A arma em minhas mãos era apertada furtivamente contra minhas palmas suadas. Ela, que antes parecia leve, agora pesava vários quilos a mais, em minha concepção.

Um rugido alto fez com que todos nós virássemos o pescoço rápido. Tão rápido que jurei ouvir o barulho dos ossos estalando. Jeremiah, ao meu lado, verificou se a arma tinha balas o suficiente, e a carregou de novo.

Estávamos em algum lugar perto da Pensilvânia, num armazém vazio e - supostamente - abandonado. Oz tinha nos dito que vários metamorfos estavam perturbando a paz dos moradores e que precisávamos intervir, já que os caçadores locais há muito tempo haviam desistido de tentar controlar o grupo rebelde. O grupo consistia, no que contava nas várias semanas de observação e informações que tinham sido dadas para nós, em praticamente dez metamorfos, no total. Mais homens do que mulheres, e sem crianças. Eles haviam escolhido ter se transformado em lobos, usando esta forma para sempre. E como se isso não bastasse, eles ainda agiam como se fossem lobisomens ou coisa parecida.

Tínhamos poucos registros sobre metamorfos, e as informações que Oz havia nos passado, não eram o suficiente para sabermos quais eram as verdadeiras intenções do grupo que se instalava ali.

Sabíamos que os metamorfos em geral eram tão fortes quanto qualquer outra criatura existente, e que somente a mordida de um macho carregava o “veneno” que fazia a transformação ocorrer. A maioria das pessoas existentes trazia o gene metamorfo recessivo, ou seja, ele não era ativo até a pessoa ser mordida.

Eu carregava o gene semi-ativo, já que meu pai era um metamorfo, morto em campo e o que mais me incomodava era o fato de minhas constantes alterações de humor eram ligadas a ele. Principalmente mudanças físicas também.

Toquei minha mão, lembrando-me de ter afundado o punho na parede, e da dor que senti quando a pele se rompeu. Mas nem 24hrs depois, o machucado já estava praticamente curado e indolor. Essa era uma das coisas boas de se carregar o gene. A cicatrização de todos os tipos de machucados era um sinal de que eu podia me transformar em um metamorfo a qualquer momento.

Gritos e tiros soaram perto de nós e todos os caçadores do grupo B carregaram as armas. Como havíamos nos separado em três grupos de três pessoas cada, um deles estava procurando no segundo andar, o nosso no térreo e o C estava fazendo a ronda lá fora. Fomos correndo até a origem dos tiros, e tudo o que eu podia pensar era que finalmente iríamos acabar com toda aquela palhaçada.

Jeremiah vinha ao meu encalço, respirando do tranquilamente, como se estivéssemos em um treinamento qualquer, e não em uma missão seria que poderia terminar com feridos ou mortos.

Bufei baixo. Queria ter metade do autocontrole que ele aparentava, e talvez pelo menos assim me sentiria menos exposto.

– Psiuu...– ouvimos no silêncio que se instalara ao nosso redor.

O grupo C apareceu perto de nós, no meio daquilo tudo, e segundos depois os membros do grupo A surgiram, parecendo assustados.

– Quem usou a arma? – perguntei.

Vi um dos caçadores levantar a mão com uma hesitação fácil de ser detectada. O outro caçador, ao seu lado, deu-lhe um cutucão nas costelas, fazendo com que ele se encolhesse.

– Jake se assustou com uma coisa, e disparou a arma sem querer.

Sem querer.

Dei de ombros, e passei a prestar atenção no que acontecia a minha volta.

Todos estavam posicionados prontos para um ataque.

Meu celular começou a vibrar recebendo uma ligação, e eu atendi prontamente.

– Alô?

“Fitch Monet?” a voz masculina perguntou do outro lado da linha.

– Sim?

“Aqui quem fala é o Adam, da The Hunters Pensilvânia. Estou ligando para perguntar como estão as coisas por aí.” Ele soava cordial, mas era possível ouvir a preocupação em sua voz.

