A Caçadora escrita por jduarte


Capítulo 18
Histórias - £


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoas, desculpem pelo atraso!
Este cap é dedicado à todos vcs que comentam em minhas histórias e elogiam a minha escrita... Vcs são os MELHORES!
E até os que não comentam, vcs ainda assim significam muito para mim!
Beijooos,
Ju!



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Ele ficou em um canto do palco que era bastante iluminado, enquanto uma luz mais clara surgia atrás de um toldo branco se estendia por detrás dele. Pouco a pouco duas sobras apareceram no toldo, grandes e imponentes.

Ouvi o homem abrir o livro e pigarrear para eliminar qualquer fiapo que pudesse estar preso em sua garganta. Quando sua voz ecoou pelo teatro, alta e clara, um arrepio percorreu por minha coluna, fazendo Edward colocar as mãos nas minhas.

– Era uma vez, - ele começou infantil, como se tivesse narrando uma história para crianças. – um homem e uma mulher. Esta mulher não estava satisfeita por ter somente um homem em sua vida, e que não pudesse dar a única coisa que ela almejava.

Na imagem refletida no toldo, a figura central – que deduzi ser uma mulher – se virou de lado, e passou as mãos por uma barriga inflada, parecendo ser de grávida. Era isso. O homem não conseguiu lhe dar um filho.

– A mulher procurou por vários dias até encontrar uma pessoa capacitada para fazer seu sonho se realizar. Um homem desconhecido, que havia vindo de algum lugar do Norte Europeu e insistia em cortejá-la toda vez que se encontravam em bailes, ou qualquer coisa do tipo.

“Mas ele não sabia no que estava se metendo. Ela era casada com um verdadeiro monstro. Ele não era humano.”

Minha respiração começou a ficar ofegante e eu não sabia o que pensar. Aquele não era o melhor assunto para se tratar em um baile, isso eu tinha certeza. E muito menos perto de caçadores como nós.

Vi Edward tirar o telefone do bolso e escrever alguma coisa rapidamente, me passando logo após.

“Hora de tirar a arma do decote?” ele tentou fazer graça.

Sem tocar no telefone para digitar nada, o bloqueei e balancei a cabeça negativamente.

Definitivamente não era a hora de tirar a arma do decote. Não ainda, pelo menos.

A imagem em cima do palco mudou para uma das imagens beijando a mão da outra, fazendo-a se abanar de leve.

– A mulher enfim teve o que quis, e o homem, desiludido por não ter seu amor somente para si, tirou sua própria vida, se tornando um dos muitos que morreram e até mataram por ela.

“Quando a criança nasceu, toda a atenção que a mulher poderia dar foi direcionada ao bebê, que cresceu recebendo tudo do bom e do melhor, sempre. O marido dela, nunca sequer desconfiou de que o menino não era dele.”

A imagem do toldo mostrava uma figura menorzinha saindo de detrás da grande, parecendo segurar em sua mão. Outra sombra, maior afagava de leve sua cabeça. A cena mudou para uma criança correndo por todo o lado.

– Quando a criança atingiu certa idade, sua mãe sentiu a necessidade de ter outro bebê para fazer-lhe companhia. E quando, mais uma vez, seu marido não lhe serviu, ela saiu à procura de outro. – sua voz se projetou mais uma vez.

Apertei a mão de Edward mais forte, sentindo uma brisa gelada passar por meu corpo, me arrepiando instantaneamente.

A imagem em cima do palco mudou para o da mesma mulher, agora sem a criança e o homem, como se estivesse saindo escondida. Por alguns segundos, o palco ficou vazio, e tudo o que se via era a luz clara que refletia no pano branco.

– Ela encontrou mais um para lhe satisfazer a vontade de ter outra criança, mas este foi esperto o suficiente para fugir. Não foi como os outros que tiraram as próprias vidas por não terem o amor desta mulher. – o homem disse folheando algumas das várias páginas.

As imagens voltaram, agora sendo quatro. Duas grandes, e duas pequenas, uma menor que a outra, indicando os dois irmãos. As duas imagens pequenas deram as mãos, o maior pegou na mão da figura da direita, e quando o menor esticou a mão para a figura da esquerda, ela recuou.

Senti uma pontada no peito desconhecida.

– Após o nascimento do segundo filho, o marido percebeu que alguma coisa estava errada, já que nenhum dos dois parecia com ele. O homem esperou os dois atingirem a maturidade – as pequenas imagens cresceram até ficarem do tamanho das outras duas, a da esquerda ligeiramente mais afastada do que as outras três. – e torceu o pescoço de sua mulher, deixando os dois meninos órfãos.

Limpei uma lágrima que escorreu involuntariamente por eu estar com os olhos tempo demais abertos, sem querer perder nenhum momento da peça que era mostrada.

Edward tinha o cenho franzido, concentrado demais para meu gosto, e apertava minha mão com tanta intensidade quanto eu, e pude sentir que ele estava fora de sua área de conforto, pois se ajeitava na cadeira de dois em dois minutos.

– Os meninos ficaram arrasados e se perguntavam o tempo todo o porquê de seu pai ter feito isso. Não sabiam da traição que ele havia descoberto, e por isso se revoltaram contra o homem, que sabia muito bem o que fazer para se livrar dos dois filhos bastardos sem nem ao menos se meter na bagunça.

As sombras de pé, agora eram três. A mulher se encontrava caída no canto, provavelmente esquecida, enquanto as outras ainda continuavam no mesmo lugar. A sombra da esquerda – mais afastada das outras duas – levantou uma das mãos e apontou na direção das sombras que estavam no meio. Elas se contorceram e caíram ao chão segurando as gargantas. A sombra da esquerda se aproximou e rondou as outras duas ainda indefesas e levantou uma delas pelo pescoço, parecendo sussurrar algo em seus ouvidos.

– Quando os dois irmãos se rebelaram contra aquele que eles pensaram ser seu pai, eles perceberam que estavam lidando com uma coisa maior do que podiam aguentar. – o homem disse devagar. – O pai imobilizou os dois sem ao menos tocar neles, e fez o mais velho assassinar o irmão que tanto amava.

Pude ver a sombra que era segura em pescoço levantar os dedos como segurasse uma arma, e “puxou” o gatilho da arma de mentira, fazendo a sombra à sua frente cair no chão com um baque alto.

– Depois de matar seu próprio irmão a comando do “pai”, ele tentou enfrentar o pai mais uma vez, que ordenou que ele se matasse.

Mais um arrepio percorreu meu corpo ao ver a imagem do irmão mais velho se virar para a plateia e mirar a “arma” para sua própria cabeça, caindo logo em seguida.

A única sombra que sobrou em pé levantou as mãos para o céu e ficou assim por vários minutos antes de sair de cena, deixando três corpos no palco.

– A maldição dos dois por serem seus bastardos foi reviverem em suas formas depois de mortos.

O telão no fundo do homem que narrava a história ficou totalmente preto, e ele foi para o centro do palco, tendo o holofote posicionado diretamente para seu rosto.

Ele havia fechado o livro, e passava os olhos curiosamente pela plateia, até que os focou em mim. Meu coração acelerou, e tive a mais pura vontade de sair correndo até meus pés doerem, e ao invés disso, me agarrei à Edward, olhando para tudo, menos para o homem de cabelos castanhos e feições comuns que insistia em olhar diretamente para meu rosto.

– Dizem que, uma vez que se comete algum dos sete pecados capitais, sendo eles os mais intoleráveis, como matar um homem, sua alma é condenada ao mais puro e verdadeiro inferno conhecido. Mas quando se morre “puro” – ele marcou aspas no ar. – sua alma é considerada pura o suficiente para entrar nos céus, merecedora do que eles chamam de paraíso.

Eu não sabia mais o que fazer, minha capacidade de respirar tinha sido reduzida pela metade. Tudo ao meu redor parecia de mentira. Como se não houvessem criaturas como gritadores, demônios, anjos, metamorfos, e muito menos sugadores.

– O irmão mais velho, por ter matado seu irmão mais novo, foi condenado ao inferno, e o mais novo, aos céus.

Aquelas palavras eu conseguia compreender. O mais velho tinha virado um demônio, e o mais novo, o que fora morto, um anjo.

– Como foram amaldiçoados à viver para sempre, voltaram a vida em suas formas inumanas.

As luzes se acenderam ao meu redor, o que causou meus olhos à demorarem a se acostumar, e o homem começou a sair do palco.

E o desfecho?

Me senti desapontada com o fato de não ter um final.

Levantei-me da cadeira, ignorando o aperto de Edward quase suplicando para eu ficar quieta, e gritei em plenos pulmões.

– O que aconteceu?

Todas as cabeças viraram para me encarar, e minhas batidas ficaram tão altas que pude senti-las em minhas orelhas. O sangue passou por todo meu corpo e se alojou em minhas bochechas, me deixando totalmente desconfortável.

– Como? – o homem retrucou alto o suficiente para eu ouvir.

– Eu perguntei o que acontece depois.

Até eu me surpreendi por ouvir minha voz tão clara.

Sua risada me fez enrubescer ainda mais, e trocar o peso de uma perna para outra.

– Pelo amor de Deus, Helena. – Edward sussurrou, tão surpreso quanto eu.

Me liberei de seu aperto e cruzei os braços.

– Essa resposta estará assim que vocês cruzarem as portas para o salão. – ele disse sorrindo logo após.

Engoli seco.

De fato, estar neste baile fora uma completa idiotice.

Oh, Fitch, esta era uma ótima hora para você dizer: “eu bem que te avisei”!, pensei exasperada.


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Notas finais do capítulo

Continua?