Os pés de Clarisse estavam destruídos. Chris tinha um corte horrível na testa e estava sangrando muito. Phoebe (Caçadora de Ártemis) se recusou a atendê-lo e a caçada continuou mesmo assim. Thalia estava quase perdendo os pulmões de tanta correria, mas não podia perder o Leucrota. Não podiam matar o animal e mesmo que pudessem eles não sabiam como. Enquanto as Caçadoras e alguns campistas de Atena, Apolo e Hefesto corriam atrás do bicho, Chris caiu no chão. Clarisse queria ir atrás do grupo, ela era a única de Ares, mas não podia deixá-lo.

– Vá. – Chris disse com uma voz horrível.

– Não, não vou te deixar aqui. Não desse jeito. – grunhiu. – Se ao menos Will estivesse aqui...

– Mas não está. Clarisse vá, o grupo precisa de você. O acampamento precisa de você. Eu posso me dar bem sozinho.

– Não. – ela disse teimosa.

O pegou pelo braço. Não tinha néctar ou ambrósia. Gastou o que tinha quando todos do chalé nove caíram numa armadilha. Christopher, Jake Mason, Harley, Nyssa e Shane precisaram de todo o estoque, tanto das Caçadoras quanto dos demais. Malcom liderava a missão no quesito estratégia. Will Solance estava com eles no início, assim como metade do acampamento, mas teve de voltar quando quebrou uma perna. Mark foi o único a ir com Clarisse, do chalé de Ares, os demais ficaram protegendo o CHB, mas voltou junto com Will e mais duas Caçadoras, pois quase morreu de hemorragia. A única coisa que Clarisse tinha consigo era um dracma. Colocou no chão e esperou o táxi.

– Para onde? – as irmãs cinzentas perguntaram.

– Acampamento Meio-Sangue. Rápido. – Clarisse disse ajeitando a cabeça de Chris em seu colo.

Ir dos arredores de Boston até Nova Iorque costuma ser demorado, mas as Irmãs Cinzentas iam rápido até demais. Chegaram ao local no por do sol, com Clarisse gritando por ajuda. Connor e Travis correram e pegaram o irmão, levando-o para a enfermaria. Quíron galopou até Clarisse que estava imóvel e atordoada ao lado de Peleu, que dormia feito um anjo.

– O que foi criança? – ele perguntou.

– Esse monstro... Metade do chalé de Hefesto está ferido. Os melhores de Apolo estão de cama, só tem o Malcom do chalé de Atena e mais uns dois do de Apolo... Quíron... não sei... não... – ela segurou as palavras.

O centauro a analisou. Ao fundo Clarisse viu Rachel conversando com Grover, pareciam apreensivos.

– Vocês irão conseguir. – Quíron disse tentando ser otimista.

– Thalia quase morreu tem bem umas três horas. – Clarisse respondeu, ela estava com muita raiva, mas se segurava.

– Ainda bem que ela se salvou. – disse Quíron.

– Só porque já conhecia esse monstro... Quíron... honestamente... não vamos nos livrar dele tão fácil. Ele vai continuar atacando e matando semideuses... não há como matá-lo! – Clarisse atirou uma adaga na árvore mais próxima.

– Ártemis não mandaria as Caçadoras para cá se não houvesse um jeito. – ele tentou ser otimista.

– Aí é que está! Ártemis mandou as Caçadoras pedirem ajuda. AJUDA. Esse monstro irá continuar matando até que não haja mais nenhum semideus para contar história.

Quíron não tinha resposta. Clarisse estava evidentemente preocupada e se ela já estava admitindo a derrota, então a situação estava péssima.

– Tyson está aqui. – ele disse dando uma boa notícia.

– Ótimo! Agora terei que ouvir Dylan gritando feito um doido e pulando feito uma pipoca durante a noite toda. – ela revirando os olhos.

– Ele trouxe uma carta do Percy.

Finalmente Clarisse teve uma boa notícia. Havia se passado dez meses desde que Percy tinha se mandado para o palácio de Poseidon e nunca havia mandado nenhum sinal de vida. Rachel, Thalia e Grover cansaram de mandar mensagens de Íris ou pedir para alguma naides mandarem recados, mas nunca houve resposta. Clarisse e os demais haviam desistido de receber notícias do “Senhor Supremo do Banheiro”. Ela deu um sorriso forçado e foi de encontro a Rachel e Grover.

