Caso Miranda escrita por Caroline Marinho


Capítulo 4
Assassina


Notas iniciais do capítulo

Já era tarde. Dali em diante, Miranda perderia completamente o pudor. Talvez somente seu amor por Leo a impediria de ir longe demais. Ou quase isso...



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- O-o que aconteceu? - Jasmin perguntou, apertando os olhos pra enxergar melhor.

Olhou pra baixo e percebeu que estava amarrada em uma cadeira. De costas pra ela, em outra cadeira estava Vanessa. Amarrei as duas juntas. Por mim haviam quatro caras ali. Duas de Jasmin, e duas de Vanessa.

As duas mereciam sofrimento lento, mas isso dependeria delas.

- Eu recomendo que não gritem. Porque se gritarem, morrem rapidinho.

Vanessa tinha acordado primeiro. Já tinha entendido o que estava acontecendo.

Sempre achei que Vanessa era mais bonita que Jasmin. Ela era exótica. Tinha o cabelo comprido, cacheado e preto. Os olhos eram castanhos, super claros. Os lábios estavam sempre meio avermelhados e ela tinha um corpo bem avantajado. Mas pra se entrosar com Jasmin, ela escondia um pouco a beleza.

Confesso que até gostava um pouco dela até descobrir que ela estava ficando com Leo.

- Miranda, que tipo de brincadeira é essa? - Jasmin perguntou.

- Sabe, você estava certa - eu disse, com desprezo - Fui eu que escrevi aquilo no banheiro. E é verdade, vocês estão mortas. Não agora, mas em breve estarão.

- Mas... Mas o que é que nós fizemos pra você?

- Vamos deixar o melhor pro final e começar por Vanessa - eu disse, animada, girando a faca afiada nas mãos - Ela estava ficando com Leo, sabia?

Jasmin pareceu surpresa, não tanto quanto eu esperava.

- Jasmin, eu juro que posso explicar isso...

- Cala a boca, vadia ridícula! - gritei, depois tomei a postura anterior - Enquanto você não estava por perto, ela se aproveitava da sua burrice. Daí, também se aproveitava do seu namorado, não é lindo?

- Ele me amava - Vanessa disse, soluçando.

- O quê? - perguntei, debochada.

Ele não a amava. Ele era meu, logo, enquanto não me amasse, simplesmente não amaria ninguém. Era essa a regra.

- Ele me amava. É verdade, eu juro. Ele me contou, há duas semanas, que o pai dele induziu ele a namorar Jasmin, por questão de negócios entre ele e o pai dela. Assim, com os dois namorando, o contato seria mais fácil. Mas ele disse que sempre teve interesse por mim. - ela fungou, e limpou um pouco das lágrimas no ombro - Semana passada ele confessou. Confessou que me amava.

Senti uma lágrima cair do meu rosto.

- Ele disse... Disse que te amava?

Vanessa mexeu a cabeça em sinal positivo.

- Ele também disse... Que você o fazia feliz?

- Sim. Foi por isso que ele não se conteve, por isso ele estava comigo, mesmo sabendo que o pai dele queria que ele ficasse com Jasmin. Jasmin, me desculpe...

- Amiga - Jasmin disse - Está tudo bem. Você devia ter me contado, claro. Mas eu.. Eu não o amava...

- O que nos leva a você - interrompi aquele sentimentalismo patético - Você, Jasmin, manteve uma relação com Leo sem saber que era uma farsa, e ainda assim, o traía com um outro cara, quando podia simplesmente terminar com ele.

- Eu...

- Poupe-me das justificativas. Você não pode se defender porque não passou de uma vadia. Isso mesmo, uma vadia. Você, diferente de sua amiguinha, ao menos tentou fazê-lo feliz, ao menos tentou fazer com que ele te amasse.

- Miranda...

- Mais uma palavra e eu corto a sua garganta, sua puta!

Ela desabou a chorar. Tremia por inteiro.

- Eu sempre o amei, sabia? Desde o dia em que o vi pela primeira vez. Ele tava usando aquela camiseta xadrez azul, jeans preto e all star. O cabelo dele estava mais comprido. Ele não sorria tanto quanto agora... A primeira vez que ele me disse algo foi: "com licença".- eu sorri - É tão educado,né? Normalmente as pessoas não me pedem licença, apenas passam por mim, como se eu não estivesse ali. Acho que foi por isso que me apaixonei por ele - comecei a chorar novamente - porque ele me notou. E até então as pessoas não me notavam. Ninguém nunca me notou. E eu me senti visível, sabe? Senti que alguém poderia olhar pra mim - então olhei para Vanessa - Mas ele olhou pra você. Não pra mim. Ele te amou. Não a mim. Sabe o quanto isso dói? Saber que quem eu amo simplesmente não me ama? E que, diferente do que eu esperava, as pessoas não me notam.

