A primeira coisa que Nico viu antes de desmaiar foram as palmeiras imensas de um bairro chique de Los Angeles, mas então seus olhos fecharam e ele sentiu seu corpo doer quando caiu no chão e logo ficou inconsciente. Clarisse não sabia o que fazer com um garoto de uns quatorze anos desmaiado no meio de um bairro nobre da cidade, mas não precisou pensar muito, porque uma garota surgiu. A menina correu até eles como se pressentir-se que haviam chegado, usava uma bermuda jeans, uma blusa de ginástica cor de ameixa lisa e tinha os cabelos castanhos presos em tranças; ao lado dela tinha um sátiro de um metro e meio que mastigava uma lata.

– Piper McLean? – perguntou Clarisse.

– Sim. Ele é o tal de Percy Jackson? – perguntou Piper apontando para Nico desmaiado no chão.

– Tá longe desse aqui ser o Aquaman. Meu nome é Clarisse La Rue, sou amiga de Percy.

– Filha de Ares, eu já ouvi falar de você. – disse o sátiro.

– Esse é Nico di Angelo, ele é primo de Percy. – disse Clarisse. – Se importa se formos para sua casa? Ele precisa descansar.

– Ah não, claro que não. Entre. Só tá a chata da Jane em casa, mas é só dizer que vocês são meus amigos da escola e tudo bem. – disse Piper.

O sátiro ajudou Clarisse a carregar Nico para dentro da mansão dos McLean. O lugar além de lindo e caro ainda era imenso. Jane, a agente do pai de Piper, mal notou a menina entrando em casa com um garoto desmaiado e uma desconhecida com uma camisa escrita CAMP HALF-BLOOD com uma estampa de um Pégaso em baixo. O quarto de Piper era grande, porém simples, o oposto do que Clarisse pensou que seria o quarto de uma filha de um astro de Hollywood. Apenas uma cama simples, mesa de estudos com alguns livros da escola, uns puffles, uma guarda-roupa pequeno e um porta CD em formato de violão lotado de música boa. As paredes eram de um laranja meio salmão e ela não fez questão que o menino todo sujo deita-se em sua cama.

– Como sabia que estávamos na rua? – perguntou Clarisse.

– Peter sentiu o cheiro e corremos até vocês. – disse Piper dando de ombros.

– Um sátiro chamado Peter?! – estranhou Clarisse.

– Meu sobrenome é Pan! E não, não é engraçado. – disse Peter Pan, o sátiro.

– Na verdade é. – riu Clarisse. – Diz aí McLean, como você sabia que Percy Jackson viria? – estranhou Clarisse.

– Uma menina apareceu em meus sonhos essa noite, ela disse que um rapaz chamado Percy Jackson, filho de Poseidon, iria vir me ajudar a chegar ao Acampamento Meio-Sangue.

– Como era essa menina?

– Linda, muito linda mesmo. Não pude ver seu rosto, mas de certa forma eu soube que ela era muito bonita. Disse que se chamava Silena e que era minha meia-irmã.

Clarisse cerrou os punhos.

– Sim, Silena era linda. – disse Clarisse com um nó na garganta.

– Era? O que aconteceu com ela? – perguntou Piper com medo.

– Deu a vida para me salvar. Sua irmã foi a heroína mais corajosa que eu já conheci. – disse Clarisse. – E eu prometi que te levaria até o acampamento. Em nome de Silena.

– Ela era sua amiga não era?

Alguma coisa em Piper fazia com que Clarisse se sentisse mais calma, sua voz era tão doce que fazia com que Clarisse quisesse revelar seus segredos mais ocultos. Foi quando ela notou que Piper tinha o mesmo dom de Silena, só que ao contrário da amiga, Piper não parecia estar querendo fazer nenhum capricho, talvez nem soubesse que era tão encantadora assim.

– Sim, Silena foi minha amiga. A mais nobre que tive. Mas tenho outros amigos, esse dorminhoco aqui é um deles.

– Nico di Angelo.

– É, filho de Hades. Às vezes acho que com benção de Hipnos. –brincou Clarisse.

