Aprendendo a Amar escrita por Cahxx


Capítulo 3
Rotina




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5:00am... 5:00am...

O despertador piscava e emitia bipes constantes. Sem nem levantar a cabeça, só estendeu a mão e desligou-o. Gostava de acordar cedo... Isso o permitia aproveitar ainda mais o dia, além, é claro, de evitar encontros inoportunos.

Gray sentou-se na cama e esfregou o rosto. Odiava a forma como acordava: sentia-se um lixo com o cabelo bagunçado, o rosto dolorido e a cabeça pesada. Estalou as costas e massageou o pescoço. Criou coragem e levantou da cama.

Ele apenas lavou o rosto e escovou os dentes. Vestiu a primeira camiseta preta que encontrou, uma bermuda qualquer, calçou os tênis, pôs os fones de ouvidos e saiu para o nascer do dia. Ainda estava tudo escuro, mas pequenos feixes de luz já podiam ser vistos no horizonte. O parque estava quase vazio, se não fosse pelas poucas pessoas que assim como ele, corriam pela pista.

– Olá menino! – uma voz fina chamou por Gray e mesmo com os fones tocando AC/DC ele pôde ouvir.

– Bom dia, dona Diva – ele beijou a mão da pequenina senhora – Olá Teddy! – e ele fez cafuné no gigante cão que a idosa carregava na guia.

– Está um bom dia pra correr.

– Está maravilhoso – e ele começou a se alongar.

– É bom, meu filho. É bom a gente aproveitar o corpo enquanto é jovem porque depois só passa vontade.

– Que isso, dona Diva! A senhora tá inteirona! Estava até pensando em convidá-la pra fazer par comigo na noite de Jazz, no Ribeirão.

A senhora riu:

– Eu vou indo dona Diva.

– Vai lá meu filho. E mande um abraço pra todo mundo.

– Pode deixar!

Gray voltou a correr. Já eram quase seis horas quando ele voltou pra casa:

– Já voltou Gay? – um rapaz de cabelos prateados perguntou. Estava despenteado, descalço e sem camisa.

– Já disse pra não me chamar assim, Lyon!

– Tá, tá. Tua mina ligou.

– Quem? A Juvia? Mas já essa hora? Aquela garota não me deixa em paz, saco!

Lyon deu de ombros:

– O pai e a mãe também ligaram.

– É?

– Disseram que vão chegar de viagem esse final de semana. Querem ver a maninha lá... A menina que virou presidente com você.

– A Lucy?

– Você sabe o nome dela...? – Lyon perguntou maliciosamente.

– Claro que sei idiota! Ela é presidente da Empresa!

– Tá, tá. Ela é bonita?

– Hunf – Gray ignorou o irmão e foi subir as escadas da mansão.

– Me ajeita com ela?! Sabe que eu tô carente já faz meses cara! Se você não fizer isso por mim eu pego a Juviana!

– Vai se ferrar! – Gray gritou já no primeiro andar. Tomou banho o mais rápido que pode e se arrumou o mais cuidadoso que conseguiu. Nada podia ficar fora do lugar. Quando decidiu que estava pronto tornou a descer as escadas, encontrando uma senhora roliça de bochechas salientes.

– Menino Gray! Não vai comer nada?

– Perdão Matilde! É que eu tô atrasado!

– Você sempre diz isso! Mas eu sei que já está cansado do meu bolo de cenoura.

– Que isso! Seu bolo de cenoura é o melhor do mundo! – e deu um beijo na bochecha rosada. A enorme garagem estava lotada de carros. Apenas o do seu pai estava ausente. Mas seu Audi, o Camaro de seu irmão, e a Mercedes de sua mãe continuavam ocupando espaço.

Entrou no veículo e saiu para o dia já claro.

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Gray chegou ao prédio da empresa já era sete e dez. Estava atrasado. Cumprimentou a todos na entrada; a vantagem de chegar cedo era que encontrava pouquíssimas pessoas.

Sua sala estava quase como no dia anterior, se não fosse o fato de um livro estar virado na diagonal em cima da mesa:

– Juvia... – ele soltou o nome da noiva com impaciência e arrumou o livro na vertical, tendo a certeza de que estava suficientemente reto. As cortinas estavam fechadas, mas deixavam o ambiente ainda sim claro. Decidiu que não era bom abrir: o sol estava forte demais. Se preparou para sentar e começar o dia, mas uma lembrança o fez mudar de ideia.

