Destroyed escrita por Debby Valdez


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Exato um mês depois! Bem, o que me inspirou mais foi passar o dia escutando Imagina Dragons. Quem estiver interessado, se eu fosse escolher uma trilha sonora para essa fic, seria Amsterdam - Imagine Dragons.
Sem mais delongas, o capítulo 4 de Destroyed.



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Beetee e Wiress passam por mim sem focar em meus olhos. Até mesmo Liz parece ter bom senso e vai grasnar nos ouvidos dos mentores. A porta fecha sem fazer barulho e ouço o toc-toc dos saltos da capitólia. Pergunto-me com que tipo de coisas os capitólios se preocupam. Pra eles, do que adianta viver? Ao rever toda a sala, chego á conclusão que, sinceramente, as vidas dispensáveis são as deles.

Distancio-me da janela e me apoio na parede do trem, deixando o metal frio roubar todo meu calor. Olho para o outro lado e vejo Jeremy se sentar numa poltrona de veludo vermelha. Ele tem um olhar perdido e estrala os dedos nervosamente. Não sei se é a hora de falar alguma coisa, então apenas relaxo e corro os olhos pela estúpida sala do trem.

Tudo tem a aparência de ser caro, talvez porque me acostumei com a aparência do barato. As paredes são em tons pastéis, como bege e nude, com detalhes de arabescos pelas bordas da parede e um rodapé de madeira marrom. Uma coisa bem clássica, mas foi o suficiente para me deixar momentaneamente desnorteada. Eu sou acostumada com uma parede com papel de parede desbotado e já descolando, com as bordas das paredes inchadas e onde o piso range. Se eu quisesse operar alguém no chão desse trem, eu poderia.

Escorrego lentamente até sentar no chão e finjo ajeitar a barra do meu vestido, ponho a olhar o suave trançado das linhas que formam o tecido enquanto minha mente vaga mais longe.

Minha despedida foi tão pobre. Agora consigo imaginar um milhão de coisas para dizer aos meus amigos e ao meu pai. Outro milhão para dizer á Alexy. Mas seja lá o que aconteceu comigo, empatou todas as minhas ideias de irem á minha boca. Agora me sinto incompleta. No tanto que eu falo que odeio nostalgia, todos que deixei no distrito ainda estão presos em meu peito e não consigo abrir a portinha da gaiola.

Engulo o sentimento e transfiro para o meu cérebro a ordem de me levantar. Nada. Fitei o nada pensado “Uma hora vou ter que sair daqui”. Mas nada acontece. Vejo árvores desfiguradas ao passar pela janela. Um ruído animalesco. Um murmúrio indecifrável.

Saio do meu estado vegetativo com a voz estranha de Liz Angie nos chamando para comer. Penso que não comi nada mais que uma maçã e um sanduíche de ovo hoje. Decido comer. “Agora eu me levanto”. Nada. Jeremy vem e me puxa pra cima, mas não foca os olhos em mim, tampouco eu o olho.

Ando de cabeça baixa até a cozinha, alisando os cabelos da minha nuca. Entro no vagão restaurante e me sento sem olhar para quem estaria na mesa. Beetee e Wiress tentavam convencer Liz a ser sua cobaia para um chip do tamanho de pó de purpurina e poderia armazenar horas e horas de música. Olho para o que põe em minha frente. É uma sopa escura e vejo que todos a tomam distraidamente. Menos Jeremy que apenas mexe a sopa com a colher, mas não a leva á boca.

Resolvo experimentar e sou obrigada a admitir. A sopa era deliciosa. Em casa eu brincaria com o Alexy e beberia direto do prato... Deixo a ideia de lado e vou bebericando com a colher de pouquinho em pouquinho. Nem chego a prestar atenção nos pratos de comida que vem e vão. Carne assada, arroz temperado... Não sei nomear nenhum dos pratos, muito menos a prestar atenção quando o dizem. Apenas como um pouco de cada. Jeremy continua a mexer a sopa e eventualmente a toma.

Quando um imenso bolo com cobertura colorida chega, vejo que é o cúmulo e me levanto, limpo a boca e saio me despedindo com um aceno de mão. Liz parece ofendida, mas não me importo. Estou a ponto de ir para a Arena e morrer. Não vou me importar com os caprichos de uma capitólia. Sigo em frente pelos vagões até achar um funcionário que me diz onde fica o meu quarto. Entro e vou direto para o banheiro.

Olho abismada pelo tanto de botões que existem dentro do chuveiro. Vou até lá e abaixo um controle pequeno. A água cai conforme eu abaixo o botão e o deixo no meio do caminho. Tiro o vestido e vou para debaixo da ducha. Quem dera banho lavasse a alma. Apenas fico parada e deixo a água tentar me lavar de toda a sujeira que tenho guardado, mesmo que não possa.

Levanto a mão tento alcançar algum botão. Aperto qualquer um e no lugar de água, saí um líquido refrescante que faz meu corpo todo ficar ardido. Alguma coisa a ver com menta. Aperto o botão novamente e volta a ser água. Saio do banheiro com frio, mas um jato no tapete me seca por completo. A sensação horrível. Vejo uma toalha felpuda, mas ao toca-la, um choque percorre meu corpo e tiro a mão em desespero. Olho no espelho e vejo que meu cabelo está sedoso e caí atrás de mim como ceda dourada. Pego o vestido de minha mãe e as sandálias, colocando-as em cima da cama.

Olho nas gavetas e pego uma calça azul escuro, um blusão cinza e uma sandália azul. Coloco o meu cordão de águia-real no pescoço e me jogo na cama enterrando o rosto no vestido que ainda carrega o cheiro de minha mãe. Inspiro forte e o cheiro me acalma.

Eu sou uma idiota. Estou me agarrando á um mero vestido.

Não havia percebido o quanto estava cansada e desgastada. Acabo adormecendo com a cabeça apoiada no vestido, deixando uma centelha de nostalgia esquentar meu coração.

Acordo com a cabeça em um travesseiro de verdade. Um cobertor me cobre da cintura pra baixo, mas ainda sinto o frio da menta. O vestido estava pendurado na maçaneta da porta do banheiro e levanto-me devagar. Esfrego os olhos e me sento na cama. Quase caio dela ao perceber que a porta estava aberta e Jeremy olhava pela janela, escorado na borda. Ele estava bem melhor do que ontem, com uma blusa verde e calças jeans normais. Obviamente tinha tomado um banho, mas não tinha encontrado o “Desembaraçador do Demônio” como eu encontrei.

Escorrego para fora das cobertas e vou até o seu lado.

– Oi... – Falei focando numa árvore enorme que ia até o céu.

– Você acordou. Estava que tinha tido um traumatismo craniano por causa do chuveiro.

– Melhor que morrer eletrocutada pelo desembaraçador de cabelos.

– Eles têm isso?

– Nem queira saber.

– Queria saber como esses capitólios sobreviveram tanto tempo...

– Acho que realmente é um povo ruim de morrer.

Acabamos por mudar de assunto tantas vezes que começamos a ver as luzes da capital no fim da tarde e pra mim, nem meia hora havia passado. Um aviso que já estávamos chegando foi dado e eu simplesmente queria poder construir um dispositivo que pudesse congelar esse momento. Sentar nesse trem com chuveiros assassinos para sempre e conversar coisas absurdas com meu melhor amigo.


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Notas finais do capítulo

Se gostaram, comentem, favoritem, enfim, façam uma autora feliz! :D