O silêncio se fez. Sentei no chão e escondi o rosto com as mãos e caí no choro.

Tudo em que acreditei era mentira. Desde que nasci as pessoas me deixavam, me enganavam. Eu nunca tive amor. Por que ninguém, ninguém poderia me amar? Por que eu tinha que ser rejeitada por todos aqueles aos quais eu sempre achei que merecia um pouquinho de afeto? Eu não poderia ser um pouquinho só, um pouquinho notada por alguém?

- Miranda - Vanessa chamou - Olha... Eu te acho linda. Sem brincadeiras. Você tem um jeitinho de menina inocente apesar de ser meio... Bem, você sabe. E você tem esses olhos verdes e lindos, um sorriso doce e os cabelos tão lindos... Só que você esconde tudo isso. Não é que você não é notada... É que você não deixa as pessoas te notarem.

Jasmin começou a rir.

- Do que você está rindo, sua puta?

- Nada, me desculpe...

Levantei-me e cheguei perto dela e aproximei a faca do pescoço dela.

- Foi crescendo com um crápula feito meu pai que aprendi a lidar com gente como você, sua vagabunda. Sei quando está debochando, blefando ou fazendo alguém de idiota. Mas a mim você não engana.

- Você é louca - Jasmin disse,

Aproximei mais a faca.

- SOCORR...

Era tarde para ela gritar. Era tarde pra ela fazer qualquer coisa. Porque nessa parte da história, Jasmin está morta. Degolada.

O sangue dela jorrava, era repugnante. Vanessa estava histérica, não parava de chorar.

Os olhos de Jasmin se mantiveram abertos após sua morte. Porém não havia pulso, nem mesmo respiração. Havia um traço perfeito abrindo sua garganta e escorria sangue até o chão, fazendo uma enorme poça.

Eu não sabia o que acontecia comigo. Mas sabia que me faltava remorso. E muito menos compaixão por Jasmin.

Porém, nessa hora um só sentimento dentro de mim ainda era saudável. Meu amor por Leo. E o amor por ele era tão grande que o que me importava era vê-lo feliz. Mesmo sabendo que tal felicidade não viesse de mim, eu me conformava.

Então me vi soltando a corda. Me vi deixando Vanessa livre para amá-lo. Por que ele a amava. Não a mim. E já que eu havia cortado o verdadeiro mal pela raiz (ou pela garganta), o principal agora era deixá-los livres.

- Se contar pra alguém que a matei, eu vou atrás de você. Só me prometa uma coisa: prometa que vai amá-lo e fazê-lo feliz enquanto puder - eu disse.

- Eu prometo - ela disse, chorando.

Então correu o mais rápido que pôde pra longe de mim.

Minutos depois, ouvi Victor chegar.

Carreguei o corpo o mais rápido que pude até o banheiro e limpei a poça de sangue do chão.

- Cheguei, Miranda. Tava checando a correspondência, acredita que a conta de luz tá mais cara? Como é que isso acontece, hein?

- Deve que é porque você assiste TV demais, né, Victor?

- Ah, qual é!

Ele se sentou no sofá e ligou a TV, o que era típico.

Olhei para trás.

Droga. O banheiro ficava de frente pro sofá da sala, e começava a brotar sangue por debaixo da porta. Isso era um problema.

- Vi... Victor? - eu chamei, fiquei brava por ter gaguejado, mas ele não tinha reparado.

- Pois não?

- Certeza que conferiu toda a correspondência?

- Sim, senhora.

Fiquei em silêncio, depois fingi excitação.

- É impressão minha ou você está mais forte?

Me sentei ao lado dele, passando a mão em seu bíceps.

Ele sorriu.

- Ah, deve ser o vídeo game...

- Ah, sei lá, Victor. Você parece... Mais bonito...

Ele se virou para mim.

- Sério?

- Aham. Normalmente eu não repararia em você, mas você anda ficando muito atraente.

- Ah, que isso, Miranda...

- De verdade! Você, com toda essa inteligência e beleza, parece perfeito pra mim...

Eu me aproximei mais dele, e o beijei. No começo só um selinho, já era distração o suficiente, mas ele quis mais e me puxou contra ele, apertando minha cintura.

Pra um alienado em televisão, ele beijava muito bem...

Nos beijamos mais, e mais, e quando eu já estava sem fôlego e a poça de sangue já estava bem visível, olhei nos olhos dele e disse em um tom pra deixar bem clara a ambiguidade:

- Quer ver a decoração do meu quarto, maninho?


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Notas finais do capítulo

Favor, não me xinguem ou me chamem de promíscua ou algo do tipo. A culpa não é minha se a criatividade surge. Olhe pelo lado bom: Você não pode chamar a minha história de clichê. Certo?