As Quatro Estações - Romione escrita por Verônica Souza


Capítulo 4
Inverno 4




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– Foi emocionante Harry. Não esperava por isso. – Eu contava sobre a apresentação de Rose quando eu e Harry estávamos sentados no sofá de sua casa.

– Rose é um anjo Rony, se parece tanto com Hermione. Você tem sorte por ter tido uma filha assim.

– Eu sei... – Eu sorri. – Agradeço todos os dias por Hermione ter me deixado a coisa mais importante da minha vida.

Gina entrou na sala, nos entregando uma taça de vinho. Sentou ao lado de Harry e sorriu para mim o tempo inteiro.

– O que foi Gina? – Eu perguntei tomando um gole de vinho.

– Rose me contou que ontem você teve um encontro. – Ela disse divertida.

– Encontro? – Harry me olhou assustado. – Como assim?

– Não seja boba Gina, não foi um encontro.

– Mas estava na companhia de outra mulher.

– Só porque Rose pediu. Ela tem uma sobrinha que estuda na sala de Rose. Eu não ia negar isso para ela.

– Sei... – Gina sorriu.

– Eu já disse que não terei outro relacionamento Gina, não adianta olhar pra mim com essa cara.

– Ninguém está falando pra você ter outro relacionamento Rony, só estou feliz por você pelo menos estar conhecendo outras pessoas.

– Não quero conhecer outras pessoas. – Eu disse rapidamente.

– Ron... Hermione nunca será substituída. Não queremos isso. Mas você não pode ficar assim pelo resto de sua vida e...

– Amor... Acho que não está na hora de falarmos isso. – Harry a interrompeu. Por sorte ele fez isso. Eu não estava aguentando mais ouvir Gina falar daquele assunto. Eu já tinha decidido não ter outro relacionamento e ponto final. Não seria justo comigo, nem com Rose, nem com Hermione.

– Ok... Me desculpe. E então Rony... Como foi a apresentação?

Contei para ela sobre a apresentação de Rose. Ela teve a mesma reação que as outras pessoas. Não parava de elogiá-la, dizendo que tive sorte por ter uma filha daquele jeito.



**


– Se divertiu muito princesa? – Perguntei para Rose quando íamos embora.

– Muito papai! Tia Gina me ensinou a desenhar uma borboleta, e depois nós assistimos filme. Papai será que eu poderia entrar em uma aula de patinação?

– Patinação? Por quê?

– É que eu queria muito ser uma patinadora. Patinar no gelo, dançar e ganhar prêmios. – Ela disse sorrindo. Olhei para ela e percebi que era o que ela realmente queria, mesmo tendo apenas quatro anos.

– Podemos olhar isso amanhã. – Eu disse para ela, e ela me olhou animada. Enquanto eu pudesse fazer de tudo para minha filha ficar feliz, eu faria.

– Papai não é a tia da Brenda? – Rose apontou para o outro lado da rua. Era Iara. Ela carregava várias sacolas e andava pela calçada. Parei o carro ao lado dela e buzinei.

– Oi! – Eu me abaixei para ela conseguir me ver.

– Rony! – Ela exclamou animada.

– Quer uma carona?

– Ah não precisa, eu já estou quase chegando e...

– Entre, nós não mordemos. – Eu brinquei e Rose riu. Ela sorriu envergonhada. Eu desci do carro e fui até ela, ajudando a colocar as sacolas no carro. Abri a porta para ela entrar, e depois voltei para o carro.

– Olá lindinha. – Ela disse para Rose. – Como está?

– Estou bem obrigada.

– Então, para que lado é a sua casa? – Perguntei voltando a ligar o carro.

– É só virar a próxima rua à direita.

Nós ficamos em silencio por alguns instantes, até Rose começar a falar que ia fazer aulas de patinação. As duas começaram a conversar sobre isso, e eu percebi que Rose ficava bem à vontade com ela. Era uma coisa boa, Rose sempre teve muita vergonha de pessoas estranhas.

– Aqui Rony, pode parar aqui, por favor. – Ela apontou para uma casa verde. Eu parei o carro, e desci para ajudá-la a tirar as sacolas. – Vocês não querem entrar?

– Ah melhor não... – Eu disse sem graça. – Acabamos de voltar da casa da minha irmã, Rose brincou o dia inteiro deve estar cansada...

