As Quatro Estações - Romione escrita por Verônica Souza


Capítulo 6
Inverno 6




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– VOCÊ O QUE? – Gina perguntou assustada.

– Shhhh! – Eu a empurrei até o canto da sala. – Da pra falar baixo? Rose vai te ouvir.

– Rony, mas é que... Anteontem mesmo você me disse...

– Eu sei o que eu disse. Eu não queria ter feito isso... É que ela me lembrou tanto Hermione que...

– Rony, por favor, me diga que não a beijou imaginando Hermione.

Eu fiquei em silencio.

– Não acredito Rony! Coitada!
– Gina eu sei que não fiz certo, mas ela também não. Ela também me beijou!

– Mas é porque vocês dois estavam em um momento frágil. Mas foi realmente errado ter beijado ela pensando em Hermione.

Eu fiquei calado. Sabia que ela tinha razão.

– Você... Gostou?

– Não foi ruim... Mas agora estou arrependido.

– Arrependido por quê?

– Oras Gina, estou viúvo há um mês e já beijei outra mulher.

– Isso não é desculpa Rony. Como eu disse, Hermione gostaria que você tocasse sua vida pra frente. O que não é certo é o fato de você não ter beijado a moça, mas sim Hermione.

– Por isso estou assim... Não sei como vou olhar pra ela de agora em diante. Tomara que ela não volte na loja. Vai ser uma situação bem tensa. – Suspirei. – Bem, estou indo... – Dei um rápido beijo no rosto de Gina. – Se cuidem.

– Você também... E Rony... Não fique pensando nisso está bem?

Balancei a cabeça afirmando e fui até a cozinha me despedir de Rose. Não tinha como não pensar naquilo. Durante todo o caminho até o serviço eu fiquei pensando no beijo. Só quando comecei a me entreter no trabalho que eu me esqueci daquele assunto.



**



– Harry, já estou indo. – Eu disse passando por ele no corredor.

– Vai se encontrar com a Iara?

– Não Harry, não vou. – Respondi sem paciência.

– Qual é Rony, não vai vê-la nunca mais?

– Não é assim Harry, mas também não quero encontrar com ela tão cedo.

– Só por causa do beijo?

– Justamente por causa do beijo.

– Mas Rony você não é mais adolescente. Pode muito bem se encontrar com ela sem tocar no assunto.

– Acho que não. Agora tenho que ir. Até amanhã.

Saí sem dar tempo de Harry dizer alguma coisa. Eu estava cansado daquele assunto do beijo. Como eles queriam que eu esquecesse se eles mesmos não me deixavam esquecer? Busquei Rose na escola e depois fomos para o ringue. Pelo menos lá eu ia me distrair.



**



– Isso mesmo Rose, tá lindo. – A treinadora dizia quando Rose finalmente conseguiu girar com os patins. Eu sorri para ela quando ela olhou animada para mim. A treinadora olhou para mim e cochichou algo no ouvido dela, e logo depois veio em minha direção. – O senhor é o pai, certo?

– Sim. – Respondi educadamente.

– Sabe, Rose é muito boa nisso. Posso muito bem transformá-la em uma patinadora profissional e...

– Acho melhor irmos aos poucos. – Tentei não parecer rude. – Ela ainda tem quatro anos.

– Sim, é claro. – Ela sorriu envergonhada.

Eu não costumava tratar as mulheres daquele jeito, mas eu estava realmente ficando irritado. Parece que foi só tudo ter acontecido que elas resolveram se aproximar de mim. Não que eu que eu fosse ficar com alguém enquanto estava com Hermione.

Percebi que eu estava realmente ficando neurótico. Gina tinha razão. Hermione não ia gostar que eu ficasse o resto da minha vida naquela depressão toda. Então me levantei e chamei a treinadora.

– Sim?

– Acha que Rose pode realmente ser uma grande patinadora?

– Ah sim Senhor Weasley sem dúvida...

– Rony, me chame de Rony. – Eu tentei dar o meu melhor sorriso. Ela sorriu de volta.

Percebi que realmente tinha sido um bobo quando ela voltou para perto de Rose, parecendo bem mais paciente com ela. Aquilo era errado. Ela deveria ser paciente com a minha filha o tempo todo. Me preparei para sentar quando Rose se desequilibrou e caiu no chão, batendo a cabeça e começando a chorar. Senti meu coração parar.



**



Seguíamos a caminho do hospital. Rose estava acordada, mas se queixando muito de dor de cabeça. Eu corria o máximo que podia. Não ligava para multas, só queria me certificar de que minha filha estava bem. Tentei ao máximo descobrir algum hospital que não fosse aquele. Algum hospital que não tivesse lembranças tão ruins, mas não tinha.

– Fica calma princesa, nós já estamos chegando. – Eu tentei tranquilizá-la. Eu não aguentava ver minha filha chorando. Não poderia deixar as lembranças ruins colocarem minha filha em perigo.

