Quíron estava impaciente e muito. Rachel continuava defendendo que sua profecia estava acontecendo enquanto Connor e Travis faziam mímicas com as mãos indicando aos demais que ela falava muita bobagem, Butch teve que segurar o riso, assim como Will, que estava de cadeira de rodas por ter quebrado uma perna. Thalia brincava com um pedaço solto do curativo em seu braço, enquanto Jake Mason construía alguma coisa sem importância com as peças que tinha no bolso. Katie Gardner fazia nascerem plantas na mesa, enquanto Lou Ellen ficava jogando comida para Seymour; Clovis dormia, como sempre; Clarisse ficou batendo o pé impacientemente durante todo o discurso de Rachel sobre a profecia.

– Então é isso que eu acho. – Rachel concluiu.

– Obrigada Rachel, Malcom, quer acrescentar algo? – disse Quíron.

– Queria era ter benção de Hipnos. – ele disse mal humorado.

Quíron deu um pigarreio bem alto e todos acordaram. Tyson tinha babado sobre a mesa, enquanto Dylan acordou gritando:

– QUE FOI? ONDE É O INCÊNDIO?!

– Ainda bem que eu não tenho é benção de Poseidon. – Malcolm completou.

– Vocês dois... era só para vir um. – disse Quíron.

– Bem... o líder do chalé é o Percy... – disse Tyson.

– Mas o Percy não tá aqui e bem, eu passo o ano todo aqui e o Tyson é mais velho que eu, então não sabemos qual dos dois é o líder substituto. – disse Dylan.

– Líder substituto? Homens... – Phoebe disse revirando os olhos.

– Quíron... er... qual é o motivo dessa reunião mesmo? – Drew perguntou retocando o batom.

– Drew, caso você não tenha notado tem um monstro assassinando semideuses, a maioria bebês, e tipo oitenta por cento do acampamento está ferido por causa desse monstro que não pode morrer... então... por que você acha que é essa reunião hum? Pra discutir o preço dos morangos? – Clarisse zombou.

Todos caíram na risada com o fora de Clarisse.

– Gente, por favor, colaborem. – disse Quíron. – E “obrigado” por explicar a situação La Rue.

– Por nada. – Clarisse sorriu orgulhosa.

– A situação é o seguinte... – o Sr. D disse chegando. – Cadê o Pólux?

– Dando uns pega em alguém. – Connor riu.

– Ele foi ao banheiro, Sr. D; Connor, dá para levar a sério? – Quíron pediu pacientemente.

– Levar a sério? Quíron, Ártemis nos abandonou aqui! – Thalia exclamou.

– É! E os meninos de Apolo são muito chatos! – Phoebe acrescentou.

– Por que tudo sobra para os filhos de Apolo? Isso é bullying! – Will exclamou.

– CHEGA! – Dionísio gritou. – A situação é a seguinte: Esse leucrota surgiu do nada. Hermes foi ao Rancho Triplo G e a outros lugares do gênero, nenhum leucrota ou criatura parecida foi vendida, fugiu ou foi roubada. Ártemis está cuidando da história, procurando culpados, já que Hermes é ocupado ou coisa parecida. – o Sr. D disse fazendo uma careta no final.

– Então... – Travis suspirou.

– Ártemis está preocupada com as notícias de Hermes. E Zeus com o que está acontecendo. Monstros matando meios-sangues é normal, de fato, mas monstros atacando numa margem de dias de nascidos ao máximo de dez anos... isso é estranho. – Quíron complementou. – Os monstros normalmente ignoram vocês até os doze.

– Põe normalmente nisso. – Thalia disse sarcástica.

– Acha que alguém está “controlando” o leucrota para matar os pequenos? – Malcolm franziu a testa.

– Essa foi a conclusão de Ártemis, por isso que Zeus está preocupado. – o Sr. D disse com algo na voz meio diferente dele: nervosismo.

– Acham que há ainda algum seguidor de Cronos? – Rachel perguntou preocupada.

– Pode não ser Cronos, Rachel, pode ser algo bem pior. – disse Clarisse.

– O que pode ser pior que Cronos? Poseidon com soluço? – Will brincou.

– Hera. – Thalia disse séria.

As brincadeiras sessaram.

