About Sirius Black escrita por Ster


Capítulo 65
Depois - 1981




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GOODBYE, DRAGON GIRL

1977

AO REDOR DE HOGWARTS

– Sirius?

– Hm.

– Siriuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuus.

– Oi.

– Você está conseguindo ficar de olhos abertos? O sol está muito forte.

– Na verdade eu estou prestes a dormir.

– Siriusssss! Não é pra dormir! – Marlene levantou-se de supetão e deu vários tapas na minha testa. Estávamos há horas deitados no chão daquela montanha naquele sol escaldante de verão. Eu estava morrendo de sono, mas a praga parecia ter dormido por anos, pois não conseguia ficar quieta.

– Lene, vamos ficar quietinhos, que tal.

– Não, eu quero falar!

– Oh Merlin, mas você já fala tanto!

– Sirius!

– Marlene!

– Isso é totalmente ridículo. – ela ficou em silêncio por algum tempo e então deitou-se novamente. Sua mão dançou pelo chão furtivamente até se entrelaçar na minha. – Eu sou infinitivamente apaixonada por você, sabia? Acho que mesmo depois de anos... Eu vou continuar te amando.

– Ah... – a verdade é que eu não estava ouvindo nada direito, pois em poucos segundos eu iria hibernar até Marlene recomeçar a gritar. Mas minha namorada apenas alinhou-se em meu peito e sussurrou algo como:

– Você é a Bela, e eu sou a Fera. Não tem mais ninguém nisso.

1981

Eu fico me perguntando o que teria acontecido com Marlene.

Onde ela estava, o que ela estava fazendo... Será que ela ressuscitou no corpo de outra pessoa? Eu não sei, sinceramente, eu não sei. Tudo que eu consigo ver são todas aquelas pessoas chorando ao ver aquele caixão lacrado, pois seria triste ver o lindo rosto de Marlene desfigurado em exposição. As pessoas sussurravam coisas, conversavam ao meu redor e tudo que eu conseguia pensar era... Em nada. É verdade, eu tenho medo de morrer. Tenho medo de o mundo seguir em frente sem mim, da minha ausência passar despercebida, ou pior, ser uma força natural, impulsionando a vida por diante. É egoísta? Eu sou uma pessoa tão ruim a ponto de querer que o mundo acabe quando eu finalmente fechar os olhos? Eu não quero que o fim do mundo gire ao redor de mim, mas a cada par de olhos fechando com o meu.

O Padre terminou seu discurso e finalmente chegou a minha vez de homenageá-la. Eu não fazia ideia do que eu iria dizer, eu nunca pensei naquilo. Em minha mente... Nós éramos imortais. Levantei-me no primeiro banco e absorvi o silêncio da Igreja enquanto eu subia as escadas. A sorridente foto de Marlene me assombrava quando eu fiquei de frente para todos os presentes. Minha mente esta me traindo o tempo inteiro.

1979

ALGUMA LANCHONETE

– Eu não ainda acredito que Dorcas morreu. – Marlene fechou os olhos, olhando para seu cheeseburger com dor. Kevin e Ninfadora estavam quietos ouvindo a conversa e o sol estava calmo do lado de fora. E as nuvens estavam tão brancas e gordas que poderíamos pegá-la e sair voando.

– Às vezes eu ainda penso que ela está viva. – confessei, tomando meu refrigerante. – Se está difícil para nós, imagine para Remo.

– Pra onde as pessoas mortas vão? – quis saber Ninfadora. Seu cabelo estava da mesma cor do meu e suas sobrancelhas estavam unidas de curiosidade. Kevin inclinou-se na cadeira para poder ouvir melhor. Marlene olhou-me receosa e então eu respondi.

– Bem... Elas vão para o céu.

– Todo mundo?

– Ahn... Sim. – ela mordeu seu hamburger pensativa, mas eu conheço a pirralha, então Ninfadora sorriu quando deixou seu hamburger no prato.

– E os animais também?

– Sim, Dora, eles também.

– E os insetos?

– Hm... Não.

– Voldemort?

