As Quatro Estações - Romione escrita por Verônica Souza


Capítulo 3
Inverno 3




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– Vamos papai, vamos! – Rose pulava em cima da cama. – Eu quero ir logo papai!

– Está bem filha, eu já estou indo. – Eu peguei o meu casaco. – Pegou tudo?

– Peguei papai. – Ela pendurou sua mochila nas costas. – Agora vamos!

Ela pegou a minha mão e saiu me puxando. Entramos no carro e coloquei um cd infantil, Rose adorava. Eu sorri a ouvindo cantando as músicas animadas. Ver Rose alegre era o que deixava meus dias mais felizes.

– Vai ser lindo papai, você vai ver. – Ela disse olhando através do vidro do carro. – A mamãe ia adorar. – Ela disse para si mesma.

Olhei para ela, e observei que ela sorria. Como pode uma criança ter tanta inocência, e ao mesmo tempo ser tão forte?

– Com certeza. – Eu disse sorrindo para ela.

Estacionei ao lado da escola e nós descemos. Rose segurou a minha mão e nós seguimos para a escola. Ouvimos as risadas e a bagunça que vinha de dentro da escola. Entramos juntos e notei os desenhos colados nas paredes.

– Esse aqui é o meu papai. – Rose apontou para um desenho dela sorrindo.

– Ficou lindo, princesa. – Eu sorri para ela.

Continuamos andando, até que chegamos ao pátio, onde estavam vários pais sentados nas cadeiras.

– Senhor Weasley! – A diretora se aproximou de mim. – Que prazer ter o senhor aqui.

– Obrigado. – Eu sorri.

– Nossa pequena Rose preparou uma apresentação muito bonita, aposto. – Ela olhou para Rose.

– Sim Senhorita Kátia.

– Filha, porque não vai ensaiar sua apresentação junto com os seus amiguinhos?

– Está bem papai.

Ela soltou minha mão e saiu correndo pela escola.

– E como ela... Tem ficado na escola? – Perguntei para a diretora. Ela me olhou do mesmo modo que todas as outras pessoas olhavam quando tocava no assunto.

– Rose é uma garota incrível Senhor Weasley. Ela participa de todas as atividades, está sempre alegre e pulando por todos os lados. É um verdadeiro anjo. Pensamos que no início seria difícil para ela, e até concordamos em darmos mais atenção para ela, mas não foi preciso. – Ela sorriu bondosamente.

Olhei para Rose em cima do pequeno palco montado no pátio. Ela brincava alegre com seus amigos, e todos eles pareciam gostar dela. Não poderia se parecer mais com Hermione. Todos ao redor ficavam cativados com a inteligência e bondade que elas tinham.

– Eu também pensei que seria difícil para ela no início, mas Rose tem me surpreendido. – Eu sorri ainda olhando para ela.

– O Senhor tem uma filha espetacular.

– Obrigado. – Eu respirei fundo colocando as mãos no bolso. – Bom, vou me sentar. Obrigado mais uma vez.

– Imagina. Se precisar de alguma coisa fique a vontade em nos pedir.

Eu sorri para ela e andei em direção as cadeiras. Sentei e notei que algumas mães olhavam para mim sorrindo. Sorri envergonhado e olhei para Rose. Ela me deu um aceno animado, e eu acenei de volta.

– Com licença. Tem alguém sentado aqui? – Uma moça se aproximou de mim.

– Ah... Não. Fique a vontade. – Eu me ajeitei na cadeira para ela passar.

– Obrigada. – Ela passou por mim e se sentou ao meu lado. – Você é pai?

– Sim. Minha filha é aquela de vestido rosa. – Eu apontei para Rose.

– Mas que graçinha! Ela é linda, parabéns. – Ela sorriu para mim.

– Obrigado.

– Eu estou aqui acompanhando minha sobrinha. Os pais dela não puderam vir e então eu me ofereci. Aproveitei que não estou de plantão hoje.

– É médica?

– Sou estagiária, mas chego lá. – Ela sorriu e eu sorri de volta. – Sua esposa veio também?

Senti meu estomago se revirar. Era a primeira vez que eu comentava sobre isso com alguém estranho.

– Sou viúvo. – Tentei parecer o mais natural possível, mas aquela palavra saiu como uma faca rasgando o meu peito. Nunca pensei que teria que usar aquela palavra na minha vida.

