POV Golin.

Nossa espécie sobrevive, tem sido assim desde milênios atrás, antigamente não éramos estatuas durante o dia, mas a época era outra. Nossos ancestrais contam, que pra mover nossas enormes asas precisávamos comer mais de três vacas inteiras por dia, isso causava conflitos com os humanos, sendo assim, precisávamos de um outro meio de sobreviver, sem causar desentendimentos.

Uma Wicca nos fez uma oferta, Wicca é uma bruxa com poderes voltados apenas pra a natureza, ou pra seres do mundo mágico, elas mantém o equilíbrio do mundo. Essa Wicca disse, que tem um feitiço que nos transformaria em estatuas durante o dia, e voltaríamos ao normal durante a noite, enquanto pedras guardaríamos energia para podermos erguer nossas asas, e planarmos sem ter que comer tanto.

Lembro-me que quando eu era criança, eu perguntava pro meu pai, porque eles aceitaram aquilo, a explicação dele foi que os gárgulas não enxergam bem, e não se movem bem durante o dia, eles seriam muito mais forte a noite. Depois que o feitiço foi feito, todos os gárgulas do mundo começaram a virar estatuas durante o dia, isso tornou mais fácil o trato com os humanos, desde aqueles tempos até agora vivemos pra protegê-los deles mesmos, ou de outras ameaças.

Com o passar dos anos, fomos traídos, enganados, atacados enquanto éramos estatuas, mas sobrevivemos, hoje, ano de 2005, o meu clã é atualmente o maior dessa dimensão, existem apenas vinte gárgulas em Nova York, a historia dos sete fundadores desse clã, ficou famosa até pra os humanos, que já devem tê-los visto em desenhos, esses sete se multiplicaram, e tornaram-se vinte, existem quarenta no Japão, doze no Amazonas, dez em Londres, e nós, somos cem.

O que fazemos aqui em pleno século XXI? Protegemos os humanos, planamos toda noite pela cidade, e impedimos crimes, assassinatos, o véu entre a magia e a realidade faz com que não sejamos notados, temos a ajuda de feiticeiros, bruxos e Wiccas que sabem que não queremos fazer mau. Mas eu me olho no espelho, pra mim meu rosto é bonito, pra minha companheira também, mas o que um humano sem nenhuma magia na veia diria ao ver um ser com o corpo em forma humana, alto e musculoso, porem com o rosto semelhante a um leão vermelho com juba preta que é meu cabelo, alem de meus cifres de touro, e minha calda semelhante a de um demônio, e minhas asas de morcego, não deve ser uma visão agradável pra eles!

Gárgulas são sempre uma mistura de vários animais, mas nossas asas não servem pra voar, apenas planamos com as correntes aéreas, planamos sim, mas somos rápidos, nos movemos com a energia dos animais que compõe o nosso corpo, sou o mais forte do meu clã.Vivemos espalhados nos terraços de vários edifícios altos, todos esses tem moradores bruxos, ou feiticeiros, e eles nos ajudam com alimentos, bebidas, e roupas, não usamos muitas roupas, eu uso apenas um short, minha companheira uma saia e um top, não usamos pra nos aquecer, então só costumamos cobrir aquilo que os humanos descrevem como “vergonha”.

Temos um ponto de encontro onde guardamos os ovos na época de cria, e onde convivemos um com os outros, mas caso ajam algum problema, eles me procuram. Chamamos uns aos outros de “irmão” pois mesmo com os casamentos e relações entre pais e filhos, todos nós nos amamos e protegemos um ao outro, somos uma família. Hoje, dia 15 de junho de 2005, eu plano por essa cidade, observando os humanos em suas vidas normais, daqui do alto noto alguns de meus irmãos agindo em prol dos humanos, um deles planou e pousou nas costas de um humano que roubava uma bolsa, outro ajudou a policia a prender um traficante, se bem, que devia ser só um aviãozinho, a cidade está cheia de crimes, se não fosse por nós, seria pior muito pior!

–Golin – Kiro me chamou, ele plana do meu lado, está usando um dos comunicadores que um bruxo hacker (bruxo que controla a tecnologia com a magia) – cedeu pra nos ajudar, não gosto de usa-los!

–Algum problema com os outros? – perguntei.

–Sim, caçadores! – odeio eles, humanos que sabem da magia e que não a aceitam, são chamados de caçadores, existem vários clãs espalhados pelo mundo, eles caçam gárgulas, dragões, bruxos... basta você ter magia no sangue que eles vão atrás.

–Vamos! – respondi.

Ele deu meia volta e eu o segui, planamos até uma rua deserta perto de um morro, três de meus irmãos estavam lutando contra seis caçadores equipados com bastões elétricos, e uma arma de energia. Quanta injustiça, são gárgulas jovens que não sabem se defender muito bem, contra seis bem treinados e bem equipados caçadores. Meus olhos brilham e eu rujo antes de descer planando e chutar um no rosto. Com o impacto ele se bateu em uma casa, eu o puxei de volta pra mim, e o golpeei em sua barriga, um outro veio me atacar por trás, mas eu enfiei minha calda em sua barriga e o joguei contra um terceiro caçador.

Kiro era bastante grande, tinha um bico de águia em seu rosto, sem chifres em sua cabeça, o corpo dele era coberto de pelos azuis, e sua calda era semelhante a de um réptil, suas asas lembravam a de uma coruja, ele era meu melhor planador, isso era um fato. Ele não se deu ao trabalho de pousar, carregou dois caçadores até os alto e os jogou de volta no chão, e simplesmente socou o ultimo.

–O que faremos com eles? – ele me perguntou depois que os seis caçadores foram imobilizados.

–Chame a ajuda de algum bruxo ou feiticeiro pra dar a eles um julgamento na corte mágica! – respondi.

–Deveríamos mata-los! – odeio quando algum de meus irmãos vem com esse assunto.

–Não fazemos justiça com as próprias mãos! – respondi – sem discussão, vou levar esses três pra um lugar seguro! Estão bem pra planar? – pergunto.

–Estamos sim Golin! – respondeu o mais velho deles.

Essa é nossa rotina em resumo, protegemos os humanos, ou a nós mesmos!