A Caçadora escrita por jduarte


Capítulo 17
Promessas - £


Notas iniciais do capítulo

Oi pessoas! Esse é um capítulo longo. Eu estava pensando em até dividí-lo em três partes, mas preferi deixar assim...
Espero que gostem!
Beijoooos,
Ju!



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Encarei o que parecia ser uma mansão de pedra com uma entrada nada amistosa, onde várias fileiras de carros lutavam para conseguir uma vaga mais perto da entrada. Sorte minha que eu não me preocupava com esse tipo de coisa. Meu carro estaria em segurança, longe de toda aquela confusão.

Cada vez mais pessoas chegavam, e eu já praticamente me encontrava em cima de Edward, que se remexeu incomodado com meu aperto em seu braço.

– Relaxa, – ele sussurrou se inclinando para mim. – é só uma festa.

Lógico, é só uma festa, repeti suas palavras milhares de vezes dentro de minha cabeça, como se fossem um mantra para me acalmar. O que não funcionou, já que minha mente parecia querer trabalhar à milhões de km/h.

Eu não consigo fazer isso. – murmurei.

Edward me olhou confuso e abaixou o rosto para ficar com os olhos na altura dos meus.

– Está dando para trás agora? No meio de uma missão? – ele gritou comigo. – Isso é brincadeira, Helena?

Me ajeitei novamente, e levantei o queixo.

– Esquece. Isso é bobagem minha. Vamos terminar logo com eles.

Edward sorriu feliz com a minha resposta, e me ofereceu o braço gentilmente para continuarmos andando em direção a entrada, como se nada tivesse acontecido.

Conforme nossa distância da entrada diminuía a sensação de estar sendo observada crescia dentro de meu peito. Já estávamos com as máscaras, e isso, de certa forma, me passava segurança.

– Lembre-se do que Jake disse, em hipótese alguma passe suas informações pessoais.

Assenti não prestando muita atenção em Edward vendo a imagem magnífica à minha frente.

– Meu Deus. – sussurrei.

Edward não se importou em soltar um palavrão ao ver a mesma coisa que eu.

O salão era inteiro iluminado por dois enormes lustres no teto, quase tão grandes quanto meu quarto, vários candelabros enormes eram posicionados estrategicamente em torno do salão, pelas paredes cheias de detalhes dourados que formavam desenhos até encontrarem perto dos lustres. Imagens de anjos, demônios e de santos enchiam o teto que parecia até mesmo côncavo por conta da pintura. Como se não bastasse tudo isso, as janelas tomavam praticamente todas as paredes, enfeitadas com cortinas de veludo vermelho que combinavam com pequenos bancos da mesma cor e tecido, que agora estavam ocupados por várias mulheres vestidas com algo que eu chamaria de “inapropriado”. Analisei as pinturas e percebi que, em cada uma delas, havia uma moldura dourada também, preeminente, opulenta.

– Isso é ouro? – indagou Edward, curioso demais.

Eu não sabia o que responder. Se tudo dourado naquele salão fosse ouro realmente, eu não me importaria em pegar uma parte de um dos candelabros para vender no e-Bay.

– Nem tudo o que reluz é ouro. – um dos caçadores disse perto de nós, levantando a máscara que cobria seu rosto.

O reconheci praticamente imediatamente. Seu nome era Hugh, e em seus primeiros meses na empresa, eu fora sua tutora. Não posso dizer que não foram os meses mais engraçados, porque basicamente tudo o que nós fazíamos envolvia pegadinhas e coisas do tipo.

– Hugh, quanto acha que vale um candelabro desse? – perguntei tentando fazer graça.

Ele riu de leve, e recolocou a máscara.

– Se for ouro, mais que minha casa, com certeza.

Gargalhei alto, voltando a andar, me sentindo como se estivesse em um palácio.

A maioria das mulheres estava com vestidos comportados, que iam até o pé, e sem decote. E por conta de estar entre as poucas que haviam ousado um pouco mais no comprimento e decote do vestido, me senti desconfortável por alguns minutos. Quando olhei para as pessoas ao nosso redor, percebi que todas as cabeças viraram para encarar Edward. Tudo bem, ele estava arrumado e impecável, mas não tanto para que todas as pessoas do recinto virassem para lhe encarar.

Me inclinei um pouco e sussurrei em seu ouvido.

– Por que todo mundo está olhando pra você?

Ele riu.

– Eles não estão olhando para mim, e sim para você.

Senti minhas bochechas queimarem com essa afirmação. Uma música clássica tocava ao fundo, e se misturava com todos os cochichos que enchiam o salão de vida. Hugh me encarava esperando que eu fizesse alguma coisa. Lhe mandei uma mensagem com os dedos discretamente, dizendo para nos separarmos. Quando todos já haviam se dispersado de nossa volta, uma mulher baixinha se aproximou de nós, sorrindo amigável demais. Ela era tão normal, que de fato nem cogitei ela ser uma criatura maligna.

– Boa noite! – ela nos cumprimentou ainda com o sorriso no rosto.

Sorri de volta, sabendo que pelo nervosismo que estava, provavelmente algo muito estúpido escaparia de minha boca se tentasse proferir poucas palavras.

Edward se limitou a olhá-la de cima a baixo tentando descobrir se ela era um deles ou não.

Seus olhos eram de uma cor âmbar, seus cabelos eram completamente cacheados e pretos, acabando antes do ombro. Ela trajava um vestido preto até os pés, que combinava com seus olhos, onde o busto era inteiro cravejado de brilhantes, e a saia lisa. Não era o tipo de vestido que eu usaria, mas em seu corpo ficava perfeito. Parecia ser feito sob medida para ela.

– Já estão acomodados? – ela perguntou com os olhos vagando de mim para Edward em questão de segundos.

– Como? – perguntei.

– Antes de começarmos o baile, teremos uma pequena apresentação, e depois a festa em si. – assenti. – Só gostaria de saber se vocês já estão com os números das cadeiras nas mãos.

Foi minha vez de sorrir amável.

– Não, ainda não temos os números.

Ela deu um pequeno sorriso torto, e estalou os dedos, fazendo duas meninas – de aproximadamente catorze, quinze anos – se aproximarem de nós.

– Sim, madame. – a ruiva perguntou segurando vários papéis nas pequenas mãos.

– Precisamos de um desses. – a mulher disse, arrancando dois papéis do monte que ela segurava.

A outra menina, loura, cutucou a ruiva e sussurrou algo em seu ouvido, a fazendo arregalar os olhos que lacrimejaram de leve. Ela murmurou alguma coisa sem som, e eu tentei entender, mas parecia impossível.

Minhas sobrancelhas se juntaram em confusão, e ela murmurou mais umas vezes. A mulher pigarreou chamando minha atenção, e se virou para a menina.

– Charlotte, querida, acho melhor você levar Anne ao banheiro. Ela me parece meio pálida.

Pela minha intuição, Anne era a menina que tentava me dizer algo, ruiva, enquanto sua amiga, Charlotte, era a loura que a mulher tentava fazer ajudar a Anne, que agora estava tão pálida quanto uma das velas que iluminava o salão.

Quando as meninas saíram, a mulher nos entregou os papéis, e pude ver que eram os detalhes da apresentação, além dos nossos lugares marcados. Cutuquei Edward quando ela saiu e já se encontrava à uma distância relativamente segura para não nos ouvir.

– Anne estava tentando me dizer alguma coisa.

– Ela estava pedindo ajuda. – ele sussurrou. – Ainda está com a arma escondida, certo?

– Ótimo. Vá dar uma olhada nela. – ele disse.

– Mas e você? – perguntei.

– Vou ficar esperando você na porta do banheiro.

Olhei para o lugar onde as meninas haviam ido, e agarrei a mão de Edward com nervosismo.

Eu já havia participado de muitas missões, mas todas eram com alguma criatura mística fraca e bem menor que eu. Não do meu tamanho, e muito mais forte. Eu não sabia se poderia aguentar a pressão que recaía sobre meus ombros.

Ignorando a sensação ruim da bile tentando escapar de meu estômago, segui confiante – pelo menos era o que eu tentava me convencer a parecer, uma pessoa destemida – até o banheiro. Pude ver que ele era tão luxuoso quanto o salão que eu tinha acabado de sair. Suas paredes eram de mármore escuro, combinando com as pias ovais e torneiras douradas, assim como as luzes que iluminavam o aposento que em si, não era tão grande. Talvez os espelhos grandes que cobriam parte das paredes o fizessem parecer monstruosamente enorme.

Ouvi sussurros vindos de uma cabine específica, duas vozes se misturando. Era possível ouvir a música clássica enchendo o banheiro com sua graça.

– Anne? – perguntei.

