A Caçadora escrita por jduarte


Capítulo 10
Lembranças - £


Notas iniciais do capítulo

Mais um pessoal! Espero que gostem e comentem!
Isso me faz postar capítulos mais depressa...
Beijoooos,
Ju!



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Andei pelos corredores o mais devagar possível. Não queria me encontrar com um chefe super irritado e nem com colegas de trabalho que provavelmente passariam a ser “ex-colegas”.

Ia pensando em como seria minha vida depois que tudo acabasse e eu fosse despedida. Será que me matariam? Ou pior: apagariam minha mente para que eu me esquecesse de tudo?

E nenhuma das duas possibilidades eram muito atrativas ou chamavam minha atenção.

Conforme ia me aproximando da sala de reuniões, pude sentir o ar ficando mais denso e carregado. O embrulho em meu estômago que antes era quase imperceptível, agora parecia uma pedra pesada e desconfortável. Até que para uma reunião de emergência tudo estava bem calmo. Bem mais calmo do que realmente estaria se todos estivessem trabalhando normalmente.

Respirei fundo algumas boas vezes antes de bater na porta. Quando entrei na sala todas as cabeças se viraram para olhar em minha direção, me julgando silenciosamente, como se esperassem que eu tivesse uma boa justificativa para o atraso. Eu não tinha, mas nada que uma boa e velha lorota não pudesse encobrir a verdade.

– Fiquei presa no trânsito. – menti simplesmente, não me importando em pegar um lugar nas cadeiras ao redor da mesa – apesar de já ter um lugar vago para mim –, indo me apoiar na parede, cruzando os braços.

Ouvi um pigarrear, e uma voz grossa que eu reconheci ser do superior a Fitch falar.

– Já que a senhorita Jameson fez questão de encher nossa manhã com sua presença agradabilíssima, podemos começar? – ele disse com tom de deboche.

Quando disse meu nome, senti meu rosto arder de vergonha. Tudo bem, eu não estava 100% certa, mas eu não sabia desta maldita reunião até de manhã. E para mim ela era à tarde! “Duas da tarde”, Claire havia me dito.

Se eu não tivesse vindo mais cedo, provavelmente eles ainda estariam me esperando.

Fitch deveria estar com uma vontade enorme de comer meus miolos crus naquele momento. Não somente pelo atraso, isso eu podia afirmar.

O superior à Fitch era conhecido como O Grande “Oz”. Não me pergunte porque, mas era assim que eles o chamavam. Apesar de não parecer nada com um desenho antigo, ou coisa do tipo. Ele era bem moderno na verdade. Já era um senhor, e tinha os cabelos grisalhos, olhos pequenos e escuros, nariz um pouco grande em comparação ao resto do rosto, e uma barriga que pendia para frente. “O Grande” deveria ser por conta da circunferência dela. Oz não era o tipo de cara que botava medo em alguém. Ele tinha a aparência até delicada.

Se passaria facilmente por um tio-avô meu, ou coisa parecida.

Na verdade, esta era uma das raras vezes que o víamos pela empresa – o que significava que a coisa era, de fato, muito séria. Ele havia mandando Fitch me localizar, e me contratar.

E sim, Fitch tinha sido o homem que me abordara no antigo café que eu trabalhava. E, obviamente, eu pensei que seria sequestrada por ele. Foi quando fui tirar satisfações com o cara. Não me leve à mal, mas ter um cara o tempo todo avaliando o jeito que você anda e se comporta não é algo agradável. Pelo contrário. Apesar dele ter todo o jeito meio nerd, com os óculos e um suéter que desenhava todos os seus músculos, ele ainda me assustava por ficar olhando daquele jeito. Descaradamente.

Lembro-me de ter ido até sua mesa, localizada em um canto meio escuro do café, até mesmo distante de todos os outros clientes, e que parei em sua frente com as mãos na cintura.

– O senhor gostaria de alguma coisa? – perguntei.

