A Caçadora escrita por jduarte


Capítulo 24
Manhattan - £


Notas iniciais do capítulo

Oii!! Bom, espero que gostem do capítulo... Tem mais um monte, e depois umas surpresinhas no caminho! kkk
Beijoooooos,
Ju!



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Foram 40 minutos de pura exaustão, onde Claire não calava a boca. Ora cantava uma música boba e conhecida que a fazia dar um de seus gritinhos peculiares, e aumentar o volume. Ela quase explodia as minhas caixas de som, que já não eram aquela coisa, e cantava no ritmo, parecendo uma taquara rachada.

A cidade ia tomando conta de nossa volta conforme nós nos aproximávamos de Manhattan. Primeiros surgiram os prédios baixos, largos e cinzas que pareciam ser utilizados para fim industrial, ou algo assim. E logo após, os prédios antigos de tijolos substituíram a paisagem morta daquele lugar, dando certa alegria à Manhattan.

A cada lugar que passávamos, as pessoas andavam apressadas de um lado para o outro, e estavam sempre correndo, o que era absurdamente perturbador. Eles nunca paravam?

Me peguei pensando em como seria morar ali. No meio daquela cacofonia toda, tendo que estar com um relógio perto para contar cada segundo que eu perderia se parasse para tomar um café em algum lugar. Tendo que contar até mesmo os minutos que poderia dormir para não me atrasar.

Esse pensamento me fez estremecer. Sim, eu havia vindo de um lugar como esse, mas isso não significava – nem em um milhão de anos – que eu gostaria de voltar para uma cidade tão agitada, e muito menos trabalhar atrás de um computador, como a maioria das pessoas faziam nos dias de hoje.

Não. Eu não fora feita para ficar presa em um escritório. Eu precisava de ação. De espaço. Liberdade.

Isso era uma coisa que a cidade grande não podia me conceber.

Depois de nos perdermos algumas vezes, e pedir informações para pessoas, conseguimos chegar ao hospital.

Senti que não pertencíamos àquele lugar assim que estacionei o carro na rua, já que não havia trazido mais do que quatrocentos dólares, e sem dúvidas, o estacionamento deveria variar entre algo nesta faixa de preço.

A fachada do prédio geométrico era inteira feita de tijolos claros, dando uma aparência de limpa ao local e via-se as inscrições claras: The Mount Sinai Medical Center no topo de um conjunto de portas de vidro automáticas que intimidavam até mesmo as pessoas mais importantes que passavam por ali.

– Uau. – ouvi as primeiras palavras de Claire que não eram berradas ao ritmo da música.

Ela havia tirado as palavras de minha boca.

“Uau” era pouco para aquilo.

Algumas pessoas – que supus serem médicos por conta do jaleco branco – saíram do prédio, e nem ao menos se importaram de nos lançar algum olhar amigável, ou para qualquer pessoa que estivesse sentada perto das portas – indo diretamente pela calçada, até o carro estacionado do outro lado da rua.

Ri de leve.

Nem os próprios médicos tinham condições de pagar pelo estacionamento ali. Ou talvez ele fosse de graça, mas a preguiça de descer até o subsolo os impedia.

Não, nada na cidade grande vêm de graça. Nem sequer um estacionamento de hospital, tentei botar em minha cabeça.

– Tem certeza de que aqui é o lugar certo? – Claire perguntou, andando até a entrada.

As portas de vidro se abriram automaticamente, e encarei o majestoso hall de entrada que nos encantava.

– Feche a boca. – disse para Claire, que a mantinha aberta.

Sem pestanejar ela fez o que eu disse, arrumando a blusa rosa desajeitadamente, como se tentasse eliminar qualquer traço mínimo de poeira invisível que pudesse ter se agarrado a sua roupa.

Fomos até um balcão e uma moça vestida com um uniforme preto engomado, com um cartão de identificação preso no pescoço nos recebeu, sorridente. Seu nome era Marie.

– Olá, bem vindas ao Hospital Mount Sinai. Posso lhes ajudar? – ela perguntou com o olhar claro e vibrante.

Marie tinha idade para ser minha mãe, e apesar de não aparentar, as pequenas rugas que se formavam nos cantos da boca e olhos a denunciava de leve. Diria que ela tinha pelo menos quarenta anos. Seus cabelos estavam alguns tons puxados para o preto, mas com mechas acinzentadas, e davam para perceber que ela não os pintava de propósito.

Sua boca com um gloss sustentava um sorriso branco e genuíno.

