POV Dirian

Depois de quase um mês, desembarcamos de volta ao Rio, e voltamos ao normal. O feitiço foi retirado de mim e de Marlon então voltamos a nos transformar em estatuas durante o dia. Eu não tive noticias de Diana por umas três semanas, mas assim que soube dela, ela me disse que tinha encontrado os pais e feito as pazes.

Eu e Valentin continuamos amigos, mas tinha um certo peso no ar quando ficávamos sozinhos. Eu precisava escolher. Estávamos em julho, se eu não escolhesse agora não escolheria nunca, por isso fui falar com Clara, ela estava com uma barriga enorme, afinal era seu sétimo mês. Ela imprimiu duas fotos, uma de Marlon, e uma de Valentin, virou as duas e embaralhou, depois mandou eu escolher uma, dizendo que o destino iria me mostrar o caminho.

–Serio? – perguntei sem acreditar.

–Confie, a resposta vai surgir na sua mente! – respondeu ela.

Tirei a foto de Valentin...

–Então não sou eu? – perguntou ele quando fui falar com ele.

–É... Quando sua foto veio a mim, eu fiquei decepcionada. Então entendi, por mais te amasse Valentin como meu amigo, que você tenha sido um ótimo namorado, não é a você quem eu devia pertencer. – expliquei.

–De onde a Clara tirou essa ideia? – perguntou ele.

Flashback ON:

–Vi numa serie... – comentou Clara olhando pra mim e sorrindo. – Esse “ep” só vem pra o Brasil em Novembro, mas de tanto que falam que meu filho é o melhor dos dois mundos eu acabei acompanhando... Funcionou igual a ela né?

–Se a foto que ela pegou não foi a foto que ela escolheu.... Sim, funcionou. – respondi.

–Foi exatamente isso! – respondeu – caso queira saber tenho o episodio legendado no meu “pc”, foi ao ar dia 5...

–Ok, acho que agora tenho que...

–Dizer ao Valentin e depois contar ao Marlon!

Flashback OFF:

–Não faço a mínima ideia de onde ela tira essas ideias... – respondi imaginando as risadas do publico imaginário. Eu e Clara temos que parar de assistir tantas series da Disney.

Planei até o telhado em que ele estava, depois que pousei corri e gritei o nome dele, e me joguei em seus braços beijando-o na mesma hora (o episodio me inspirou um pouco, confesso!). Nós dois caímos no chão e continuamos nos beijando.

–Escolho você! – disse.

–Ai minha cauda... – respondeu ele gemendo – Mas eu te adoro Dirian! – ele segurou na minha cabeça e me beijou outra vez.

Ouvi de meu pai que Cecília estava realmente sofrendo, como ela é uma ex gárgula, foi tarefa dele arranjar um lugar pra ela ficar. O ódio estava estampado em todo corpo dela, até quando ela virava estatua. Mas com o tempo ela aceitou, aprendeu a conviver com o curto tempo que tinha. Sem voar e sem garras, ela era fraca e indefesa. Demorou. Demorou muito, muito mesmo, não tou de brincadeira, acho que só no fim de 2013... mas ela aprendeu a aceitar a si mesma e aos outros como cada um é, e se revelou em sua verdadeira forma... humana. Depois de tudo isso, a verdadeira forma que a alma dela se personificou, foi a forma que ela odiou durante anos e anos. Ela não virará mais pedra durante o dia.

Mas voltando pra Julho de 2009, na semana seguinte a minha escolha, eu estava assistindo com a Clara um episodio novo da serie. Ela sentiu uma pequena contração, mas ainda estava muito cedo pra nascer. Porem aquela contração, e os vários chutes que vieram a seguir, me fez pensar no meu irmão, o quanto ele era especial, e logo logo estaria aqui com a gente. Só mais dois meses.

Clara ficava mias radiante a cada dia, e sua barriga também não parava de crescer. Pra sorte dela era só a barriga. Finalmente chegou setembro. Ela não podia evitar ficar ansiosa... e jogar pratos e vasos na cabeça do meu pai quando ele a irritava. Nessas horas Marlon dava graças a deus por botarmos ovos ao invés de engravidarmos. Eu conseguia imaginar um futuro com ele. Parecia muito mais possível do que com Valentin.

Valentin ainda era meu amigo, mas ele se afastou um pouco do Clã. Não foi pessoal, ele se focou em seu estudo de magia, se mudou pra uma casa num bairro nobre e distante aqui no Rio, sua casa nova tinha uma imensa biblioteca, cheia de livros de magia e ocultismo Wiccano. Mas eu sabia que estávamos bem um com o outro.