– Zeus descartou essa hipótese, Hera e os sobreviventes do lado de Cronos estão bem vigiados. – Quíron garantiu.

– Mas os deuses podem estar em vários lugares ao mesmo tempo. – Katie os lembrou.

– É, não podem prender toda a forma de Hera em um só lugar. – disse Butch.

– Pode quando se está sendo punida. – o Sr. D falou não muito alegre. – Por mais que me doa falar isso... infelizmente Hera não tem nada haver com a situação.

– Então... se não é Hera ou os seguidores de Cronos... o que pode ser? – Jake Mason perguntou.

– Algum deus menor? – Drew sugeriu.

– Se for pra falar besteira é melhor você voltar pro chalé dez. – Phoebe disse sem paciência.

– Acham que pode ser algum Titã? – perguntou Travis.

– Ou algum seguidor não descoberto deles? – Connor complementou.

– É possível... mas... precisamos discutir outra coisa. – disse Quíron. – A enfermaria está lotada, o que sobrou dos filhos de Apolo e Hermes sem ferimentos... não dá pra tomar conta dos feridos...

– Não tá pensando em mandar todo mundo pro hospital de novo não né? – Dylan se espantou.

– Porque essa foi uma péssima ideia. – Tyson complementou.

– Posso continuar? – Quíron perguntou e os meninos concordaram. – Obrigado. Já mandei uma mensagem para Apolo, ele irá vim aqui para cuidar de todos os feridos. Enquanto isso, os que ainda conseguem andar ou os com menos machucados, irão continuar na ambrosia e no néctar. Nunca vi tantos feridos gravemente assim com um espaço de tempo grande e a cada dia só aumenta os feridos e olhem que eu já vi muitas batalhas.

– Er... não entendi... isso é bom ou ruim? – Clovis perguntou acordando.

– Por favor, alguém dá cafeína pra essa criatura! – O Sr. D exclamou.

– Temos 80% dos campistas feridos, desses, 75% irão precisar da ajuda de Apolo. Os outros 20% não sabem nem lutar porque são novatos. Então é algo ruim, Clovis. – Quíron falou, nervoso. – Temos muitos machucados graves e mesmo que o período de tempo seja grande também, ainda assim é algo preocupante.

– Há algo que possamos fazer? – Jake perguntou.

– É, porque a mãe da Sunny é médica. – Rachel os lembrou.

– A questão é... por ordem dos deuses, nenhum campista ou Caçadora irá sair desse acampamento até o fim do verão. Ao menos que surja uma missão de vida ou morte ou coisa do gênero. – Quíron jogou a nptícia.

– COMO É QUE É?! – Thalia e Phoebe gritaram.

– EU NÃO AGUENTO MAIS A SKYLAR! ELA ME OBRIGA A OUVIR REO SPEEDWAGON! ESTOU FARTA DE OUVi-LA IMITANDO JESEN ACKLES CANTANDO CAN’T FIGHT THIS FEELING ANYMORE! – Thalia gritou.

– Thalia, se acalma. – Dylan se assustou.

– ME ACALMAR? PORQUE NÃO É VOCÊ QUE TEM QUE OUVIR MÚSICAS MEDIANAS DE ROCK TODA NOITE ANTES DE DORMIR! – Thalia exclamou.

– Alguém dá um calmante pro Pikachu. – o Sr. D revirou os olhos.

– Thalia, foram ordens do seu pai. Está muito perigoso lá fora. Não sei com que milagre que as Parcas ainda não levaram ninguém. – disse Quíron.

– Não quero saber se foram ordens do meu pai! Ele que se dane! Eu tenho direito de ouvir música boa! – exclamou.

Um trovão estremeceu o local.

– TÁ! Eu fico. – ela disse fazendo bico e cruzando os braços.

– Quíron, enquanto aos demais semideuses? Os que provavelmente serão mortos se não formos ajudar! – Clarisse indagou.

– Sua atitude é nobre, de verdade. Mas não há nada que possamos fazer. Zeus disse que vai convencer Ares a dá um jeito no monstro, mas não há garantias. – disse Quíron. – Alguns deuses simplesmente acham que não há porque se livrarem do animal já que os monstros vivem para matarem semideuses.