– Oh... Eu... Eu sinto muito... Que indelicadeza a minha. – Ela abaixou a cabeça envergonhada.

– Tudo bem, não se preocupe. – Eu a tranquilizei. – É que é muito recente...

– Mais uma vez me desculpe.

– Não precisa se desculpar, está tudo bem. Então... Onde está sua sobrinha?

– Ah... Ela... Ela está ali. – Ela apontou para uma garota loira ao lado de Rose. – Acho que são da mesma turma. – Ela sorriu. – Estou ansiosa para ver a apresentação. Minha irmã me disse que são sempre muito bonitas as apresentações.

Fizemos um silencio perturbador. Por sorte a diretora subiu no pequeno palco, pegando o microfone.

– Boa tarde papais, mamães e responsáveis. Estamos mais uma vez comemorando a apresentação anual dos alunos do Colégio Abraão. É com grande prazer que apresento os alunos do primeiro período, com o tema: Meu melhor amigo.

Sem notar eu percebi que o pátio estava lotado com pais e parentes de alunos. Todos aplaudiram e as crianças entraram uma a uma no palco. Mia era a ultima, e acenava para mim a todo instante.

– Ela é uma graça. – A moça disse ao meu lado e eu sorri agradecido.

Uma a uma as crianças falavam sobre quem era o seu melhor amigo e o que ele representava para elas. Uma disse que o seu melhor amigo era seu cachorrinho, outra disse que seu melhor amigo era um boneco, um desenho animado e assim por diante.

Chegou a vez de Rose. Ela parecia um pouco envergonhada, principalmente quando todos fizeram silencio para escutá-la. Ela colocou as mãos para trás e olhou diretamente para mim. Eu sorri e fiz um gesto encorajador.

– Meu nome é Rose Weasley. – Ela disse com sua voz meiga e doce. – E o meu melhor amigo é o meu pai.

Todos exclamaram um “ohh” emocionados. Eu senti meu coração disparar, prestes a sair do meu próprio corpo. Dei um largo sorriso para ela e esperei que ela continuasse.

– Ele sempre me ajuda a me arrumar para vir para a escola, prepara o café da manhã, prepara a minha janta e ainda lê para mim na hora de ir dormir. Ele brinca comigo todos os dias, me faz rir e me protege dos monstros que tem no meu quarto.

Todos deram uma risada, inclusive eu. Meus olhos estavam marejados e eu não conseguia parar de sorrir.

– Eu fiquei muito triste quando minha mamãe deixou a gente e foi morar no céu.

Percebi que as pessoas olharam tristes para ela. Minhas mãos suaram e eu não sabia quanto tempo conseguiria segurar tudo o que eu estava sentindo dentro do meu peito.

– Mas o meu pai está sempre ajudando, junto com minha família. Ele consegue cuidar da casa sozinho, cuidar de mim, trabalhar e ainda arruma um tempinho pra brincar comigo. Meu papai não é só meu melhor amigo, ele é também o meu herói.

Ela sorriu envergonhada e todos começaram a aplaudir. Até aquele instante, foi a criança mais aplaudida na apresentação. As pessoas que estavam sentadas se levantaram, inclusive eu. Meu rosto estava vermelho, e eu sorria incontrolavelmente. As crianças desceram e foram se encontrar com os pais. Rose veio correndo em minha direção com sua mochila nas costas.

– Gostou papai? – Ela parou na minha frente.

– Se eu gostei? – Eu a peguei no colo sorrindo. – Eu adorei! Você foi a mais linda lá em cima. Com certeza a melhor de todas. – Eu disse animado abraçando-a apertado. – Eu te amo tanto filha...

– Eu também te amo papai. – Ela sorriu pra mim, colocando a mão no meu rosto carinhosamente.

– Então... Para comemorar, o que acha de irmos comer um lanche e depois tomar sorvete?

– Obaaa! – Ela exclamou animada. Nós dois rimos e fomos em direção à diretora para despedirmos.

– Rose! – Ela disse sorrindo para nós. – Você estava linda! Todos amaram sua apresentação! Vieram me elogiar e pediram para te dar os parabéns!

– Obrigada. – Ela disse envergonhada.

– E fico feliz em dizer que você tirou a nota maior no trabalho. – A professora dela disse sorrindo mais para mim do que para ela.

