Tempo De Estrelas escrita por Hanna Martins


Capítulo 34
Escolhas


Notas iniciais do capítulo

Nossas escolhas podem não apenas afetar nossa vida, mas a de outras pessoas, e todo dia fazemos escolhas. Finnick e Katniss também fizeram a deles.



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Seus olhos verdes, que lembram o mar em um dia calmo de verão, me analisam, um sorriso frágil surge lentamente em seu rosto. Estou diante novamente daquele garotinho frágil que salvei dos valentões do colégio. Ele me estende a mão vagarosamente.

– Katniss... – sua voz é quase um sussurro.

– Finnick... – me aproximo dele e pego a mão que me estende.

Ele fecha sua mão e cobre a minha com força.

– Katniss, você está bem? – sua voz é fraca quase um sopro.

– Eu estou, Finnick, não se preocupe. Mas, e você?...

– Estou bem... Katniss, eu...

– Não faça nenhum esforço, Finnick. Você deve estar cansado, depois de todos estes exames. Descanse, sim?

Finnick aperta a minha mão.

– Não vou sair daqui – digo ao perceber que ele fica preocupado com a possiblidade de eu ir embora.

Finnick me lança um doce sorriso e fecha os olhos. Com os olhos fechados desta maneira, Finnick lembra uma criança pequena, um frágil garotinho. Sua mão está quente e aperta a minha com força, como se quisesse me prender ao seu lado. Deixo que ele segure minha mão, ele me parece um vaso de cristal, tão frágil que qualquer coisa o pode quebrar.

Observo Finnick dormir sua respiração é suave, isso me tranquiliza.

– Katniss... – me volto em direção a voz que me chama.

Ela parece bem menos enérgica, veste uma calça jeans simples e uma camiseta branca, seus longos cabelos castanhos estão prendidos em um coque no alto da cabeça, seu rosto demonstra cansaço, não há sinal de maquiagem em seu rosto. Ela retira os enormes óculos escuros revelando círculos negros em volta de seus belos olhos verdes. No entanto, ela ainda está linda.

– Annie?! – digo surpresa.

– Acabei de chegar da turnê no México – explica perante a minha expressão de surpresa. – Nem acreditei quando me contaram sobre o acidente do Finnick! Estou tão feliz que ele saiu do coma! Você não sabe o quanto eu pedi pela recuperação do Finnick! Eu não conseguia pensar em nada a não ser na recuperação dele. Como ele está?

– Melhor – olho para Finnick e retiro uma mecha de cabelo que cai sobre sua testa.

– Katniss, você precisa descansar. Boggs me contou que faz mais de oito horas que você está aqui com o Finnick.

Oito horas? Realmente perdi a noção do tempo. Olho para Finnick que dorme tranquilamente, ele ainda tem minha mão em sua mão, e a segura de maneira forte.

– Não se preocupe com Finnick, eu cuido dele – ela olha para ele de uma maneira doce. – Ele é meu melhor amigo... Finnick me ajudou tanto, de certa maneira ele é a única pessoa no mundo que sempre conseguiu me compreender – sorri.

Retiro minha mão da mão de Finnick e me levanto da cadeira, que fica ao lado da cama dele. Saio do quarto lançando um último olhar em direção a Annie e a Finnick, ela se senta na cadeira em que eu estava, assumindo a mesma posição em que eu me encontrava.

Vou para meu apartamento. Estou realmente exausta, depois destes dias em que quase não dormi sinto finalmente o sono e a exaustão chegando. Deito na cama sem ao menos trocar de roupa.

O toque do meu celular me desperta. Não sei quanto tempo eu dormi, parecem que foram semanas. Estou um pouco tonta e sonolenta, olho para o relógio, constato que dormi mais de 16 horas seguidas.

– Alô – atendo o celular com minha voz de sono.

– Oi, Katniss, é a Annie... Finnick está perguntando por você, ele quer te ver?

– Aconteceu alguma coisa? – indago preocupa.

– Não – me tranquiliza Annie. – Está tudo bem. É que o Finnick está preocupado com você... E quer conversar com você sobre algo...

– Diz para ele que já estou indo – desligo meu celular.