– Chris vai ficar bem? – o sátiro perguntou.

– Espero que sim. E a situação aqui, como é que está? – disse Clarisse.

– Hermes mandou notícias, dois meios-sangues foram mortos em Massachusetts ontem. – a voz de Rachel era pesada.

– Sr. D disse hoje no almoço que Zeus está ficando preocupado, já foram quinze mortos pelo mesmo monstro em um mês. – Grover falou.

– E Ártemis? – Clarisse perguntou.

– Nada. As Caçadoras estão melhores, assim como os demais campistas, mas ela não mandou sinal nenhum. Tentei contatar Apolo, afinal ele é o deus do arco e flecha, mas nada. O Olimpo tá mais sem sinal que empresa telefônica. – Rachel cruzou os braços.

– Tem algo de errado. Numa situação normal os deuses realmente não ligam se vamos morrer ou não, mas se Ártemis mandou as Caçadoras, se Hermes sempre vem trazer as notícias sobre os mortos... então porque nenhum deus não aparece para ajudar?! – Clarisse franziu o cenho.

– Talvez Zeus ache que seja intromissão demais? – sugeriu Grover. – Sabe os deuses não podem interferir demais em uma missão. Ártemis e Hermes já interferiram, talvez, mais do que deveriam.

– Mas daí a fechar a cara? A não responder ou mandar ajuda? Não, tem algo de errado. Eu sinto. – Clarisse disse decidida.

– Ah... eu estava comentando com Grover, Júniper e Tyson que... acho que a minha profecia do verão passado está se cumprindo. – Rachel disse meio sem graça.

– Estamos em Junho... quanto tempo falta pra fazer um ano de profecia? – Grover perguntou contando nos dedos.

– Dois meses, menino bode. – Clarisse revirou os olhos.

– Bem... deve ser bom sinal. – disse Rachel.

– Rachel, sua profecia não foi, exatamente, muito animadora. – Grover lembrou.

– Isso não importa! O que importa é que ela tá acontecendo. – Rachel exclamou.

– Não há como você ter certeza disso. – Grover falou.

– Há não? “Campistas e Caçadoras o monstro temível perseguirão” Quer algo mais temível que um bicho que não morre? – Rachel franziu o cenho.

– Ah... – Grover disse pensando.

– Se a ruiva tiver certa então falta pouco para Percy e Annabeth voltarem. Isso sim é uma boa notícia. – Clarisse disse com um pouco de animação.

– Ei, a profecia não fala que eles voltam. – Rachel a lembrou.

– Tá nas entrelinhas. – Clarisse bufou.

– Nem fala nada sobre a morte do monstro. – Grover já mastigando a própria camiseta.

Clarisse e Rachel se entreolharam e foram para o chalé três com Grover correndo atrás delas. Tyson tinha a mesma cara de bobo feliz de sempre, mas tinha um arranhão na bochecha, Dylan pulava feito um doido na cama. O chifre do Minotauro pendurado ao lado da cama de Percy continuava ali, as Harpias da limpeza só faziam tirar a poeira do objeto.

– E aí Tyson. – Clarisse disse ao adentrar.

– Olá! – Tyson sorriu.

– O que aconteceu na sua bochecha? – Grover sentando em um beliche ao lado da cama de Dylan.

– Ah, Percy e eu estávamos brincando com o tridente do papai e ele sem querer disparou no meu rosto. Preciso nem dizer que ficamos de castigo. – Tyson sorriu novamente.

– POR QUE SÓ EU É QUE NÃO POSSO IR PRA LÁ?! – Dylan fez biquinho.

– E como é que o Percy tá? – Grover ignorou Dylan.

– Tá meio estranho. Tem dias que tá feliz e vai brincar comigo e arco-íris, tem dia que tá triste e não sai do quarto nem pra comer. Até Anfitrite tá preocupada com ele e olhe que ela odeia a gente. – disse Tyson.

Rachel, Clarisse e Grover se entreolharam. Alguém bateu na porta e logo Chris entrou no chalé, tinha a testa e boa parte do cabelo enfaixado e com gaze, mas estava bem.

– Como você está? – Clarisse disse fazendo sinal para que ele sentasse ao lado dela.

