguido por demônios, isso era fato, mas por quê?

– Ela não estava feliz.

– Theodore estava trabalhando em alguma pesquisa antes de morrer?

Jason levantou os olhos de onde encarava tão furtivamente, e me encarou, quase dizendo: “pare de fazer perguntas!”, mas eu precisava saber o máximo de Theodore para depois ir atrás de Janice.

Max deixou as mãos caírem no colo e sorriu perdido - novamente – em pensamentos. O silêncio desconfortável se instalou na sala por aproximadamente 30 segundos, e enquanto ninguém falava nada, todos maneiravam até no modo de respirar para não fazer mais barulho do que era “educado”.

– Ele não estava trabalhando em nada que eu tivesse conhecimento. – Max disse por final.

Engoli seco e abri a boca para fazer mais uma pergunta, quando Jason me interrompeu.

– Você disse que escreveu artigo porque não gostava de ver um louco ter mais sucesso que você, - Max não negou. – mas desde a morte de Theodore, teve notícias de Janice?

Eu quis levantar do sofá e dar um abraço em meu irmão em agradecimento por estar tão curioso quanto eu sobre tudo aquilo. De certa forma, saber daquilo só me fazia ficar com mais vontade de vasculhar o quanto podia dessa história.

– Janice está na quadra 8, 14D.

Agora ele estava falando em códigos comigo? Isso era alguma piada?

E então, percebendo a confusão em nossas mentes, Max foi até um aparador de madeira que tinha várias gavetas, e abriu uma delas puxando uma folha de papel e caneta. Escreveu alguma coisa e entregou para Jason.

Levantei para pega-la quando meu irmão a esticou para mim, e fui imitada por todos – com exceção de Max -, que já se dirigiam a porta.

– O que aconteceu com você? – perguntei enfiando o papel dentro do bolso da calça, me esquecendo de olhar o que estava escrito.

Ele baixou os olhos para a cadeira de rodas, e deu de ombros.

– Quando se tem uma doença rara e difícil de ser tratada, ela acaba te corroendo. – Max brincou com os dedos e completou. - É mais fácil somente aceitar que uma hora ou outra você vai morrer.

Suas palavras foram tão duras e verdadeiras, que chegaram a assustar, e preferi assentir enquanto rumava em direção à porta.

– Muito obrigada por nos receber. – murmurei, sentindo a mão de Polux repousar na base de minhas costas, me impulsionando para dar alguns passos em direção à porta aberta.

Por minutos, enquanto ouvia às minhas perguntas serem respondidas, tinha esquecido completamente da presença de Edward e Polux.

Jason veio até meu lado, passando as mãos de leve por meu braço, chamando minha atenção. Ele estava claramente incomodado por estar na presença de Polux, eu podia dizer que era um sentimentos parecido com repulsão, que meu irmão sentia. Ele olhou furtivamente em direção ao homem que me tocava e fez uma careta.

Fiz menção para ele ficar quieto e saímos do apartamento, descendo pelas escadas, indo em direção ao carro. Jason abriu a porta da frente e entrou, assim como Edward, que foi para o lado do motorista, mas antes que eu pudesse ao menos abrir a porta Polux segurou meu braço gentilmente e desenhou círculos imaginários no antebraço com o dedão.

– Não vou poder ir com você. – ele disse, soando pesaroso.

Sorri de leve.

– Sem problemas. – respondi sinceramente.

– Só se lembre de que algumas coisas não são verdade, e as pessoas nem sempre são o que parecem ser.

Antes que eu pudesse dizer alguma coisa, Polux me deu um beijo rápido nos lábios e sumiu. Ainda catatônica por suas palavras e atos adentrei o carro e fechei a porta.

– Quem era ele, e porque ele te deu um beijo? – Jason perguntou antes do carro ao menos arrancar.

Dei uma olhada na direção de Edward e vi que suas mãos apertaram ainda mais o volante, deixando os nós de seus dedos ainda mais brancos.

Arrumei o cabelo que caía nos olhos, e sorri de canto.

– O nome dele é Polux.

Meu irmão virou para me olhar, e cruzou os braços em cima do peito, tentando passar a postura de machão.

– E...?

– E não é nada. Ele é só um amigo. – suspirei, encostando o corpo no estofado do banco.

Jason bufou e voltou a atenção para a rua, colocando o braço apoiado na janela.

– Amigos não se beijam na boca.