Ligo o chuveiro e tomo um banho rápido para acordar.

Vou para o hospital o mais rápido possível. Consigo passar pelos jornalistas sem que ninguém me note. Vou imediatamente para o quarto de Finnick.

Abro a porta e me deparo com Finnick sentado na cama, ao seu lado está Annie que tenta faze-lo tomar uma sopa.

– Vamos, Finnick! – insiste. – Você precisa comer! – leva a colher até a boca de Finnick.

Ele faz sinal negativo com a cabeça.

– Só mais esta colher, eu prometo! – Annie sorri.

Finnick suspira e abre a boca para receber a colher de sopa das mãos de Annie. Entretanto, sua boca se fecha e seu olhar volta-se para mim.

– Katniss! – um sorriso doce surge em seus lábios.

– Que bom que você está aqui, Katniss! – fala Annie. – Este cara já está me deixando maluca perguntando por você, e ainda não quer comer – ela lança um olhar divertido para Finnick. – Agora que ela chegou, seja um bom menino e coma! – fala em um tom brincalhão.

– Está bem, Annie – responde ele.

– Vou deixar vocês dois a sós – Annie se levanta da cadeira perto de Finnick.

Apenas agora noto que ela veste a mesma roupa de ontem.

– Você dormiu aqui? – pergunto.

– Sim – ela sorri. – Não quis que este ser resolvesse fugir do hospital para te procurar – brinca. – Já que ele não parava de falar em você!

Ela vai até a porta.

– Vou para minha casa agora, mas eu volto mais tarde, Finnick. Até mais, Katniss – se despede.

Me aproximo da cama de Finnick e sento na cadeira em que Annie estava.

– Como você está? – pergunto sem olhar ele.

– Melhor – responde me olhando.

– É melhor você tomar a sopa antes que esfrie – aponto para o prato de sopa que ele tem diante de si. – Você quer que... eu...

– Não, não precisa. Annie é uma exagerada, eu consigo comer sozinho – pega uma colher de sopa e toma.

Ficamos em silêncio por algum tempo enquanto Finnick toma sua sopa. Isso é desconfortável, não sei o que fazer se olho para Finnick, se olho para a cortina branca da janela. É, esta cortina branca é bem interessante, como eles fazem para ficar tão branca?

– Katniss?

– Ahã? – olho para Finnick que me observa.

Ele solta um sorrisinho.

– O que foi?

– Você ainda não perdeu a mania de ao ficar constrangida tentar prestar atenção em outra coisa...

– Mas, eu não estou... sabe... constrangida, é que estranho, estar com você aqui...

– Você já leu a revista Star? – sua expressão agora é séria.

– Não – faço um expressão interrogativa. – Por quê?

Finnick pega a revista que está ao seu lado.

– Está é edição da Star que saiu hoje...

Pego a revista das mãos de Finnick, na capa está eu e Finnick em uma foto que tiramos para a campanha dos perfumes Sinsajo, com letras enormes “O herói que salvou a mocinha, saiba tudo sobre acidente de Finnick Odair e como ele salvou sua colega Katniss Everdeen (matéria de Enoboria)”.

Retiro meu olhar de cima da revista.

– E? – digo para Finnick que me observa preocupado.

– Por que você falou isso a eles? – interroga.

– Porque é verdade, você me salvou... – o encaro. – E eu estou muito agradecida por isto. Eu não sei por que fez aquilo, Finnick... Mas, obrigada. Eu só estou viva, porque você estava lá.

Finnick leva sua mão até meu rosto e me acaricia. Eu apenas olho para ele, sem esboçar qualquer reação.

– Ah, Katniss... – ele suspira. – Se eu pudesse eu tinha dado minha vida por você...

Olho para ele não acreditando em suas palavras.

– Finnick?! Por que você está falando isso? Eu não entendo... Você fez aquilo comigo e agora... – não há raiva em minha voz, apenas confusão.

– Katniss, me perdoe, por aquilo que fiz com você... Você não sabe o quanto eu sofri...

– Finnick, se você sofreu, então por que fez aquilo comigo?

Ele suspira e olha em outra direção.

– Eu só queria realizar meu sonho, ser um cantor, compor músicas... Eu fui um imbecil... Eu comecei a conhecer este mundo e percebi que ter uma boa voz, saber compor músicas não significavam nada. O que importa aqui é a fama. E se quisesse seguir nesta profissão eu precisava ter fama. Foi então que surgiu a minha oportunidade...

Ele me olha, eu devolvo seu olhar, e nada digo.

– Você conhece Cashmere, a vocalista de “As carreiristas”, não? – faço sinal afirmativo com a cabeça. – Portanto, sabe dos seus inúmeros escândalos, não só dela, mas de todas as intrigantes da banda... Na época, elas estavam saindo de mais um escândalo, envolvendo Annie Cresta, que foi considerada a responsável pela separação de Pierre Archer e Jane Jhones....

Peeta já me contou sobre isso, de como Annie foi acusada injustamente por estar saindo com Pierre Archer. Annie não estava com Pierre e nunca teve qualquer espécie de envolvimento com o famoso ator. Na época, ela namorava Peeta escondida da mídia.

– Cashmere também estava com a imagem bastante suja devido aos boatos de ter saído com um homem trinta anos mais velho, pai de cinco filhos e casado – Finnick prossegue. – E com o escândalo de Annie a imagem de “As carreiristas” tornava-se cada vez pior. A solução que encontraram foi fazer a banda se afastar dos escândalos, focando em um amor regenerador... A escolhida para isso foi Cashmere... “As carreiristas” são da mesma agência da qual faço parte – explica. – Eles se interessaram em mim para ser o amor de Cashmere, alguém que regeneraria a garota problemática ao conquistar seu coração. Aquela era a minha chance... – ele fica em silêncio, e afasta seus olhos de mim.

– E? – interrompo o silêncio.

– Katniss, me entenda, eu estava deslumbrado por este mundo, queria fazer de tudo para ter fama, ser reconhecido... Realizar meu sonho – nada falo. – Mas ao mesmo tempo, eu não queria te deixar, eu... – ele me olha no fundo de meus olhos. – Eu te amava, Katniss.

Um sorriso sarcástico sai dos meus lábios.

– Me amava, Finnick? – minha voz tem um alto teor de sarcasmo.

– Me escute, por favor – pede.

Cruzo meus braços e o encaro, esperando que prossiga sua narrativa.

– Eu não sabia o que fazer... Me debatia procurando por uma resposta. Eu queria ficar do seu lado... mas sabia que esta talvez fosse minha única oportunidade. A agência iria investir muito na minha carreira se eu namorasse Cashmere. Afinal o namorado de Chashmere não deveria ser um completo desconhecido do público. Eu... eu... – hesita. – Aceitei. Foi a pior escolha que tive que fazer em toda a minha vida, mas eu fiz. E você não sabe, Katniss, o quanto eu sofri por fazer esta escolha – uma solitária lágrima escorre pela face de Finnick.

Ouço suas palavras atentamente, não o interrompendo. Não sei o que pensar de tudo isso.

– Eles começaram a investir em minha carreira cada vez mais, estavam preparando o terreno para anunciarem o namoro... Porém, havia um problema, meu namoro com você. Eu não poderia iniciar um namoro com Cashmere tendo uma namorada. Se alguém descobrisse o plano fracassaria completamente, arruinando ainda mais a imagem de “As carreiristas” e eu nem teria outra chance... Eu tentei me afastar de você, não telefonando mais, não mandando mais mensagem. Fui extremamente frio com você, quando nos vimos depois de um mês separados.

Eu me lembro de tudo isto, e toda a solidão que senti. Aqueles dias foram terríveis para mim... O quanto eu tentava acreditar que aquilo era apenas uma fase.

– Ah, Katniss, você não sabe como ser frio com você foi terrível para mim. Eu me odiava por fazer aquilo, eu queria apenas te abraçar, te beijar, te sentir em meus braços. Lembro quando dei o show no restaurante dos meus pais e te vi na plateia me escutando, eu quis saltar do palco e ir em direção a você e te envolver em meus braços, e nunca mais soltar. Mas, eu não podia, eu havia feito a minha escolha... Os dias foram passando e eu precisava terminar com você, aquilo não podia continuar, logo meu namoro com Cashmere iria ser anunciado... – os olhos de Finnick estão cheios de lágrimas. Ele limpa uma das lágrimas que insiste em cair sobre sua face. – Até que veio aquela festa no colégio. Era a minha última oportunidade de terminar com você, mas eu não tinha coragem de falar isso olhando em seus olhos, eu não suportaria.

Ouvir esta confissão de Finnick me deixa tão dolorida, dói tanto relembrar o passado.

– Eu não sei como surgiu a ideia, não sei se partiu de Johanna ou de mim, eu não lembro. Só sei que quando vi você se dirigindo para o camarim em que eu estava, eu e Johanna tivemos aquela ideia estúpida. Quando eu percebi havia falado aquelas palavras idiotas para você.

Uma lágrima cai de meus olhos. Eu não quero chorar, eu não quero! No entanto, não pude impedir que esta estúpida lágrima caísse. Ela cai ao me lembrar daquelas palavras que Finnick disse para mim, aquelas palavras que me feriram como se alguém tivesse atravessado meu coração com mil espadas. Não, se alguém tivesse atravessado meu coração, não tinha doido tanto como doeu.

– Me desculpe, Katniss! Me perdoe, por favor eu te imploro. Você não sabe como foi terrível viver estes anos me lembrando daquelas palavras que disse para você, e do quanto eu me arrependo delas.

Limpo minhas lágrimas.

– Finnick – minha voz soa firme. – Você foi egoísta, covarde, apenas pensou em você! Você foi estúpido, idiota, cretino... Você, Finnick, me fez perder a capacidade de amar. Você...

– Katniss, você pensa que eu não sofri?! Eu sofri mais do que você possa imaginar! Quando te encontrei naquela festa do presidente Snow, tive que me conter para não te abraçar naquele lugar. Ou então, quando eu soube que você estava no meu show com Peeta. Você não sabe como eu me senti! Eu queria ter você comigo, queria sentir você. Mas você... quando eu olhava em seus olhos eu via apenas ódio, e isto me machucou mais que tudo. Meu coração, Katniss, não é de pedra, é de carne, e ele sangra todo dia ao lembrar do que fiz a você, ao lembrar que você me odeia, ao lembrar que você sofreu por minha causa, ao lembrar que nunca mais te terei em meus braços novamente. Eu só peço uma coisa, me perdoe, por favor! – suplica. – Eu errei, Katniss, fiz a escolha errada, mas será que eu não mereço, perdão? Talvez, eu não tenha direito a ser perdoado, mas se tiver uma mínima chance de ser perdoado, eu não me importarei de pedir. Eu já recebi o meu castigo, eu nunca terei você de volta, isso já não é suficiente para pagar meus pecados? Hein, Katniss?

Olho para Finnick, estou sem reação. Meus sentimentos estão em conflito. Diante de mim, está aquele garoto que foi meu melhor amigo, meu primeiro amor. Diante de mim, está a pessoa que mais me fez sofrer durante toda a minha vida, a pessoa que mais odiei.

– Finnick, eu não posso te perdoar. Eu... – uma lágrima escorre pela minha face. – Eu não consigo. Finnick, neste momento a única coisa que consigo sentir é ódio por você. Te odeio, por me fazer a pessoa mais miserável face da terra, por não poder aceitar o amor, por não poder confiar que posso ser feliz. Sabe por que quis ser atriz? Para me vingar de você, para me mostrar a você que eu não era aquela garotinha estúpida que você enganou!

– Katniss, me perdoe! – as lágrimas não param de escorrem pelo rosto de Finnick.

Sem pensar duas vezes, saio do quarto de Finnick. Ele vez a sua escolha, o mundo da fama, eu também fiz a minha, me vingar dele. Porém, agora que escolha devo fazer? Tudo o que sinto é confusão, apenas deixo que as lágrimas rolem livremente pelo meu rosto.


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Notas finais do capítulo

O que acharam? Odiaram? Gostaram? Críticas? Será que Katniss irá perdoar Finnick? Como ficará o relacionamento deles depois disso?