POV Clara.

Ao olhar pela janela de meu consultório, podia ver as sombras dos gárgulas me vigiando e me protegendo, e pude vê-los me seguindo enquanto dirigia pra minha casa depois que meu turno acabou. Eu morava num apartamento em Copacabana, presentinho do meu pai. Era uma cobertura com uma ótima vista, fui para a varanda esperei.

Não precisei esperar muito, assim que eu fui para a varanda, Dirian pousou do meu lado, seguida por Cecília e Artie. Eu os convidei pra entrar e pra ficarem a vontade enquanto iria tomar banho e vestir algo pra dormir. Voltei pra sala, Cecília estava dura como pedra, em pé assistindo a televisão, Dirian estava no sofá, sentada com as asas presas ao seu corpo como se fossem uma capa, do mesmo modo que Golin havia deixado, Artie estava na varanda contemplando as estrelas:

–Como uma medica de um hospital publico consegue pagar esse lugar? – perguntou Dirian.

–Meu pai comprou pra mim quando me formei! – respondi me sentando ao lado dela – Tá passando algo de bom?

–Sim, Harry Potter no SBT! – respondeu ela.

Agora assistir algo relacionado a magia me deixava confusa, a algumas horas atrás, eu diria que esse filme era apenas uma obra brilhante baseada num livro ainda melhor, mas agora, já acho que até mesmo isso pode ser real. Eu ousei fazer essa pergunta, e Dirian me respondeu:

–Claro que é!

Como se aquilo fosse a coisa mais obvia do mundo! O tempo passou rápido, eu não precisava me preocupar com isso já que amanhã era minha folga, conversei com Dirian e Artie quase toda a madrugada, e não tinha nada relacionada a magia, conversamos sobre series, filmes, coisas normais que eu nunca esperaria de uma conversa com gárgulas. Mas as 03:30 Cecília finalmente fez um movimento:

–Dirian, Artie temos que ir! – diz ela.

–Vou ficar aqui até o sol nascer! – anunciou Dirian.

–Não seja ridícula! – rosnou Cecília – Você não pode ficar aqui!

–Eu decido isso! – interrompi – Dirian está convidada a ficar se quiser!

–Viu, ela não se importa! – Dirian se afundou ainda mais no sofá.

–Levante-se garota insolente! Vamos pra o telhado que nos foi designado! Agora! – mandou Cecília.

–Não fale assim com ela! – interrompo – Sai daqui Cecília.

A gárgula rosnou e levantou a mão pra mim, mas ela não tocou em mim, a mão dela recuou, e eu olhei de esquerda pra meu espelho na parede, meu crucifixo estava emitindo um brilho dourado. Cecília rosnou mais uma vez, em seguida pulou pela janela e Artie a seguiu.

–O que foi isso? – perguntou Dirian? – você foi fantástica! – exclamou.

–Ela é sempre assim? – perguntei.

–Meu pai não acredita quando eu digo! – respondeu ela – talvez agora ele acredite em você!

–Vou falar com ele! – prometi.

A partir das 04:00 da manhã, ela ficou na varanda, preparando-se pra virar pedra, mas então ela me chama pra olhar algo. Um gárgula planava na nossa direção, mas não vinha pra meu prédio, provavelmente passaria por ele e depois sumiria. Quando o gárgula se aproximou, percebo que era o Golin, planando graciosamente, mas percebo uma sombra sair do nada e derruba-lo no telhado de meu prédio.

Dirian se desesperou e tentou sair do apartamento, mas eu a seguro e a lembro que o sol já vai nascer, e peço pra ela ficar calma e escondida em algum lugar. Mas a pequena gárgula não se dava por vencida, não sei como conseguir segurá-la, ela era muito forte. Peguei um vaso na minha mesa e bati na cabeça dela, ela desmaiou com a pancada, e eu subi para o terraço.

Podia ver Golin lutando contra três homens equipados com bastões de choque, ele os feria, mas os homens pareciam se curar, porque voltavam a atacar. Uma luz amarela iluminou o local quando todos eles atacaram de vez, presenciei o Golin virar pedra, ele seria destruído! Não podia deixar, corri e pulei em cima do mais próximo de Golin. Os outros dois me atacaram, mas eu me defendi com alguns movimentos de luta que eu não treino desde a adolescência.