“Vou passar a noite aqui...”. A voz da co-presidente ecoou em sua mente. Ele olhou em direção a porta que dividia sua sala da dela e decidiu conferir se ela falava sério.

Bateu levemente e não obteve resposta. Pensou se deveria ou não fazer isso, mas por fim decidiu entrar. Era a primeira vez que ele reparava o quanto aquela sala estava diferente.

Antes Gray dividia a presidência com seu tio Abraham, e sempre achou que aquele escritório fosse escuro demais. Agora havia mudado drasticamente: todos os móveis eram de cores claras; havia inúmeras plantas espalhadas pela sala; quadros de cachorros e o mais surpreendente: bonecos de super-heróis.

Ele achou engraçado; nunca imaginou que uma menina pudesse gostar dessas coisas. Uma estante estava repleta de livros e com uma rápida olhada ele notou que 60% dos exemplares eram sobre histórias de fantasias. Ele conhecia bem o tipo de pessoa que gostava dessas coisas... Um nerd fanboy. Ou no caso dela: uma nerd fangirl.

E por falar nela, lá estava: debruçada em cima da mesa, a mesma roupa do dia anterior. Ele achou melhor deixa-la e voltar a suas tarefas, mas mudou de ideia, seria melhor ajuda-la. Com cuidado ele levantou sua cabeça, rindo pelo nariz ao reparar que vários papéis ficaram grudados em seu rosto. A bochecha estava marcada com o desenho da mesa.

Ele a pegou no colo e a deitou em cima do sofá. Apagou a luz da sala e foi saindo. Deu meia volta e pegou um dos papéis em cima da mesa e enfim saiu.

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Lucy acordou sentindo seu corpo dolorido. Nunca mais iria inventar de dormir sentada. Foi quando reparou que estava deitada no sofá:

“Ué? Não me lembro de ter vindo pra cá... Será que sou sonambula”? E pensando isso se levantou e se espreguiçou. No mesmo instante, uma Erza faladeira entrou na sala:

– Recebi sua mensagem ontem, Lucy. Aqui está sua roupa.

– Obrigada... Mas eu preciso tomar um banho...

– No primeiro andar tem banheiros com chuveiros. Pode ir e ficar a vontade.

Lucy conseguiu ir até o banheiro sem ver ninguém. Como era muito cedo, a empresa estava vazia. Chegou no local que também estava deserto. Era bastante confortável, parecia um vestiário de time de futebol.

Após um rápido banho, ela pôs a roupa que Erza havia pego em sua casa: era um vestidinho tubinho azul que ia até metade da coxa e marcava bem sua cintura fina. Lucy sentiu-se revoltada... Não teria coragem de sair assim. Mas não havia outro jeito; se desse sorte, poderia voltar até sua sala sem ser vista.

http://www.ritaprado.com.br/blog/wp-content/uploads/2011/03/Vestido-Chamois-Final.jpg

Saiu do banheiro dando de cara com dezenas de pessoas que passavam apressadas para todos os lados. Não havia outro jeito. Respirou fundo e foi seguindo até o elevador, andando meio torto porque os sapatos trazidos por Erza eram altos demais.

– Bom dia senhorita Heartfilia...

– Bom dia...

– Olá senhorita Heartfilia!

– Olá...

– Como vai senhorita Heartfilia?

– Bem, e você...?

E não faltou uma única pessoa que a deixasse de cumprimentar. E mais! Não faltou uma única pessoa, homem ou mulher, que não deixasse de olhá-la da cabeça aos pés, reparando de forma assombrada o quanto suas pernas eram albinas.

Avistou o elevador se fechando e gritou pedindo que segurassem. Ela tentou correr para alcança-lo e quando finalmente estava na porta, tropeçou se esbarrando em alguém:

– Opa!

Lucy olhou para o sujeito que a segurara a tempo e viu que era Gray. Sentiu seu perfume forte exalando do terno macio e sentiu mais forte ainda seu rosto esquentar:

– Será que vou ter sempre que te segurar? – e Gray sorriu. Lucy não soube o que responder; apenas se ergueu, ajeitou o vestido e os cabelos. Levava em média um minuto para se subir até o andar de ambos, mas para a menina parecia levar uma hora.

Lucy sentiu durante o percurso inteiro que Gray a olhava de canto. Com toda a certeza ele reparara em suas pernas tortas e transparentes e isso a deixou mais chateada ainda. Foi a primeira a sair, desaparecendo em alta velocidade para dentro de sua sala.

– Erza!!!