– Não estou não papai. – Ela disse abaixando o vidro.

– Vamos... Só por alguns instantes. Eu tenho uma coisa pra mostrar pra Rose. – Ela sorriu.



**


Não tive escolha. Tivemos que entrar na casa dela. Era uma casa bem aconchegante. Não era muito grande por ela morar sozinha, mas era bem organizada.

– Aqui Rose... Vem até aqui. – Ela a chamou no corredor. Rose foi até lá e Iara apontou para as fotografias na parede.

– É você? – Rose perguntou com os olhos brilhando.

– Sim... Eu tinha dezesseis anos na época.

– Papai! Ela era patinadora! Olha só! – Rose me puxou pelo braço, me levando até o corredor. Olhei para as fotos na parede. Em várias delas Iara segurava um premio. Algumas ela estava no meio da apresentação.

– Não sabia que você era patinadora profissional.

– Tem muitas coisas que não sabe sobre mim Rony. – Ela riu. – De qualquer jeito eu parei quando fiz vinte anos. Tive um problema no joelho e não poderia continuar. Vem Rose, tenho uma surpresa pra você. – As duas andaram pelo corredor até entrarem em um quarto. – Rony! Pode vir também.

Eu as segui, parando na porta do quarto, que pelo visto era dela. Ela vasculhava o guarda roupa procurando alguma coisa. Rose olhava para todos os objetos que tinha no quarto, e a cada hora que achava algo legal ela olhava para mim sorrindo.

– Achei. – Ela pegou uma mochila do guarda roupa e a colocou em cima da cama. – Pode abrir. – Ela disse para Rose. Ela se aproximou da cama e abriu a mochila. Olhou para dentro dela e logo depois olhou para mim de boca aberta. Ela tirou de dentro da mochila uns pequenos patins. – Foram os meus primeiros patins. Eu estava guardando para quando eu... Tivesse uma filha... Mas não tive e... Brenda não gosta de patinação... Então acho que encontrei a pessoa certa. São seus agora. – Ela sorriu para Rose.

– Sério? – Rose perguntou perplexa.

– Não... Nós não podemos aceitar... – Eu disse. – Você ainda pode ter filhos e...

– Na verdade eu não posso. – Ela disse com um olhar triste.

Eu me calei. O clima estava ficando tenso, até que Rose calçou os patins e gritou que servia perfeitamente. Ela estava empolgada e feliz, e já que Iara fazia questão de dar os patins para ela, eu não poderia negar.



**


Rose brincava no quintal com o cachorro que tinha na casa. Ela parecia estar se divertindo e estava com os patins em sua mochila. Não queria largá-los.

– Ela é uma menina maravilhosa. – Iara disse me entregando uma xícara de café.

– Obrigado. – Eu peguei o café.

– Estou satisfeita por ter encontrado alguém para dar aqueles patins. Sei que Rose vai fazer bom uso deles.

– Ela teve essa ideia hoje... Não sei se vai levar isso a frente. A maioria das crianças começam com uma ideia, mas depois desistem. Mas eu não consigo dizer não para ela.

– Tenho certeza que está errado. Rose tem o jeito de uma patinadora, e se ela está começando desde cedo, pode se tornar uma ótima profissional. – Ela respirou fundo com um olhar triste. – Eu não posso ter filhos. Engravidei uma vez, mas perdi o bebê. Então os médicos descobriram que eu não tinha condições de ter uma gestação, eu sempre sofreria um aborto. Então há cinco anos eu decidi operar. – Notei que os olhos dela se encheram de lágrimas. – Foi uma pena... Sempre sonhei em ter uma filha, assim como Rose... Queria eu mesma ensinar a minha filha a andar de patins... – Ela respirou fundo e sorriu para mim. – Bom, mas as coisas acontecem como tem que ser não é?

Eu sorri de volta. Não quis dizer nada. Na verdade eu não conseguia dizer nada. Queria dizer que sentia muito, mas ao mesmo tempo não queria deixá-la mais triste do que estava. E eu sabia muito bem como era aquela sensação.

– Me desculpe falar isso... Eu sei que ainda está recente tudo o que aconteceu com você... É indelicado da minha parte e...