– Eu... Não, ele não.

– Ok, mas se todo mundo for pro céu, não vai ficar tipo... Muito cheio? – Kevin assentiu freneticamente, deixando-me desesperado.

– Pirralha, o céu é perfeito, não vai lotar.

– Ahhhh, vai lotar sim. Tem muita gente no mundo. E como é o céu? Como você tem tanta certeza desse lugar, hein?

– Lene? – a safada parecia estar se divertindo e muito com as perguntas incansáveis de Ninfadora. Todos se viraram para ela, que respirou fundo antes de começar a falar.

– Dora... Aqui é o céu. – Uau, essa mentira foi grande, Lene Moo. Ninfadora pareceu assustada enquanto começava a olhar ao redor freneticamente. – Sentar-se com as pessoas que mais ama no mundo, comer sua comida preferida, vestir sua roupa mais bonita... Isso é o céu. Ah, quer saber de outro lugar que é o céu?

– Onde?

– A montanha mais alta ao redor de Hogwarts. Dá uma visão direta e é... Lindo. Lá também é o céu.

– Lá é o paraíso? – perguntou Kevin, absorto na conversa.

– Simmm! – sorriu Marlene. – Ah, e quando estamos no parquinho e os patos aparecem para comer pipoca... Lá também é o paraíso.

– Oh. – exclamou Dora, abismada. – Ok, mas do que os hamburgers são feitos?

Marlene olhou-me, prestes a rir, mas eu estava encantado. Nem fiquei irritado com a birra que Ninfadora fez depois não respondemos suas perguntas. Era em momentos tão... Pequenos, que eu simplesmente notava a importância daquela mulher na minha vida.

1981

Todos aqueles rostos pareciam máscaras para mim.

Eu não tinha nenhum amigo ali. James, Remo, Pedro... Todos me deixaram. Emmeline era só mais uma na multidão. Quando enterrassem Marlene, seria a confirmação de que eu estava completamente sozinho no universo.

– Eu não... – limpei minha garganta. – Eu não planejei dizer nada hoje porque... Eu não sabia o que dizer. Alguns de vocês vieram me abraçar e... Vocês... Vocês disseram que ela estaria em um lugar melhor agora. E sabe, eu... – minha garganta estava fechando aos poucos. Eu não queria chorar, ainda mais com público, mas estava se tornando impossível. – Eu percebo que vocês estão certos. Ela está em uma lanchonete, comendo cheeseburguers com sua família. Está na montanha mais alta ao redor de Hogwarts com seus amigos... E também está no lago, jogando pipoca para os patos. Então, já que ela está nesses lugares maravilhosos... Eu vou ter que dizer adeus a ela, agora.

O caixão repleto de flores não me confortou nem um pouco. O lado direito do rosto de Marlene estava marcado por alguma doença, que semelhava a pele de um dragão. Minha mente estava me traindo mais uma vez... Nenhum sorriso me deixou tão feliz como o de Marlene McKinnon. A Igreja parecia tão grande e eu era tão pequeno... Eu devia ter dito algo? Eu devia ter falado que eu tinha vontade de estar com ela o tempo inteiro, que eu amava seus cachos bagunçados e vê-la voando pelos ares? Que eu simplesmente ficava encantado quando ela mordia os lábios ou a simples forma dela colocar seus cachos atrás da orelha? Teria sido tudo diferente se eu soubesse que seria a última vez que eu estava a vendo? O que eu deveria ter dito? O que eu deveria ter feito? Quase um milagre. Eu sentia um misto de orgulho e admiração por conhecer, gostar, ter alguém como Marlene ao meu lado. Acho que ela estaria rindo de mim agora. Fraco demais pra admitir, ainda bem que há amor o suficiente para os dois. Talvez Marlene e eu fossemos números primos. Eu devia ter dito, não é?