Imediatamente as vozes se calaram, me deixando confusa.

Ouvi a porta do cubículo se abrir, e as duas meninas, Charlotte e Anne saírem lá de dentro, ambas com expressões apavoradas.

– Está tudo bem?

Nenhuma das duas me respondeu, e muito menos se atreveram à olhar para minha pessoa. Elas continuaram encarando o piso escuro, como se eu não tivesse falando com elas, e assentiram de leve.

– O que você estava me dizendo? – arrisquei a lhe perguntar novamente.

Elas não pareciam inclinadas à conversa, de maneira nenhuma.

Quando Anne arriscou uma olhadela em minha direção, pude ver as bolsas roxas embaixo de seus olhos, e sua boca pálida. Ela parecia doente, prestes a morrer, eu diria.

– Pedindo ajuda. – sussurrou Anne com a voz rouca, como se ela tivesse com algo preso na garganta.

Coloquei a mão em seu queixo, e virei seu pescoço de um lado para o outro, procurando alguma evidência de que havia sido mordida. Não, demônios não deixariam a marca tão à vista dos olhos humanos.

Levantei seus braços e ela gemeu de dor quando meus dedos roçaram em seu braço esquerdo, perto da axila. Sem demorar, me inclinei na direção dela para ver melhor, e vi dois machucados inflamados e vermelhos, um deles até vertendo sangue, como se fosse recente. Os dois chegavam a parecer somente um arranhão, mas eu trabalhava com criaturas místicas, um machucado daqueles poderia parecer apenas um arranhão, mas não era.

Me agachei, e tateei a barra de seu vestido, pedindo permissão para ter uma visão melhor de suas pernas, e visualizei tudo o que eu não gostaria naquele momento, e nem naquelas circunstancias.

Uma mordida bastante vermelha e parecendo recente.

Charlotte, que estava com as mãos para trás, segurava alguma coisa.

– Você sabe quem fez isso? – perguntei para Anne.

Charlotte segurava nas mãos um kit de primeiros socorros.

– Ele faz isso quando eu não o obedeço.

– Ele?

– Drake.

Sorri amigavelmente, abaixando sua saia.

– Pode deixar, que vou ter uma conversinha com esse tal de Drake. – disse.

Seus olhos se esbugalharam.

– Pelo amor de Deus, não! Ele vai lhe matar.

Toquei seus ombros, sussurrando:

– Bem improvável, Anne.

Charlotte ouvindo isso, não se conteve e me abraçou forte.

– Por favor, nos tire daqui. Ajude-nos.

Sem reação, assenti. Senti todo o medo daquela garota passar para mim, e tremi.

– Não se preocupem. Eu vou arrumar uma maneira de salvar vocês. Só que ninguém pode saber dessa conversa, tudo bem? É um segredo nosso.

Os olhos das duas meninas à minha frente se encheram de lágrimas e brilharam esperançosos com minha promessa, e elas assentiram.

Promessa que eu faria questão de cumprir, de qualquer maneira.

Me recompus rapidamente, deixando as duas meninas dentro do banheiro, e levantei um pouco a máscara para limpar meus olhos que ficaram meramente marejados com o pensamento de uma adolescente ser abusada por um monstro como esse tal de Drake.

Quando alcancei Edward do lado de fora do banheiro, ele não fez perguntas, e eu agradeci mentalmente por isso. Era muito mais fácil lidar com isso sozinha. Eu havia feito a promessa. Não ele.

Aquilo não tinha que ser da conta dele.

– A apresentação irá começar em questão de minutos. – ele sussurrou.

Assenti ainda sem falar nada.

Andamos por todo o salão decorado em clima de festa, enquanto a banda ia diminuindo o som da música, dando espaço para o ambiente cheio de conversas e risadas. Obviamente para todos ali, aquela não era nada mais do que uma festa com um bando de velhos, que se contentavam em jogar bingo toda a noite, e precisavam relaxar de sua extenuante vida como “fazedores de nada”.

Sentia os olhares de todos os lados em minhas costas. As pessoas não poderiam ser mais discretas? Aquilo incomodava muito! Apertei ainda mais o passo, e Edward me acompanhou, se sentindo tão desconfortável quanto eu.

– Eles não tem mais o que fazer não? – perguntei baixo, sorrindo falsamente como se estivesse curtindo uma festa que, ao meu ver, tinha tudo para ser um fiasco.

