POV Golin

Estava liderando mias uma ronda na noite seguinte ao meu casamento. Ainda não havíamos decidido onde passar a nossa lua de mel, isso era um problema, afinal, tínhamos que ir pra um lugar onde o risco deu virar um gárgula no meio de uma multidão, fosse zero.

Até aqui no Rio de Janeiro tem esse risco. Estamos em 2009, e desde 2005, quando o feitiço foi feito, eu tenho conseguido controlar bem isso pra não ser descoberto. Embora o véu me escondesse dos norminhos, não se podia contar com ele sempre. Qualquer momento a nevoa poderia sair, e eles me enxergariam com pelos vermelhos, calda de lagarto, alem das asas de morcego.

Talvez em Salvador. É, se eu não me engano, a segunda cidade mais tocada pelo sol. Ou seja, a maioria das atividades turísticas podem ser feitas durante o dia. Não. Tanto eu quanto ela já fomos pra lá, adoramos, mas eu queria leva-la pra um lugar novo pra nós dois. Pensei em um safári na África, mas ai eu iria acabar virando gárgula dentro de um avião.

-Pai! – me virei e vi Dirian voando em minha direção – A Clara, ela recebeu um convite! – exclamou.

-Pra que? – perguntei – é mais algum evento social chato que eu tenho que ir de terno?

-Não pai, dessa vez foi um ricaço do mundo mágico, um bruxo se não me engano, ele vai fazer mais um cruzeiro de luxo, e convidou a mim, a você, e a ela, e mais um acompanhante, que obviamente será o Valentin.

-Espera, eu quero olhar esse convite! – avisei.

-Relaxa pai, você já viu esse convite! – apontou ela – como líder dos gárgulas, recebemos um todo inicio de fevereiro. Você nunca aceitou, mas acho que agora não tem muita escolha...

-Vamos pra casa, temos que analisar isso! – mandei, dei meia volta e planei na direção da nossa casa.

POV Clara.

Estávamos eu, Dirian, e Valentin comendo pipoca e assistindo filme. Tem muito tempo que não fazíamos isso. Assim que o filme acabou, eu fui ascender a luz da sala, quando um envelope surgiu queimando o ar e caiu na minha mão:

-Clara, o que foi isso? – perguntou Valentin.

-Não sai – respondi olhando o envelope – É um convite.

-Que convite é esse? – perguntou Dirian.

-É um cruzeiro de lua de mel! – respondi, depois de ler atentamente – na verdade, é uma oferta especial em consideração ao meu casamento com Golin.

-Reconheço esse convit1 – comentou Dirian – Se lembra Clara? Recebemos ele ano passado, e retrasado.

-Acho que agora não tem mais como recusar! – comentei animada – eu já não queria recusar antes... Imagina numa hora como essa!

-Vou avisar ao meu pai, o cruzeiro parti depois de amanhã, então é bom arrumarmos a mala, Valentin, arrume a sua! – mandou Dirian depois de analisar o convite.

-Eu posso ir mesmo? – perguntou Valentin.

-Aqui diz que o convite vale pra o casal de recém casados Clara e Golin, Dirian, a princesa gárgula, e pra um acompanhante, não consigo pensar em ninguém melhor. – respondi abraçando-o.

-Vamos arrumar nossas coisas, e é bom que quando o Golin chegar você coloque sua mão na cintura, levante o dedo, e aumente a voz, porque se aquele gárgula arruinar meu cruzeiro, eu o transformo em um sapo! – ameaçou Valentin antes de sair do apartamento, e ele tinha razão, Golin adora suspeitar de presentes, e é bom que ele nem pense em estragar isso.

Serio? Ele realmente quer estragar isso? Ele tinha dito que era melhor arrumarmos outro programa, e que ele não conseguia imaginar uma razão pra esse magnata rico ter nos convidado sem pedir nada em troca.

-Por que não? seria uma lua de mel perfeita! - comentou Valentin implorando pra que Golin aceitasse, o bruxinho já estava com a mala pronta.

-Escuta aqui Golin – comecei, coloquei a mão na cintura, e levantei o dedo – Você salva essa cidade o tempo todo, esse cara oferece cruzeiros a qualquer um com uma posição como a sua, então para de ficar com essas suspeitas, porque estamos indo pra essa lua de mel! Entendeu ou quer que eu desenhe.

-RUARRRR – rugiu ele – Eu sou o homem da casa, então eu digo que agente não vai!

-Ok! – exclamei sorrindo maliciosamente, só me restava três coisas a fazer, e eu sabia que ele cairia logo na primeira.

POV Golin

As sete da manhã da data marcada, estávamos partindo no navio. Dirian foi transportada em forma de estatua com ajuda de Valentin. Nunca se ganha uma discussão com uma mulher, eu tina que aprender isso o mais cedo possível. Principalmente quando ela ameaça fazer greve. Assim que nos instalamos numa das suítes luxuosas do navio, eu e clara fizemos as pazes da maneira que todos os casais adoram fazer, e o agito do navio privilegiou muito a relação.

Eu havia deixado alguns gárgulas de confiança no comando. Sirius por exemplo, eu sabia que ele ia cuidar bem de tudo. Mas eu tinha uma ponta de preocupação em deixar minha cidade.

Eu e Clara nos divertimos muito nos salões de jogos, nas piscinas, e em todos as outras atrações do navio. No fim da tarde, antes deu virar gárgula, nós e todos os passageiros, se reuniram pra ouvir a declaração do dono do cruzeiro. Era um senhor de meia idade, cabelos pintados de preto, magro, e olhos acinzentados. O velho bruxo agitou a varinha e sua voz saiu mais alta.

Ele agradeceu a todos pela presença, contou que todo ano, desde 1990 quando os guardiões foram criados, ele oferecia aos mesmos um cruzeiro como esse, como forma de pagamento a Merlin e a eles, pelo bem que fazem ao caçar e destruir demônios protegendo todas as dimensões mágicas existentes. Mencionou, que como era um cruzeiro em homenagem a heróis, os gárgulas não podiam faltar numa ocasião como essa. Então eu fui levado ao palco. Como eu surgi lá? Mágica.

-Esse é Golin, líder do clã de gárgulas do Rio de Janeiro, em virtude de sua lua de mel, esse herói finalmente aceitou meu convite pra um cruzeiro! – exclamou, arrancando aplausos e risos de todos que olhavam pra mim, e pra Clara, notei que ela também estava no palco quando ela segurou minha mão. – A eles, e a vocês, um bom passeio! – desejou sumindo no ar.

-O sol! – exclamou Clara.

O sol estava se pondo. Sentir a dor nas minhas costas e as asas surgiram rasgando minha camisa. Sentir os pelos a calda e os chifres crescerem. Rugir de dor e fúria quando a transformação se completou, e todos aplaudiram como se fosse um grande show.