– Obrigada professora.

– Nós estamos indo, viemos apenas despedir. – Eu disse para elas.

– Mas já? Não vão esperar a apresentação das outras turmas? – A professora perguntou em um tom decepcionado.

– Nós vamos sair para lanchar e tomar sorvete! – Rose disse.

– Oh isso parece muito bom. Então se divirtam. E até segunda.

– Tchau tia!

– Obrigado, até mais.

Eu me virei e dei de cara com a moça que estava sentada do meu lado. Ela conversava com outras mães, que olhavam sorrindo para mim. Eu sorri sem graça para elas, ficando incomodado com aqueles olhares.

– Oh, eu estava te procurando. – Ela disse olhando para Rose. – Você foi muito bem! Meus parabéns.

– Obrigada!

– Brenda também achou, não foi querida? – Ela olhou para a sobrinha que estava ao seu lado.

– Foi muito legal o seu trabalho Rose.

– A propósito, meu nome é Iara. – Ela sorriu.

– Rony. – Eu respondi sorrindo.

– Já estão indo também?

– Sim... Nós íamos comer alguma coisa e depois tomar um sorvete.

– Que ótimo!

– Papai, chama elas para irem com a gente. – Rose cochichou no meu ouvido.

– Vocês... Querem se juntar a nós?

– Nós adoraríamos! – Ela disse como se esperasse pelo convite.



**



– E então Brenda se acostumou a ficar comigo desde criança. – Ela disse mexendo na sua vasilha de sorvete. Ela parecia envergonhada de estar ali comigo, e eu realmente não estava muito a vontade. Só as chamei porque Rose pediu, e eu queria que ela se divertisse o máximo possível. E ela parecia estar divertindo. Ela e Brenda brincavam no jardim enquanto eu e Iara estávamos sentados no banco observando as duas. Eu não falava muito, porque eu sabia que se falasse alguma coisa, eu ia me lembrar de Hermione novamente e o clima ia ficar pesado. Mas eu não me sentia nem um pouco a vontade com outra mulher.

Foi inevitável não pensar em Hermione. Sempre quando íamos àquela praça com Rose nós nos sentávamos naquele banco e ficávamos horas conversando. Algumas vezes ela se juntava à Rose para brincar com ela, e eu observava as duas. As duas mulheres da minha vida.

– Rony?

– Sim? Ah... Me desculpe. – Eu sorri sem graça.

– Tudo bem. – Ela sorriu de volta. – Eu estava perguntando o que você fazia.

– Ah... Eu tenho uma loja de artigos esportivos com o meu cunhado.

– Mesmo? E qual é o nome?

– Space Sports.

– Não brinca! – Ela disse perplexa. – Eu vou lá sempre quando posso!

– É mesmo?

– Claro! Aquela loja é o máximo! Sempre tem tudo o que eu preciso. E como eu gosto muito de correr e fazer academia eu sempre dou uma passada por lá.

– Que engraçado. – Eu ri. – Nunca te vi lá.

– É eu também nunca te vi... Claro que se eu tivesse visto eu teria reconhecido. Alguém como você a gente não confunde...

Eu sorri envergonhado. Aquilo estava ficando realmente muito estranho. Desde que eu era adolescente eu tenho essa mania de perceber quando alguém está afim de mim. Isso era uma piada para os meus irmãos, porque eles sempre diziam que eu estava me gabando. Mas acabava que no final eu estava certo.

Percebi que não poderia continuar com aquilo. Eu não estava preparado para um novo relacionamento, e nunca iria estar. Hermione era e sempre seria a mulher da minha vida, e nunca seria substituída.

– Acho que está ficando tarde. – Eu me levantei. – Melhor eu ir embora.

– É... Claro. – Ela também se levantou. – Foi um prazer conhecê-lo.

– Igualmente.

– Sempre quando eu puder irei passar pela sua loja.

– Ah... Sim... Será muito bem vida. – Eu disse rapidamente. – Filha, vamos?

– Sim papai. Tchau Brenda. – Ela correu em minha direção e acenou para Iara. – Papai, ela é legal?

– Quem filha?

– A tia da Brenda.

– Ah... É... É sim muito legal.

– Mas ela não é como a mamãe não é papai?

Eu dei uma olhada para Rose enquanto íamos em direção ao carro.