Fiquei desconcertada com tamanha bondade que exalava daquela mulher, e balbuciei:

– Estou aqui para ver Jason Melborne.

Ela voltou a atenção para o computador à sua frente, e seus olhos se concentraram em mim mais uma vez.

– São parentes?

Assenti debilmente.

– Preciso de seus documentos com foto. – Maria disse.

Abri a bolsa e peguei a carteira, esticando meus documentos, vendo Claire copiar meus movimentos. Maria percebeu que nossos nomes eram diferentes, e sorriu de canto.

– Vocês podem esperar um pouquinho aqui? – ela perguntou, e saiu sem nem ao menos esperar por uma resposta.

Alguns segundos se passaram, e tudo o que eu podia fazer era encarar o balcão com tampo de madeira e vidro à minha frente. Pelo jeito que Claire trocava o peso do corpo nas pernas, revezando, podia dizer que ela estava tão apreensiva quanto eu.

Mesmo que não fizesse a menor ideia do que fazíamos ali.

– Hmm... Claire? – perguntei baixo, tentando não perturbar a paz que parecia reinar ali, diferente do astral lá fora.

Ela me olhou rapidamente, seus olhos escuros preocupados.

– Preciso lhe contar porque estamos aqui...

– Já era hora. – ela sussurrou me interrompendo.

Toquei seu braço apertado contra o peito, sentindo-a relaxar um pouco, tentando fazê-la confortável.

– Eu tenho um irmão mais novo, seu nome é Jason, e ele mora – ou morava, completei em pensamento – com meus pais adotivos...

– Você é adotada? E tem um irmão? – Claire perguntou, a curiosidade cintilando em seus olhos, o rosto ruborizado.

Desviei os olhos, e baixei as mãos.

– Surpresa? – perguntei.

Ela fez um barulho estranho que parecia mais com um engasgo e assentiu.

– É a reação da maioria das pessoas, não se preocupe. – sussurrei. – Mas isso não viemos fazer uma visita de família, não se preocupe. – acalmei-a. Eu não viria visitar minha família adotiva pelo menos até que minha mágoa sumisse. - Meu irmão está aqui e preciso leva-lo em segurança para casa.

– No que ele se meteu? – ela tornou a perguntar depois de mais segundos de silêncio.

Dei de ombros.

Não sabia, e não esperava que nenhuma destas enfermeiras, ou eteceteras abrissem a boca para me falar qualquer coisa em relação ao meu irmão.

Marie voltou segurando dois cartões de visitante e nos indicou as direções até onde meu irmão estaria.

Andamos em um silêncio agradável até o elevador, onde ficamos espremidas entre uma senhora numa cadeira de rodas e um enfermeiro que lançava olhadas à Claire, que correspondia abertamente. Ela se inclinou para ele, e colocou um papelzinho no bolso de sua blusa, me fazendo rir sem som, tentando não chamar suas atenções.

As portas do elevador se abriram, e pude respirar algo que não fosse a tensão sexual que exalava de Claire e do enfermeiro bonitão.

Ela me seguiu parecendo mais animada, e sabia, com experiência o suficiente em decifrar as pessoas, que ela definitivamente não estava disponível para uma noite de garotas hoje à noite.

– Nome? Onde? E que horas? – perguntei enquanto andávamos pelo corredor do andar indicado por Marie, procurando o número da porta.

Claire sorriu ao meu lado, e colocou o cabelo para trás dramaticamente, tentando fazer uma cena. Ela pegou um cartãozinho do bolso da calça e leu em voz alta:

– Andrew Posh, vamos tomar um café depois do expediente dele, - ela olhou o relógio pequeno que carregava no punho – daqui exatamente vinte minutos. Espero que não tenha problemas... – sua frase ficou no ar.

Revirei os olhos e a empurrei de leve.

– Lógico que não! Vá se divertir. – sussurrei parando à frente de uma porta cujos números eu já vinha decorando fazia alguns minutos.

O corredor do andar 9 era tão bonito quanto o resto. Claro e arejado, com portas grandes e brancas, com o número claramente inscrito: 9341D

Olhei mais uma vez para o corredor, inspirando e expirando várias vezes antes de efetivamente balançar a cabeça tentando tirar os pensamentos ruins que insistiam em tomar conta de minha mente quase que por completo.

Mais uma olhada, e calculei quantos passos seriam necessários para chegar até o elevador, e correr até meu carro quando saísse dele. Minhas chances eram muito boas, e eu sabia que Claire não ousaria me parar, mas algo me dizia para ficar. Para cuidar de meu irmão.


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Notas finais do capítulo

Continua?



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