– Tudo bem. – Eu a cortei sorrindo para ela. – Eu estou bem. Na verdade, eu tenho que começar a me acostumar. As pessoas irão sempre perguntar sobre isso e tocar nesse assunto. Você foi a primeira pessoa estranha pra quem eu contei.

– É eu sou mesmo um pouco indelicada. – Ela riu e eu também.

– Não, você não tem culpa... – Eu olhei para Rose. – É bom conversar sobre isso com alguém que realmente entende como é perder algo que amamos.

– Eu sinto o mesmo. Não gosto de tocar nesse assunto com outras pessoas.

– Descobrimos a primeira coisa que temos em comum. – Nós dois rimos. Eu olhei para ela e mais uma vez senti uma saudade incontrolável de Hermione. De quando ela me fazia rir, de quando ela ria das minhas piadas sem graça, de quando ela simplesmente olhava para mim e sorria. Eu me sentia culpado em estar na presença de outra mulher e não conseguir parar de pensar em Hermione. Afinal, Iara era uma moça muito bonita. Delicada, gentil... Poderia se parecer com Hermione. Mas Hermione era única, eu não queria, e não encontraria ninguém como ela.

– Deve ser difícil para ela não é? Acostumar com isso.

– Na verdade estamos surpresos com ela. Ela está lidando muito bem com essa situação.

– Ela é muito inteligente para a idade dela.

Me lembrei de quando as pessoas diziam isso para Hermione quando éramos menores. Todos os professores diziam a mesma coisa.

– Aposto que puxou sua esposa.

Olhei para ela e comecei a rir. Ela demorou entender e depois ficou envergonhada.

– Meu Deus Rony eu não quis dizer que você não é... É que bem...

– Tudo bem, eu entendi. – Continuei rindo. – Mas ela puxou a mãe sim. Em tudo. Ainda bem, se tivesse puxado o meu lado da família ela seria difícil de lidar.

– Bom você não parece que foi uma criança bagunceira... Quero dizer... Só um pouco... – Ela disse sincera voltando a ficar envergonhada. Nós dois começamos a rir.

Eu fiquei surpreso por estar rindo daquele jeito. Pela primeira vez eu não precisava estar fingindo que estava bem. Eu realmente estava me sentindo bem. Percebi que apesar de sentir falta de Hermione o tempo inteiro, era bom saber que eu poderia ficar a vontade perto da Iara.

– Bem... Acho que está ficando tarde... – Eu me levantei. – Rose precisa descansar.

– Claro... – Ela também se levantou.

– Bem, obrigado pelo café, e pelos patins.

– Não há de que... Eu ficarei feliz se no futuro ela der entrevistas falando sobre mim. – Ela brincou e nós rimos.

Nós dois seguimos para o portão, e Rose se despediu de Iara com um abraço. Ela correu para o carro e ficou abraçada com os patins. Olhei para Iara e não sabia se me despedia com um beijo no rosto ou se simplesmente dizia tchau. Ela parecia estar do mesmo jeito.

– Então... Até logo. – Eu disse sorrindo.

– Até.

Me virei e entrei no carro. Rose acenou para ela, e nós fomos embora. Eu estranhamente estava me sentindo mais leve. Talvez por finalmente ter conseguido falar sobre Hermione sem ter uma vontade incontrolável de chorar. Me senti culpado. Não queria me acostumar com a morte de Hermione. E não queria quebrar a promessa que fiz a mim mesmo, que eu nunca iria me apaixonar por outra pessoa.



**


No outro dia eu estava bem mais disposto para trabalhar. Os funcionários da loja até comentaram que eu parecia mais animado. Pelo menos eu não estava fingindo estar bem.

– Vou precisar sair mais cedo hoje Harry. – Eu disse arrumando alguns produtos na prateleira. – Vou levar Rose para o ringue de patinação.

– Ela realmente se interessou por isso não é?

– Ah Harry... Fico feliz por isso. Ela pelo menos vai se distrair, fazendo algo que ela gosta. E... Lembra-se da moça que Gina disse ontem?

– Lembro.

– Encontramos com ela ontem. Eu dei carona para ela e nós ficamos um pouco na casa dela. Ela era patinadora profissional acredita? Deu os patins dela para Rose e eles serviram perfeitamente. Ela queria até levá-los pra escola hoje.