– Adeus, Marlene. – sentenciei. Sentindo que o chão abaixo de mim havia se destruído em pedaços. Desci os degraus, aproximando-me de seu caixão. Então ela sorriu. E eu soube. Eu soube que algo estava errado ali. Era um sorriso que eu conhecia e muito bem. Transmitia conforto. Derramava amor e era como se todas as infelicidades e problemas do mundo pudesse simplesmente sumir apenas com esse sorriso. Que acredita em você de uma forma que você daria tudo para acreditar também. A beleza escondida na Fera finalmente fora revelada.

– Você é a Fera... – sussurrei, tentando a todo custo engolir o choro, que já escapava sem minha autorização. – Eu sou a Bela... Não tem mais ninguém nisso.

JULHO

TAKE CARE - BEACH HOUSE

Enquanto eu assistia Ninfadora brincar, eu entrava em um dejavu que me assombrava nos sonhos desde a morte de Marlene.

– Eu te procurei por toda parte. E eu nem sei porquê. – Marlene mordeu os lábios com força, fechando os olhos, deixando-me em dúvida se ela ria ou chorava. Mas quando seus olhos agora vermelhos se abriram, eu tive certeza. A nostalgia nos envolvia quando ela tentou dizer com a voz embargada.

– Porque você se importa comigo. – ela soluçou, tentando tirar o cabelo do rosto. – Eu só tenho um minuto. A Bulgária é bem rígida.

Tentei rir, mas tudo que saiu foi um riso trêmulo e embargado. Coloquei as mãos no bolso da jaqueta, respirei fundo, olhando no fundo dos olhos de Marlene. Eu não podia pedir para que ela ficasse, ela precisava ir. Mas eu precisava dizer a ela algo que eu fui extremamente estúpido em guardar, em temer dizer.

– Eu... Eu vou ver você novamente? – soluçou ela.

– Não sei. – respondi, ainda fitando meus pés.

– Eu... – Marlene engasgou-se em suas palavras, enxugando suas lágrimas que só faziam cair. Ela respirou fundo e olhou-me, ainda chorando. E era nesse exato momento onde minha mente conseguia fazer a realidade se cruzar com os sonhos. Tudo ficava mais lento e prestes a se desfazer no ar, mas antes disso realmente acontecer, eu tinha a chance de dizer o que deveria ter dito há anos atrás.

– Eu amo você, Lene. – seu rosto congelava em um sorriso. – Eu amo hoje, amanhã... Acho que vou te amar pra sempre.

E então ela sumia.

E estar ali em Hogsmeade me dava a eterna sensação de que ela estava em todos os lugares. No céu azul, nas árvores extremamente verdes, na água brilhante e clara daquela fonte, no sorriso das crianças que corriam pela rua, nos pássaros que voavam sem destino, nos beijos dos casais... Ela era cada coisa bonita deixada no mundo.

Quando Ninfadora subiu o escorregador e desceu, seu cabelo mudou para um tom louro que eu só vira em uma única pessoa em toda minha vida. Foi tão rápido... Talvez tenha apenas sido coisa da minha cabeça, cuja não está muito bem nesses dias. E as lágrimas preencheram minha visão de uma forma que as árvores ao redor do parque eram apenas um borrão... E o céu estava tão azul... E era tudo tão bonito.

Tudo é tão bonito.

Eu continuei vendo a pequena garotinha correr de um lado para outro nos brinquedos e agradeci a Merlin pelo tempo. Porque ali, naquele lugar barulhento e cheio de crianças, o tempo passava devagar o suficiente para eu colocar as coisas no lugar. O tempo voa. O tempo não espera por ninguém. Ele cura todas as feridas. Tudo que qualquer um de nós quer, é mais tempo.

Tempo para crescer.

Tempo para se desprender.

Tempo para esquecer.

Tempo para aceitar.

Tempo para se pôr de pé.

Tempo para começar novamente.


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Notas finais do capítulo

Gente, estou tão emocionada com o amor de vocês pela Marlene, awnnnnn
Infelizmente nunca mais ela vai aparecer, mas é claaaaaaaaaro que eu não vou deixar ela ser esquecida.

E no fim das contas, a loucura dos Black realmente existe...

Já está dando seus sinais em Sirius!

MUAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH