As Quatro Estações - Romione escrita por Verônica Souza


Capítulo 2
Inverno 2




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- Amor, por favor... Espere um pouco. – Rony suplicava enquanto Hermione pegava as chaves do carro. – Só até essa chuva parar.

- Meu amor, não precisa se preocupar. Logo essa tempestade passa. Eu já estou atrasada. – Ela dizia com sua voz calma e reconfortante.

- Tenho certeza que seu chefe irá entender se você chegar um pouco atrasada. Eu mesmo falo pra ele se precisar. – Ele insistia.

- São só vinte minutos de carro, não tem com o que se preocupar. – Ela lhe deu um rápido beijo e abriu a porta da garagem. – Deixe um beijo para Rose. E Ron, não deixe que ela acorde muito tarde. Ela está dormindo mal à noite.

- Está bem. – Ele disse com a voz decepcionada.

               Algo estava errado naquele dia. Hermione sentia aquilo. Não sabia explicar o que era só sabia que seu coração estava apertado. Rony sentia o mesmo, por isso a insistência em não deixar Hermione sair de carro com toda aquela neve e chuva.

               Ela entrou no carro e respirou fundo, tentando afastar aquela sensação ruim. Abaixou o vidro do carro e Rony se inclinou para olhá-la.

- Almoça comigo hoje? – Ela sorriu.

- Claro. – Ele também sorriu. – Te pego às onze.

- Perfeito. – Ela mais uma vez o beijou. Colocou o cinto de segurança e acenou para Rony. Ligou o carro e deu partida.

               A sensação ruim passou naquele momento. Sorriu ansiosa imaginando que ótimo almoço teria com ele. Rose ficaria na escolinha, e Rony trabalhava na parte da tarde. Ela parou no semáforo, aproveitando para retocar sua maquiagem. Hermione nunca havia ligado muito para maquiagens, mas depois de cinco anos de casada e com uma filha de quatro anos, sentir-se bonita era essencial.

               Ela ouviu uma buzina alta e se assustou. Olhou para o semáforo e o sinal estava verde. Um carro parou ao lado dela, e ela abaixou o vidro.

- Me desculpe Senhor. – Ela sorriu amigável, mas já esperando receber vários tipos de palavrão.

- Não tem problema princesa. – O homem sorriu e acelerou.

               “Princesa”? – Hermione pensou. Mudou a marcha do carro e acelerou, indo em direção ao cruzamento. – “Princesa”. - Hermione riu. Seria uma ótima história para contar para Rony. Com certeza ele ficaria muito nervoso em saber que um homem de mais ou menos cinquenta anos tinha lhe dado uma cantada daquela. “Veja bem.” – Continuou em pensamento. – “Sou uma mulher casada, C-A-S-A-D...” *POOOOWWWW*.

               Acordei assustado. Olhei para o lado esquerdo da cama, e ele não estava vazio. Rose dormia tranquilamente. Me senti aliviado por ela finalmente ter conseguido dormir. Esse mês estava sendo difícil. Há quase um mês o acidente tinha acontecido. Rose não dormia sozinha desde então. Para mim foi um alívio. Não sei se me acostumaria a dormir sozinho em uma cama tão grande. Me inclinei para olhá-la, e acariciei os cabelos ruivos dela. Dei um sorriso triste. Ela me lembrava muito Hermione.

               Sentei-me na cama e coloquei os pés descalços no chão frio. Passei a mão pelo rosto, tentando afastar aquele pesadelo que eu tinha todas as noites durante todo o mês. Olhei pela janela, não estava nevando, mas o quintal estava coberto de neve, e a rua estava totalmente molhada.

               Aquilo mais uma vez me entristeceu. O inverno era minha estação do ano favorita. Ou costumava ser. Me casei com Hermione no inverno. Na nossa lua de mel, passamos a maior parte do tempo olhando a neve cair através da janela, enquanto planejávamos nosso futuro juntos. Recebi a notícia que seria pai, enquanto eu e Hermione tirávamos a neve de cima do carro. Estávamos preparando para sair, quando Hermione me deu a notícia. Eu escorreguei em um pouco de neve derretida que tinha ao lado do carro e Hermione correu preocupada, enquanto eu não parava de sorrir.

               E Rose também nasceu em um dia de inverno. Olhei através da janela do hospital, aninhando-a em meu braço, enquanto Hermione dormia exausta. Não tínhamos escolhido o nome para ela ainda, quando olhei para um lugar mais distante, no jardim de uma casa. De todas as flores cobertas de neve, apenas uma se destacava. Uma linda rosa vermelha. A neve parecia desviar da rosa, pois ela continuava com seu vermelho intenso, dando vida para todo o jardim.

               Naquele instante olhei para minha filha em meus braços, e os olhos castanhos dela foram de encontro ao meu. Para minha felicidade, Hermione adorou a minha sugestão.

               Mas agora não sei se o inverno é minha estação do ano favorita. Hermione se foi, durante o inverno mais intenso que tivemos em dez anos. Talvez por causa da neve, a mulher da minha vida se foi. Minha mãe diz que ninguém teve culpa, que as coisas acontecem quando tem que acontecer. Mas eu não me conformo. Passamos por tanta coisa juntos, para um dia ela simplesmente nos deixar. Não é justo.

               Eu estava começando a ficar nervoso. Olhei mais uma vez para Rose e ela parecia dormir intensamente. Aproveitei e fui para o banheiro tomar um banho. Precisava relaxar, mas isso era o que eu estava tentando fazer durante todo aquele mês. Deixei a água cair pelo meu corpo, fechando os olhos, e tentando me focar no presente. Rose precisava de mim naquele momento. Não poderia crescer com aquela mágoa de ter perdido sua mãe. E minha família estava me ajudando. Não existem palavras para agradecer minha família naquele momento.

               Sorri pensando em Gina. Ela tentava ao máximo nos entreter, sempre com o seu bom humor. Todos os dias ela ia até minha casa para nos alegrar. Como ela escrevia matérias para um jornal local, ela passava a maior parte do tempo em casa, cuidando de Tiago e Alvo. Harry e eu tínhamos juntos uma loja de artigos esportivos. Nossa loja estava crescendo, e pensávamos em abrir mais lojas pelo país, assim que fosse possível. Não consegui ficar sem trabalhar. Harry insistiu para que eu o deixasse tomar conta de tudo, mas decidi que se eu ficasse em casa seria pior.

               Terminei o meu banho e me enxuguei, vestindo minha roupa logo depois. Saí do banheiro direto no quarto, e Rose estava sentada na cama olhando para a janela.

- Princesinha, não pode ficar sem o seu agasalho. – Eu me apressei em pegar a blusa de frio dela que estava no chão. Rose se mexia muito durante a noite, por isso sempre acabava com um pé de meia no chão e a blusa de frio do outro lado. Me aproximei dela e a vesti. – Dormiu bem?

- Sim. – Ela sorriu para mim. – Sonhei com a mamãe.

               Meu coração ficou apertado, como sempre ficava quando Rose falava sobre Hermione.

- É mesmo? – Eu sorri para ela. – Foi um bom sonho?

- Foi sim. Ela estava nos esperando lá em baixo, dizendo que o café estava pronto.

               Nunca admirei tanto uma pessoa como admiro Rose. Apenas quatro anos de idade e consegue lidar com uma situação daquela. Nenhuma outra criança teria aquela reação. Eu sorri para ela com o coração disparado, e a peguei no colo. Não dissemos mais nada. Eu desci para o primeiro andar, e coloquei Rose sentada no sofá, enquanto ela assistia televisão.

               Fui para a cozinha preparar o café, e coloquei a água para ferver. Enquanto observava a água se aquecendo, pensei em como algumas coisas na vida não tinham explicação. Como por exemplo, o contato do fogo com a água. Se derramarmos uma água por cima de um fogo, ele logo se apagará. Mas se colocamos a água em um recipiente, e a colocamos no fogo, a sua força será maior. Imaginei se para nossa vida seria a mesma coisa.

               Despertei dos meus pensamentos quando a água começou a derramar entrando em contato com o fogo. Me apressei em tirar o caneco de cima do fogão, e acabei pegando na parte quente.

- Droga! – Joguei o caneco em cima da pia e apertei minha mão.

- O que foi papai? – Rose entrou correndo na cozinha.

- Nada filha o papai só se queimou. – Eu sorri para ela.

- Me deixa ver papai. – Ela se aproximou de mim pegando minha mão. A parte onde tinha encostado estava vermelha. – A mamãe sempre passava uma pomada e enrolava, lembra?

               Engoli seco e forcei um sorriso para ela.

- Sim, eu me lembro.

- Senta aí papai. – Ela me puxou pelo braço e me levou até a cadeira. Eu me sentei, observando o que ela ia fazer. Ela abriu a porta do armário pegando um quite de primeiros socorros. O colocou em cima da mesa e pegou a pomada. Eu observei em silencio os movimentos dela. Ela passou a pomada delicadamente em minha mão, como Hermione sempre fazia me transmitindo calma. Depois de passar a pomada ela pegou a atadura e a enrolou na minha mão. Ela não tinha coordenação suficiente para enrolá-la perfeitamente, por isso curativo ficou torto.

- Pronto papai. Agora não vai doer mais está bem?

               Eu abri um largo sorriso para ela e a puxei para um abraço apertado.

- O que vocês dois estão aprontando? – Gina parou na porta da cozinha sorrindo.

- Tia Gina! – Rose correu até ela, pulando em seu colo.

- Como você está lindinha?

- Estou bem. O papai estava machucado e eu estava ajudando ele. – Ela apontou para mim e Gina sorriu.

- Oi tio Rony! – Tiago saiu de trás de Gina.

- E aí campeão. – Eu sorri para ele. – Oi Alvo.

- Oi tio Rony.

- Então vocês três vão ficar quietinhos lá na sala assistindo televisão enquanto eu ajudo o Rony a preparar o café.

               Os três correram para a sala no mesmo instante. Gina me olhou sabendo o que se passava em minha cabeça. Eu me levantei, tentando não olhar para ela. Arrumei a atadura em minha mão, deixando-a mais firme.

- Você não pode agir assim pra sempre. – Ela me disse pegando a caneca com água e começando a fazer o café.

- Não sei do que está falando. – Eu disse ainda virado.

- Você sabe que Rose vai cuidar de você assim como ela fazia. Não pode se abater toda vez que isso acontecer.

- Não estou preparado para isso.

- Mas tem que se preparar. As duas são muito parecidas Rony, não vai ter um momento se quer que você não vá lembrar-se dela quando olhar para Rose.

               Fiquei em silencio. Eu sabia que Gina tinha razão, mas eu não queria falar sobre aquilo. A dor de perder Hermione ainda era grande, e só Deus sabe se ia se curar algum dia. Olhar para Rose e lembrar de Hermione era quase uma tortura.

- Vou para a loja. Harry deve estar precisando da minha ajuda.

- Não vai tomar o café?

- Eu como alguma coisa por lá. – Eu a beijei no rosto e saí apressado da cozinha.

- Filha estou indo trabalhar. Se comporte está bem?

- Sim papai. – Ela desceu do sofá vindo me dar um abraço. – Tchau papai, eu te amo.

- Eu também te amo. – Eu apertei o abraço e a soltei. – Tchau crianças.

- Tchau tio Rony!

               Peguei o meu casaco e abri a porta. Estava começando a chover. Respirei fundo e fui até a garagem pegar o carro. Olhei para o espaço vazio na garagem, com apenas meu carro lá dentro. Olhei para onde ficava o carro de Hermione, e fechei os olhos, ouvindo o barulho da porta do carro batendo, e do jeito como ela dizia: “eu te amo, até mais tarde”. Abri os olhos e voltei para a realidade. Entrei no meu carro e o liguei. A foto colada ao lado do volante me deixava mais calmo. Olhei para Hermione sorrindo para mim, e senti falta daquele sorriso no meu dia a dia. Balancei a cabeça tentando me concentrar. Mudei a marcha e acelerei o carro.

               Tentei ao máximo tirar todo aquele peso da minha cabeça. Pensei em Rose. Ela e minha família eram meu único motivo de continuar vivo. Se não fosse por eles, eu não teria forças de continuar sobrevivendo àquilo. Parei o carro no semáforo e olhei para o cruzamento. Era uma tortura passar por ali todos os dias. E a pior imagem da minha vida veio em minha mente.

- Rose, vamos logo com isso filha. O papai vai se atrasar.

- Eu já terminei papai. – Rose saiu do quarto com a blusa do lado avesso. Rony riu e a tirou, ajudando-a a consertar.

- Pronto. Agora podemos ir. Pegou sua mochila?

- Sim. – Ela disse animada. – Papai da um beijo na mamãe pra mim?

- Dou sim. E depois nós vamos te buscar na sua escola está bem?

- Oba!

               Os dois desceram as escadas. O telefone tocou e Rony sentiu o seu coração frio. Não sabia explicar por que. Ele andou até o telefone e o atendeu.

- Alô?

- Senhor Weasley?

- Sim. – O coração dele disparava.

- Aqui é do Hospital Álvaro Brandão, precisamos que o Senhor venha aqui urgente.

- O que? Pra que? – Rony começou a sentir suas mãos suarem, estava ficando nervoso.

- Quem é papai?

- Sua esposa sofreu um acidente, está internada. Precisamos que o senhor venha aqui para explicarmos melhor a situação.

               A visão de Rony escureceu. Suas mãos tremiam, e ele não conseguia ouvir mais nada. Deixou o telefone cair no chão, e se virou para Rose, que não entendia nada. Ele engoliu o choro e o medo.

- O que foi papai?

- Vamos... Vamos pra casa da tia Gina.

               Foi apenas o que ele conseguiu dizer. Rony entrou em seu carro e saiu disparado pela rua. Rose algumas vezes perguntava por que ele estava correndo tanto, mas ele não conseguia responder. Estava concentrado demais em não começar a chorar na frente de sua filha de quatro anos. O caminho que ia até a casa de Gina era contrário por onde Hermione passava. Por isso ele não passou ao lado do acidente. Em poucos minutos eles estavam na casa de Gina.

               Rony estacionou o carro de qualquer jeito e saiu. Pegou Rose no colo e foi às pressas até a casa de Harry. Abriu a porta com um estrondo e entrou eufórico pela sala.

- GINA! GINA! – Ele gritou andando pela casa.

- Rony? O que foi? – Gina apareceu com as mãos molhadas, aparentemente assustada.

- Gina... Fica... Fica com a Rose para mim. Por favor. – Ele disse nervoso dando Rose no colo de Gina.

- O que foi Rony o que aconteceu?

- Hermione... Ela... Ela está no hospital. Sofreu... Um acidente.

               Ele disse nervoso. Seu corpo tremendo e suando frio. Ele prestes a chorar.

- Meu Deus! – Gina exclamou com os olhos enchendo-se de lágrimas. – Vai logo Rony! Eu vou ligar para o Harry.

               Rony não esperou ela dizer mais. Saiu apressado de casa, entrando no carro e dirigindo em alta velocidade, sempre rezando para que Hermione estivesse bem.

               Assim que chegou ao hospital, ele entrou correndo indo até a recepção.

- Por favor... Eu sou o marido de Hermione Weasley...

- Ah Senhor Weasley! – A enfermeira se aproximou de Rony. – Estava te aguardando. O Doutor Paulo está com sua esposa...

- Pelo amor de Deus o que aconteceu? – Ele perguntou com a voz embargada, percebendo que ia desabar a qualquer momento.

- Sua esposa sofreu um acidente de carro. Parece que o sinal fechou na hora que ela estava atravessando o cruzamento. O carro colidiu com o dela e os dois capotaram, parece que havia uma moça no outro carro, mas nós não tivemos mais informação sobre ela.

               Rony passou a mão em seus cabelos fechando os olhos. Andou de um lado para o outro esperando que tudo aquilo fosse um pesadelo horrível.

- Por favor, o Senhor tem que se acalmar...

- É grave? – Ele perguntou já com lágrimas nos olhos.

- Infelizmente sim. – Ela disse com pesar. – Os médicos estão fazendo de tudo para salvá-la, mas parece que a batida foi forte. Parece que ela bateu a cabeça. Encontramos isso ao lado dela. – Ela entregou o documento de Hermione. Ele estava totalmente arranhado, talvez por ter passado com muita força no chão, a foto estava desgastada, e não dava para ver o rosto de Hermione. – Encontramos no registro o seu telefone.

- Eu quero vê-la. – Ele disse.

- Desculpe, mas não podemos deixar o Senhor entrar agora. Se tudo correr bem, e eu espero realmente que corra, o Senhor pode vê-la mais tarde.

               Rony mais uma vez engoliu o choro, sentido a garganta e o peito queimarem.

- Tenha fé Senhor Weasley. 

               Fé era tudo o que Rony tinha naquele momento. Era sua única opção. Ele sentou-se pesadamente no banco no corredor, e apenas esperou. Era tudo o que ele poderia fazer... Esperar.

               Mais tarde, Harry e Arthur chegaram ao hospital procurando por Rony. Quando o encontraram, Rony sentiu um alivio por não estar mais sozinho. Levantou-se e deixou que seu pai o abraçasse. Ele quase desabou naquele momento, mas ainda conseguiu ser forte. Harry também o abraçou tentando tranquilizá-lo.

               Rony contou o que tinha acontecido, e os dois tentaram acalmá-lo, dizendo que os médicos estavam lá há muito tempo. Que ele teria que ter fé que ia dar certo. Mais uma vez, fé era o único recurso que Rony tinha.