Dei uma leve risada e revirei os olhos, me concentrando na paisagem lá de fora que passava voando por nós. Estávamos indo tão rápido pelas ruas que deveríamos ter tomado pelo menos três multas por excesso de velocidade, mas pelo jeito que Edward segurava o volante, – como se ele o fosse arrancar a qualquer momento – preferi ficar em silêncio.

Estacionamos na porta de um lugar cheio de árvores e de muros baixos com tijolos escuros de concreto, com um portão de ferro já meio desgastado, e um caminho de pedra que ia até onde minha visão alcançava.

– Onde estamos? – perguntei saindo do carro.

Minhas pernas estavam doloridas e tudo o que eu queria era voltar para casa e dormir até que o cansaço se esvaísse de meu corpo totalmente.

– Cemitério Trinity Church. – Jason disse lendo uma pequena e escondida placa que eu não havia notado.

– Ela mora aqui?

Eles ficaram em silêncio e Jason segurou minha mão, me levando para dentro.

Que pessoa em sã consciência estaria morando em um cemitério? Aquilo ali era basicamente uma armadilha para caçadores caírem nas mãos de criaturas que não gostariam de nos ver nem pintados de ouro, uma vez que o solo sagrado atraía todo e qualquer tipo de ser sobrenatural, como sendo a fonte de suas energias.

– Tem certeza de que esse é o lugar que Max nos indicou? – era possível ouvir todo o medo que eu estava sentindo, somente pela minha voz.

Minhas mãos estavam trêmulas como nunca e Jason, percebendo meu nervosismo, apertou-a de leve. A pressão de seus dedos nos meus deixando bem claro de que eu não estava sozinha.

– Temos certeza. – Edward disse distante de nós, tomando frente para nos guiar.

Andamos por alguns bons minutos, passando por diversas lápides e Edward parou subitamente fazendo com que eu fosse de encontro com suas costas. Meu nariz se amassou de encontro com suas costas musculosas e eu xinguei baixo.

Ele nem ao menos se importou de virar, e foi em direção à grama passando por mais lápides sem ao menos olhar para trás, parando bem na frente de uma, no meio da 8ª quadra, e eu podia ver que a pedra tinha uma inscrição clara e recente. Arrepios percorreram todo meu corpo, e larguei da mão de Jason andando até ela, agachando, passando os dedos pelas letras que diziam: Aqui jaz Janice Stutch, mãe amada e esposa dedicada; 21/03/1936 – 09/07/2012.

– Janice está morta? – minha voz saiu mais alta do que o esperado e algumas pessoas que passavam se viraram para olhar feio em minha direção, como se falar alto ali fosse feio.

Levantei batendo as mãos na calça.

– Ótimo, e agora com quem iremos falar?

Ouvimos um pigarrear claro e uma figura esguia adentrou nosso campo de visão, carregando consigo um buquê de flores vermelhas.

– Sou filha de Janice, se quiserem falar comigo... – a mulher disse, deixando as flores apoiadas na lápide, se virando para falar diretamente conosco.

Ela entrelaçou os dedos, e sorriu. Eu podia ver as ruguinhas que se formavam no canto de seus olhos quando ela fazia isso. A mulher tinha cabelos acobreados e olhos claros, lábios rosados, parecendo ter um traço de tristeza na face.

Estendi a mão para ela e disse:

– Meu nome é Helena, este é Jason, – apontei para meu irmão. – e este é Edward. Viemos procurar sua mãe, mas parece que não vamos conseguir falar com ela.

– Pois é, mas se quiserem perguntar qualquer coisa, podem se dirigir a mim. – ela disse.

Olhei de soslaio para Jason, que cruzara os braços em cima do peito e olhava petrificado para a lápide.

– Podemos conversar em outro lugar? – perguntei.

Meu irmão saiu do transe que estava e a mulher disse:

– É alguma coisa muito séria?

Seu semblante demonstrava uma preocupação excessiva, e fui obrigada a dar um sorriso para quebrar o gelo.

– Não, na verdade queremos saber um pouco mais sobre Theodore Stutch. – o nome dele saiu como palavras incertas em minha boca.

Uma onda de alívio percorreu seu rosto, e vi que ela tinha uma cicatriz na bochecha esquerda que se expandia quando sorria.

– Ah, sim. Podemos ir até a biblioteca que eu tenho, assim vamos ter mais paz para conversar e talvez até tomar um chá?

Estremeci com o pensamento de tomar mais um chá horroroso e expulsando a sensação de desconforto que tomava meu corpo aos poucos, sorri mais uma vez.

– Seria ótimo.


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Notas finais do capítulo

Continua?



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