A Caçadora escrita por jduarte


Capítulo 25
Jason - £


Notas iniciais do capítulo

Não tive muitos comentários no último capítulo, mas espero que gostem desse :)
Beijoooos,
Ju!



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Senti a mão de Claire em meus ombros, como se passasse segurança para mim, e ouvi uma voz bondosa suspirar em minha mente: vai ficar tudo bem. Confie em mim.

Sorri tendo um choque repentino de coragem para entrar naquele quarto e dizer o verdadeiro motivo pelo qual eu fui praticamente obrigada a abandona-lo para trás. Tive um ímpeto de balançar os ombros e estalar o pescoço, como se estivesse pronta para entrar em um ringue de luta, mas somente coloquei uma das mãos em cima da de Claire, como se agradecesse em silêncio.

– Está pronta? – ela perguntou, tão ansiosa quanto eu.

Balancei a cabeça negando, a fazendo rir de leve.

– Quer dar para trás agora? – Claire tentou novamente.

Meu corpo tensionou.

O que eu mais queria naquele momento era dar para trás. Meu corpo implorava por isso. Eu simplesmente não queria encarar os fatos de que meu irmão estava do outro lado da porta, e que ele possivelmente poderia me odiar naquele momento. Eu não podia aguentar outra rejeição. Era dolorido demais pensar que meus próprios pais tinham me rejeitado. E ainda pensar que foi pelas pessoas que me adotaram que eu tive de abandonar meu irmão mais novo, sozinho e indefeso.

Era minha culpa dele estar ali naquele hospital.

Era tudo minha culpa.

– Já cheguei até aqui, não custa nada ir até o final. – sussurrei mais para mim mesma, e expirei fortemente mais uma última vez, voltando total atenção para a porta que me tentava a bater.

Levantei a mão direita, e dei uma batida curta, ouvindo uma voz rouca e baixa dizer: entre.

Meu coração palpitou forte, e minhas palmas suaram mais. Como se fosse possível.

Essa era a hora.

Eu iria finalmente ver Jason, depois de todos estes anos.

Sangue de meu sangue.

A única pessoa que me restava neste mundo estava do outro lado da porta, esperando que eu entrasse.

Coloquei a mão na maçaneta, e girei-a, entrando no quarto de cabeça baixa, com medo.

Medo da reação de Jason.

Ouvi um arquejo vindo dele, e levantei a cabeça aos poucos. Jason estava sentado na cama com as pernas para fora, e uma enfermeira arrumava seus curativos no peito e braços. Ele ainda não tinha olhado para mim, mas pude sentir que ele já sabia que eu estava no quarto, mesmo sem me olhar.

Jason estava bem diferente do menininho – quase – inocente que eu havia deixado para trás há alguns anos. Ele era um homem formado. E muito bonito. Seu cabelo estava escuro e curto, até mais escuro do que o meu, seus olhos tinham aderido uma cor mel escuro, que cintilava na claridade da luz do quarto, e ele parecia estar bem mais alto do que eu. Ver a barba rala que agora cobria seu maxilar fazia meu estômago se revirar.

Eu o havia deixado quando ainda tinha nojo de meninas, e agora ele já tinha uma barba.

Isso me machucava, pois só assim era possível ter a certeza que tinha perdido toda a fase em que meu irmão se iniciava nas aventuras da vida. Tudo bem, ele não era tão mais novo que eu, mas eu ainda o considerava como um bebê.

Mesmo tendo seus 16 anos.

Eu tinha três anos da vida de meu irmão para recompensar, e não os deixaria escapar por nada neste mundo.

Seus olhos amendoados focalizaram em mim por alguns segundos, e seu corpo se tensionou. Dei uma olhada na porta vendo Claire havia preferido ter ficado do lado de fora, dando-nos uma privacidade que eu desconhecia.

Meus olhos se encheram de lágrimas e abracei meu corpo, tentando manter o soluço dentro do peito. A voz de Polux se fez presente novamente, dessa vez mais autoritária: vá até ele.

A enfermeira saiu me dando um sorriso amigável, mas que não alcançava seus olhos, fechando a porta atrás de si, deixando nós dois em um silêncio desconfortável.

A tensão era tão palpável que certamente poderíamos cortá-la com uma faca de pão.

– Lena? – ele perguntou com uma incerteza tocante.

Meu apelido soando em seus lábios me fez recuar um pouco, de culpa.

Ele desceu da cama, e caminhou até mim. Vi que, além de estar muito mais alto do que eu, ele também estava com o corpo muito mais desenvolvido do que eu jamais esperaria. Os músculos todos nos lugares certos, formando um corpo invejável para a maioria dos meninos de sua idade.

Tudo o que eu mais queria era correr para seus braços, e beijar seus cabelos, dizendo que nunca mais fugiria. Dizendo que eu sempre estaria ali. Mas tudo o que eu conseguia fazer era olhá-lo com pesar.

Jason pegou uma camisa branca que estava em cima de uma cadeira no canto da sala, e a jogou pelo torso cheio de bandagens, cobrindo-as. Ele vestia a camiseta e uma calça de moletom cinza que ficava quase que completamente solta na cintura, dando a ideia de que aquelas roupas não eram as dele.

– Lena... – ele sussurrou.

Uma lágrima escapou de meus olhos, e apertei a mandíbula, não querendo deixar meu desespero vir à tona.

Fechei os olhos, e mordi a boca fortemente, apertando os braços à minha volta ainda mais.

– Me desculpe. – balbuciei com os lábios ainda mordidos. Eu conseguia sentir o gosto de ferrugem na boca, mas não ligava. Não naquele momento.

Ouvi um suspiro, e braços fortes me enlaçaram a cintura.

Enterrei minha cabeça no peito de Jason e chorei tudo o que tinha para chorar. Chorei por ter perdido a fase decisiva de sua vida, por ter sido egoísta de tê-lo deixado para trás... Por ter ouvido à eles. Por ter ouvido às mentiras que eles me contavam, por simplesmente ter sido tão inútil quando mais precisava ser forte.

Era para eu ser a pessoa mais forte que ele conhecia, e no entanto, quem me amparava, era ele.

Eu me sentia tão vulnerável e pequena perto de Jason, que fazia meu corpo arder.

– Shh... – ele murmurou afundando o rosto em meus cabelos, segurando meu corpo perto do dele, protegendo-me de qualquer coisa que pudesse chegar perto de nós dois. – Está tudo bem. Eu estou aqui.

E com essas palavras, chorei mais ainda. Eu era tão fraca! Eu é que deveria estar dizendo estas palavras para ele, mas ainda assim, nada saía além das lágrimas e os infinitos pedidos de desculpa.

– Me desculpe. Me desculpe por não ser a pessoa que você gostaria que eu fosse. Que você precisava que eu fosse. Me desculpe por pensar que você estaria muito melhor sem mim. – eu dizia várias vezes, com Jason afagando meus cabelos.

Minutos se passaram até que ele finalmente me deixasse sair de seu abraço. Quando vi o estado de sua blusa, fiquei vermelha de vergonha. Ela estava molhada e cheia de rímel da noite passada.

– Me desculpe. – sussurrei mais uma vez, abaixando a cabeça.

Jason riu e arrumou a mecha de meu cabelo colocando-a atrás da orelha.

– Vamos parar de dizer “desculpe” por hoje, certo? – ele perguntou, tentando fazendo graça.

– Onde está Lilian e Oswald? – o nome deles saíram de minha boca como ácido.

Eu não queria saber onde eles estavam.

Jason coçou a cabeça.

– Viajando.

Levantei a sobrancelha.

– Desde quando? – retruquei.

Ele sorriu encabulado.

– Na verdade, eles voltam hoje.

Jason deu uma espiada no relógio de parede, e seu sorriso sumiu.

– Já devem até ter chegado.

Afaguei seu braço amorosamente.

– O que aconteceu, Jason? – tentei saber.

Ele deu de ombros.

– Não é uma boa hora para termos essa conversa. – ele murmurou indo pegar o sapato do lado da cama, e o conjunto da blusa de moletom, colocando-a com certa dificuldade por conta dos machucados.

Minha feição demonstrava pura confusão.

– Temos muito tempo ainda. – respondi cruzando os braços, indo me sentar num sofá próximo à cama.

Depois de muito relutar, e arrumar seus pertences em uma mala pequena, ele bufou e se sentou ao meu lado no sofá de couro bege, pegando minhas mãos, como se estivesse tentando fazer uma criança de cinco anos entender que fada do dente era uma invenção de seus pais.


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Notas finais do capítulo

continua?