Caso Miranda escrita por Caroline Marinho


Capítulo 18
Transtornada.


Notas iniciais do capítulo

Esse é o fim da história. Essa é a hora que vemos o que Miranda se tornou, e o quanto seu passado poderia lhe afetar.



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- Miranda? Miranda Lima? - perguntou uma moça.

Ao me virar, a única luz daquela rua bateu nos meus olhos. Não conseguia enxergar o rosto da moça.

Desconfiei. Como alguém saberia meu nome?

- Faz uns 3 dias que te procuro. Guill me mandou aqui. Você tem algumas coisas a resolver com Rebeca.

- O quê? - perguntei, desnorteada e intrigada.

- Me desculpe - ela disse forçando uma risada - Me atrapalhei. Rebeca havia ligado pra Guill pouco tempo atrás. Disse que estava com problemas e se não os resolvesse, queria que você cuidasse de umas coisas.

Hesitei. Mas os nomes "Guill" e "Rebeca" me deixavam até um pouco esperançosa.

- E que coisas seriam?

Ela se aproximou e eu pude ver seu rosto. Não me lembro da sua fisionomia, mas era muito bonita e usava lentes coloridas. Também não me lembro da cor. Maldita memória.

- Venha comigo. Te falo no caminho - ela sorriu - Miranda é um belo nome. O meu é estranho, mas pode me chamar de Fran.

Eu não parava de pensar em Rebeca. Nem por um segundo sequer. Eu não ligava pro fato de ela ter me abandonado por 13 anos. Ela foi a única coisa que amei verdadeiramente. E foi tirada de mim como tudo que me era de valor.

Eu sentia ódio do canalha que a havia matado.

Depois de Fran me deixar a par de algo de Rebeca que eu não sabia, senti mais ódio ainda. Ela era uma pessoa melhor do que se mostrava. E o filho da puta teve a pachorra de a matar sem piedade.

Eu sabia quem era o assassino. Eu o conhecia.

Não era o tal do Wagner. Ele não tinha (ao menos eu achava) nada a ver com a morte de Rebeca.

Fran também me passou o número do infeliz. 

Liguei pra ele no dia seguinte através de um telefone público e marquei de nos encontrarmos em uma rua que não houvesse sequer movimento quando anoitecesse.

E era lá que eu estava à sua espera.

Eu tremia de ódio. A verdade é que ele não era só o cara que havia matado a minha mãe. Ele era também o cara que havia acabado com a minha vida. Eu o queria morto. Mais que tudo.

Quando ele chegou, apontei o revólver.

Eu não sabia como destravava aquela porcaria. Não sabia nem se estava destravada. Mas e daí se ele atirasse primeiro?

E daí se eu morresse?

Eu acho que nunca tinha vivido de verdade mesmo.

- Você quer mesmo atirar em mim, Miranda? - ele perguntou.

Minha mão tremia. Eu não sabia muito bem o que estava fazendo. Eu sempre sabia, mas daquela vez minha cabeça estava bagunçada.

- Você matou minha mãe por dinheiro, seu desgraçado - respondi, segurando o choro. Jurei que não choraria e queria manter minha promessa - Ela só quis te fazer um favor, o que nem era obrigação dela.

- Como pode ter tanta certeza?

- Eu não tinha, mas agora tenho - Meu braço doía, por conta da força que gastava só pra esticá-lo. A verdade é que eu estava com fome, cansada e com medo. Mas não admitiria por nada nesse mundo. Nem pra mim mesma - Eles me disseram tudo. Disseram que você pediu dinheiro. E quando acabou você quis mais, e mais. Só pra não me levar pra um reformatório, não é? Você jurava que era um favor seu.

- Miranda, abaixa essa arma...

- Cala a boca! Eu tenho nojo de você. E não quero nem mesmo ouvir tua voz - a lágrima caiu - Você destruiu minha vida.

- Eu matei aquela vadia. Era isso que você queria ouvir? Vai, atira! Atira, sua pirralha! 

Rangi os dentes. Estava pronta pra apontar quando a vi.

Rebeca, bem na frente dele, como se impedisse que eu atirasse.

Eu a vi morta. Sabia que era uma alucinação. Mas vê-la me cortava em pedaços.

– Miranda, você é mais forte que isso. Supere. Supere como eu superei. Eu te trouxe aqui pra esquecer o seu passado... - ela disse, sem abrir os lábios. Eram as mesmas palavras que havia dito no banheiro, aquele dia que tentei machucá-la.

Eu estava realmente disposta a matá-lo. Queria que a dor cessasse. Mas será que matá-lo acabaria com minha dor?

- Não faça isso, Miranda. Mostre que é forte. Não mate seu irmão.

Outra lágrima caiu. Era isso. Era a vida brincando comigo de novo. Ela só queria saber se os últimos esforços de Rebeca haviam valido a pena. Ela morreu pra que eu não o matasse. Pra que eu não me ferisse novamente.

- Pega esse dinheiro e suma daqui, Victor.

Joguei uma bolsa à frente e me ajoelhei, em prantos.

Aquele era o sinal da trégua.

Era o sinal de que eu havia desistido de lutar. Estava cansada e sem nenhum destino.

Imagine que mórbido saber que sua vida não teve propósito nenhum. Imagine saber que ninguém sentiu sua falta, que ninguém se importava.

A única que se importou, agora estava sem pulso.

Então eu desisti.

Depois do ocorrido, fui mandada pra um reformatório. Foi quando descobri que havia lugar pior que um manicômio.

Voltei a ter alucinações com frequência e guardei pra mim pra não ter que sofrer mais do que já sofria.

Aos 17 consegui fugir. Em uma cidade próxima, um amigo me ajudou muito. Não vi Guill com muita frequência desde então.

Nada na minha vida depois dos meus 13 foi realmente relevante.

Nada me fez esquecer Rebeca. Nada me fez pensar que viver valesse a pena. Mas vivi por ela.

Mas agora soltei a ponta. Acho que já sofri o suficiente. Não quero que você se entristeça, mas avisei desde o começo que essa história não tinha um final feliz.

Não pra você. Mas pra mim a morte era a melhor escapatória.

Se quis chegar até aqui apenas pra refletir sobre algo, sinto muito, mas não tenho nada de bom para lhe ensinar.

Se eu fosse você, não cometeria os erros que cometi. Se eu fosse você, tentaria ser uma pessoa melhor que seus pais. Se eu fosse melhor que Rebeca, saberia respirar e contar até três.

E então ela não morreria por mim.

Se eu fosse melhor que meu pai, não teria transado com meu próprio irmão pra esconder um corpo. Se eu fosse melhor que ele, não teria matado por ciúme.

Se eu fosse uma pessoa melhor, engoliria o orgulho, o ódio, a raiva, e controlaria meus extintos.

A única coisa que tenho a lhe ensinar, é a ser uma pessoa melhor do que eu fui.

Pois isso não é uma lição de vida. É uma carta de suicídio.


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Notas finais do capítulo

Beijos para todos os meus leitores lindos e maravilhosos que acompanharam a história, beijo pra minha amiga Dry que me bate se eu não mandar beijo, Beijo pra Desiree (Desejo) que acompanhou e comentou desde o 1º capítulo, beijo pro CHATO de Guilherme que me emprestou Guill e Fran um "pouquinho", beijo pra João que... que é lindo, enfim, beijo pra todo mundo.