Piper não entendeu a piada, mas Peter Pan, o sátiro, entendeu. Piper pegou comida e refrigerante para Clarisse, que comeu até seu estômago doer, mesmo não tendo gastado muita energia nos últimos dias. Clarisse contou para Piper do leucrota e Peter disse que sabia, sentia a presença do monstro e que por isso estava com medo de tirar Piper da cidade.

– O oeste não é um bom lugar. – explicou Clarisse. – Há muitos monstros pelas bandas de cá, por causa de San Francisco.

– E é em San Francisco que seu amigo Percy está indo? Para resgatar esse bebê filho de Zeus? – perguntou Piper.

– É. Thalia murmurou o nome dele enquanto dormia: Jason. Honestamente, eu daria tudo para ver Annabeth, Percy e Thalia cuidando de um bebê. – riu Clarisse.

Quando estava com Piper, Clarisse sentia que podia contar tudo o que sabia e terminou dizendo isso sem querer a menina. Ela pediu desculpas, disse que não era sua intenção, mas que tinha esse efeito nas pessoas, já havia se metido em muitas encrencas por “pegar emprestado” várias coisas, como carros, ou simplesmente fazer com que alguém achasse que deixar uma menina de uns quatorze anos dirigir uma BMW fosse algo normal. Clarisse gostava de Piper, e por causa desse dom, ela lembrava Silena. Piper achou Nico meio estranho, muito pálido, parecia até um vampiro, só que não brilhava no sol e até era um pouquinho fofo, mas não era o tipo de Piper. Jane não fazia nenhum barulho e não se incomodava com Peter jogando vídeo game e comendo alguns talheres.

– Eu achava que Peter era doido até ele me mostrar às pernas de bode. – sorriu Piper. – Foi muito estranho, de verdade. Depois que ele me explicou sobre a Névoa, muitas coisas fizeram sentido, principalmente porque meu pai e Jane não veem problema nenhum em eu ter um “amigo” de doze anos com espinhas, mas eu ainda acho que a Névoa é mais poderosa que isso.

– E você está certa. – disse Clarisse dando uns exemplos de desastres, guerras ou fatos “inexplicáveis” que foram causados por monstros ou deuses.

– Agora MUITA coisa faz sentido! – riu Piper.

Piper gostava de Clarisse, ela podia esmagá-la com uma mão, disso Piper tinha certeza, mas ainda assim, gostava dela. Nico também parecia ser bem legal, Clarisse lhe contou algumas coisas sobre o acampamento e os deuses e disse que ela ia odiar a chefe do chalé dez, Drew, ninguém aturava aquela criatura. Enquanto Nico roncava parecendo um anjo na cama de Piper e Peter havia derrotado alguém super importante em Legend of Zelda, Clarisse estava ocupada levando bronca de Quíron e Sr. D por uma mensagem de Íris, que deixou Piper fascinada.

“Sabe o que Sr. D fez quando descobriu que vocês fugiram? Ele quase tocou fogo no campo de morangos!” disse Quíron com a voz uma oitava acima do normal. “Os sátiros surtaram! Assim como o chalé quatro! Sabe o quão difícil é para Katie e Miranda conter os irmãos? Muito!”

Sr. D deu de ombros, como se fosse uma atitude normal.

– Ei, todos vocês sabiam da profecia! Até o tapado do Jackson decorou as palavras da Rachel! – exclamou Clarisse.

“Esse não é o ponto. Zeus foi bem claro quando disse que nenhum campista ou Caçadora iria sair.” Disse Quíron sério.

“E todos têm que se recuperar para caso seja um Titã ou algo pior.” Acrescentou Sr. D. “Sabe, para caso haja uma batalha. Precisaremos de guerreiros.”

Clarisse bufou, como se já tivesse tido essa conversa com eles antes, ao menos foi isso que Piper imaginou.

“Clarisse... pelo amor de Hermes, onde tártaros vocês estão?” disse Chris chegando por trás de Quíron.

“Eu não mandei você ir lavar a louça junto com Tyler?” disse Sr. D.

“Eu estava fazendo isso, mas queimei o braço. E o Tyson, Sr. D, disse para eu vir aqui pegar néctar.” Disse Chris.

“Rodriguez, por acaso eu pareço o Dr. House? Vá pedir ajuda no chalé sete!” disse Sr. D irritado.

“Tchau querida!” disse Chris mandando um beijo para Clarisse.

– Tchau Chris. – disse ela corando.

“Ele está certo, onde vocês estão?” disse Quíron ignorando Sr. D.

– Bem, eu e Nico estamos em Los Angeles, essa aqui é Piper McLean, cria de Afrodite. – disse Clarisse puxando Piper para que Quíron a visse.

“Olá Piper, meu nome é Quíron.” Quíron calmo como sempre.

– Oi. – disse Piper tímida.

“Por Urano! Não sei quem é que tem mais filhos! Se é Hermes, Apolo ou Afrodite! Parecem que nunca ouviram falar de camisinha!” disse Sr. D.

“E Thalia?” perguntou Quíron.

– Está com Percy e Annabeth em San Francisco, foram atrás de um irmão dela por ordem de Zeus. Isso será hilário! Aqueles três com um bebê... – riu Clarisse.

“São em horas como essa que eu queria que a TV Hefesto seguisse aqueles dois feito paparazzi. Eles são hilários! Com um bebê e a Grace? Isso será melhor que novela mexicana!” Riu Sr. D.

“Você deixou Thalia ir sozinha com Percy E Annabeth para San Francisco?!” disse Quíron sério.

– E daí? Qualquer coisinha ela dá um choque e transforma o Percy em sushi e Annabeth em espetinho de coruja! – brincou Clarisse.

“Clarisse.” censurou Quíron.

– Por Ares! Qual é Quíron, Zeus praticamente nos deu benção para seguirmos com essa missão.

“Por acaso vocês têm alguma ideia de como rastrear o leucrota para que seu pai dê um jeito no monstro? Ou de como achar o meio-sangue que o está controlando?” Perguntou Quíron.

Clarisse não queria revelar o plano, mas disse a conclusão de Annabeth. Milagrosamente Sr. D ficou quieto assim que ouviu as palavras dela.

“Eu disse que era culpa de Hera!” exclamou Sr. D.

– Na verdade você disse que Zeus e Ártemis tinham descartado a ideia de que fosse culpa de Hera. – lembrou Clarisse.

“Alguma ideia de como mandar Piper e o sátiro para cá em segurança?” perguntou Quíron ignorando Sr. D.

– Annabeth disse que não tinha problemas se Piper viesse nos ajudar, já que Piper tem idade para enfrentar monstros. Planjamos ir até San Francisco atrás deles, Piper não sabe lutar, mas pode ficar cuidando do bebê enquanto damos um jeito no leucrota. – disse Clarisse.

“Não é um plano tão ruim. Mas cuidado Clarisse! Piper, além de ser inexperiente, vai estar em um campo de batalha com um monstro que não pode morrer e Peter não sabe lutar.” Disse Quíron.

Clarisse mostrou a lança e deu um sorriso que deu um pouco de medo em Piper, um sorriso de guerra, como se já tivesse triunfo na missão.

– Quíron, eu sou a chefe do chalé cinco! Estarei indo a batalha com os chefes dos chalés um, três, seis e treze. IREMOS vencer! – disse Clarisse com confiança.

“Deve ser o ar de Los Angeles que tá fazendo ela pensar que é capaz de tudo” bufou Sr. D.

“Ainda acho que vocês deveriam deixar o bebê com Piper e Peter e os mandar para cá, nem que seja em um voo e batalhar com o leucrota sem ninguém inexperiente e inofensivo por perto.” Disse Quíron sensato.

– Quando chegarmos a San Francisco, veremos o que fazer com Piper e o mini Pikachu. – disse Clarisse.

Quíron apenas concordou com a cabeça.

“Vou mandar Juníper falar com Drew avisando da chegada de Piper. Acho que Grover não verá problema em arrumar um berço para o bêbe.” Disse Quíron.

“Que ótimo, viramos babás agora! Isso aqui é para treinar semideuses e não uma creche! Não é Esparta! É um acampamento!” lembrou Sr. D.

