Caso Miranda escrita por Caroline Marinho


Capítulo 2
Desconfiada


Notas iniciais do capítulo

Estamos perto. Chegamos àquela parte da Miranda em que a corda está começando a ceder, os problemas são mais aparentes e ela está em meio a paradoxos.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/382318/chapter/2

Acontece que eu amava demais. Acontece que eu me importava demais. Talvez devesse amar menos.

Ou ele devesse me amar mais.

Eu não queria vê-lo sendo enganado. Isso me doía. Eu queria cuidar dele do jeito que nenhuma delas poderia cuidar.

O que pensei naquele momento poderia soar louco ou esquizofrênico, mas no fundo, me parecia que assassinato era uma boa opção. Talvez por se assemelhar com aquela situação de cortar o mal pela raiz.

Mas eu não ligava pras opções. Eu queria dar o meu máximo por ele. Afinal, é assim que se ama, certo? A gente faz tudo o que pode e o que não pode. A gente perde escrúpulos e pudores e entrega o corpo e a alma por aquilo. Mas só se valer a pena.

Leo, para mim, parecia valer a pena.

Eu faria, seria e mudaria qualquer coisa por ele.

Enrolei meus passos o máximo que pude. Não queria chegar em casa.

Por quê?

Porque minha casa era o pesadelo.

Não pelo meu irmão Victor, que só respirava se estivesse de frente pra televisão. Mas pelo meu pai.

Acontece que minha mãe nos abandonou. Só Victor e meu pai a conheceram. Eu era nova demais.

Meu pai não quis substituí-la.

Aliás, quis.

Mas ele a trocou por mim.

Me tornei a "esposa" dele assim que completei 7 anos. Tudo porque ele me chamou para brincar de casinha e lógico que concordei.

Não vi problema dele ser o papai e eu a mamãe.

Nem mesmo na hora de dormir.

Eu me sentia suja, mas nem ligava. Afinal, era só uma brincadeira, certo? Era tipo brincar na lama. Era se sentir suja do mesmo jeito. Ou não?

Então cresci o bastante pra perceber como os atos dele eram repulsivos.

Desde então me reprimia, por isso me calei tanto.

Meu irmão nunca ligou. Acho que ele nunca soube, ou percebeu.

Por mim, era melhor assim. Victor já passou por tanta dificuldade, não queria que ele passasse por mais uma. E sabia que, caso ele começasse a se preocupar, a nossa família poderia ser prejudicada.

Afinal já fui ameaçada. Várias e várias vezes.

Por fim, infelizmente, cheguei em casa.

Victor e meu pai estavam no sofá, assistindo futebol. Meu pai estava acompanhado da sua amada garrafa de cerveja e meu irmão alienado não desgrudava o olho da TV.

Já meu pai, como sempre, me conferia de cima a baixo.

Sorriu o mesmo sorriso nojento que conheci ainda pequena. Aquele era o sorriso que me desanimava de entrar em minha casa. Aquele era o sorriso que me desesperava a sair daquele inferno.

Eu o temia, antigamente. Mas depois de um tempo o ceticismo me consumiu. Porém, nada me animava mais.

Desisti dos meus sonhos. Talvez porque particularmente sabia que ele os destruiria.

O único sonho que me restou foi Leo.

Por isso, mataria para realizá-lo.

– Bom dia, gracinha. Como foi seu dia? - ele perguntou.

Rangi os dentes e meu estômago embrulhou, como sempre.

Corri para o meu quarto e me tranquei lá dentro. Ali eu não precisava segurar o choro, reprimir meus pensamentos e guardar tudo pra mim.

Enquanto chorava, pensei nele. Pensei em Leo.

Pensei em Jasmin tão próxima dele. Por que não poderia estar em seu lugar? Por que ele não poderia me olhar como olha pra Jasmin? Só porque eu era mais nova? Só porque ela era o sonho de consumo de todos os garotos ou porque era mais confiante do que eu?

Confiante. Talvez esse fosse o problema. Nunca confiei em mim. Nunca acreditei de verdade que fosse capaz de tê-lo. Nunca acreditei que fosse capaz de qualquer coisa.

"Quer saber? Se o que ele quer é uma Miranda confiante e decidida, é o que ele vai ter. Eu não quero nem saber das consequências."


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Quero pedir desculpas pelo capítulo pequeno. É porque adoro um certo mistério e minha pretensão é trazer em cada capítulo uma Miranda em fases diferentes. Talvez isso aconteça mais vezes kkk Caso tenham gostado da história (ou não), por favor, deem sua opinião. Porque escrever sem reconhecimento é deprimente :)