– Nem vem reclamar Lucy! Já basta eu ter tido o trabalho de acordar mais cedo, passar na sua casa e escolher uma roupa pra você... Você não tem direito de reclamar!

– Hunf... Tem pelo menos algum casaco pra eu me cobrir...? E um perfume...

A ruiva fez uma careta:

– Hum... Esqueci no carro...

– Eu não vou buscar! Não sei andar de salto, Erza! Fico cambaleando pra lá e pra cá...

– Desculpe senhorita-não-ligo-pra-aparência, mas você pode entrar e sair a hora que quiser. Eu tenho um horário a cumprir.

A ruiva saiu da sala e a outra foi atrás:

– Me dá a chave do carro... Eu vou buscar...

Lucy entrou no elevador não reparando no quanto a recepção estava lotada, quer dizer... Além delas duas, também estavam presentes Gray, Lisanna e um outro homem. Erza reparou no olhar que o jovem presidente lançou à loira e sorriu para ele:

– Eu vi essa Gray!

– O que?

– Eu vi o jeito que você olhou pra Lucy... Deixa só a Juvia saber disso!

– Do que está falando, Erza?! Não enche o saco! – e entrou em sua sala. O homem o seguiu e Lisanna retribuiu o sorriso dela.

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Gray sentou em sua mesa sentindo uma veia latejar na testa. Alargou o colarinho e abaixou a temperatura do ar condicionado:

– Eh cara... Erza não foi a única a reparar o jeito que você olhou pra ela... – o homem disse sentando-se.

– Que olhar?! Que olhar que eu dei?! – o moreno perguntou revoltado.

– Você secou a menina como se ela tivesse no cio! – e ele riu.

– Ah, deixa de ser nojento Gajeel!

– Foi você que perguntou... Putz, não quero nem ver quando o Loki ver essa daí... Ele não deixa escapar uma!

– Ele já viu – Gray disse começando a ligar seu notebook – Vi ele tentando agarrá-la ontem...

– Sério?! E você não fez nada?!

– Eu interrompi... Mas também, eu não deveria ter feito nada! Isso é um problema dela!

– Sei não cara... Pelo que a Erza me contou e eu reparei, ela é do tipo tímida, coitadinha e santinha... A menina só tem vinte anos e já tem que aturar ser presidente de uma das maiores empresas da cidade e aguentar um tarado tentando agarrá-la em seu próprio local de trabalho. Ela deve estar apavorada...

– Você andou reparando demais nela... – Gray lhe lançou um olhar de canto.

– Ah, eu concordo numa coisa com Loki: também não deixaria escapar – e ao dizer isso, ele cruzou os braços atrás da cabeça e apoiou as pernas em cima da mesa. Gray sentiu a raiva subir e empurrou as pernas do colega.

– Olha como fala Gajeel!

– Iiih... Que isso...? Tá revoltando por quê? Tá interessado nela também, é?

– Não diga bobagens! Eu tenho uma noiva!

– Então é o que?

– Nada! É só que ela é a presidente, seu mal educado! Deveria respeitá-la.

– Hu! Não to vendo ninguém se ofendendo aqui além de você...

E virou a cara.

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Lucy já estava chegando ao carro quando avistou alguém parado ao lado do veículo. Apesar de sua visão ser ruim de longe na ausência de óculos, ela conseguiu identificar a silhueta: era Loki.

– Ah não! Ele não... O que ele está fazendo ali? Como ele sabia que eu estava vindo pra cá?! Calma Lucy... Ele deve estar esperando alguma vadia pra se atracar... Está de dia... Ele não poderá tentar nada... Vá até ele! Mostre que você é uma mulher de fibra e que não é qualquer idiota que pode intimidá-la!

Ela cerrou os punhos e aproximou-se:

– Ora, ora... Senhora Presidente... Como é bom vê-la já pela manhã... Torna o dia tão mais agradável... Já te falaram que está linda?

– Não quero conversa com você Loki... Seja lá o que você estiver fazendo aqui, é melhor ir para outro lugar!

– Não dá pra espera-la em outro lugar... Só se for em sua sala... Me autoriza a entrar lá?

– Deixa de gracinhas!

– Deixa de ser difícil!

Loki a empurrou contra o carro enquanto Lucy se debatia chocada: “Em plena luz do dia”. Foi quando uma voz masculina ecoou ao lado deles:

– Deixe ela em paz, Loki!

– Ah não... De novo não...

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Notas finais do capítulo

Fiquei tão feliz com os comentários que vou postar mais um capítulo em seguida! xx