Ele olhara para mim e arrumou os óculos, parecendo não acompanhar meu raciocínio.

– Como?

Cruzara os braços em cima do peito para me impedir de tremer involuntariamente, mordendo o lábio inferior forte o suficiente para sentir um gosto metálico na boca.

– O senhor está aí à meia hora e ainda não pediu nada, apesar de Lucia vir lhe perguntar umas três vezes se era a água que você queria. – dei de ombros, continuando a falar. – E apesar dela estar agradando o senhor, realmente está só interessada mesmo é na grande gorjeta que deixará. Isso sem contar os elogios ao serviço espetacular. – ironizara pegando um pano da frente do avental, levantando o copo de água da mesa e limpando a marca do copo molhado.

Quando terminei de falar, ele ainda parecia completamente perdido.

– Desculpe, mas ainda não sei aonde quer chegar...

Lembro de revirar os olhos e guardar o pano.

– O que veio fazer aqui? – perguntara novamente, desta vez transferindo o peso do corpo para outra perna, quase com tédio.

O homem riu de leve, me fazendo menos desconfortável.

– Está nervosa? – ele ignorava minhas perguntas.

Lembro de sentir minhas bochechas corando à medida que mordiscava mais a boca, e eu tive certeza de que ele conseguia ver a cor avermelhada se espalhando por meu rosto. Não havia corando de frio, mas sim porque ele estava certo.

– Não. – eu tinha mentido.

O homem havia rido novamente, e o som que saiu de sua boca me aqueceu por dentro.

– Estou aqui por sua causa, na verdade. – ele dissera.

Tudo o que se passava em minha mente eram gritos internos e uma vontade de manda-lo fazer piadinha com outra pessoa, mas preferi optar pelo silêncio, já que dizer tais palavras para um desconhecido/provável sequestrador, poderiam me colocar em uma situação nada agradável.

– Isso é meio assustador. – eu tinha sussurrado sozinha, dando um passo para trás.

Ele havia me dado um sorriso de canto, mordendo os lábios rosados e cheios, mostrando que além de bonito, tinha os dentes mais brancos e retos que alguém poderia sonhar em ter.

– Depois que eu lhe oferecer minha proposta, sua vida jamais será a mesma. – e com essa frase confusa de impacto ele tinha retirado uma nota de dez dólares da carteira, juntamente com um cartão preto, enfiando-os na frente de meu avental no mesmo compartimento que guardávamos as comandas dos clientes.

Sentira minhas maçãs do rosto esquentarem ainda mais – como se aquilo fosse possível – e o homem sorrira de leve, parecendo satisfeito. Ele tinha se levantado e agora se inclinava em minha direção.

– Se quiser saber qual é a proposta de emprego melhor, - ele varrera os olhos pelo local que estávamos fazendo uma careta e se voltara para mim. – pode me ligar.

E antes que saísse completamente da mesa ficou bem perto de mim, e agachou um pouco, já que era absurdamente mais alto do que eu, sussurrando em meu ouvido em um tom de divertimento:

– Desculpe por não deixar uma gorjeta grande, mas pode dizer para Lucia que a água estava ótima.

E aquela havia sido a primeira vez que Fitch e eu tínhamos trocado algumas palavras. Dois dias depois e eu era uma caçadora em treinamento.

Percorri a sala com os olhos, procurando por rostos conhecidos que estariam com a mesma expressão que eu – de puro terror –, mas tudo o que achei foi uma Claire com o semblante pacífico e bem diferente do que aparentava estar no telefone, e um Fitch que me fuzilava com os olhos.

Se um olhar pudesse matar, eu certamente já estaria enterrada.

Lancei-o um sorriso, e ele ficou encabulado de ser pego olhando para minha pessoa, se virando para Oz rápido demais. Isso teria me feito rir, se ele não estivesse irritado comigo. Por uma besteira.

E por culpa dele, ainda.


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Notas finais do capítulo

continua?