Estacionei com o carro em frente ao hospital, do mesmo jeito que foi da ultima vez. Peguei Rose no colo e corri com ela para dentro do hospital.

– Senhor? O que aconteceu? – Uma enfermeira veio se encontrar comigo.

– Ela caiu... E bateu a cabeça. Ela diz que está com dores. – Eu disse com Rose gemendo de dor no meu colo.

– Por favor, o senhor tem que preencher esses papéis.

– O que? Preencher...? – Eu olhei perplexo para ela. – Não vou preencher nada disso. Minha filha precisa de um médico. Pra que preciso preencher alguma coisa?

– Por favor, senhor, se acalme... É um procedimento do hospital...

– Não quero saber! – Respondi nervoso. – Onde já se viu precisar preencher papéis para atendimentos?

As pessoas começavam a olhar para mim.

– Senhor... Não grite...

– Eu não vou gritar se você arrumar alguém para atender a minha filha.

– O que está acontecendo? – Uma voz familiar fez com que eu me virasse.

– Iara?

– Rony! – Ela exclamou com o rosto assustado. Olhou para Rose. – Oh não Rony... O que...?

– Ela caiu durante o treino, bateu a cabeça. Iara... Por favor...

– Camille, leve ela para a minha sala. Eu vou atendê-la.

– Mas Iara nós não temos médicos e...

– Camille, por favor.

A moça olhou para mim, e depois para Iara. Ela se aproximou e pegou Rose no colo, que não parava de se queixar.

– Papai... Vem comigo papai...

Eu me preparei para seguir a enfermeira quando Iara me segurou.

– Você não pode entrar Rony.

– O que? Mas...

– Eu nem poderia estar atendendo ela. Se você entrar vão saber que te passei na frente. Ela entrando sozinha posso alegar caso de urgência.

– Mas isso é ridículo.

– Eu sei que é, mas eu ainda sou uma estagiária. Por favor, tente entender. Eu volto com notícias em alguns minutos.

Eu olhei bem para ela e não quis piorar a situação. Balancei a cabeça afirmando e ela se virou, entrando pelo corredor.



**



Não saberia dizer se tinham se passado meia hora ou apenas dez minutos, mas aquela espera estava me deixando angustiado e nervoso. Eu não conseguia parar sentado. As pessoas ao meu lado me olhavam incomodadas. Na terceira vez que me levantei, Iara veio em minha direção.

– Rony...

– Então? Como ela está? – Perguntei eufórico.

– Calma Rony. – Ela riu. – Rose esta ótima. A pancada foi um pouco forte, e para crianças nessa idade a dor chega a ser insuportável, mas está tudo bem. Dei um remédio para ela, e agora ela está dormindo. Ela tem que ficar em observação, para o caso de ter alguma coisa, pode ser que ela tenha uma convulsão. Mas não se preocupe, é apenas prevenção.

– Certo... – Suspirei aliviado. – Obrigado Iara, muito obrigado.

– Não há de que. – Ela sorriu.

Ficamos em silencio por longos segundos. Abri a boca para dizer algo, mas ela me interrompeu.

– Quer tomar um café?



**



– Então... – Ela começou a dizer, mas eu a interrompi.

– Iara... Primeiramente eu queria te pedir desculpas por ontem. Eu sei que não fui certo, e gostaria de ser muito sincero com você... Eu não estava pensando claramente quando fiz aquilo, e principalmente... Eu estava imaginando... Outra pessoa.

– Hermione. – Ela disse sorrindo. – Eu sei muito bem disso Rony, por isso fiquei tão envergonhada. Tudo com você aconteceu recentemente, não era certo termos feito aquilo. Mesmo que você esteja querendo se acostumar com tudo, tocar a sua vida pra frente, você ainda não está preparado. Você ainda terá o remorso de estar com outra pessoa, e eu mesma não me sinto confortável com isso.

Não pude evitar abrir um largo sorriso para ela. Eu a subestimei. Pensei que ela ficaria chateada, ou mesmo com raiva por eu ter sido sincero, mas ela me entendeu.

– Está tudo bem... Não precisa ficar envergonhado com isso. Somos amigos, certo?

– Certo. – Eu sorri. – Amigos.

Ela sorriu de volta, e pela primeira vez pude reparar como o sorriso dela era lindo.

– E... Se me permite dizer... Não tire Rose da patinação. Acidentes como esse acontecem. Não deixe que o sonho dela termine por causa disso.

– Eu não estava pensando em tirá-la da patinação.

– Não? – Perguntou surpresa. – Então... Você é melhor do que imaginei. Meu primeiro acidente o meu pai não queria me deixar voltar de jeito nenhum. Tive que chorar durante duas semanas.