Edward soltou uma risada pelo nariz, e logo se recompôs transformando suas feições em serenas novamente.

– Não é todo dia que eles vem uma beldade como eu. – se gabou.

Dei-lhe um soco de leve no ombro e ele riu mais abertamente desta vez.

Parecia que o salão não tinha fim! Algumas pessoas ainda se encontravam do lado de fora do que parecia ser um teatro grande. Uma porta grande adornada com pequenos detalhes chamava a atenção.

Nos aproximamos sem pressa do teatro, e prontamente uma mulher veio nos acompanhar aos lugares que ocuparíamos.

Estanquei no mesmo lugar, tentando fazer meus olhos se acostumarem com a pouca iluminação no cômodo. E quando minha visão se tornou clara, quase caí para trás. Estávamos dentro de um teatro imenso! Como isso era possível?

O teatro fora construído de forma oval para que todos os espectadores pudessem assistir ao que estivesse sendo exibido, sem se preocuparem em ficar com torcicolo depois. O teto era de uma cor clara, como bege, com vários detalhes redondos e linhas cheias de desenhos pequeninos que eu não podia identificar, se encontrando com um lindo lustre, também dourado, que emitia uma luz amarelada e confortável, deixando o local mais aconchegante. Forcei a vista e pude entender que alguns dos diversos desenhos eram na verdade anjos. Desenhos que representavam nada mais, nada menos do que passagens marcantes da bíblia.

Dei mais um olhar ao redor, e vi que as pessoas já estavam acomodadas nos pequenos “cubículos” que se encontravam nos andares acima de nós. Pelas paredes beges e bem cuidadas, percebi que a construção era totalmente nova, ou muito bem cuidada. Pude ver colunas que sustentavam os vários andares, também recheadas de detalhes que me escapavam por causa da pouca iluminação, e passavam a sensação de que estávamos presos dentro de um filme muito antigo. Daqueles em preto-e-branco.

Apesar do lustre estar muito bem posicionado para iluminar todo o aposento, alguns candelabros, parecidos com os que se encontravam no salão principal, estavam posicionados entre todos os cubículos, fornecendo uma melhor visão para as pessoas lá dentro. Esses pequenos lugares sobre nossas cabeças aconchegavam no máximo sete pessoas em suas cadeiras.

Me perguntei se não iriamos subir para dar uma olhada, e me preocupei ao ver Anne e Charlotte passarem por nós rapidamente, subindo as escadas, praticamente correndo, entrando em um dos cubículos.

Procurei-as imediatamente, e após alguns segundos, elas surgiram com os cabelos cobrindo as faces vermelhas e inchadas pelo choro, temerosas com algo. Gravei o lugar que elas se encontravam, e prometi à mim mesma que iria checar a segurança das duas uma vez que estivéssemos fora desse teatro.

As cadeiras eram aparentemente confortáveis, de veludo vermelho, combinando com as cortinas que se estendiam por todo o cômodo, e ainda com a cortina do palco, que estava fechada e dava a impressão de ser extremamente pesada.

Vi algumas crianças passando por nós, rindo enquanto se dirigiam para seus devidos lugares, ao lado de uma mulher jovem, que julguei ser mãe deles.

Rodei um pouco, me soltando ligeiramente de Edward para ter uma visão melhor do que se encontrava atrás de nós. Bem em cima de nossas cabeças, o lugar VIP se encontrava, com poucas cadeiras, e várias pessoas já acomodadas, bebendo de taças requintadas. Para minha total “não-surpresa” outro lustre – desta vez bem menor – se encontrava na área VIP, fazendo o lugar parecer mágico e encantador. Como se não bastasse, vários brasões tinham início no meio da grande construção que era essa “sala VIP”, e rodavam o teatro, num mesmo compasso e intervalo. Não pude reconhecer as iniciais, mas de fato iria pedir para Edward dar um jeito de tirar pelo menos uma foto para podermos estudar direito sobre a história desse lugar.

Uma das mulheres com o vestido tão indecente quanto o meu, que havíamos visto logo na entrada, também se encontrava lá. Por alguns segundos me perguntei o porquê, sentindo uma fisgada no peito, comumente conhecida como inveja, vendo um homem a pegar por trás, quase possessivamente, beijando-a no pescoço com certa volúpia. Meu olhar de nojo causou Edward a pigarrear.

– Está pronta para ir?

Corei com a pergunta. Não tinha percebido que minutos a fim haviam se passado desde que comecei a analisar o cômodo.