– Mas não crianças e bebês. – disse Malcolm.

Pólux voltou e ocupou seu lugar.

– Onde Tártaros você esteve? Bebeu o que? Um barriu de vinho inteiro foi? – o Sr. D deu uma tapa na cabeça do filho.

– Diarreia. – Pólux disse envergonhado.

– Avisem aos demais dos seus chalés. E Clarisse, diga para Mark e os demais para se acalmarem, do contrário haverá punição para o chalé cinco. Vocês são nossos melhores guerreiros, é óbvio, mas daí a querer fugir do acampamento mesmo quando metade de vocês está quase entrando em coma depois de tanta pancada na cabeça... é mais do que imprudente. – disse Quíron.

– Tá. Vou acalmá-los, mas não faço nenhuma promessa. – Clarisse disse cruzando os braços e fazendo cara feia.

– Jake, convença o chalé nove de que é melhor suspender as expedições para chegar até Festus e dá um jeito nele. Por enquanto. Depois que a poeira abaixar vocês tentam se “livrar da maldição”. – disse Quíron.

– Certo. – Jake disse decepcionado.

– Mais alguma coisa chefe? – disse Dylan.

– Dylan, já disse para não me chamar de chefe. – Quíron o repreendeu com o olhar.

– O Blackjack me chama de chefinho e o Tyson te chama de pônei de festa, então por que eu não posso te chamar de chefe? – Dylan deu de ombros.

Quíron fez uma expressão severa, apesar de segurar o riso.

– Tá. – Dylan respondeu fazendo biquinho.

– Licença... – disse uma voz masculina conhecida.

Todos olharam para trás de Quíron e Sr. D, ali estava um garoto de cabelos negros meio rebelde, alto, pálido, calça jeans preta, camisa branca e um casaco militar, olhos tão negros como a noite e um sorriso envergonhado no rosto.

– NICO! – Thalia sorriu e foi abraçá-lo. – Achei que você estivesse morto!

– Acredite, no dia que eu morrer, irei puxar seu pé enquanto você dorme. – Nico brincou.

– Gasparzinho! – Tyson sorriu.

– Oi grandão! E aí Rachel? Dylan, uau, você cresceu! – Nico se espantou. – Clarisse eu achei que fosse impossível, mas você consegue ficar mais musculosa a cada ano.

– Vai pro tártaro. – ela revirou os olhos.

Nico riu, estava triste por ser obrigado a ir ao acampamento, mas feliz em rever os amigos.

– O que faz aqui di Ângulo? – O Sr. D perguntou.

– Perséfone apareceu para mim num sonho, disse que era melhor eu passar o verão aqui. – disse Nico.

– Minha irmã o que? – Katie estranhou.

– Por que Perséfone lhe aconselharia a vir para cá? – Thalia estranhou.

– Ela me contou do leucrota, talvez esteja preocupada comigo. Acho meio difícil essa parte, mas aceitei o conselho. – Nico disse dando de ombros.

– Acho que Afrodite tá fazendo showzinho de novo, só que dessa vez ao invés de deixar os semideuses sentimentais ela está deixando as madrastas deusas. – Clarisse zoou.

– Se ela fizer isso com Hera eu saio da Caçada e faço oferenda para ela todo dia. – Thalia brincou.

– EI! Minha mãe não tem nada haver com isso. – Drew disse com seu jeito “rainha do mundo”.

– Então porque Anfitrite e Perséfone estão dando uma de o oposto da Rainha Má da Branca de Neve? – disse Rachel.

– Rachel, você tem que parar de comparar a vida real com série de TV. – Will revirou os olhos.

– A situação do Percy não tá nem 10%, até arco-íris tá preocupado. Anfitrite ainda odeia Percy e eu, mas às vezes, parece que ela se preocupa com ele. – disse Tyson.

– Perséfone não me odeia, ela nem tem motivos pra isso, já que nem ama Hades. – disse Nico. – Acho até que ela gosta um pouquinho de mim.

– Então... ah... está decidido, nenhum Campista ou Caçadora sairá até que o leucrota seja capturado. – disse Quíron. – Agora vão para seus chalés dar as notícias aos seus irmãos.

– Serei fuzilado. – Jake brincou.