– Não princesa, ninguém nunca será como sua mãe.

Ela pareceu satisfeita com a resposta porque não tocou mais nesse assunto até chegarmos em casa.

– Papai, vou desenhar um pouco.

– Está bem.

Ela subiu para o seu quarto e eu fiquei na sala. Olhei para as fotos em cima da estante, e parei nas que Rose estava com Hermione. As duas tinham o mesmo sorriso, e os mesmos olhos.

Notei que a casa estava muito silenciosa. Subi as escadas e parei na porta do quarto de Rose. Ela estava dormindo no chão com um lápis na mão e um papel. Eu sorri e fui até ela, pegando-a no colo e a colocando em sua cama. Peguei a folha no chão, e nela tinha um desenho que eu deduzi que era de Hermione, escrito: Mamãe tenho saudades. Volte logo.

Olhei para Rose dormindo e senti raiva de mim mesmo por não poder fazer nada. Se eu pudesse, se tivesse a possibilidade de tirar toda aquela angústia do meu coração e do dela, eu faria com certeza.

Peguei o papel e levei para o meu quarto, colocando-o em cima da escrivaninha. Sentei na minha cama e fiquei olhando para o nada, e mais uma vez as lembranças vieram.





"– Rony... Rony! – Arthur segurava o ombro de Rony. – Rony seja forte.

– Eu não consigo. – Ele disse ainda com a cabeça baixa. Já estava daquele jeito há mais de dez minutos.

– Olha Senhor Weasley, não podemos deixar o senhor vê-la agora, mas quando tudo estiver preparado o Senhor...

– Não... Eu... Eu não quero vê-la. – Ele levantou a cabeça interrompendo o médico. Limpou as lágrimas do seu rosto e respirou fundo. – Não aguentaria...

– Tem certeza Rony? – Harry perguntou.

– Tenho. Eu não suportaria Harry... Se eu vê-la eu vou querer... Vou querer...

– Não, não diga isso. – Arthur falou com voz firme. – Você tem uma filha para cuidar Rony! Não pode desistir. Mesmo que assim seja mais fácil, não pode. Você não pode deixar Rose.

– Meu Deus... Minha filha! – Rony voltou a chorar. - O que eu vou falar pra ela pai?

– Nós daremos um jeito Rony... Daremos um jeito.

– Rony, vá pra minha casa. Eu vou cuidar de tudo. Conte tudo para Rose para prepará-la. Você é forte Rony, eu sei que consegue. – Harry o abraçou mais uma vez.

– Certo... – Rony respirou fundo limpando as lágrimas na manga de sua blusa. – Vou pra sua casa.

– Eu te acompanho. Você não pode dirigir assim. – Arthur disse. – Doutor, muito obrigado.

– Eu realmente sinto muito. – Ele disse com pesar. Rony apenas olhou para ele, tentando agradecer, mas não conseguia emitir nenhum som. Apenas abaixou a cabeça e saiu com seu pai. – Essa é sempre a parte mais difícil.

– Imagino. – Harry engoliu o choro que ele mesmo estava segurando por muito tempo. – Então... Podemos começar a preparar as coisas.

– Você... Quer vê-la?

– Não. – Harry respondeu rapidamente. – Eu também não conseguiria. Ela é como uma irmã pra mim.

– Entendo. Então podemos começar a assinar os papéis."






– Papai?

Levantei minha cabeça e olhei para a porta. Rose estava com seu urso de pelúcia.

– Oi princesa.

– Posso dormir aqui?

– Mas é claro. – Abri os braços a chamando. Ela foi andando até a minha cama e a escalou, se aninhando nos meus braços.

– Você também não consegue dormir papai?

– Não...

– Eu posso dormir com você pra você não ficar com medo papai.

Eu sorri para ela, beijando sua testa e acariciando os cabelos dela.

– Eu adoraria.

– Então fecha os olhos que eu vou cantar uma musiquinha para você.

Eu fiz o que ela pediu e fechei os olhos. Ela cantarolava uma música familiar. Hermione sempre cantou aquela música para Rose dormir. Senti meu coração disparar ouvindo a voz suave de Rose. Apertei mais o meu braço em volta do corpinho dela, e acariciei os cabelos dela. Percebi que minha vida não estava perdida. Eu tinha minha filha comigo. Minha princesa. Meu anjo da guarda.


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