Caso Miranda escrita por Caroline Marinho
Notas iniciais do capítulo
Gente, o capítulo de hoje ficou bem curtinho. Mas vocês sabem, é aquela coisa de fases da Miranda e tal... Acho que não vai acontecer de novo (sei lá). Mas ficou bom... É, ficou. Espero que gostem.
Eu sempre acreditei que as pessoas não mudam repentinamente. Jamais. Algumas coisas sobre o seu caráter ficam, independente da sua atitude.
Pode até ser que haja uma exceção ou outra, afinal, quem sou eu pra ter certeza? Mas quando a pessoa tem uma índole ruim, nada modifica isso.
Por isso não queria ver o meu pai. Tinha ódio dele, muito ódio. Qualquer um na minha situação sentiria o mesmo. Ele era um crápula que abusou de mim enquanto pode. Eu tinha a certeza que independente de quanto tempo passasse, isso não mudaria.
Rebeca quis que eu fosse. Ela achava que ele não chamaria se não fosse algo importante, e tinha um pouco de receio, eu não sabia do que.
Depois de um pouco de relutância, aceitei porque queria falar algumas verdades pra ele.
- Está diferente - foi a primeira coisa que ele disse, logo que cheguei.
Mas ele que estava pálido demais, magro demais. Tinha cicatrizes no rosto e umas manchas, parecia mais ranzinza que o natural.
Eu me sentei à sua frente.
- Você... Você não imagina o que fazem comigo aqui, Miranda. Eles não tiveram piedade. Ouço a voz deles quando vou dormir - ele disse, aflito - eu... eu não durmo... Eles me maltratam... E até... Até fizeram coisas comigo... Coisas piores do que fiz com você e eu...
- O que quer de mim? - interrompi, completamente indiferente.
Ora, dane-se se ele sofria. Era isso que eu queria que acontecesse. Queria que ele sofresse dia após dia, até a morte.
- Quero o teu perdão, Miranda. Estar aqui dentro me fez ver o quanto errei. Eu deveria ter sido um pai pra você. Você precisava de mim, e eu abusei de você. Eu fui um porco...
- Foi sim...
- ... E eu estou disposto a mudar pela minha garotinha. Quando eu sair daqui, não quero mais que você me veja como o crápula do passado. Quero que você me veja como um pai pra você. Eu, eu sinto muito pelo que te fiz passar.
- Sente?
Ele assentiu, com lágrimas nos olhos.
- Ah, mas que pena - respondi sem hesitar - Não, você não vai ter o meu perdão. Pra mim você continua sendo o mesmo filho da puta que sempre foi, e não é o xadrez que vai mudar isso. Sabe o que eu quero? Eu quero que você sofra. Que você sofra o equivalente ao que fez comigo, com Rebeca e com todas as outras. Quero que você apodreça sem passar um dia sofrendo, sem ter paz até no dia da sua morte. Porque você destruiu a minha vida, então não quero ajudar a melhorar a sua.
Ele começou a soluçar com o choro, e eu levantei sem nem prestar atenção.
- Miranda! Só mais uma coisa, por favor.
Parei, sem olhar pra ele.
- Tem notícias de Victor?
Me voltei para ele, revirando os olhos.
- Victor não é problema meu. Ele me dá nojo. Igual a você.
Saí sem pensar duas vezes e jurei pra mim mesma que não voltaria lá.
Aos leitores, me desculpem. Sei que agora eu deveria me mostrar superior e dizer que fui capaz de superar tudo em minha vida, que perdoei o meu pai, que me torcei uma pessoa boa e por aí vai...
Mas convenhamos que nunca fui imaculada. Ninguém jamais mudaria parte da minha índole.
Eu o odeio e odiarei até a morte. E quero que ele sofra até lá.
Porque eu não lhe contaria essa história se tivesse sido bem criada.
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