Resolvi não arriscar minha voz de sair completamente um fiasco e somente assenti, seguindo ele e a mulher até dois lugares no meio de um monte de gente, bem no centro da fileira localizada à direita do palco. Levantei um pouco a cabeça, encontrando os olhos de Hugh que se sentava rigidamente em uma das cadeiras, segurando a mão de sua parceira firmemente, como se ela fosse fugir à qualquer momento.

– O que foi? – perguntei a Edward assim que ele voltou sua total atenção a mim, imitando os movimentos de Hugh, segurando minha mão possessivamente.

Ele fez um sinal com as mãos que indicava que depois ele me falaria, e colocou meu cabelo atrás da orelha, beijando minha face. Fiquei confusa com esse gesto, enquanto ele somente deu de ombros.

– Ansiosa para a apresentação? – um senhor bem velho se virou para falar comigo e com Edward, sorrindo.

Sorri de volta.

– Muito. – menti confiante, apertando ainda mais a mão de Edward, que me apertou de volta, passando confiança.

Eu nunca fora muito boa em conversa fiada. Ainda mais com pessoas mais velhas e mais experientes que eu. Eles me intimidavam de certa forma.

Tudo bem, eu nunca fora amiga de verdade de ninguém. Todas as pessoas que se aproximavam de mim, sempre queriam que eu as ajeitasse com meu irmão mais velho. Na maioria das vezes mulheres... outras, nem tanto.

Percebi que o senhor e Edward me encaravam como se esperassem alguma resposta para a pergunta que o homem tinha acabado de me fazer. E o pior de tudo, eu não sabia o que ele havia perguntado.

– Desculpe, me perdi em pensamentos, pode repetir?

O senhor riu mais uma vez e balançou os dedos enrugados em minha direção e na de Edward.

– Estão juntos?

– Não. – eu disse no mesmo tempo que Edward disse:

– Sim.

O senhor riu mais uma vez, e me apressei para arrumar a confusão que havia feito.

– Na verdade estamos, mas não é uma coisa concreta ainda.

Não é uma coisa concreta ainda”? Essa era a melhor desculpa que eu podia arrumar?, pensei verdadeiramente chocada.

Pelo olhar amigável que o senhor me deu, pude ver que ele compreendera direitinho que tal assunto me incomodava.

– Mas e o senhor? Há quanto tempo está com sua esposa? – perguntei, vendo que ele carregava uma aliança dourada no dedo.

Ele olhou por alguns segundos, e ignorou minha pergunta.

Fiquei com receio de ter falado alguma besteira, e ele responder com um: ela morreu faz dez anos.

Essa seria uma das situações em que mentir não me ajudaria em nada.

– Então me diga, quantos anos tem? – ele perguntou, me fazendo juntar as sobrancelhas em confusão.

– Tenho dezenove. Faço vinte daqui alguns meses. – sussurrei vendo que a conversa ao meu redor havia perdido força. E para quebrar o gelo, perguntei de volta... – E o senhor?

O senhor deu um sorriso de canto, meio sombrio. Seus dentes brilharam afiados e eu engoli seco.

Péssima hora para piadas, Helena.

– Tenho a mesma idade que você.

E com essa frase de impacto, quase me fazendo desmaiar, o homem se virou para frente, encarando o palco que tinha as cortinas movidas calmamente, fazendo-me ter certeza de uma coisa: o senhor à nossa frente não poderia se encaixar na categoria de seres humanos que estavam nesta festa.

As luzes perderam a intensidade e brilho, e um só holofote focou no meio do palco uma vez que as cortinas já se encontravam abertas.

Da nossa distância, pude apreciar o fato de o chão ser de madeira cor de mogno, simples e sem muitos detalhes, como o resto do aposento.

O silêncio tomou conta, e pude ver um homem na casa dos trinta anos adentrar o palco. Esperei ele fazer uma cena, começar a gritar alguma coisa sobre como seu emprego era ruim, e no fim da peça ele acabar construindo um cortiço para abrigar várias pessoas excêntricas. Mas nada disso aconteceu.

O homem carregava embaixo do braço um livro pequeno bem parecido com o que Fitch havia nos dado. Estremeci ao pensar na possibilidade de ser o mesmo, mas dei de ombros. E daí que fosse o mesmo? Pelo menos me pouparia o trabalho de lê-lo de fato.


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Notas finais do capítulo

Continua??