– Esparta ou Atenas, esse bebê pode ser o último filho de Zeus que o leucrota não matou. Não iremos correr o risco. E quando eu achar esse monstro eu o matarei com minhas próprias mãos, não irei esperar por meu pai. E também matarei o maldito meio-sangue que o controla. Meu irmão não merecia morrer daquela forma! – exclamou Clarisse.

Quíron ficou quieto, de todos os meios-sangues mortos, Lewis Warren, o filho de Ares, foi o que teve a pior morte. O monstro arrancou lhe as tripas enquanto ele morria lentamente. O menino só tinha sete anos e lutou até o último segundo, um verdadeiro guerreiro.

“O idiota do seu sogro mandou notícias, houveram mais quatro mortes, totalizando vinte e um meios-sangues mortos pelo leucrota.” Disse Sr. D.

– QUATRO?! – exclamou Clarisse. – Filhos de quem?

“Um de Hécate, mas esse aí era velho, ele tinha uns vinte e dois anos. Nem sei como conseguiu viver tanto tempo assim. Duas meninas de Bia, uma menina de Hebe e um garotinho de Íris. Butch ficou arrasado com a notícia.” Disse Quíron.

– Bia tem filhos? – perguntou Peter chegando ao quarto.

– Também não sabia dessa. – disse Clarisse.

– Quem é Bia? – perguntou Piper.

– É a personificação da violência. – disse Clarisse como se conhecesse a deusa.

“Clarisse tome cuidado. Diga minha ideia para os demais, por favor. Será o mais seguro para Piper e o bebê.” Disse Quíron com a imagem tremeluzindo.

– Vou dizer. Quando Nico acordar partiremos para San Francisco no carro do pai da Piper. – disse Clarisse.

– Eu odeio aquela limusine. – disse Piper revirando os olhos.

“É, ela é filha de Afrodite.” Zombou Sr. D.

“Boa sorte crianças.” Disse Quíron e a imagem sumiu.

Ele estava certo, era o melhor jeito de salvar Piper, Peter e o bebê Jason. Nico logo acordou se sentindo renovado e eles foram na limusine com o chofer dirigindo a 200km/h. Na limusine Clarisse, Piper e o sátiro puderam dormir, não sabiam muito bem o endereço, mas Thalia tinha dito o bairro, chegaram ao local perto do por do sol e encontraram a rua sem saída cheia de casas no melhor estilo família americana: casas idênticas, com cercas brancas na frente e grama aparada iguais as de filmes de cinema e no melhor estilo subúrbio e só acharam o lugar porque viram um relâmpago e o seguiram. Thalia estava suja de sangue e lutava contra o leucrota, Percy estava desmaiado inconsciente na grama de uma das casas. Annabeth segurava uma menina de cabelos negros presos em uma trança que parecia prestes a desmaiar.

Thalia abria os braços para impedir que o monstro atacasse. Atrás dela tinha um menino com cara de palhaço e cabelos castanhos encaracolados, ele tinha as roupas sujas de graxas e se apoiava em um garoto loiro com os olhos azuis como o céu. A dupla estava perto de Percy no lado esquerdo da rua, enquanto Annabeth ajudava a garota no direito e Thalia chamava a atenção do leucrota. Nico disse para Piper e Peter ficarem dentro da limusine, ele sacou a espada negra e Clarisse pegou a lança e juntos partiram para lutar contra o monstro. O leucrota quase os massacrou, mas os guerreiros fantasmas de Nico ajudaram para que eles continuassem vivos e depois ele apagou perto de Percy. Piper viu a hora do monstro matar Clarisse e correu, tirou a faca de cozinha que levou consigo e “cortou” o animal.

Ele se virou para Piper na intenção de matá-la, Clarisse queria socorrê-la, mas feriu a perna ao tentar impedir que Thalia levasse uma mordida. Então o garoto loiro pegou o martelo de seu amigo e jogou atingindo a cabeça do monstro, que virou para ele raivoso. Annabeth então largou a garota no chão, não tinha mais ninguém em condição para lutar e pulou na frente do garoto loiro prestes a se sacrificar e foi quando o leucrota viu a adaga e correu dali como um cachorrinho com os rabos entre as pernas, deixando todos os que ainda estavam conscientes atônitos.