– Vamos dizer que tudo está andando como o planejado.

Quase pude ouvir Adam suspirar do que parecia ser alívio.

“Se precisarem de qualquer coisa, estamos aqui.” Ele disse.

Depois de uma despedida rápida e sem rodeios, enfiei o telefone mais uma vez no bolso da calça, e segurei a arma mais firmemente. Minhas palmas coçavam para socar alguma coisa. Já fazia certo tempo que eu não participava de missões em campo, e talvez fosse por isso que meu coração batia tão incontrolável.

Assim que voltei à posição de ataque, uma sombra escura passou correndo por nós, rápida demais para nossos meros olhos humanos reconhecerem do que se tratava.

Mas que droga...?

Meus pensamentos foram interrompidos por risadas sacanas que encheram o aposento em que estávamos, como se estivessem nos provocando, instigando a ir procurarmos mais a fundo.

Os grupos se aproximaram de onde nos encontrávamos e deduzi que todas as armas estavam carregadas, simplesmente pelo modo que eles as carregavam. As armas não eram grandes, eram do tamanho de uma .44, e potentes. Não tínhamos armas especiais para matar os metamorfos, mas sabíamos que um tiro certeiro no coração deveria adiantar, já que eles não estavam mortos.

– Fiquem de olhos bem abertos. - sussurrei.

Apertei ainda mais a arma, e ouvi os outros oito caçadores darem passos para trás, tomando distância de qualquer coisa que estivesse se escondendo nas sombras.

Um buraco relativamente grande no teto era o único tipo de iluminação que se encontrava na sala, e era justamente ela que nos impedia de ver mais profundamente na escuridão que se estendia do outro lado da sala.

Jaden, Nate, Rob, Sullivan, Jake, Caleb, Jeremiah e Greyson se posicionaram inclinados pra frente para tentar espionar mais a fundo, preparados para qualquer ataque. E apesar de saber que todos estavam - aparentemente - controlados e preparados, podia facilmente dizer quais deles borrariam as calças a qualquer instante.

Caleb segurava a arma muito apertadamente, e seus olhos se arregalavam aos pouco, tentando enxergar mais no escuro.

Risadas começaram a se fazer presentes, e os pelos de minha nuca se arrepiaram, instantaneamente.

– Quem está ai? - perguntou Nate, dando alguns passos para frente. Ele parou ao meu lado, e me lançou um sorriso malicioso, esbarrando em meu ombro, se sentido o poderoso. - Não temos medo de quem quer que seja você!

O silêncio se instalou ali, e com o canto dos olhos pude ver alguns dos guardas espiarem os outros, com hesitação transbordando pelos olhos.

Um rosnado baixo começou a surgir, transformando o aposento em um lugar aterrorizador e misterioso.

Nate fez questão de parar no meio da claridade, e seu sorriso se expandiu por todo o rosto quando ele percebeu que estava conseguindo irritar o que quer que fosse aquilo.

Caleb e Rob que estavam no grupo C junto com Nate só observavam a atitude idiota dele em relação aos metamorfos.

– Eu não tenho medo, seus miseráveis! - Nate gritou abrindo os braços, como se os tivesse chamando para uma briga que eu queria a todo custo, evitar.

Ele olhou para nós, dando as costas por alguns segundos à escuridão, e sorriu cheio de cinismo nele.

– Podem vir, caçadores! Eles são tão inofensivos quanto os espérer!

Já chega com essa palhaçada!, pensei exasperado, pronto para ir até Nate e mandá-lo para casa.

A mão de Jeremiah segurou meu ombro antes que eu pudesse fazer algum movimento em direção ao idiota mor do grupo C, e ele apontou para as sombras.

Um rugido alto e amedrontador encheu nossos ouvidos, e pude apostar que estava tão dolorido para os outros, quanto estava para mim.

Oh, droga!