- Senhor Weasley? – O médico se aproximou. Rony sentiu seu coração parar. O rosto do médico não estava nem um pouco feliz.

- Sim? – Rony disse em voz baixa.

               Um silencio agonizante ficou no ar. O médico olhava para Rony, e ele já sentia o seu corpo ficar mole. Arthur segurou no ombro dele, tentando transmitir força para ele. Talvez nenhum dos três tivesse esperança mais.

- Eu sinto muito. – Foi a única coisa que o médico conseguiu dizer. Rony não conseguiria ser tão forte naquele momento. Deixou que o desespero saísse de seu corpo, e deixou a tristeza e a agonia tomarem conta dele. Ele se sentou no banco apoiando a cabeça em suas mãos, e chorou. Chorou como nunca tinha chorado antes. Chorou como se o ar que tivesse em seus pulmões não fosse suficiente. Chorou como se o mundo estivesse acabando, e estava. O amor da sua vida tinha partido.

               Passei a mão no meu rosto, tentando afastar aquela lembrança horrível da minha mente. Respirei fundo, e engoli o choro que insistia em sair. Passei a mão nos olhos, que começavam a se encher de lágrimas. Estacionei o carro e desci. Olhei para a loja, dava para ver que o movimento estava grande. Pelo menos isso. Respirei fundo e arrumei a gola da minha camisa. Fui em direção à loja e me preparei para mais um longo dia fingindo que eu estava bem.

- Rony! – Um funcionário exclamou.

- E aí Ricardo! Trabalhando duro hein? – Brinquei e nós dois rimos.

- Com certeza! Parece muito bem Rony! – Ele disse dando tapas em meu ombro.

- Obrigado amigo. – Eu forcei um sorriso. Querendo ou não, fingir estar bem me acalmava. Pelo menos eu não teria que ficar vendo as pessoas olhando para mim com pena.

- Grande Weasley! – Outro funcionário disse sorrindo. Acenei animado para ele, e depois para as moças do caixa.  Parecia um dia normal, como todos os outros, se não fosse o fato de que eu ia embora, e não ia ver o rosto de anjo na cozinha preparando o jantar com tanto bom humor.

- Olha ele aí! – Harry disse sorrindo vindo em minha direção. – Ótimas notícias! Conseguimos bater a meta desse mês. Vamos conseguir abrir a outra loja. – Ele disse animado.

- Isso é ótimo Harry! – Eu exclamei também animado.

- Temos que comemorar!

- Não Senhor, infelizmente não. – Uma mulher disse atrás de mim. Me virei, e dei de cara com um homem extremamente abatido com uma foto na mão.

– Desculpe atrapalhar a comemoração, mas é que eu estou procurando a minha irmã. – Ele mostrou a foto de uma moça jovem. Me lembrava um pouco Hermione. A pele bem branca, os cabelos castanhos.

- Desculpe... Não a vi. – Eu disse com pesar.

- Sinto muito. – Harry disse também olhando a foto.

- Obrigado mesmo assim. Qualquer coisa, se a vir, esse é o meu número. – Ele entregou um papel para mim. – Ela desapareceu a mais ou menos um mês atrás. Só encontraram o carro dela amassado, mas nem sinal dela. Para piorar a situação ela estava sem os documentos. Acham que foi um acidente de carro.

               Fiquei pálido. Engoli seco e fiquei em silencio.

- Desculpem atrapalhar. Obrigado. – Ele se retirou. Harry bateu em meu ombro, olhando triste para mim.

- Tudo bem? – Ele perguntou.

- Sim. – Menti e forcei um sorriso. – Vou... Até o escritório, resolver algumas coisas. – Eu disse sem esperar a resposta dele. Não poderia suportar mais uma vez Harry olhando para mim daquele jeito. Não era culpa dele, eu sei. Mas era pior para mim.

               Entrei no escritório e fechei a porta, respirando aliviado. Bati o Recorde. Fingi estar bem durante longos dez minutos. Eu definitivamente não poderia apenas fingir. Eu tinha que ficar bem. Aquela dor nunca ia me abandonar, e o sentimento de perda também não, mas eu teria que seguir minha vida. Mesmo que fosse difícil, mesmo que fosse impossível, porque não tinha mais jeito. Apenas um milagre teria que acontecer para eu ter a minha Hermione de volta. Eu olhei para a fotografia dela em cima da minha mesa. Nunca acreditei em milagres.


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