– Bom, seu pai e eu temos algo em comum. – Ela riu. – Mas eu não me permitiria destruir o sonho da minha filha.

– Isso é ótimo. – Ela sorriu.

– Sabe... Iara... Não quero ser inconveniente... Mas... É... Será que você... Não gostaria de sair comigo, um dia desses?

– Sair? Tipo... Um encontro?

– Sim... Só nós dois... Sabe... Para podermos nos conhecer mais.

Me preparei para ela se levantar e me chamar de idiota, mas ela sorriu para mim.

– Eu adoraria.

– Mesmo?

– Sim... Eu... Eu me sinto bem estando com você Rony. – Ela abaixou a cabeça envergonhada.

– Eu também me sinto bem com você. – Disse sincero.

Ela olhou para mim do mesmo jeito que olhou no dia que nos beijamos. Mais uma vez eu estava me sentindo atraído, só que mais uma vez imaginei Hermione no lugar dela. Eu estava pronto para tentar seguir minha vida em frente, tentar me relacionar com outra pessoa quando um barulho nos interrompeu.

– Ah... É o meu bip. – Ela pegou o aparelho. – Preciso ir. Tem uma paciente que todos os dias nesse horário eu preciso medir a pressão dela.

– O que ela tem?

– Ninguém sabe. Um homem a trouxe um tempo atrás, dizendo que a encontrou desmaiada na rua. Ela estava muito machucada e com ferimentos na cabeça. Não tinha nenhum documento, nada. Ninguém sabe o que aconteceu.

– E ela não diz?

– Bem... Ela está em coma. Mas os médicos acham que quando ela acordar... Se acordar... Ela não vai se lembrar de nada.

– Situação bem difícil.

– Muito... Tenho que estar preparada caso ela acorde. Na verdade eles deixam a parte mais difícil para mim. Tenho que explicar tudo para os pacientes que acordam do coma. No caso dela será pior, porque além dela não se lembrar de nada, nós não sabemos nada sobre ela.

– Eu sei que você consegue. – Eu sorri.

Ela sorriu de volta e então se levantou.

– Bem... Acho que agora você já pode ficar no quarto com Rose. Ela deve acordar daqui a meia hora.

– Está bem... Obrigado.

Pela primeira vez perdi a vergonha e a beijei no rosto. Ela parece ter gostado. Seu rosto ficou corado e ela sorriu envergonhada. Saiu e deu mais uma olhada para mim antes de virar o corredor. Finalmente eu estava conseguindo seguir a minha vida... Mas... E como ficava Hermione? Eu ia simplesmente esquecê-la?



**



– Eu quero continuar patinando papai. – Rose disse descendo do carro.

– Espera, espera. – Eu corri até ela pegando-a no colo. – Melhor não arriscarmos.

– Você vai me deixar patinar não vai papai?

– Claro que vou. – Eu sorri. – Mas terá que tomar mais cuidado.

– Papai... Posso te pedir mais uma coisa?

– O que quiser...

– A Tia Iara pode ser a minha treinadora?

– Bom filha... Eu não sei se ela vai poder... Ela trabalha e...

– Mas é só quando ela puder papai... Ah eu queria muito que ela me treinasse... Então eu seria uma campeã como ela.

– Princesa, você será uma campeã de qualquer jeito.

– Mas com ela seria melhor.

– Está bem... Amanhã conversamos sobre isso.

Eu fechei a porta de casa e tranquei. Subi as escadas com Rose e entrei no meu quarto com ela.

– Agora você vai para o banheiro tomar um banho e depois dormir.

– Ah papai, mas eu não to com sono.

– Eu leio uma história pra você.

– Eba! – Ela pulou e entrou correndo no banheiro.

– Rose não pula. – Eu disse preocupado. Ouvi o barulho do chuveiro ligando e esperei um tempo. Fui até o quarto dela pegar roupas limpas, e encontrei um bilhete. Eu peguei o papel que estava mal dobrado e o abri. Minhas mãos ficaram geladas e minha garganta ficou quente como fogo assim que eu comecei a ler:

“Rose, esse bilhete é para você nunca esquecer que a mamãe te ama muito. Sempre que eu não estiver em casa e você sentir saudades lembre-se que no fim da noite a mamãe sempre vai estar com você. Eu e o papai te amamos, e nunca vamos te deixar. Com amor, mamãe.”


Eu li e reli aquele bilhete várias vezes. As palavras estavam escritas separadamente com letras de forma para Rose conseguir ler, já que ela ainda estava aprendendo. Pelo papel amassado e mal dobrado, Rose parecia lê-lo todos os dias. Eu não sabia o que fazer... Ler aquele bilhete escrito por Hermione me fez sentir perto dela novamente. Eu não poderia simplesmente jogar cinco anos de casado pelos ares e me envolver com outra pessoa.

Foi aí que percebi que Hermione sempre ia fazer parte da minha vida. Sempre.


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