A Caçadora escrita por jduarte


Capítulo 32
Dor - #


Notas iniciais do capítulo

Oiiii!!! Espero que gostem desse capítulo, eu ia postar quarta, mas já que ele está pronto... Não custa nada né? kkkk
Beijoooos e comentem,
Ju!



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Uma camada de suor se formava pegajosamente em minha testa, e por mais que eu tentasse limpar, ela insistia em reaparecer em questão de minutos.

Tirei o termômetro de debaixo do braço, e observei com horror ele marcar no visor um total de 42,4 graus de febre. Meu coração batia rápido demais, e o sangue parecia ferver em minhas veias, como lava, apesar da febre altíssima.

Obriguei-me a levantar da cama molhada pelo suor, e não pude deixar de notar que se continuasse com essa maldita febre, esse quarto empoeirado, velho e malcheiroso, poderiam ser as últimas coisas que eu veria. Eu definitivamente não poderia ter escolhido pior lugar para passar alguns dias.

A chuva lá fora já havia parado, mas não me importava realmente. Inclinei-me em direção à janela e inspirei fundo para não passar mal de vez.

A lua era facilmente vista no céu sem nuvens, mas também sem estrelas. Ela estava grande, e gorda, toda rechonchuda. Era uma imagem muito bonita.

Marchei para o banheiro, pronto para vomitar qualquer coisa que tivesse no estômago, o que no meu caso era absolutamente nada, e levantei a tampa da privada, ficando de joelhos, me segurando para não tocar em nada que não fosse necessário. A ânsia me dominava por completo, e meu estômago se retorcia. Fiquei naquela posição, meio agachada e com o rosto enfiado na privada suja que me dava mais enjoo, por pelo menos mais uns cinco minutos.

Talvez os cinco minutos mais longos de toda minha vida.

Levantei devagar sentindo que minhas pernas podiam me trair a qualquer momento, e caminhei ate a pia pequena demais em comparação ao meu corpo. Meus olhos foram instintivamente para o espelho desproporcional que se estendia em cima da pia, e arregalei os olhos.

Aquilo era eu?

No momento que meu cérebro conseguiu entender que aquele reflexo era meu, pude analisar-me melhor, e constatar que eu parecia tão ruim quanto me sentia, de fato.

Era uma versão minha doente e apagada.

Batidas na porta do quarto me despertaram do transe que eu havia ficado preso enquanto olhava para minha versão The Walking Dead no espelho, me fazendo ficar o mais atento que eu conseguia, no estado que me encontrava. Concentrei-me nos segundos de silêncio que se fizeram após a primeira batida, e outras soaram tão altas quanto a primeira. Houve um murmúrio do lado de fora, e tentei me inclinar para conseguir ouvir melhor o que as pessoas falavam.

Mais uma batida soou desta vez mais apressada, e uma voz clara chamou meu nome.

Fitch? Fitch Monet? Aqui é Cali Press, precisamos conversar.

Minha mente processou aquela informação por alguns segundos. Quem diabos era Cali Press, e por que ela queria falar comigo? Eu não conhecia nenhuma Cali Press, conhecia?

Um barulho de saltos se fez presente, e mais batidas seguiram. Elas começavam a me irritar.

A tal Cali, vendo que bater não adiantava, bufou alto, e saiu batendo os pés fortemente no piso.

Perguntei-me se ela não havia feito um buraco no chão com os sapatos.

Quando me senti seguro para seguir para o quarto fedido de hotel sem ter nenhuma surpresa - ou conversa com a tal Cali -, fui me apoiando nas paredes para ter algum suporte, e saí do banheiro, me jogando na cama novamente.

Eu até poderia estar com febre, mas o calor que sentia percorrendo meu corpo, dizia ao contrário. Limpei a testa com o lençol, e pouco me importei com o fato dele já estar ensopado.

Tudo o que eu queria naquele momento era levantar e sair pela porta, sem destino.

Será que eu não poderia ficar doente outra hora? Quando estivesse em casa, talvez?, Pensei exasperado, tentando arrumar forças para me levantar.

Quando finalmente consegui, uma dor dilacerando minhas costelas surgiu, ameaçando me jogar no chão. Ela percorria toda o meu peito, e se alojava em minhas costas. Eu sentia a necessidade de agachar no chão e dobrar as pernas, colocando os joelhos no peito em posição fetal.

Lágrimas escapavam de meus olhos doloridos, e tudo o que eu conseguia pensar era: eu não posso morrer assim. Não aqui, e não agora!

A dor foi desaparecendo aos poucos, e comecei a me sentir mais forte, e até mesmo mais estabilidade para conseguir andar pelo quarto.

Arranquei a blusa que estava usando, pela cabeça, e a joguei em qualquer lugar do quarto. Eu precisava sair.

Ar livre.

Era tudo isso que eu mais precisava naquele momento.

Decidi andar até minha mala jogada em cima da mesa que se encontrava encostada na parede escura perto da televisão tubo, e peguei outra blusa escura, de mangas curtas.

Minha pele pareceu coçar quando o tecido entrou em contato, mas ignorei. Não passava mais do que uma irritação boba, e eu não podia sair do hotel praticamente sem roupas.

O celular que jazia esquecido no bolso de trás da calça, começou a vibrar quando sai do quarto do hotel, não me importando em trancar a porta direito.

– Alô? - perguntei com a voz arrastada.

“Fitch? É você mesmo?” Jeremiah perguntou do outro lado da linha.

Soltei uma risada sarcástica, e ele percebeu que eu não estava para brincadeiras.

“Como está a mordida?” Ele perguntou.

Dei uma espiada no ombro, e observei a camiseta já começando a ficar ensopada de vermelho com o sangue que escorria da mordida ainda aberta.

– Está curando. - menti.

Seria melhor omitir a parte em que eu ardia de febre em um quarto de hotel, e vomitava de dez em dez minutos. Ele poderia ficar preocupado, e querer ir até mim.

Não! Eu não queria ninguém comigo. Era tão difícil assim de entender? Que droga!

Eu definitivamente teria de anotar em um bloco de notas todos os meus sintomas antes de sair. E o primeiro deles era oscilação de humor constante.

“Tem certeza?” Ele perguntou novamente.

Respirei fundo para tentar controlar minha súbita vontade de mandá-lo pastar, e desci os laces de escada rapidamente.

– Sim, Jeremiah, tenho certeza. - Respondi angustiado.

Ele soltou um suspiro.

“Tudo bem, se você diz, então tenho que acreditar.” Jeremiah pareceu sussurrar para si mesmo.

– Exato. - reforcei ainda mais, desnecessariamente.

Ficamos em silêncio por alguns segundos, quando a dor voltou, me fazendo arquejar.

A voz de Jeremiah no telefone grudado à minha orelha parecia longe, mesmo estando tão perto. Por vários minutos, pude ver sob a camiseta, meus músculos retesando várias vezes, e aumentando de tamanho alguns centímetros. Eles queimavam e ardiam. E o contato com a blusa não ajudava muito.

Respirando fundo para tentar controlar meus batimentos cardíacos acelerados.

A ligação já tinha caído, e eu realmente não me importava naquele momento.

Passei pela recepção, e a mulher que fazia os check-ins me lançou um olhar estranho.

– Vai sair, senhor Monet? - Ela perguntou.

Seus olhos cintilando algo que eu não conhecia muito bem.

Devolvi um sorriso como resposta, e saí pela porta, tendo meu corpo engolfado numa lufada de ar frio que relaxou meus músculos em chamas.

Cocei a nuca, e enfiei as mãos no bolso do jeans, tentando saber para onde ir.

Eu havia deixado meus óculos no quarto, mas, curiosamente, eles não estavam me fazendo a menor falta. Eu podia enxergar tudo como se os tivesse usando.

Algumas pessoas passaram por mim, e lançaram olhares que demostravam a mesma coisa: confusão. A maioria delas carregava nos olhos perguntas como: por que diabos ele está com uma camiseta ensanguentada nesse frio, do lado de fora de um hotel? Ou até: coitadinho, deve estar perdido!

Mas nenhuma delas se atrevia a olhar mais de uma vez para mim, ou parar para ver se eu não havia sido baleado ou coisa do tipo. Elas olhavam, e apressavam o passo, como se eu fosse pular no pescoço delas e arrancarem suas tripas pela garganta.

Afastei a blusa do corpo para dar uma olhada na mordida, e estremeci quando a lembrança do dia anterior veio em minha cabeça.

A luta, os tiros... Os metamorfos mortos em sua forma humana. E principalmente o olhar no rosto das pessoas ali presentes, que eram transfiguradas pelo medo. Já havia se passado uma semana do acontecido, e pelo que eu sabia, todos os caçadores tinham as mordidas praticamente curadas, e já haviam se transformado. Eu não.

Eles todos se transformaram em lobos, mas de acordo com Jeremiah – o único que ainda se preocupava em saber se eu estava vivo e bem – não era bem uma escolha. Eles só... mudavam.

Lobos. Eu não conseguiria ver Caleb como um lobo, nem Jake, Nate, Sullivan... E certamente não conseguia ver Rob como um lobo. Ele era sempre tão contido e reservado. Mas se não o conhecesse, também não conseguiria o imaginar como um caçador. Mas era exatamente isso que ele era.

Enquanto todos já curtiam se transformarem em lobos quando bem queriam, eu ainda estava na fase de vomitar tudo o que comia, tremer de frio, ter ondas de calor repentinas, oscilações de humor constantes, e febre todos os dias. Mas nenhuma de mudança. E algo nessa falta de “mudança” me alertava, fazendo-me crer na possibilidade de morrer no decorrer dos próximos dias.


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Notas finais do capítulo

Continua?



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