– Bem, alguém me deu ambrósia e deu um jeito no corte. Tive pena da Sunny, ela tentava fazer tudo direitinho e Will só reclamando que ela estava tudo errado e blá, blá, blá. – ele disse segurando as mãos da noiva. – O que eu perdi?

– A madrasta do Percy tá preocupada com ele. – Grover disse comendo uma cadeira de madeira.

– Anfitrite? Anfitrite tá preocupada com Percy? – Chris disse em choque.

– Daí vocês tiram o estado do papai. – disse Tyson.

Um silêncio ocorreu. Dylan, que antes pulava feito um macaco, agora estava quieto. Tyson então tirou uma carta do bolso e deu para Rachel.

– Como é que o papel não molhou? – Dylan franziu a testa.

– Percy sabe alguns truques. – Tyson deu de ombros.

– Caro Dylan. – leu Rachel. – Espero que sua vida esteja indo bem, agora que você já tem treze anos deve estar se saindo melhor nas atividades do acampamento. Saiba que estou orgulhoso de você, Tyson me conta sempre como você esta toda vez que volta daí. Lamento por não ter estado com você ouriço, mas prometo mandar um presente bem legal no seu aniversário. Papai prometeu mandar algo também. Divirta-se. Com amor, Perseus.

– Ouriço? Por que ele te chama de ouriço? – Clarisse levantou uma sobrancelha.

– Por causa do meu cabelo. – Dylan fez uma careta.

O cabelo do menino era loiro e parecia um porco espinho, ou um ouriço.

– Perseus? – Grover estranhou.

– Ele nunca gostou do nome, sempre preferiu o apelido. – Chris lembrou.

– Ele tá assim agora. – Tyson suspirou. – Não fala com você ao menos que você o chame de Perseus. Renegou o apelido.

Houve uma troca de olhares silenciosa. Antes que alguém pudesse dizer algo, uma explosão foi ouvida. Eles correram para em frente à Casa Grande, onde os demais campistas estavam; Quíron e Sr. D encaravam Peleu, que lutava contra o Leucrota do lado de fora das defesas do acampamento. Metade dos meios-sangues haviam ido atrás do monstro junto com as Caçadoras e, em um mês, 95% estava de volta ao acampamento com fraturas, hipotermia, hemorragia, perda de órgãos, algum osso quebrado. Ou seja, não havia ninguém para lutar. Só sobrou três Caçadoras, cinco meninos de Hefesto, Malcom e dois de Apolo e eles estavam exaustos por terem perseguido o animal enquanto Clarisse socorreu Chris. E ainda por cima estavam fora das defesas do acampamento.

– Não seria uma boa hora para chamarmos Festus? – Chris sugeriu.

– Tá maluco? O dragão é doido! – exclamou alguém do chalé de Hefesto, o pobre coitado usava muletas e tinha metade do rosto enfaixado.

– Alguma ideia para ajudar Peleu? – Drew gritou quase esperneando.

– As fronteiras do acampamento irão impedí-lo de entrar! – exclamou Katie Gardner.

– Isso! Temos o Velocino! – Lou Ellen lembrou.

– Não creio que o Velocino irá ajudar! – Sherman disse desesperado.

– Cala a boca seu idiota! – Clarisse gritou para o irmão.

– VAMOS MORRER! – Pólux saiu correndo.

– Se aquiete que filho meu não dá piti! – Dionísio gritou com o filho.

– Ah... gente?! – Tyson chamou.

– QUE FOI?! – gritou metade do acampamento (a metade que estava de pé ou com menos gesso pelo corpo).

Tyson apontou para a tempestade que se formava. Não podia ser Thalia, ela estava exausta e muito ensanguentada, Jake Mason e Christopher tentavam carregá-la para dentro do acampamento, ela provavelmente torceu o pé ou algo do gênero. Então um raio caiu bem perto do pinheiro, mas não parecia ser um raio de Zeus, irradiava luz amarela e parecia mais uma esfera. Uma esfera EXTREMAMENTE quente. O leucrota correu com medo do objeto. Os demais então entraram no acampamento, suando litros quando passaram perto do “raio”.

– O que Hades é aquilo? – Miranda Gardiner perguntou.

– Não pode ser... – Quíron disse de queixo caído.

– Ele só pode tá brincando... – Dionísio revirou os olhos.

– É sim! É um pedaço do sol! – Will disse chegando de cadeira de rodas.

