A Caçadora escrita por jduarte


Capítulo 37
Theodore - £


Notas iniciais do capítulo

Oii!! Espero que gostem deste capítulo! Milhões de obrigada pelos reviews e favoritos, vcs são os leitores mais bonitos do Universo hahahaha
Beijoooos,
Ju!



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Os dias que se seguiram passaram tão rápidos e calmos, que chegava a ser estranho. Depois da festa e de várias tentativas de me lembrar de algo que teria acontecido de importante para eu tão ficar aflita várias vezes ao dia, acabei desistindo. Tentar lembrar só fazia minha cabeça rodar e latejar. A minha teoria era de que eu tinha ficado tão bêbada a ponto de minha noite ser uma completa lacuna, já que pensar que tinha sido drogada era muito improvável.

A convivência entre Edward e Jason era muito boa, mas como eu estava encarando duas personalidades fortes e desconhecidas, preferia mantê-los longe um do outro até que se ajeitassem. Por várias vezes meu irmão perguntou onde eu estava indo carregando uma arma na cintura, e – acredite ou não – me seguiu até o trabalho.

Estava ficando cada vez mais difícil esconder dele a verdade. Mas se eu contasse provavelmente teria que aguentar ele rindo da minha cara, achando que eu tinha ficado louca de vez.

Levantei do sofá quando era mais ou menos três horas da manhã, depois de uma longa noite de filmes de terror, e caminhei até a cozinha, trazendo comigo a bacia de pipocas já vazia. Uma luz no corredor que levava ao escritório piscou, e meu coração se acelerou gradativamente.

Lembrei-me da cena no filme em que a menina vê o reflexo de seu assassino pelo espelho, mas quando tenta fugir, acaba morrendo, e comecei a me desesperar.

Tateei as gavetas no escuro, procurando alguma coisa que eu pudesse utilizar como arma, como uma faca bem afiada, mas tudo o que meus dedos encontraram naquele momento eram colheres de pau.

Eu não sabia por que tinha tantas colheres de pau já que nem ao menos sabia como cozinhar direito. Acho que eu esperava que Claire cozinhasse para mim quando viesse dormir em casa. Coisa que raramente acontecia.

Segurei firmemente na colher e fechei a gaveta com um baque surdo. Como eu estava descalça, meus pés eram o que me guiavam pela escuridão que a sala estava mergulhada. Eu podia ouvir o som da luz falhando, e piscando várias vezes seguidas.

Pensei em pegar meu telefone para poder ligar pelo menos a luz do visor para me guiar, mas quando ouvi o barulho de papéis sendo jogados na parede, estanquei no lugar.

Eu recitava palavras que me acalmavam mentalmente e tentava manter o coração batendo no ritmo normal, enquanto minhas palmas suavam deliberadamente.

Escorei-me na parede ao lado da porta e vi que aos barulhos de papéis voando na parede ficaram ainda mais rápido. Contando até três várias vezes, resolvi entrar.

Respirei fundo, e enfiei o corpo dentro do escritório, segurando a colher de pau protetoramente na frente do corpo. Como se ela fosse me proteger de alguma coisa.

Encarei os ombros musculosos e cabelo sedoso e suspirei de alívio, colocando a mão no peito, baixando minha “arma”.

– Você me assustou pra caramba, Jason. – resmunguei caminhando até ele.

Seu rosto estava inchado, como se ele tivesse acabado de acordar, e demonstrava uma preocupação que eu não estava acostumada a ver.

– O que foi?

Ele não me respondeu prontamente e continuou a encarar o que restava dos papéis em cima da mesa do escritório, levando uma das mãos até o cabelo, puxando-o, frustrado.

– Nada.

Cruzei os braços em cima do peito.

– Isso não me parece “nada”. Desembucha.

Jason bufou e se virou para mim.

– Estou procurando uma folha com nomes e telefones... Por acaso você viu por aí?

Um clique se estalou em minha cabeça.

– Eu guardei na gaveta da mesa.

Sua feição ficou desconcertada.

– E por quê?

Dei de ombros.

– Achei melhor guardar em um lugar seguro do que nas suas coisas.

Jason apertou a ponte do nariz se acalmando – coisa que eu o percebi fazendo muito desde que viera morar comigo – e caminhou em direção a tal gaveta.

Ele puxou um chumaço de papéis de dentro dela com certa brutalidade, e os folheou rapidamente, parando em um específico que pareceu lhe chamar atenção. Jason pegou-o e guardou o resto de volta na gaveta, encarando-o com tanto fervor que tive de me perguntar se ele não faria um buraco no centro.

O cômodo havia caído em um silêncio sufocante.

– O que tem de tão importante neste papel? – perguntei para ele, com um bolo se formando em minha garganta a cada palavra pronunciada.

Eu não tinha certeza se queria realmente saber sobre o que se tratava o papel.

Jason o encarou por alguns segundos e suspirou me entregando.

– Todos os nomes de nossos parentes estão aí. Datas de nascimento e óbito também, mas eu ainda não completei a lista. Ela tem mais pelo menos vinte pessoas, se não mais. – ele sussurrou com um fio de voz.

Minhas mãos voltaram a suar e meus olhos lacrimejaram.

– Você acha que algum desses nomes pode ser o de nossos pais?

Minha voz quase não era audível, porém, com o silêncio que se instalara no escritório, parecia muito mais do que um sussurro sofrido e melancólico.

