Caso Miranda escrita por Caroline Marinho


Capítulo 1
Apaixonada


Notas iniciais do capítulo

Até aqui, Miranda tem controle sobre si mesma. O único problema que ela tem é amar. Sim, estou lhe dizendo que amar nesse caso é um problema. Melhor, é o problema.



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Acho que foi o sorriso. Sim, foi o sorriso dele que me conquistou. Aquele modo dele de cativar qualquer pessoa ao seu redor, a sua simpatia, que nem é forçada, e a sua beleza estonteante.

Talvez tenha sido isso. Ou talvez seja só o fato de que, no fundo, apesar dele não ver isso, fomos feitos um pro outro.

É uma pena que ele gaste o tempo dele com as garotas erradas, dando a elas o carinho que deveria me pertencer. Por que ele não poderia amar a mim? Eu o trataria e daria amor como nenhuma outra garota deu. Eu seria totalmente sua e de mais ninguém.

E ele seria meu.

Mas nesse exato momento eu o via com Jasmin. A menina que fazia teatro, que falava dois idiomas, e que todas as meninas dessa escola admiravam. E os meninos, nem se fala.

E quanto a mim? Quando é que Miranda Lima poderá amá-lo?

Ele não me quer por ser nova demais? Seria isso? Qualquer garota de 13 anos no 1º ano do Ensino Médio acharia estúpido supor que um cara de 16 do 3º olhasse pra ela. Mas eu não acho. Eu ainda acredito no amor.

Mas a minha angústia não está sobre ele. Ele não sabe o que faz.

O real problema é que, nesse exato momento, eu te conto a história. E se te conto uma história, já devo saber o final dela, não é?

E se estou tocando nesse assunto, deveria te confortar, dando pistas de que, no fim da história, eu e Leo nos amaremos, que ele vai parar de olhar pra outras garotas e vai pensar só em mim.

Mas o fim dessa história não é feliz.

Eu fiz coisas horríveis. E o pior é que não me arrependo.

No fim, me dei muito mal.

Mas eu quero deixar uma coisa bem clara: 90% das pessoas que fizeram o que fiz na minha idade já sofreram maus tratos. Você leu isso bem? Maus tratos.

Eu faço parte dos 90%.

– Bom dia, Miranda - disse Jasmin, abafando o riso, ao lado de sua "amiguinha" Vanessa - Flertando mentalmente com meu namorado de novo? - desviei o olhar - Olha pra você, criancinha perturbada! Você acha que tem chances com ele?

As duas saíram rindo e eu me dirigi à minha sala.

"Um dia ainda faço essas putas pagarem pelo que falam."

No intervalo, me sentei próxima a ele. Mas não muito. Por mim, admirá-lo, por enquanto, já era o suficiente.

Naquele dia foi a primeira vez que ele sorriu pra mim. Será que ele estaria começando a me notar? Será que já estava apaixonado por mim e tinha medo do que os outros iriam pensar? Se fosse, eu tinha que achar um meio de mostrar pra ele que também estava apaixonada, que também me importava com ele.

Fui ao banheiro e, antes de sair, ouvi a risada estridente de Jasmin e Vanessa se aproximando. Me escondi em um dos boxes. A última coisa que eu queria era dar de cara com ela.

– Ai, Vanessa! Pensa que luxo! Dois namorados! Não é ótimo? E o melhor é que um não desconfia do outro.

– E ambos gostosos!

– Exato! Mas se for pra escolher um dos dois, eu escolheria o Roger. Ele tá na faculdade e tem um carro. Claro que eu escolheria ele. Mas... Como só posso vê-lo nos finais de semana, me divirto com Leo aqui mesmo no colégio. Não é perfeito?

Ambas começaram a rir. De repente a risada acabou e eu pude ouvir passos.

– Jasmin, posso conversar com Vanessa um momentinho? - a garota com voz aguda perguntou.

– Claro...

Mais passos. Acho que Jasmin deve ter saído do banheiro.

– Vanessa, você é louca? O que passa pela sua cabeça?

– Do que você está falando?

– Eu sei que você está ficando com Leo. Diana me contou. Como você faz isso com a sua melhor amiga?

– Ah, Clara. Ela nem se preocuparia com isso.

– Como sabe?

– Sei, mas não posso te contar. Se quer fofoca, vai lá atrás da Diana, vai?

Ambas saíram do banheiro.

Mortas. Eu queria as duas mortas.

Como era possível existirem pessoas tão fúteis como as duas? Ambas ao menos se importavam com o sentimento alheio. Ambas ao menos se importavam com Leo.

Só queriam saber de um pouco de diversão. Fodam-se os sentimentos.

Então, dali em diante decidi. Só quero saber de Leo. Fodam-se as garotas.

Peguei meu batom vermelho, passei nos lábios. Escrevi no enorme espelho:

Aqui jaz: Vanessa e Jasmin. Amadas putas. Falsas amigas.

Soltei o cabelo ruivo e saí do banheiro mais confiante.

Fui até Leo. Isso mesmo que você leu. Fui até ele e cumprimentei.

– Olá - ele disse de volta, sorrindo.

– Podemos conversar a sós?

Ele olhou para os amigos, confusos. Eles faziam cara de deboche pra mim, mas eu não ligava.

– Sobre o que?

– Já vai saber.

Ele hesitou.

– OK.

Se levantou. Puxei ele pela mão até um canto vazio do pátio.

– Está tudo bem? - perguntei pra ele, com um sorriso no rosto.

– Tudo - ele disse, simpático - É estranho, você nunca falou comigo.

– Nunca tive coragem - respondi, sem saber de onde tal coragem tinha vindo nesse exato momento.

– Hum... E o que quer comigo?

– Ah, eu só queria conversar um pouco com você. Gosto da sua voz.

– É muito gentil da sua parte, mas...

– Acho que tô apaixonada. Por você.

Ele se calou, e me fitou, espantado.

Depois sorriu um pouquinho.

– Sério?

– Sério.

– Sabe que eu tenho namorada, certo?

– Eu sei, Leo. Mas já percebeu que ela não liga nem um pouco pros seus sentimentos? Ela nunca ligou.

– Eu nem sei o que sinto por ela, Miranda!

– Mas ela não sente nada, Leo! Esse é o problema. Eu aguentei toda essa barra de te ver com outras garotas, mas só porque eu achava que elas te mereciam tanto quanto eu, porque deviam gostar de verdade de você também. Mas ela não gosta.

– Como sabe disso?

– Não posso te falar. É super antiético.

– Tá.

– E Vanessa só tá ficando com você pra jogar na cara de Jasmin que é tão boa quanto ela.

Ele se surpreendeu com o comentário. Talvez por não esperar que alguém soubesse. Mas eu sabia.

Ele se afastou e saiu andando.

Mas tudo bem. Logo que ele absorvesse tudo que eu tinha dito, seria todo meu. E de mais ninguém.

A aula acabou. Todos os dias, o meu pesadelo era ter que ir pra casa. Eu odiava a minha casa. Se pudesse, passaria a vida inteira no colégio. Ou morando sozinha em outro lugar.

Qualquer lugar.



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