O clã estava muito mais ágil. Não sei o motivo mas os gárgulas se animaram em proteger o Rio a medida que se aproximava o nascimento de Colin. Talvez uma coisa não tivesse ligada a outra, mas como dizem os sábios, não existem coincidências. É serio, eles planavam muito mais rápidos e estavam mais unidos, e capturamos muito mais caçadores do que de costume.

–Não comenta, se não volta ao normal! – aconselhou Clara quando comentei com ela.

–Acha que é algo ligado ao Colin? – perguntei.

–Nem eu sei o sexo, como pode ter tanta certeza que é um menino? – perguntou clara sorrindo.

–Melinda deu a entender que seria um menino – comentei – E antes disso eu já tinha dito, pode confiar.

–Ok, veremos ainda esse mês... eu espero.

–Ele não vai nascer de dez meses né Clara? – perguntei sarcasticamente.

–Tá demorando muito, hoje é dia 21...

–E você quer mesmo que um bebe bruxo wiccano gárgula nasça junto com a primavera?

Porque fui falar?

Acontece que ela entrou em trabalho de parto as 23:00, foi um drama total, não tinha ninguém em casa, mas meu pai sentiu o medo dela e fez o parto. Mesmo morando perto de um hospital ele não podia levar ela voando de uma janela pra outra naquele estado. Eu olhava pela janela impaciente, exatamente a meia noite, no minuto em que eu vi as fadas saindo pelo portal da Terra do Nunca pra trazer a primavera ao nosso continente, eu ouvi o choro do meu irmão.

–Acertou! – exclamou Clara quando eu entrei no quarto – é um menino!

–Colin! – exclamei.

Três raios de luz entraram pela janela do quarto dela, que eu sinceramente achava que estava fechada. Fadas. Fadas da natureza. Elas voaram ao redor de Clara e Colin, depois saíram por onde entraram.

–Até elas sentiram a energia dele! – comentou Melinda. A dama da Noite acabara de surgir no ar – Nasceu no Equinócio de primavera não foi garotão? – perguntou ela olhando pra Colin. – Bom, o equinócio desse ano será as 21:18 de hoje dia 22, mas mesmo assim, o que vale é que nasceu no minuto em que as fadas vieram... – ela estava vestida com um vestido longo e negro, sem asas, tirou dois colares azuis do bolso e entregou a mim.

–Um é seu, o outro é pro pequeno príncipe, dê assim que tiverem seu castelo – ela deu uma piscada pra mim... que eu entendi no final do ano 2011, mas isso será outra historia.

–Obrigada! – agradecemos eu e Clara em Couro.

–Tem uma família linda Golin – disse ela se virando e sumindo no ar, ainda pude ouvi-la dizer – Até logo Anjos da Noite.

Colin tinha pele amarelada, poderia usar a palavra bronzeada pra descrever, mas ele ainda não tinha visto o sol... seus cabelos eram de um castanho claro muito lindos, e eram grandes pra um recém nascido. Meu irmão. Colin...

Sr. Trindade apareceu na noite seguinte, parabenizou agente, e disse que ficaríamos em paz por um bom tempo. Clara me contou que levou Colin ao medico naquele dia enquanto eu era pedra, e que estava tudo bem apesar do parto dela ter tido complicações. Valentin e Diana também apareceram com uma novidade, Valentin se elevou.

Ele até se transformou na minha frente, usava uma calça azul e uma camisa vermelha folgada que resaltava seus músculos... Estanho, ele não tinhas músculos antes da transformação.... Suas asas eram iguais as da Diana e de Melinda, um galho com várias folhas saindo direto das costas. Seus cabelos ruivos cresceram alguns centímetros, ele estava lindo.

–Parabéns! – desejei.

–Obrigado! – respondeu ele – Eu e Diana vamos visitar Animália amanhã.

–Tá na hora de parar de fugir! – comentou ela.

–Desejamos Boa Sorte.

Na noite seguinte enquanto eu brincava com meu irmão... fazendo caretas afinal com dois dias ele não podia brincar de muita coisa, ele estava morrendo de sono, mas mesmo assim não tirava os olhos de mim. Fiz uma careta colocando a língua pra fora e fazendo meus olhos brilharem em forma de ataque, e ele deu seu primeiro sorriso. Foi pra mim. Tão pequeno e já sorriu... senti uma energia fruir dele, em algum lugar nas estrelas, uma fada muito especial acabara de nascer. Eu bati em mim mesma por esse pensamento infantil e sonhador, mas a magia está em todo lugar e a todo momento. Uma fada especial nascerá desse riso, e afirmo isso sem medo.

Sei que meu irmão tem um destino. Ele é único. É especial. A historia dele só está começando. beijei a testa, e olhei bem no fundo de seus olhos.

–Durma bem! Meu Anjo da Noite!