– Sério? Mas por que ela guarda os patins de quando era criança?

– Ela disse que estava guardando para quando tivesse uma filha... Ela não pode ter filhos. Disse que perdeu um uma vez, e não poderia ter uma gestação normal. É um pouco triste a história dela. Ela tinha o sonho de ser mãe.

– Vocês conversaram bastante hein. – Harry riu e eu fiquei envergonhado. – Mas olha só... Pelo menos vocês tem algo em comum. Você se sentiu bem perto dela?

– Bom... Na verdade eu senti um pouco melhor.

– Isso é ótimo! Vai chamá-la para sair?

– Não Harry! – Falei perplexo. – Eu só achei legal conversar com ela. Não quer dizer que quero algo sério.

– Mas eu não disse para ter algo sério. Eu disse para chamá-la para sair... Fazer amizade.

– Não, estou bem assim.

– Uma hora você vai ter que sair com alguém Rony.

– Vou sair sim com alguém, com a minha filha.

– Não quis dizer isso.

– Olha Harry você e a Gina não entendem que eu não quero ninguém tá legal? Não preciso e não quero! Estou muito bem assim, e vou continuar assim.

– Você tem medo de começar a gostar dela não é? – Harry cruzou os braços. – Eu sei que é. Rony, Hermione não ia gostar que você passasse o resto da sua vida sem ninguém.

– Eu não estou sem ninguém. Tenho Rose.

– Não estou falando disso Rony! Você está com medo de que alguém tome o lugar de Hermione, e ter que admitir para você mesmo que pode muito bem se apaixonar por outra pessoa.

– Não quero ter essa conversa. – Eu disse irritado deixando o resto dos produtos na caixa. Saí andando pelo corredor sem dar atenção ao Harry. Quando eu ia virar para o outro corredor, trombei com alguém. – Nossa me desculpe...

– Rony!

– Iara? – Eu sorri envergonhado. – O que... O que você está...

– Eu vim comprar um aparelho para medir a pressão enquanto corro. – Ela apontou para a caixa em sua mão.

– Ah... Claro. – Eu olhei tenso para Harry que vinha em nossa direção.

– Boa tarde! – Harry sorriu para ela.

– Olá.

– Er... Esse é o meu cunhado, Harry. Ele também é o dono... Essa é Iara.

– Ah sim! Muito prazer Harry! – Ela apertou a mão dele.

– O prazer é todo meu. – Harry sorriu e olhou para mim.

– Harry, você não tem trabalho pra fazer? – Perguntei um pouco irritado.

– É claro... Já estou indo. Fique a vontade Iara. – Ele passou trombando em mim, fazendo com que eu me desequilibrasse. Xinguei ele de todos os nomes possíveis em minha mente.

– Então... Vou indo. Bom te ver Rony. – Ela sorriu e se virou para ir ao caixa.

– Espera, onde está indo?

– Eu... Vou pagar. – Ela riu.

– Não, tudo bem... Não precisa. – Eu coloquei as mãos no bolso, nervoso. – Bom... Você deu os patins para Rose...

– Eu não quero uma devolução Rony. – Ela riu novamente.

– Não... Não quis dizer isso. Me desculpe se pareceu isso... Eu bem... É que...

– Tudo bem... Eu aceito a sua gentileza. – Ela sorriu. – Obrigada.

– Eu te acompanho.

Nós dois ficamos em silencio enquanto eu a acompanhava até a saída. Alguns funcionários olhavam divertidos para mim, mas eu fingi não notar.

– Então, obrigada mais uma vez. Mande um beijo para Rose por mim. – Ela sorriu e se virou.

– Espera. – Ela parou e me olhou. – Você... Gostaria de ir conosco ao ringue? Pensei que... Talvez quisesse ver a primeira aula de Rose.

Eu pensei que ela não aceitaria. Talvez eu estivesse sendo indelicado demais ou rápido demais. Então ela sorriu para mim.

– Eu adoraria.


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Notas finais do capítulo

Vocês devem estar se perguntando: "Espera, mas essa fic não é Romione?" Sim, é Romione... Mas a história deles vai começar a se desenrolar no decorrer da fic, não se desesperem kkkk. Tem uma surpresa mais a frente (É só o que posso dizer, já dei um spoiler básico). Mas não se preocupem. ♥