– Hein? – Mark, irmão de Clarisse, perguntou.

– Pedaço do sol? Apolo tá doido é?! – Grover coçou a cabeça.

– Não, não é isso. – Thalia disse, se lembrando. – Anos atrás eu me deparei com o semideus, filho de Apolo, que era vigiado por três leucrotas (Os Diários do Semideus). Não sei de foi vingança pela morte do filho ou se Apolo realmente estava tentando nos ajudar, mas o fato é: Leucrotas meio que tem uma conexão com o deus do sol, eu acho.

Quíron sabia da história. Annabeth não sabia direito, Luke preferiu não contar a pequena sobre como ele e Thalia a acharam. O “pedaço do sol” se apagou, Katie e Miranda se aproximaram.

– É só terra agora. – disse Katie.

– É como... se Apolo tivesse pego um pedaço de barro e tivesse colocado um pouco do sol nele. – Miranda levantou uma sobrancelha.

– Faz sentido. – disse Will. – Uma forma rápida e prática de se livrar do inimigo e ainda assim, sem enfurecer Hélio.

Quíron correu os olhos pelos trinta campistas. A outra metade estava lotando a enfermaria ou descansando nos chalés.

– Líderes dos chalés, reunião na Casa Grande agora. – o centauro disse calmo e ao mesmo tempo impaciente.

Thalia pigarreou.

– Depois que os que estavam em missão serem atendidos pelo chalé sete. – ele corrigiu e Thalia sorriu.

Os demais foram voltando às atividades normais. Clarisse encarou Grover, que estava tremendo nos braços de Júniper. Rachel se dirigiu a Casa Grande junto com Dylan e Tyson, já que eles não sabiam muito bem quem era o líder do chalé três. Connor e Travis pararam de fazer gracinha e foram também para o lugar, juntamente com os demais. Clarisse então puxou assunto com Rachel enquanto todos esperavam Jake Mason, Thalia e Phoebe. Já que Thalia estaria representando o chalé um e Phoebe o chalé oito.

– Rachel, acha mesmo que sua profecia está se cumprindo? – Clarisse perguntou.

– Acho. Por quê? – ela deu de ombros.

– Por tem uma parte que fala do javali, águia e o senhor dos mortos...

– “O Javali, A Águia e o senhor dos mortos uma decisão tomarão” é eu sei.

– O que acha que pode ser?

– Não faço a mínima ideia. Mas honestamente? Espero que seja algo relacionado à Percy e Annabeth. Se diz que a Pomba irá presenteá-los, então é algo bom. Só não sei se a Pomba é Afrodite ou Drew. Porque se for Drew, Percy e Annabeth estão ferrados. Aquela ali é doida. – disse Rachel.

– Eu posso te ouvir projeto de Raven Baxter. – Drew disse ajeitando o rímel.

– Não vejo a hora que alguém substitua essa perua. – Clarisse deu um sorriso malicioso.

– Ou que a matem. – Rachel riu.

– Boa ideia! – Travis brincou.

– Se precisarem de ajuda... – Connor zoou.

– Posso ouvir todos vocês. – disse Drew.

Boa parte dos líderes abafaram uma risada, ninguém gostava de Drew.

– Não nos importamos. – disse Rachel.

– É bom mesmo que esteja começando, pela carta do Percy e pelo que o Tyson disse... o lesado tá mal mesmo. – Clarisse disse voltando sua atenção a Rachel.

– Ás vezes eu fico imaginando como a Annabeth está. – Rachel confidenciou.

– É. E também fico me perguntado por que tártaros ela disse sim à Atena. – disse Clarisse.

– Pois bem, vamos começar? – disse Quíron chegando com Thalia, Jake e Phoebe.

Jake estava com o braço numa tipoia e Thalia mancava, mas não havia quebrado a perna. Phoebe tinha uns curativos pelos braços e pelo rosto, mas estava em melhor estado do que muitos. Clarisse não mentiu; de fato essas perguntas que lhe vinham frequentemente à cabeça, porque Annabeth disse sim? Como é que ela estava indo? O que seria dela e de Percy se essa profecia não se referisse a eles? A filha do deus da guerra não aguentava a possibilidade de que eles poderiam viver eternamente sem o outro, já que ambos abriram mão da imortalidade pelo outro. Clarisse não gostava de admitir, mas shippava eles tanto quanto Afrodite.