– Possivelmente. – ele concordou com um aceno discreto com a cabeça.

Meu estômago se retorceu com a possiblidade do nome de meus pais estarem ali, bem na minha frente, mas não como um dos vivos, e sim dos mortos.

– E como faremos para encontra-los? – novamente minha voz saiu como um fiasco.

Jason coçou o queixo, parecendo pensar nas opções que se estendiam à nossa frente, e que, de fato, não nos pareciam muitas.

– Podemos viajar para encontra-los, mas duvido que eles possam nos dar alguma informação.

Sentei-me na cadeira à frente do computador, dei graças à Deus por ele ainda estar intacto apesar do descontrole repentino de Jason. O liguei, e a tela se acendeu cegando-me por alguns segundos. Abri uma aba para pesquisa, e estiquei a mão, pegando o papel das mãos de Jason, que se encontrava ao meu lado, num silêncio mortal.

Dei uma olhada no primeiro nome que vi sem ter data de óbito, e digitei confiantemente: Carly Melborne – 1973.

– Como sabe todos esses nomes? – perguntei virando o papel do outro lado, e vendo que este também tinha vários nomes escritos.

A página de pesquisa não achou nada, assim como o próximo nome que digitei. Bufei e passei para os próximos. Não estávamos achando nada, até que um nome chamou minha atenção.

Theodore Stutch – 1930 - 2010.

E sem pensar duas vezes, digitei.

– Ele já morreu Helena. – ouvi Jason dizer.

Apertei a ponte do nariz somente esperando, e quando a página carregou, meu coração se apertou de ansiedade.

Haviam pelo menos trinta matérias falando desse tal Theodore, e a maioria delas era relacionada à ele ser pirado da cabeça, mas sua loucura ter algum fundamento.

Ouvi Jason se aproximar, tão curioso quanto eu, e se inclinar sobre meu ombro, clicando em um dos links que a página indicava, abrindo uma página clara e cheia de imagens. Demorei um pouco para entender alguma coisa que estivesse escrita ali, e visualizei uma foto antiga de um homem de cabelos brancos e óculos fundo de garrafa, sorridente segurando o que parecia ser um diploma.

“Theodore Stutch, o nome mais importante nas áreas de estudos sobre animais e comportamento, sofreu um acidente esta manhã em sua casa, e pelo que fomos informados, passa bem no hospital. Familiares e amigos agradecem pelas palavras generosas e pelos presentes que estão recebendo de todas as partes do estado.”

Com a curiosidade me atacando com força total, rolei a página algumas vezes, e parei em mais uma matéria, com uma foto estranha de Theodore. Ele parecia estar dando aula, mas seus olhos pareciam vermelhos e inchados, e suas mãos enrugadas, como se todo o sangue de seu corpo tivesse ido parar em seus olhos.

Loucura com fundamento, por Max Ploug.

“Todos conhecem Theodore Stutch como: ‘o homem louco que acredita em criaturas místicas’, mas sua loucura tem fundamento, e é explicada pelo especialista em doentes mentais que sofrem desses tipos de distúrbios.

De acordo com Fred Sleew, o distúrbio que Stutch sofria é um dos mais comuns em pessoas de idade avançada. Porém, ele dizia que essas alucinações sobre ser perseguido por uma sombra e desta criatura falar com ele e se alimentar de seu sangue, era um sentimento antigo, e que de fato, Sleew nunca trabalhou num caso tão complicado quanto o de Theodore.

A esposa de Theodore, Janice Stutch, esperava que seu marido melhorasse depois que sua sogra morresse, mas não foi bem o que aconteceu. Ela disse que tinha vezes que chegava em casa, e Stutch estava sentado na beirada da janela segurando uma arma enorme apontada para o jardim.

Depois de sofrer um grave acidente, fazer vários exames e ficar internado por quase dois meses em coma induzido, Theodore foi diagnosticado com o distúrbio mental num grau avançado e degenerativo. Os médicos alegaram que ele havia morrido, pelo menos duas vezes, mas mesmo assim, Stutch se agarrou a ultima chance que tinha para viver, e conseguiu alta para voltar para casa. Mas mesmo depois de ter praticamente morrido e estar com o braço operado por conta de uma fratura, Theodore ainda assim se dizia perseguido por uma sombra estranha.”

Logo abaixo destes parágrafos havia uma foto estranha, que parecia um esboço mau feito de uma coisa meio maligna e surpreendentemente familiar. Aquilo era um demônio, e um dos ruins. A imagem não tinha nenhuma legenda, mas falava por si só. Praticamente berrava em minha cara.

Demônio!

– Isso é um monstro? – Jason perguntou.

Pude sentir minhas palmas suarem.

– Sim.

A risada engasgada de Jason fez meu corpo tremelicar todo. Provavelmente esta seria a mesma reação que ele teria se eu contasse com o que trabalhava.

Deus do céu, isso seria um desastre.

– Ele acreditava em coisas idiotas como essas? – ele perguntou novamente, sem conseguir esconder o entusiasmo da voz.

O encarei confusa.

– E isso é uma coisa engraçada?

Seus olhos faiscaram em minha direção.

– É lógico! Não é sempre que podemos encontrar um parente lunático que acredita em monstros.

E mais uma vez riu.

Aquilo já estava me tirando do sério.

Então disse:

– E se fosse tudo real?


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Notas finais do capítulo

continua?



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