Como eu estava me saindo tão bem? Os três homens me atacavam e eu alem de me defender os atacava ainda melhor. De repente todos param e se ajoelham gemendo de dor. “Será que bati muito forte?” pensei quando os vi fazerem aquilo.

–Belos movimentos Clara! – elogiou uma voz conhecida.

–Valentin! – exclamei quando vi o jovem bruxo caminhando pelo terraço apontando a mão pra os três homens.

–Quem são eles, porque tentaram matar o Golin? – pergunto apontando pro gárgula de pedra no meio do terraço.

–São caçadores, eles odeiam tudo que tem haver com a magia, ironia cruel já que estão usando sapatos antigravidade feito por bruxos hackers, e já que estão sobre um encantamento que faz os ferimentos se regenerarem! – comentou.

–O que está fazendo com eles? – perguntei.

–Dando uma boa dor de cabeça! – respondeu com um sorriso – Você viu de onde eles surgiram?

–Dali! – aponto pra o prédio ao lado do meu.

–Eles não podem entrar nos prédios que eu protegi, mas sabem onde fica, e não tem nenhum nessas redondezas, porque então eles estavam ali?

–Sei lá! – respondi cruzando os braços.

–Obvio, eles estão trabalhando com as mesmas pessoas que estão matando aquelas pessoas, acho que descobrir o que eles querem fazer! – disse Valentin sorrindo – mas explicarei a noite quando Golin acordar, até lá irei interroga-los, seria bom que você saísse, não acho que deva ver isso!

Voltei para o meu apartamento onde eu encontrei Dirian transformada em estatua no chão. Valentin bateu na minha porta depois de meia hora, eu não pude deixar de fazer uma única pergunta:

–Como eu lutei daquele jeito?

–Quem lhe deu esse colar, queria realmente garantir sua segurança! – respondeu – Ele aprimorou suas habilidades de luta e manteve você e o Golin vivos até que eu chegasse!

–Aqueles caçadores são um bando de covardes, atacar quando o dia está prestes a nascer...

–Temos ainda muitas horas até a noite voltar, tem um feitiço que irá guardar esse prédio contra eles, é o mesmo feitiço que eu coloco nos telhados onde eles se escondem.

–E meu trabalho, minha vida, como posso ficar aqui? – perguntei quando notei que esse era o plano dele!

–Sua segurança é mais importante, esse colar não vai te proteger de tudo! – respondeu.

–Então teremos que deixa-la invisível! – exclamou uma voz estranha, eu e Valentin olhamos pra porta, e vimos um homem alto, careca, de óculos escuros – Ola Clara!

–Quem é você? – perguntei.

–Perguntas como essa serão respondidas depois! – notei então que ele era um cego quando ergueu a bengala e apontou pra Dirian – É a jovem gárgula?

–Sim senhor! – respondeu Valentin, ele não tinha cara de chamar ninguém de senhor.

–Colocarei ela na varanda pra que não lhe atrapalhe doutora Clara! – nem mal ele falou, e a estátua de Dirian se moveu delicadamente até a varanda, e ficou ao lado da de Golin que também apareceu lá magicamente.

–O que quis dizer com me tornar invisível? – perguntei, sabia que era a única pergunta que ele me responderia.

–Aqui – ele retirou do bolso uma pulseira dourada e prateada – Durante o dia, quando os gárgulas se transformarem em pedra, essa pulseira irá te proteger contra aqueles que desejam lhe fazer mau, mas a noite o poder dela irá falhar!

–Porque está fazendo isso? Foi você que meu deu esse crucifixo não foi? – perguntei quando a imagem dele em meu consultório me veio a cabeça.

–Por que sinto que vocês serão importantes numa guerra que está por vim! – respondeu.

–Tá falando da... – Valentin tentou perguntar algo, mas ele previu a pergunta e respondeu antes que ele terminasse.

–Sim Valentin! A profecia Maia, mas não é nela que estou centrado, o clã de Golin ajudará numa guerra que haverá depois dela, depois que tudo parecer salvo! E Clara sempre teve seu destino ligado aos gárgulas, desde que nasceu.

–Como sabe disso? E que guerra é essa? – pergunto.

–Sei, porque não vejo o presente, mas vejo o futuro! – responde antes de sumir no ar, e me deixar com varias duvidas na cabeça!