– Vou tentar não eletrocutar Skylar. Mas não prometo nada. – disse Thalia.

Enquanto no Acampamento Meio-Sangue os semideuses tentavam se recuperar, se curar e evitar serem mortos por um monstro que não pode ser morto, no Olimpo não havia agitação alguma, pelo contrário, estava muito calmo. Annabeth estava lendo um livro em Grego muito antigo enquanto admirava as estrelas e o mar com vista para o Central Park, ela amava seu quarto. Mas sentia um vazio em seu coração, havia tempo que se sentia assim, vazia, fria, como se faltasse algo.

– Palas. – alguém chamou.

– Olá Héstia, entre, por favor. – Annabeth disse com um sorriso.

– Sua mãe mandou isto, disse que seria de seu agrado. – a deusa disse.

– Ora, muitíssimo obrigada. – sorriu.

Héstia notou a angústia da menina e sentou-se ao seu lado, colocando a mão em seu ombro.

– Algum problema criança? – a deusa perguntou, ela estava na forma de uma criança.

– Não é nada. – mentiu forçando um sorriso.

– Palas, posso não ser tão inteligente quanto vossa mãe, porém não sou tola. Sei que estais mentindo. – Héstia disse com um sorriso acolhedor.

Annabeth deu um suspiro pesado antes de falar.

– A senhora já se imaginou morando fixamente em um lugar que não fosse aqui? Quero dizer, sei que a senhora sai do Olimpo, obviamente, como todos os deuses, sempre está em vários lugares ao mesmo tempo... mas digo... – ela não conseguia realmente dizer.

– Compreendo tuas palavras Palas. Sim, já me imaginei fixamente em outros locais, mas o Olimpo é meu lar. – disse Héstia.

Annabeth abraçou suas pernas, não tinha nada contra o apelido que sua mãe lhe dera, Palas, mas também não amava de paixão. Naquele momento e assim como em muitos outros, Annabeth estava morrendo de saudades do acampamento, dos amigos, de Quíron e, acredite ou não, mas até do Sr. D e das peças de Connor e Travis. Tinha saudade de lutar; o treinamento no Olimpo era tão banal e metade dos deuses menores se engraçava para cima dela todo dia, mesmo sendo repreendidos por Atena. Annabeth sentia falta da vida que levava e se arrependia amargamente a cada dia por ter dito sim. Mas acima de tudo, ela sentia saudades do seu Cabeça de Alga.

– Ora, se não gostas daqui, o que ainda estais fazendo no Olimpo? – a deusa perguntou.

– Prometi a minha mãe... – ela tentou dizer, mas o nó em sua garganta foi maior.

– Tenho certeza de que tudo que tua mãe quer para ti é que sejas feliz. Onde está tua felicidade Palas? – a deusa perguntou fazendo carinho nos cabelos loiros de Annabeth.

– Eu... eu não sei... – ela disse deixando cair uma lágrima.

– Então vás acha-la criança. Viver para sempre é algo magnífico, porém se estás infeliz, serás uma alma miserável por todo o sempre e ninguém merece tal fardo. – disse Héstia.

Annabeth limpou as lágrimas na túnica; ela estava linda com uma túnica cinza que lhe ressaltava os olhos, os cabelos soltos ao natural, com sandálias de couro e posseiras de ouro que combinavam com o cabelo, mas apesar de estar tão linda quanto Afrodite, ela se sentia um lixo.

– Que Morfeu abençoe seus sonhos. – Héstia disse se levantando.

– Obrigada minha senhora. – Annabeth forçou um sorriso.

Héstia saiu do quarto, que estava iluminado por tochas. Annabeth deitou-se na cama, se lembrando do aniversário de um mês de namoro com Percy, em como ele estava impecável de terno em Paris, a noite mais romântica e perfeita de sua vida. Antes de pegar no sono ela decidiu, ia no dia seguinte para o acampamento. Pensou em ir à casa de Sally, mas já era verão, ele deveria estar no CHB, provavelmente ia levar um fora, ele ia gritar na sua cara que não a queria ver nunca mais ou coisa parecida, mas ela precisava vê-lo de novo e quem sabe, reconsiderar o presente de sua mãe. Tentar reconquistar Percy Jackson... essa ideia iluminou seu coração.